sexta-feira, junho 13, 2014

A minha avó materna – testemunha de Jeová fanática e bastião da moral e dos bons costumes -, apesar de sempre solicita em ajudar todos os que lhe eram próximos, muito contribuiu para a disseminação da boataria homofóbica que me vitimou. Ela nunca se coibiu de pensar o pior dos que tinham uma fé (ou ausência desta) diferente da sua. Sem fazer o menor esforço por tentar compreender e respeitar a alteridade, projetava nos outros a sujeira dos seus preconceitos e das suas fantasias reprimidas. Acreditava que o fim do mundo bíblico estava próximo e dominava-a uma exasperada frustração por não conseguir converter à sua religião os familiares que a rodeavam (com a excepção da sua irmã). Atribuía a Lúcifer e seu séquito de demónios o boicote dos seus messiânicos propósitos. Na minha conturbada adolescência, ela, generosamente, muito contribuiu para suprir as minhas necessidades básicas de abrigo (físico) e alimento – e como cozinhava bem a minha avó! Eu deveria ter uns (ingénuos e mirrados) 15 anos quando lhe fiz uma visita que teve conseqüências terríveis para a minha reputação. Subi ao terceiro andar (sem elevador) onde ela morava, apenas para constatar que não se encontrava lá. Decidi sentar-me nos degraus e esperar. O vizinho da frente (as entradas desses apartamentos distavam uns 3 metros) percebeu o que se passava, e me convidou a esperar na casa dele. Eu declinei, mas a minha timidez e bons modos não resistiram à sua simpática insistência. Ele me disse para eu me sentar no sofá da sala e ligou a televisão para mim. Pediu desculpas por não poder me fazer companhia, pois tinha muito trabalho para fazer em casa, e logo foi para uma divisão onde pude relancear um estirador. Acho que era engenheiro ou arquiteto. Fiquei sozinho naquela sala, até que o meu discreto anfitrião lá assomou apenas para me dizer que escutara a minha avó chegar. Agradeci-lhe a hospitalidade e saí de imediato para dar um abraço na minha avó, que mal tinha aberto a porta da sua casa. Mas ela me olhou de forma muito estranha e retribuiu com frieza os meus carinhos entusiastas. Ela nunca tinha feito isso antes. Calculei que tivera um dia especialmente mau. Eu estava longe de imaginar que, segundo a minha avó, aquele homem era homossexual e eu tinha saído da casa dele com um sorriso muito suspeito (sic), o que, na cabecinha doente dela, confirmava que eu me entregara ao mais abominável dos vícios – ela sempre suspeitara isso de mim!... Expedita e viperina, sem sequer falar comigo primeiro, espalhou por toda a família e conhecidos que eu tinha dado o cú para o seu vizinho! A partir desse dia, sempre que eu a visitava e precisava de usar a casa-de-banho, ela, com enojada impaciência, me esperava ‘a porta munida de produtos de limpeza. Mal eu saia, entrava de imediato para desinfetar tudo em que eu, ou algo que tivesse saído de mim, pudesse ter tocado. Curiosamente, esse policiamento (feito exclusivamente de maliciosas conjecturas) da minha hipotética sexualidade em transgressão, foi completamente incapaz de me proteger do verdadeiro predador sexual que, como costuma acontecer, tinha livre acesso ao meu ambiente familiar e círculo de amigos. Nesse tempo, durante meses, quase diariamente um quarentão chamado Francisco Freilão (residente em Almeirim) me procurou, com convites aparentemente inocentes para bebermos umas bojecas juntos e conversarmos. Eu não entendia o motivo da sua atração por mim (um adolescente imberbe), mas precisava de amigos mais velhos, com os quais pudesse ter conversas inteligentes (algo que, de modo algum, conseguia com os meus colegas de escola) ; referências masculinas de um papel que o meu progenitor não esteve à altura. Apesar da sua pose e entoação de voz ser a de alguém que possui a vaidosa confiança de só dizer coisas interessantes, profundas e reveladoras, nem uma única vez ouvi dele algo que tivesse essa correspondência. Enquanto eu, debalde, esperava por tais conhecimentos, ele, com planejado cuidado, ia avaliando possíveis brechas na minha resistência aos seus avanços homossexuais, tentando moldar a minha mente para o aceitar como parceiro de cama. Eu asfixiava essas suspeitas, precisando continuar a confiar em alguém que presumia me oferecer uma amizade sincera e edificante, semelhante ao que eu conhecia apenas em livros. Foi tateando a minha jugular exposta. Numa única ocasião admitiu ter dormido nos braços de outro homem. Com saudosismo, me contou um dramático episódio do seu tempo de soldado. Na véspera de ser enviado no bojo de um navio para a guerra no Ultramar, ele teve que consolar outro magala que lhe era muito próximo. Na versão do Freilão, todos à sua volta estavam aterrorizados menos ele que já era um grande homem. Por isso mesmo, satisfez o pedido do amigo, segurando-o noite adentro num abraço encharcado de lágrimas, e trocando carinhos. Neste ponto do seu relato, a expressão facial que ele leu em mim, levou-o a arrepiar caminho, enfatizando que aquilo nada teve que ver com sexo. E continuou enaltecendo a minha “rara sensibilidade”, me “educando” como um oleiro que manuseia um pedaço de barro, tendo uma clara idéia do resultado final pela experiência dos gestos repetitivos que já produziram peças satisfatórias. Disse-me que considerava estúpido (o que eu menos queria ser) os homens terem um receio envergonhado de serem carinhosos entre si, até porque <>(sic). Como tática recorrente, aqueles que os mídia e toda a indústria de entretenimento vendiam a imagem de supra machões (ex.: Sylvester Stallone), ele dizia respeitá-los pela coragem de terem assumido publicamente (?!) relações homossexuais. (Numa pequena povoação do interior e ainda não estando disponível a Internet, era difícil verificar a veracidade dessas informações, que, de resto, não tinham qualquer interesse para mim.) A seguir, vomitava a peçonha misógina (ex.: que todas as mulheres cheiram muito mal da genitália, não importa o quanto se lavem; que são umas chatas castradoras, demasiado instáveis emocionalmente, fúteis, falsas e interesseiras, etc...), não perdendo a pose de homem experiente querendo se passar por mentor ou mesmo tutor de adolescentes ingénuos e confusos, numa versão fuleira e distorcida de Safo com calças. A constituição de uma família convencional (que chegou a me apresentar, tendo até me levado ao salão da sua esposa para que esta me cortasse as melenas; custa acreditar que ela desconhecesse a sexualidade clandestina do marido) dava-lhe a fachada que precisava para se proteger das crescentes suspeitas. O seu mapa erótico deveria se assemelhar mais à Pequim subterrânea que Mao mandou construir temeroso de uma guerra nuclear, do que à bela Capadócia. Provavelmente pertence a essa massa anónima de homossexuais incapazes de negar a sua essência e sem coragem para se assumirem, tentando formar uniões homoeróticas estáveis, a fim de saciarem os seus desejos proibidos, desde cedo têm que aprender a encobrir as evidências dos seus desejos e relações clandestinas. Relegados a freqüentar meios marginais, propícios apenas para encontros fugazes, exigindo um desfasamento entre a intensidade do acto físico e o investimento emocional. O vazio dessas experiências costuma ser disfarçado com uma incessante procura de parceiros, de sensações e emoções “diferentes”. A repressão comummente gera perversão. Dificilmente se poderão vangloriar de tais conquistas fora dos seus sombrios coutos de caça. A cumplicidade que reparei entre eles nada tem que ver com o investimento num projecto de vidas compartilhadas, mas é semelhante à que sobejamente conheci entre caçadores que, longe do olhar dos guardas florestais, mesmo caçando em solitário e podendo nem gostar de partilhar o campo com outros espingardeiros, encobrem as ilegalidades uns dos outros, numa sórdida confraria. <>... Denunciar parceiros de caça poderá atingi-los por ricochete ou por efeito dominó. Ninguém arrisca se envolver em purgas ou ajustes de contas, quando todos estão armados e abundam acidentes na actividade cinegética... Fora do ensino básico, em todas as escolas que “estudei”, deparei-me com professores com esse género de vidas duplas. Alguns deles tinham um discurso homofóbico. Talvez o apetite sexual do Freilão fosse incrementado com o gosto do fruto proibido com hormonas de crescimento para o seu ego que se regozijava de sair impune das transgressões. Com