quarta-feira, maio 02, 2007

«Para o capital, um bosque não tem valor até que seja destruído e convertido em madeira, do mesmo modo que as pessoas que cultivam a sua própria comida e se esforçam por satisfazerem as outras necessidades básicas fora dos mercados dominantes, são considerados uma perda económica.»- David Watson

Assim, cultivar uma horta e assegurar a perenidade dos bosques é um acto político maior!

Na verdade, a nossa civilização tecno-industrial, tal como a conhecemos, necessita continuar a destruir (de forma irracionalmente insaciável) a natureza para prolongar a sua existência – essencialmente ecocída. É essa a fatal premissa do crescimento económico em que se baseia o actual sistema industrial multinacional.

Marxismo nunca foi, nem em teoria, uma verdadeira alternativa e este sistema de exploração suicidária. Trata-se apenas de uma outra visão filosófica do capitalismo, o reverso da mesma moeda, já que advoga a continuação da intensificação da industrialização. A principal diferença social entre o capitalismo (neoliberal) e o marxismo é que este último defende que os meios de produção estejam sob o controlo do proletariado, levando a uma distribuição mais equitativa das riquezas pecuniárias. Os dois sistemas políticos exigem a total ausência de espiritualidade telúrica, a fim de que na demanda do controlo e exploração total da natureza, esta seja vista como um amontoado de recursos naturais que precisam de ser consumidos até à sua exaustão pelo homem industrial que deposita toda a sua fé na tecnologia. O marxismo é impulsionado pela mesma voracidade rapace no seu projecto de totalitarismo tecno-industrial; tal como o capitalismo ocidental, mostra um desrespeito desumanizante pelos grupos resistentes à economia de mercado (global, estatal e corporativo), que desenvolveram estruturas sócio-económicas idiossincráticas e sustentáveis na sua harmonia libertária com a Terra (ex.: povos tribais). Capitalismo e marxismo, inequivocamente, deixam um rasto de destruição ambiental insustentável num mundo superpovoado, mas tecnologicamente desumanizado, escravizado; vazio de espiritualidade telúrica.

«O mercado institui a escassez de uma forma sem precedentes e num grau nunca antes atingido. Na realidade, a condenação aos trabalhos forçados perpétuos foi apenas sobre nós que recaiu. A escassez é a sentença decretada pela nossa economia, constituindo também o axioma da nossa economia política: a aplicação de meios escassos para a realização de objectivos seleccionados com vista a obter, em tais circunstâncias, a maior satisfação possível. E é precisamente do alto desta inquietante superioridade que encaramos os povos tribais: se o homem moderno, aparelhado com todas as suas superioridades técnicas, continua a não dispor do estritamente necessário, como poderia então o selvagem nu, com os seus simples arcos e flechas? A questão é resolvida da seguinte forma: atribuindo ao caçador motivações burguesas e instrumentos paleolíticos, decretamos de antemão que a sua situação é desesperada.» - Marshall Sahlins

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