bastante auto-confiança, ele rondava e se imiscuía nas concentrações de adolescentes capazes de burlar a vigilância dos pais e de quaisquer outras figuras de autoridade. E nos observava, não tanto como um lobo faz em relação a uma manada de cervídeos em fuga, mas como um cão assilvestrado vê um rebanho de ovelhas num redil desprotegido. Nos seus discursos-padrão, não demonstrava ter a menor dúvida sobre a indefinição sexual das suas potenciais vítimas – qualquer garoto que lhe desse atenção. E se especializou em predar adolescentes desajustados, com dificuldades de socialização e enorme carência de figuras paternas dignas de admiração e de reciprocidade afetiva, capazes de inspirar rumos gratificantes e com um papel social relevante. Eu era apenas um entre imensos garotos que se encaixam nessa descrição. Mas eu jamais tive dúvidas quanto à minha orientação heterossexual; fantasias ou sequer curiosidade sobre experiências homossexuais têm estado de todo ausentes da minha vida sexual. Por si só, não creio que isso seja motivo de orgulho; menciono esse facto para enfatizar como me senti violado. O tardio despertar da sexualidade auto-reprimida, a exacerbada timidez (como me intimidavam as garotas pelas quais me sentia atraído!) e o domínio de pensamentos depressivos me tolhiam ao ponto de nem sequer dar motivos aos ossos de Samuel Tissot rodopiarem no seu túmulo. Em ambientes marialvas /machistas, onde o álcool espessa a ignorância, nos bares, nas sessões privadas de pornografia e nas raras festas, onde o sexo de vão de escada acontecia com facilidade, é que grande parte dos garotos julgavam “aprender” sobre o sexo oposto, enquanto consolidavam preconceitos. Lamento dizê-lo, mas as mães têm muita culpa nesse cartório. Começando por excluir os meninos das conversas, ou simplesmente das informações sobre a menstruação e todo o ciclo de fertilidade feminina. Disciplinar os rapazes na participação das tarefas domésticas (mantendo minimamente limpo e arrumado o espaço comum – nesse aspecto, a minha mãe falhou e eu fui um péssimo filho) é tão importante como deixar as crianças e adolescentes à vontade para falar com frontalidade e sinceridade sobre sexualidade. Nessa cultura hipocritamente homofóbica (em que, perpetuando o comportamento tipicamente pré-adolescente, era ostensiva e agressivamente repelido o simples gesto de, até entre amigos, alguém que se orgulhasse da sua masculinidade colocar o braço sobre os ombros de outro, a não ser, eventualmente, no futebol ou caindo de bêbedos) ainda vigorava o preceito que os pederastas (ativos) podiam manter intactas as suas reputações de machos viris (contando que também fodessem mulheres), enquanto que os que se deixavam sodomizar (os passivos) mereciam todo o desprezo. Usando subterfúgios culturais é provável que, da filosofia que se desenvolveu na antiga Grécia, ao Francisco Freilão apenas lhe interessasse as justificações para a pederastia, pretendendo consumar a utópica união entre a maturidade sapiente dos mestres e a beleza vigorosa da juventude. (É por isso que na arte renascentista, recuperando a estética Greco-romana, as representações pictóricas de Jeová, Moisés e outros profetas destacados do Antigo Testamento, assim como deuses da mitologia pagã, nos mostram geriátricas cabeças em corpos de lutadores peso-pesados no auge das suas capacidades atléticas.) Sócrates (469-399 a.C.) não tinha pudor em fazer apologia do coito anal com mancebos, considerando tal prática como a melhor forma de inspiração. (O sexo heterossexual para ele não passava de uma obrigação destinada à procriação.) Os homens mais velhos que procuravam esse tipo de relações (que me parecem imbuídas de nostalgia antropofágica ) apenas eram motivo de censura e escárnio quando se apaixonavam pelos seus jovens parceiros. Tal obsessão romântico-erótica era uma evidência de falhas na maturidade que toldava a razão/o raciocínio das mentes superiores , expondo-os ao ridículo (até porque poderia torná-los sexualmente passivos, assumindo uma indigno postura de subjugado). Era suposto que o desfrute de corpos jovens acarretasse responsabilidades pedagógicas e até financeiras, contribuindo para o sustento dos amantes, acreditando-se que assim estes últimos poderiam assimilar conhecimentos de filosofia e crescer como cidadãos virtuosos. (Ao completarem 12 anos, contando com a aprovação das respectivas famílias, os garotos escolhidos por adultos respeitados na comunidade ateniense, poderiam aceitar um relacionamento homoerótico – num papel passivo, pois só na maioridade era esperado que assumissem um papel activo na sua homosexualidade.) Se tivesse interesse e erudição etnográfica, talvez o Freilão até pudesse invocar rituais de passagem como os que ocorrem entre tribos malanésias (que habitam as ilhas Molucas, Nova Guiné, Vanuatu, Nova Caledónia, Fiji e Salomão, no oceano Pacífico), seguindo a crença que certos conhecimentos sagrados apenas podem ser transmitidos através de cópulas homossexuais, ou ainda através do sémen dos guerreiros engolido pelos garotos iniciados. Certamente que estou a teorizar demasiado (com o que erroneamente poderão parecer tergiversações num tom apologético que relativizam a responsabilidade de quem abusa) sobre um crime que não tem desculpa, até porque, com ardilosa improbidade, foi cuidadosamente arquitetado e reincidente, fazendo muitas vítimas. Mas demonizar os prevaricadores/criminosos impede-nos de atacar as raízes desse comportamento aberrante e danoso para toda a sociedade, resignados à incompreensibilidade das ações dos monstros e dos loucos. Incutir nas crianças o medo pelos estranhos pouco ou nada previne crimes de abuso sexual, cujas vítimas beneficiam duma assistência precária. Na segunda vez que aceitei o convite do Freilão para ir à sua casa (onde vivia com a esposa e os filhos), deu-me um bote traiçoeiro. Estando eu na sala, sentado no braço dum sofá e olhando alguns livros na estante, ele tentou desabotoar a minha camisa, dizendo para eu ficar à vontade naquela tarde calorosa. Mesmo me esquivando, ele ainda colocou a mão sobre o meu umbigo, elogiando a minha magreza que ele afirmava invejar. Foi quando se debruçou sobre mim e desceu a mão até os seus dedos tocarem o meu púbis. Levantei-me abruptamente, assoberbado por terríveis desconfianças e querendo ir-me embora de imediato. O rosto dele não revelava malícia ou desejo sexual. Sorriu tranqüilo. Apenas poderá ter sido denunciado por ter lançado um olhar fugidio (que consegui interpretar tardiamente) à altura das minhas virilhas, provavelmente procurando um inexistente resquício de desejo involuntário como reação ao seu toque intrusivo; pelo contrário, a pouca carne que ali cobiçou encolheu-se de tal modo que quase desapareceu de cena (precisariam fazer uma laparoscopia/ Sexagem cirúrgica na necropsia, caso o estupro se tivesse consumado...). Mesmo assim, com a confiança de Michelangelo prestes a assinar a Pietá, pediu-me para voltar a sentar-me, enquanto ele ia à cozinha buscar um copo de sumo para mim. Aquiesci. Qual o motivo que me impediu de fugir a toda a brida da toca da besta? É que, encimando as minhas confusas preocupações, receava que os meus preconceitos (os tais que o Freilão afirmava serem fabricados e disseminados principalmente pelas mulheres, quais bruxas de volta de um caldeirão, praticando magia negra...) estivessem a contaminar a minha percepção da realidade, traindo a “amizade” do meu anfitrião, cuja linguagem corporal naquele momento era mais conforme o que se esperaria de alguém inocente e despido de malícia; livre de conflitos interiores. A presença da sua filha adolescente, perambulando pelo apartamento sem nos dar atenção, parecia desacreditar os meus temores. Ele trouxe o suco prometido e sentámo-nos em diferentes sofás. Eu folheava uma revista, a fim de fingir calma e manter alguma distância. Mas mal a sua filha adolescente saiu para a rua, pulou sobre mim! Sendo um homem alto e gordo, certamente que pesava o dobro de mim. Horror, surpresa e asco me dominaram momentaneamente tanto quanto o seu peso ingente. Enquanto me debatia debaixo dele, o porcão me lambuzava a cara e o pescoço, enquanto a sua mão se insinuava por dentro das minhas calças e cuecas, alcançando a genitália. Suponho que se houvesse uma câmara oculta naquela sala, teria feito uns registos bem comprometedores daqueles instantes que me traumatizaram. Logo consegui fugir. Correndo rua afora, um turbilhão de pensamentos me desorientava e feria. Sobreveio o cliché da culpa assumida pela vítima: será que tinha sido eu a incentivar/provocar tal assalto sexual? Ou a minha mente era tão imunda e perversa que me atrevia a interpretar da pior maneira uma manifestação de afeto inconvenientemente efusiva de um amigo afetuoso que pretendia preencher a minha carência de pai? (Com freqüência, quando, de regresso das conversas de bar noite adentro, ainda com o seu carro parado à porta do prédio onde morava a minha avó, nos despedíamos como na nossa cultura costuma fazer as mulheres: com um breve beijo na face. Tal era um pedido dele que muito me constrangia, mas tentava ignorar esse desconforto com a determinação de me tornar um bom homem, construindo uma maturidade despida de preconceitos, principalmente os que pudessem macular a lealdade entre amigos...) Até de mim fiquei com nojo! Batendo de frente com a realidade, não compreendia como ele poderia ter traído daquela forma maligna a confiança e amizade que eu lhe entregara. Como pude ser tão cego e ingénuo?! Não havia maneira de sair ileso de tamanha maldade. Quem nunca passou por isso, poderá dizer <> Provavelmente até acrescentam <>, mandando calar as carpideiras. Tais considerações demonstram uma desprezível falta de sensibilidade, empatia e responsabilidade parental/afetiva que só contribui para o agravamento da péssima relação que temos com os mais vulneráveis da nossa sociedade. Depois desse dia, não mais se atreveu a me procurar. Estou certo que essa aliviante ausência não se deveu a algum peso na sua consciência, mas sim ao temor das conseqüências. Menos de uma hora após me ter agarrado à força, alcançou-me (de carro) quando eu estava prestes a entrar na mercearia que durante um curto período o meu pai e o meu tio geriram em improvável e desastrosa sociedade. O Freilão segurou-me o braço, forçando-me a ficarmos frente a frente, e disse-me: <> Não sei o que ele achou ter conseguido perscrutar em mim, mas concluiu (verbalizando)<> E entrou comigo na mercearia, ficando em amena cavaqueira com os adultos dos quais eu gostaria de ter recebido alguma proteção, principalmente de forma profilática. Felizmente que só nos encontrámos mais duas vezes. Preferimos nos ignorar mutuamente. Dificilmente terei conseguido disfarçar o ódio no meu olhar. Constatei que ele não alterara a sua tática de engate com as suas potenciais presas adolescentes, desbobinando as mesmas conversas de merda e jogos de manipulação. Fazendo o que gostaria que tivessem feito por mim, cheguei a advertir um dos miúdos aos quais ele pagava cervejas e passeava de carro (restritos a um circuito de bares e vielas escuras), mas ele levou a mal a minha intromissão. As feridas desse trauma (que ainda agora me custa muito relembrar e traduzir por palavras) se reabriram quando o escândalo de pedofilia na Casa Pia rebentou nos mídia, chocando os portugueses mais pelo envolvimento de figuras públicas. Ter ficado em silêncio tantos anos (até o crime prescrever) pesa-me na consciência, sabendo que tal faz de mim cúmplice por omissão de outros abusos sexuais perpetrados pelo Francisco Freilão. Havia ainda a ameaça velada de eu levar um tiro. Várias vezes me tinha dito que se sentia melhor andando armado (com uma pistola ilegal). Na primeira, ao perceber a minha expressão de repúdio em relação às armas de fogo, contou uma estorinha p`ra boi dormir, em que se fez passar por “herói revolucionário”, caçando fascistas e burgueses em fuga, logo após a Revolução dos Cravos. Medo maior era o de não acreditarem em mim, sobretudo um casal de amigos em comum que eu tinha em grande estima (sendo os que, para além da minha mãe, eu mais confiava, e tinham então o dobro da minha idade) e que preferiam desacreditar/ignorar os boatos que pesavam sobre a reputação duvidosa do Freilão, classificando-os de maledicência infundada, mesmo quando incluíam queixas de crianças conhecidas, cujos pais lhe abriram as portas dos seus lares, incautos ou desavisados da ameaça pedófila emboscada nos ritos de amizade falsa. É comum recusarmos acreditar nas feias verdades, até que estas despedacem o que mais valorizamos, ou apareçam no reflexo dos nossos espelhos... Eu tinha uma convivência próxima com um tio, pois ele, apesar de beirar as quatro décadas de idade, ainda vivia com a mãe, na casa da qual eu comia e dormia com freqüência, devido à proximidade com a “minha” escola e ainda por me permitir alguma distância geográfica das pessoas que me faziam muito mal onde eu residia. Foi esse tio quem me apresentou ao Freilão, transmitindo-me uma confiança que usualmente eu me coibia de depositar em pessoas que iam passando pela minha vida . Depois da referida tentativa de estupro que sofri, soube que esse parente (que tinha uma bagagem de vida algo estranha/ tartariana, até por ser toxicodependente, algo que então eu desconhecia) há muito tempo estava ciente da reputação de pedófilo/efebófilo, mas nada fez para me proteger; pelo contrário, incentivava essa “amizade”, afirmando que se tratava de um homem muito interessante, que muito me poderia ensinar... Durante esse período de má memória, algumas vezes escutei dele insinuações que eu seria gay e que o meu acne juvenil era suspeitamente parecido com os sintomas da SIDA, algo que eu já estava farto de escutar fora de casa, mas é mais difícil de aceitar vindo de familiares. Entretanto, percebi ainda que alguns dos meus “colegas” de escola que conheciam o Freilão de “outros carnavais”, ao me verem na companhia do “bicho-papão”, preferiram rir nas minhas costas, como se estivessem recostados na escuridão dum camarote assistindo a um espetáculo tragicómico, desfrutando dos dois previsíveis desfechos: ou a confirmação da estigmatizante/anatemizante boataria sobre a minha alegada homossexualidade, ou o que de facto aconteceu. Talvez o meu pai (que detestou o Freilão desde o momento em que o conheceu), ou eu mesmo, até quiséssemos fazer justiça pelas próprias mãos, trazendo mais desgraça à minha família. No mínimo, eu certamente seria o tema principal de fofocas, agravando os comentários ofensivos que me acompanhavam dentro e fora da escola. A minha vida já era bastante difícil. Nenhum outro homem forçou as suas mãos libidinosas sobre mim, mas voltei a experimentar ocasional assédio homossexual por parte dos automobilistas que me davam boleia. (A casa da minha mãe se encontrava numa localidade diferente da qual eu estudava; e raramente adquiri o passe escolar para o transporte rodoviário. Preferia arriscar a boleia, para poupar dinheiro à minha mãe e para evitar o bullying que sofria constantemente nos autocarros carregados de estudantes.) Passei a usar uma soqueira inglesa e uma faca de mato bem afiada. E estava disposto a usá-las, se me cruzasse com outro Freilão. O maior reflexo da minha fraqueza e incapacidade para lidar da melhor maneira possível com a sacanagem deste último, foi eu ter adotado um discurso homofóbico, transbordante de rancor. Mas tal teve curta duração. O que primeiro me tirou desse mau caminho foi a chocante constatação que, pelo menos em Portugal, o principal motivo que leva os adolescentes ao suicídio é a dificuldade de aceitação da sua homossexualidade. Somou-se a irritação provocada pela absurda dedução que a pedofilia é uma conseqüência quase inevitável da homossexualidade. Frequentemente escutava (e ainda escuto, mas não mais de pessoas às quais devoto amizade) a utilização abusiva do termo “antinatural” quando muitas pessoas se referem à atração homoerótica (tendo sido identificado o comportamento homossexual em mais de 1500 espécies; o celibato e a homofobia correspondem melhor ao que merece ser classificado como antinatural ). Não tardou muito para eu compreender, por dedução própria sem a orientação de adultos equilibrados e esclarecidos, a regra de ouro no que toca a assuntos de cama: se são adultos; há consentimento entre as partes envolvidas; não causam graves danos a si mesmos nem a terceiros (incluindo gravidezes indesejadas); mantêm a privacidade; então, cada um que se divirta como prefere e pode. Nestas condições, ninguém tem o direito de policiar a sexualidade alheia e muito menos de pretender regulamentá-la de acordo com os seus preconceitos.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

TEXTO DE EZEQUIEL23:20 EM DIVERSAS VERÇÕES e outras putarias bíblicas:

Desejou ardentemente os seus amantes, cujos membros eram como os de jumentos e cuja ejaculação era como a de cavalos. (NVI)

E ela continuou a apaixonar-se à moda das concubinas pertencentes àqueles cujo membro carnal é como o membro carnal dos jumentos, e cujo órgão genital é como o órgão genital dos cavalos.(TNM)
...
Ela ardeu ali em amor por luxuriosos, cujo membro era como um membro de asno, e sua lubricidade igual à dos cavalos. (Versão católica)

E enamorou-se dos seus amantes, cujos membros são como membros de jumentos e cujo fluxo é como o fluxo de cavalos.(NTLH)

Ezequiel 23,19-20: Suas fornicações se multiplicaram, fazendo lembrar os dias da sua juventude, quando fornicava na terra do Egito, deixando-se seduzir pelos seus libertinos, cujo sexo é como sexo dos jumentos, cujo membro é como membro dos cavalos."

Deuteronômio 23,2: Aquele a quem forem trilhados os testículos, ou cortado o membro viril, não entrará na assembléia do SENHOR.

Eu sei que a fé das crentes costuma ser proporcional 'a sua carência de bom sexo, mas tais exemplos bíblicos só as deixarão mais frustradas...

quarta-feira, setembro 21, 2011

Em apenas alguns dias, o governo da Bolívia poderá dar o sinal verde para a construção de uma gigantesca estrada ilegal que passará por uma área protegida da floresta amazônica -- mas os bolivianos estão lutando contra isso e nós podemos ajudá-los a ganhar essa causa!

O presidente Evo Morales está permitindo que empresas estrangeiras repartam a Amazônia -- cortando árvores, explorando minérios e desenvolvendo a agricultura em grande escala no fértil solo da Amazônia. Morales está a ponto de aprovar a construção de uma estrada enorme que iria alimentar ainda mais esse ataque à floresta mais importante do mundo, mesmo tendo que violar suas próprias leis para fazer isso acontecer. Mas agora que as últimas permissões estão sendo avaliadas, as vozes dos cidadãos estão pedindo que o governo busque rotas alternativas para a estrada -- e Morales está começando a sentir a pressão.

Cerca de dois mil indígenas e suas famílias saíram em uma marcha de 600km e estão apelando para que a nossa comunidade se junte a eles. Clique abaixo para assinar a urgente petição para impedir a construção da estrada e envie essa mensagem para todos. Entregaremos a petição junto com nossos amigos indígenas no final da marcha em La Paz e diretamente ao gabinete do presidente:

http://www.avaaz.org/po/save_tipnis/?vl

O Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure, mais conhecido como TIPNIS, é a jóia preciosa da Amazônia boliviana, famosa por suas árvores enormes, surpreendente vida animal e suas reservas de água fresca. Seu incrível significado natural e cultural mereceram o status de área duplamente protegida -- como parque nacional e como reserva indígena. Sendo assim, segundo a lei boliviana e internacional, os líderes indígenas são as autoridades locais dessa terra e têm o direito de serem consultados. Entretanto, Morales tem evitado abrir um processo de consulta apropriado ignorando completamente a oposição dos indígenas em relação à construção da estrada dentro da reserva. Ao mesmo tempo, alega falsamente que a estrada seria para o próprio benefício de tais comunidades.

O governo boliviano não fez nenhum estudo de rotas alternativas para essa destruidora estrada. Ao invés disso, Evo insistiu na aprovação da construção, infringindo a lei, fazendo empréstimos pesados do Brasil, e colocando em perigo a sobrevivência da sua própria população. Tudo isso para abrir uma estrada que servirá para futuras explorações minerais e petrólíferas, além de negócios de grande escala nas áreas industriais e de agricultura. O governo tem ridicularizado aqueles que se opõem a uma estreita faixa de asfalto, insistindo que é necessário conectar o resto do país à densa selva. Mas a estrada é apenas o começo da destruição -- será uma artéria envenenada designada para sugar o vivo sangue da Amazônia e de seu povo.

Por trás do discurso de desenvolvimento, a estrada servirá para a queima e exploração ilegal de madeira, crescimento de plantações de coca e fomentará a exploração de petróleo que já asfixia TIPNIS. Um estudo recente diz que 64% do parque poderá ser desflorestado até 2030 se a estrada for construída.

Depois de anos de crítica a este projeto, a pressão está chegando no seu limite com a marcha dos indígenas e dos cidadãos, e ex-ministros do governo argumentando contra o projeto. Até Alberto Acosta, um renomado líder político do Equador, já pediu a Morales que pare com a construção. Vamos juntar nossas vozes em nome da proteção da Amazônia e o respeito às comunidade indígenas -- assine essa petição urgente para impedir a construção ilegal da estrada e peça para a Bolívia encontrar alternativas criativas e seguras para promover o crescimento econômico e a integração regional:

http://www.avaaz.org/po/save_tipnis/?vl

Repetidamente, a proteção da terra, da qual todos nós dependemos, e os direitos dos povos indígenas são sacrificados por nossos governos em nome do desenvolvimento e crescimento econômico. Nossos líderes escolhem a mineração e desflorestamento ao invés da nossa própria sobrevivência -- frequentemente beneficiando empresas estrangeiras. No futuro que todos nós queremos, o meio ambiente e a vida de pessoas inocentes estão em primeiro lugar. O Presidente Evo Morales tem a chance agora de apoiar seu povo, salvar a Amazônia e repensar como deve ser o verdadeiro desenvolvimento na América Latina.

segunda-feira, agosto 29, 2011


Maquinações político-partidárias...

“Não acreditar em Deus é um atalho para a felicidade”
Artigos, Ateísmo — por Mário César em 5 de janeiro de 2011 às 10:00 Fonte: Revista Veja.

Por: Marco Túlio Pires


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Em novo livro, o filósofo e neurocientista americano Sam Harris propõe a criação de uma ‘ciência da moralidade’ para acabar de uma vez por todas com a influência da religião

Quando o filósofo americano Sam Harris soube que o atentado ao World Trade Center em Nova York (Estados Unidos), no dia 11 de setembro de 2001, teve motivações religiosas, a briga passou a ser pessoal. Harris publicou em 2004 o livro A Morte da Fé (Companhia das Letras) — uma brutal investida contra as religiões, segundo ele, responsáveis pelo sofrimento desnecessário de milhões. Para Harris, os únicos anjos que deveríamos invocar são a ‘razão’, a ‘honestidade’ e o ‘amor’.

Ao entrar de cabeça em um assunto tão delicado, o filósofo de 43 anos conquistou uma legião de inimigos e deu início a uma espécie de combate literário. Em resposta à repercussão de seu primeiro livro, que levou à publicação de livros-resposta sob as perspectivas muçulmana, católica e outras, os ataques de Harris à fé religiosa continuaram em 2006, com o lançamento do livro Carta a Uma Nação Cristã (Companhia das Letras).




"A Ciência é capaz de dizer o que é certo e o que é errado", diz Sam Harris
Criado em um lar secular, que nunca discutiu a existência de Deus e nunca criticou outras religiões, Harris recebeu o título de Doutor em Neurociência em 2009 pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos). A pesquisa de doutorado serviu como base para seu terceiro livro, lançado em outubro de 2010: The Moral Landscape (sem edição brasileira). Nele, Harris conquista novos inimigos, dessa vez cientistas.

Agora, Harris tenta utilizar a razão e a investigação científica para resolver problemas morais, sugerindo a criação do que ele chama de “ciência da moralidade”. Ele afirma que o bem-star humano está relacionado a estados mentais mensuráveis pela neurociência e, por isso, seria possível investigar a felicidade humana sob essa ótica — algo com que a maioria dos cientistas está longe de concordar.

A ciência da moralidade substituiria a religião no papel de dizer o que é bom ou mau. Esse ‘novo ateísmo’ rendeu a Harris e outros três autores proeminentes — Daniel Dennet, Richard Dawkins e Christopher Hitchens — o título de ‘Cavaleiros do Apocalipse’.

Em entrevista ao site de VEJA, Harris explica os pontos mais sensíveis de sua argumentação, e afirma que descrer de Deus é um atalho para a felicidade.

Por que a moralidade e as definições do bem e do mal não deveriam ser deixadas para a religião? O problema com relação à Religião é que ela dissocia as questões do bem e do mal da questão do bem-estar. Por isso, a religião ignora o sofrimento em certas situações, e em outras chega a incentivá-lo. Deixe-me dar um exemplo. Ao se opor aos métodos contraceptivos, a doutrina da Igreja Católica causa sofrimento. É coerente com seus dogmas, embora eles levem crianças a nascerem na pobreza extrema e pessoas a serem infectadas pela aids, por fazerem sexo sem camisinha. Através das eras, os dogmas contribuíram para a miséria humana de maneira tremenda e desnecessária.

Nem toda moralidade é baseada em religião. Existe uma longa tradição de pensamento moral secular por meio da filosofia. O que há de errado com essa tradição? Não há nada de errado com ela a não ser o fato de que a maior parte das discussões filosóficas seculares são confusas e irrelevantes para as questões importantes na vida humana. Deveria ser consenso o apreço ao bem-estar humano. Se alguma coisa é má, é porque ela causa um grande e desnecessário sofrimento ou impede a felicidade das pessoas. Se alguma coisa é boa, é porque ela faz o contrário. Mas existem filósofos seculares batendo cabeça em debates entediantes, dizendo que não podemos falar de verdade moral. Segundo eles, cada cultura deve ser livre para inventar seus ideais morais sem ser perturbado por outros. Isso é loucura. Hoje reconhecemos que a escravidão, que era praticada por muitas culturas, era fonte de sofrimento. Nesse caso, deixamos para trás o relativismo. Por que não podemos fazer o mesmo em outros casos?

Você parece sugerir que a tolerância a outros credos não é uma virtude, como a maioria pensa. Por quê? É um posicionamento inicial muito bom. A tolerância é a inclinação para evitar conflito com outras pessoas. É como queremos que a maioria se comporte a maior parte do tempo quando se depara com diferenças culturais. Mas quando as diferenças se tornam extremas e a disparidade na sabedoria moral se torna incrivelmente óbvia, então, a tolerância não é mais uma opção. A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia. Não podemos tolerar uma jihad global. A ideia de que se pode chegar ao paraíso explodindo pessoas inocentes não é um arranjo tolerável. Temos que combater essas coisas por meio da intolerância às pessoas que estão comprometidas com essa ideologia. Não acredito que seria possível sentar à mesa com, por exemplo, Osama Bin Laden e convencê-lo que a forma como ele enxerga o mundo é errada.

Por que a ciência deveria ditar o que é certo e o que é errado? Temos que reconhecer que as questões morais possuem respostas corretas. Se o bem-estar humano surge a partir de certas causas, inclusive neurológicas, quer dizer que existem formas certas e erradas para procurar a felicidade e evitar a infelicidade. E se as respostas corretas existem, elas podem ser investigadas pela ciência. Chamo de ciência o nosso melhor esforço em fazer afirmativas honestas sobre a natureza do mundo, tendo como base a razão e as evidências.

O que é a ciência da moralidade e o que ela quer conquistar? É a ciência da mente humana e das variáveis que afetam a nossa experiência do mundo para o bem ou para o mal. Ela pretende discutir, por exemplo, o que acontece com mulheres e garotas que são forçadas a utilizarem a burca [vestimenta muçulmana que cobre todo o corpo da mulher]. São efeitos neurológicos, psicológicos, sociológicos que afetam o bem-estar dos seres humanos. Com a burca, sabemos que é ruim para as mulheres e para a sociedade. Se metade de uma sociedade é forçada a ser analfabeta e economicamente improdutiva, mas ter quantos filhos conseguir, fica óbvio que essa é uma estratégia ruim para construir uma população que prospera. O objetivo é entender o bem-estar humano. Assim como queremos fazer convergir os princípios do conhecimento, queremos que as pessoas sejam racionais, que avaliem as evidências, que sejam intelectualmente honestas e que não sejam guiadas por ilusões. A Ciência da Moralidade pretende aumentar as possibilidades da felicidade humana.

O senhor afirma que há um muro dividindo a ciência e a moralidade. No que ele consiste? Existem razões boas e ruins para a existência desse muro. A boa é que os cientistas reconhecem que os elementos relevantes ao bem-estar humano são extremamente complicados. Sabemos muito pouco sobre o cérebro, por exemplo, para entender todos os aspectos da mente humana. A ciência espera um dia responder essas questões e isso é muito bom. A razão ruim é que muitos cientistas foram confundidos pela filosofia a pensar que a ciência é um espaço sem valores. E a moralidade está, por definição, na seara dos valores. Esse muro não será destruído enquanto não admitirmos que a moralidade está relacionada à experiência humana, que por sua vez está relacionada com o cérebro e com a forma pela qual o universo se apresenta. Ou seja, por elementos que podem ser investigados pela ciência.

Quais avanços científicos lhe fazem pensar que, agora, a moralidade pode ser tratada a partir do ponto de vista do laboratório? Temos condição de dizer quando uma pessoa está olhando para um rosto, ou uma casa, ou um animal, ou quais palavras ela está pensando dentro de uma lista. Esse nível cru de diferenciação de estados mentais está definitivamente ao alcance da ciência. Sabemos quando uma pessoa está sentindo medo ou amor. Por causa disso podemos, em princípio, pegar uma pessoa que diz não ser racista, colocá-la em um medidor e verificar se ela está falando a verdade. Não apenas isso, podemos descobrir se ela está mentindo para si mesma ou para as outras pessoas. A tecnologia já chegou a esse nível, mas não conseguimos ler a mente das pessoas com detalhes. É possível que futuramente possamos descobrir coisas sobre a nossa subjetividade de que não temos consciência, utilizando experimentos científicos. E isso tudo se relaciona ao bem-estar humano e o modo como as pessoas ficam felizes e como poderemos viver juntos para maximizar a possibilidade de ter vidas que valham a pena.

Por que deveríamos confiar a educação dos nossos filhos aos valores científicos? Os cientistas não se transformariam, com o tempo, em algo como padres, mas com uma ‘batina’ diferente? Cientistas não são padres. Os médicos, por exemplo, agem sob o pensamento da medicina, que, como fonte de autoridade, não se tornou arrogante ou limitou a liberdade das pessoas de maneira assustadora. É uma disciplina que está concentrada em entender a vida humana e minimizar o sofrimento físico. Seu médico nunca vai até você ‘pregar’ sobre os preceitos da ciência, você vai até ele quando precisa. Pais que se deixam guiar por dogmas religiosos não dão remédios aos filhos e os deixam morrer. Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta.

O que dizer dos experimentos neurológicos que sugerem que a crença religiosa está embutida nos nossos cérebros? Não acho que a crença religiosa esteja embutida no cérebro humano. Mas digamos que esteja. Façamos um paralelo com a bruxaria. Pode ser que a crença em bruxaria estivesse embutida em nossos cérebros. A bruxaria matou muitos seres humanos, assim como a religião. Todas as culturas tradicionais acreditaram em algum momento em bruxas e no poder de magia e, na verdade, a crença na reza possui um conceito semelhante. Algumas pessoas dizem que sempre acreditaremos em bruxas, que a saúde humana será afetada pela ‘magia’ de vizinhos. Na África, muitas pessoas realmente acreditam em bruxaria e isso é terrível porque causa sofrimento desnecessário. Quando não se entende porque as pessoas ficam doentes, ou porque as crianças morrem antes dos três anos, você está num estado de ignorância que a crença em bruxaria está suprindo uma necessidade de maneira nociva. Superamos isso no mundo desenvolvido por causa do avanço da Ciência. Sabemos como a agricultura é afetada, por exemplo. Entendemos os fenômenos meteorológicos e a biologia das plantas. Não é algo que a religião resolve, e sim a ciência. Mas costumava ser assim. A crença na regência de um deus sobre a lavoura era universal.

As pessoas deveriam parar de acreditar em Deus? Se eu acho que as pessoas deveriam parar de acreditar no Deus da Bíblia? Com certeza. Da mesma forma que as pessoas pararam de acreditar em Zeus, em Thor e milhares de deuses mortos. O Deus da Bíblia tem exatamente o mesmo status desses deuses mortos. É um acidente histórico estarmos falando dele e não de Zeus. Poderíamos estar vivendo num mundo onde os suicidas muçulmanos se explodiriam por causa de ideias dos deuses do Monte Olimpo. A diferença entre xiitas e sunitas muçulmanos é a mesma diferença entre seguidores de Apolo e seguidores de Dionísio.

O senhor sempre foi ateu? Nunca me considerei um ateu, nem mesmo ao escrever meu primeiro livro. Todos somos ateus em relação a Zeus e Thor. Eu era um ateu em relação a eles e ao deus de Abraão. Mas nunca me considerei um ateu, como a maioria das pessoas não se considera pagã em relação aos deuses do Monte Olimpo. Foi no 11 de setembro de 2001, dia do atentado ao World Trade Center em Nova York, que senti que criticar a religião publicamente havia se tornado uma necessidade moral e intelectual. Antes disso eu era apenas um descrente. Eu nunca havia lido livros ateus, ou tivera qualquer conexão com a comunidade ateísta. O ateísmo não é um conceito que considere interessante ou útil. Temos que falar sobre razão, evidências, verdade, honestidade intelectual — todas essas coisas são virtudes que nos deram a ciência e todo tipo de comportamento pacífico e cooperativo. Não é preciso dizer que você é contra algo para advogar em favor da honestidade intelectual. Foi justamente isso que destruiu os dogmas religiosos.

O senhor cresceu em um ambiente religioso? Cresci em um ambiente completamente secular, mas não havia crítica às religiões ou discussões sobre ateísmo, existência de Deus etc. Quando era adolescente, fiquei muito interessado em religiões e experiências religiosas. Coisas como meditação, por exemplo. Aos vinte, comecei a estudar espiritualidade e misticismo. Ainda me interesso por essas coisas, mas acho que, para experimentar, não precisamos acreditar em nada que não possua evidencias suficientes.

Como o senhor se sente em ser rotulado como um dos ‘Quatro Cavaleiros do Apocalipse’? Estou muito feliz com a companhia! É uma honra. A associação não me desagrada de forma alguma. Acho que os quatro lucraram por terem sido reunidos e tratados como uma pessoa de quatro cabeças. Em alguns momentos é um desserviço porque nossos argumentos não são exatamente os mesmos e não acreditamos nas mesmas coisas em todos os pontos. Mas tem sido útil sob o ponto de vista das publicações e admiro muito os outros cavaleiros — os considero mentores e amigos. A parte do apocalipse tem um efeito cômico.

Se o senhor tivesse a chance de se encontrar com o Papa para um longo e honesto bate-papo, qual seria sua primeira pergunta? Gostaria de falar imediatamente sobre o escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica. Acho que o Papa é culpável por tudo que aconteceu. A evidência nesse momento sugere que ele estava entre as pessoas que conseguiram fazer prolongar o sofrimento de crianças por muitos anos. Acho que ele trabalhou ativamente para proteger a Igreja do constrangimento e no processo conseguiu garantir que os estupradores tivessem acesso às crianças por décadas além do que deveria ter sido. O Papa deveria ser diretamente desafiado por causa disso. Contudo, é algo que seu status como líder religioso impede que aconteça. Ele nunca seria protegido dessa forma se ele estivesse em qualquer outra posição na sociedade. Imagine o que aconteceria se descobrissem que o reitor da Universidade de Harvard [uma das universidades americanas mais respeitadas do mundo] tivesse permitido que empregados da universidade estuprassem crianças por décadas e ele tivesse mudado essas pessoas de departamento para protegê-las da justiça secular? Ele estaria na cadeia agora. E isso é impensável quando se fala do Papa. Isso acontece por que nos ensinaram a tratar a religião com deferência.

quinta-feira, agosto 11, 2011


You can’t Google it and get it back
Why the death of tribal languages matters
by Joanna Eede

“You say laughter and I say larfter,” sang Louis Armstrong. The difference is subtle. Across the world, however, from the Amazon to the Arctic, tribal peoples say it in 4,000 entirely different ways.

Sadly, no one now says “laughter” in Eyak, a language from the Gulf of Alaska, whose last fluent speaker died in 2008, or in the Bo language from the Andaman Islands, for its last remaining speaker, Boa Senior, died in 2010. Nearly 55,000 years of thoughts and ideas— the collective history of an entire people— died with her.

Most tribal languages are disappearing faster than they can be recorded. Linguists at the Living Tongues Institute for Endangered Languages believe that on average, a language is disappearing every two weeks. By 2100, more than half of the more than 7,000 languages spoken on Earth—many of them not yet recorded—may disappear. The pace at which they are declining exceeds even that of species extinction.



As tribal peoples are evicted from their lands, as their children are taken away from their communities and forced into education systems that strip away traditional wisdom, as wars, urbanisation, genocide, disease, violent land-grabs and globalisation continue to threaten tribal peoples with extinction, so the world’s tribal languages are dying. And with the death of tribes and the extinction of their languages, unique parts of human society become nothing more than memories.

In Western Brazil, among the endlessly dry, yellowing soya fields of Rondônia state, where smoke billows on the horizon and the smell of burning wood hangs in the air, there still exist small fragments of lush, intact rainforest. Here the five remaining members of the once-thriving, and isolated, Akuntsu tribe live.

Their diminished population is due to the building of a major highway through Rondônia in the 1970s, which resulted in waves of cattle ranchers, loggers, land speculators and colonists occupying the state. The settlers were hungry for land, at any price. Cattle ranchers bulldozed the forest home of the Akuntsu, tried to hide the destruction, and employed gunmen to murder the inhabitants. The surviving members fled into the forest, where they remained, traumatised, until contact was made in the mid-1990s. Since then, linguists have been working with the tribe in an effort to understand their language. The hope is that one day the Akuntsu will not only be able to recount their tragic story in detail, but will be able to share the knowledge and insights embedded in their words.




There are now just five surviving Akuntsu. When they die, the tribe will become extinct.
The fate of tribal languages is the same across the world. Before Europeans arrived in America and Australia, hundreds of complex languages were spoken in each country. Today, neither the Yurok language of California nor the Yawuru of Western Australia has more than a handful of speakers. Among the Blackfoot tribes of the northwestern plains of North America, it is rare to find a person under the age of 20 speaking the mother tongue, Siksika; most speakers are dwindling groups of elderly people. When languages become the preserve of the old, the knowledge systems inherent in them become endangered; for the rest of the world, this means that unique ways of adapting to the planet and responding creatively to its challenges go to the grave with the last speakers. In a world of ecological uncertainty, such information is no small loss.

In fact, many of the world’s tribal languages are not spoken to children. Preventing a tribe from communicating in its language has long been a policy deliberately adopted by dominant authorities in order to marginalise tribal ways of life. From the 1950s to 1980s, the Soviet authorities in Siberia tried to suppress the traditions of the country’s tribal peoples by sending tribal children to schools that did not teach their own languages; some children were even punished for daring to speak them.

In Canada, Inuit children were taken away from their homes, sent to residential schools, and beaten for communicating in their mother tongue. “I didn’t expect to get strapped at that time, but I did,” said George Gosnell, an Inuit man, “I went to the principal’s office and I got strapped for using our languages.” In Canada’s Innu communities, although some teaching is now carried out through the medium of Innu-aimun, the Innu language, most is conveyed in English or French. “The kids don’t understand us these days we when use old Innu words,” an Innu man told a Survival International researcher, “and we can’t translate, because we don’t understand.”


Understanding is everything, however, in harsh environments. To understand a language and the knowledge and information held within it is to survive: land, life and language are intimately related for most tribal peoples. Encoded within their vocabularies and passed down the generations are the secrets to surviving in the deserts of Africa, the ice-fields of the Arctic or the rainforests of Papua New Guinea. “I cannot read books,” said the Gana Bushman Roy Sesana from Botswana. “But I do know how to read the land and animals. All our children could. If they couldn’t, they would have died long ago.”

The languages of Bo, Innu-aiman, Penan, Akuntsu, Siksika, Yanomami and Yawuru are rich in the results of thousands of years of observation and discovery and aspects of life that are central to the survival of the community – and the wider world. “The hunter gatherer way of being in the world, their way of knowing and talking about the world, depends on detailed, specific knowledge,” says anthropologist Hugh Brody, while linguist K. David Harrison, in his book When Languages Die writes, “When we lose a language, we lose centuries of human thinking about time, seasons, sea creatures, reindeer, edible flowers, mathematics, landscapes, myths, music, the unknown and the everyday.”



Clive W. Dennis/SurvivalMost tribal languages, however, cannot be found in books. Or on the Internet. Or for that matter in any form of documentation, because most of them have been orally conveyed. But this, of course, makes them no less valid, or relevant. Oral languages record their own parallel stream of history. “Australia’s true history is never read,” wrote an Aboriginal poet, “But the black man keeps it in his head”—a thought echoed by the Bushman woman Dicao Oma when she said simply, “We have our own talk."

Similarly, the Bolivian Kallawaya, itinerant healers who are thought to have been the naturopathic healers for Inca Kings, and who still travel through the Andean mountain valleys and highland plateaus in search of traditional herbs, also have their own “talk”; a secret family language that has been handed down from father to son, or grandfather to grandson. Some believe the language, called Machaj Juyai or “folk language,” to be the secret language of the Inca Kings, linked to the languages of the Amazonian forest, to which the Kallawaya once travelled to find material for their treatments.

In the age of technology, there is some hope of revival for Kallawaya and other fading languages of the world. One encouraging example is Quecha, the most widely spoken indigenous language in South America. It has long been in slow decline but is being revived after Google launched a search engine in Quechua, Microsoft produced versions of Windows and Office in the language, and the scholar Demetrio Túpac Yupanqui translated Don Quixote into his own mother tonguge. Documenting and saving ancient languages is thus entirely possible, and can actually be facilitated by the latest communication technologies: mobile phone texts, social networks and iPhone apps.

In the end, the death of tribal languages matters not only for the identity of its speakers—a language is, as the linguist Noam Chomsky said, “a mirror of the mind”—but for all of us, for our common humanity. Tribal languages are languages of the earth, suffused with complex geographical, ecological and climatic information that is rooted in locale, but universally significant. The very fact that the Inuit people of Canada have no one word for snow, for example, but are able to name many different types, demonstrates just how attuned they are to their environment, and therefore to potential changes in it—a skill that, arguably, many urbanised people have lost now that they are that more removed from the natural world.



But languages are also rich in spiritual and social insights–ideas about what it is to be human; to live, love and die. Just as natural cures to humanity’s illnesses are waiting to be found in plants in the rainforest, so many ideas, perceptions and solutions about how humans engage with each other and with the natural world already exist, in the tribal languages of the world. Languages are far more than mere words: they amount to what we know, and who we know ourselves to be. Their loss is immeasurable. In the words of Daniel Everett, linguist, author and Dean of Arts and Sciences at Bentley University, “When we lose tribal knowledge we lose part of our ‘force’ as Homo sapiens. There is a inestimable loss of expression of humor, knowledge, love, and the gamut of human experience. One ancient tradition, a world of solutions to life is lost forever. You can’t Google it and get it back.”

“They say our language is simple, that we should give up this simple language of ours and speak your kind of language,” wrote Inuit Simon Anaviapik. “But this language of mine, of yours, is who we are and who we have been. It is where we find our stories, our lives, our ancestors; and it should be where we find our future, too.”


Porque os americanos ainda não gostam dos ateus?
O artigo abaixo é uma tradução do que foi publicado dia 29/04/11 no The Washington Post por Gregory Paul e Phil Zuckerman. Dá uma idéia de como é o pensamento geral sobre os ateus nos Estados... Unidos e, consequentemente, de como deve ser aqui, no maior país católico do mundo.

Porque os americanos ainda não gostam dos ateus?
Muito depois de os negros e os judeus terem feito grandes progressos, e até mesmo enquanto homossexuais ganham respeito, aceitação e novos direitos, ainda há um grupo que muitos americanos não gostam: os ateus. Aqueles que não acreditam em Deus são amplamente considerados imorais, perversos e raivosos. Eles não podem se juntar aos escoteiros. Soldados ateus são classificados potencialmente deficientes quando não marcam suficientemente "espiritual" em avaliações psicológicas militares. Pesquisas mostram que a maioria dos americanos se recusam ou são relutantes em se casar com, ou votar em não-teístas; em outras palavras, os não-crentes são uma minoria a qual ainda é comumente negados em termos práticos, o direito de assumir o cargo político, apesar da proibição constitucional da exclusão religiosa.

Raramente denunciado pelo mainstream, esta discriminação anti-ateu impressionante é instigada por conservadores cristãos, que estridente - e incivilizadamente - declaram que a falta de fé piedosa é prejudicial à sociedade, tornando os não crentes intrinsecamente suspeitos e de segunda classe.

É essa aversão instintiva de ateus justificada? Nem perto disso.

Um crescente conjunto de pesquisas em ciências sociais revela que os ateus, e pessoas não-religiosas em geral estão longe de serem os seres repugnantes que muitos supõem que elas sejam. Em questões básicas da decência moral e humana - questões como o uso governamental da tortura, a pena de morte, a punição física em crianças, o racismo, o sexismo, a homofobia, o anti-semitismo, a degradação ambiental ou direitos humanos - os irreligiosos tendem a ser mais éticos do que seus colegas religiosos, especialmente em comparação com aqueles que se descrevem como muito religioso.

Considere-se que ao nível social, as taxas de homicídio são muito menores em países laicos como o Japão ou a Suécia do que nos muito mais religiosos Estados Unidos, que também tem uma parcela muito maior da população na prisão. Mesmo dentro deste país, os estados com os maiores níveis de freqüência à igreja, como a Louisiana e Mississippi, têm taxas de homicídio significativamente maior do que em estados muito menos religiosos como Vermont e Oregon.
Enquanto indivíduos, os ateus tendem a pontuação elevada em medidas de inteligência, principalmente na habilidade verbal e alfabetização científica. Eles tendem a criar seus filhos para resolver problemas racionalmente, para fazer a sua própria opinião quando se trata de questões existenciais e obedecer a regra de ouro. Eles são mais propensos a praticar sexo seguro do que os fortemente religiosos, e são menos prováveis de serem nacionalistas ou etnocêntricos. Eles valorizam a liberdade de pensamento.

Enquanto muitos estudos mostram que os americanos laicos não se saíram tão bem quanto os religiosos quando se trata de certos indicadores de saúde mental ou bem-estar subjetivo, novos estudos estão mostrando que as relações entre o ateísmo, o teísmo, saúde mental e o bem-estar são complexas. Afinal de contas, a Dinamarca, que está entre os países menos religiosos na história do mundo, consistentemente apresenta-se como a mais feliz das nações. E os estudos de apóstatas - pessoas que eram religiosos, mas mais tarde rejeitaram sua religião – se mostraram mais felizes, melhores e liberados em suas vidas pós-religiosas.

Não-teísmo não é sempre “balões e sorvetes”. Alguns estudos sugerem que as taxas de suicídio são maiores entre os não-religiosos. Mas as pesquisas que indicam que os americanos religiosos estão em melhor situação pode ser enganosa, porque incluem entre os não-religiosos os indecisos que são tão propensos a acreditar em Deus, enquanto os que são ateus convictos possuem os mesmos índices dos crentes devotos. Em inúmeros indicadores respeitados do sucesso da sociedade - as taxas de pobreza, gravidez na adolescência, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, obesidade, uso de drogas e a criminalidade, bem como a economia - níveis elevados de laicidade são consistentemente correlacionados com resultados positivos em países de primeiro mundo. Nenhuma das avançadas democracias laicas sofre dos males sociais combinados visto aqui na América Cristã.
Mais de 2.000 anos atrás, quem escreveu o Salmo 14 alegou que os ateus são tolos e corruptos, incapazes de fazer qualquer bem. Estereótipos negativos dos ateus ainda estão vivos e bem. No entanto, como todos os estereótipos, eles não são verdadeiros - e talvez eles nos dizem mais sobre aqueles que os propagam do que aqueles que são difamados por eles. Assim, quando pessoas como Glenn Beck, Sarah Palin, Bill O'Reilly e Newt Gingrich se engajam na política da "divisão e destruição" com a difamação dos ateus, eles o fazem em negação da realidade.

Como acontece com outros grupos de minorias nacionais, o ateísmo está em crescimento rápido. Apesar do fanatismo, o número de não-teístas americanos triplicou como proporção da população em geral desde 1960. A tolerância das gerações mais jovens para as intermináveis disputas religiosas está diminuindo rapidamente. Pesquisas projetadas para entender a relutância em admitir o ateísmo descobriram que cerca de 60 milhões de americanos - um quinto da população - não são crentes. Nossos compatriotas não-religiosos devem receber o mesmo respeito que outras minorias.

Gregory Paul é um pesquisador independente em sociologia e evolução. Phil Zuckerman, professor de sociologia na Pitzer College, é o autor de "Sociedade sem Deus."

Link original:
http://www.washingtonpost.com/opinions/why-do-americans-still-dislike-atheists/2011/02/18/AFqgnwGF_story.html

quarta-feira, julho 13, 2011

Caros amigos,



O presidente do Sudão, al-Bashir, denunciado por vários anos de genocídio e assassinatos em massa, iniciou mais um ataque brutal contra seu próprio povo, lançando bombas sobre vilarejos e indo de casa em casa para matar famílias inteiras. Agora chega! Vamos exigir que nossas lideranças prendam Bashir, imponham enérgicas sanções contra o regime que ele comanda e protejam o sofrido povo do Sudão:



O presidente do Sudão, al-Bashir, é um dos piores assassinos em massa do mundo. Denunciado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio, durante 20 anos ele tem massacrado repetidamente comunidades inteiras que enfrentaram seu governo. E ele está fazendo isso de novo, mas nós podemos impedi-lo de uma vez por todas.

Neste exato momento, al-Bashir está bombardeando mulheres e crianças nas montanhas Nuba, enquanto seus soldados vão de porta em porta cortando as gargantas de famílias inteiras. Durante décadas, as lideranças mundiais têm vergonhosamente permitido a revoltante brutalidade de al-Bashir em troca da manutenção de seu acesso às grandes reservas de petróleo controladas pelo governo sudanês. Porém, nesta semana as coisas estão mudando: o Sudão está se dividindo em dois, a inflação e os preços de alimentos estão disparando e Bashir nunca teve tão pouco controle do poder como agora.

Vamos enviar uma avassaladora mensagem a nossas lideranças dizendo que agora já chega e exigindo que elas deem fim imediato à escandalosa falta de ação, prendendo esse monstro, impondo pesadas sanções a seus cúmplices e comprometendo-se a proteger o Sudão de um genocídio. Clique no link abaixo para assinar a petição e divulgar esta campanha. A petição será entregue aos membros do Conselho de Segurança da ONU quando conseguirmos 300.000 assinaturas:

http://www.avaaz.org/po/sudan_enough_is_enough/?vl

As montanhas Nuba estão em estado de sítio. Na década de 1990, Al-Bashir matou toda uma geração de homens, mulheres e crianças nessa região e agora está de volta para brutalizar os sobreviventes. Mas em poucos dias o sofrido povo do Sudão do Sul finalmente adquirirá sua independência, tomando o controle de grande parte do petróleo que al-Bashir usa para comprar a cumplicidade de outros países para com os crimes que ele tem cometido. Bashir também está enfrentando protestos pró-democracia, agravamento da situação econômica e tensas relações com a China, que há muito tem sido sua protetora. Esta é a nossa melhor oportunidade em décadas de organizar a mobilização internacional necessária para dar fim ao brutal governo de al-Bashir.

Pesadas sanções internacionais, um plano orquestrado internacional para prender al-Bashir e outros denunciados pelo Tribunal Penal Internacional e um comprometimento de proteger o povo sudanês de outros crimes contra a humanidade sinalizam para al-Bashir que a brincadeira acabou, enfraquecem a posição que ele ocupa em seu próprio regime e mostram ao povo sudanês que seu governante não goza mais de impunidade pelos crimes cometidos. Os sudaneses - no Sul, em Darfur, em Nuba e muitos outros lugares - esperaram tempo demais para o mundo assumir a defesa da humanidade e da justiça. Vamos sair em defesa deles agora mesmo:

http://www.avaaz.org/po/sudan_enough_is_enough/?vl

É quase impossível imaginar o desespero e o terror sofridos por mulheres e crianças em Nuba nos dias de hoje ou em Darfur no passado. Uma grande mancha na consciência do mundo inteiro é o fato de não termos tomado as medidas necessárias para impedir o reinado de terror de al-Bashir. Vamos acabar com esse reinado agora mesmo, com um gigantesco protesto pedindo uma ação concreta dos chefes de governo.

Com esperança,

Ricken, Stephanie, Alice, Morgan, Rewan e o resto da equipe da Avaaz


FONTES

Genocídio e limpeza étnica ameaçam Sudão
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110701/not_imp739147,0.php

Exército do Sudão do Norte é acusado de cometer assassinatos étnicos
http://m.noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2011/06/21/exercito-do-sudao-do-norte-e-acusado-de-cometer-assassinatos-etnicos.htm

No Sudão do Sul, uma tempestade ganha força http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,no-sudao-do-sul-uma-tempestade-ganha-forca,730122,0.htm

Acusado de genocídio, presidente do Sudão obtém apoio da China
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5211551-EI8143,00-Acusado+de+genocidio+presidente+do+Sudao+obtem+apoio+da+China.html

Sudão do Sul a um passo da autonomia
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2011/07/04/interna_mundo,259561/sudao-do-sul-a-um-passo-da-autonomia.shtml