terça-feira, junho 27, 2006

O "Dom Sebastião" do capitalismo neo"liberal"


“Desenvolver uma política ecológica significa olhar para a vida com imaginação e inteligência, conhecimento e sentimento, responsabilidade e cultura. Exige lutar contra a burocracia e a ideologia, a uniformidade, o autoritarismo e qualquer outra tentativa de eliminação da diversidade e da autonomia. “ – Mário Signorino

Portugal, genuflectido aos dogmas do neoliberalismo (por isso há quem lhe chame “teologia de mercado”), também tem tido a sua quota de "desenvolvimento" ruinoso, com projectos faraónicos à mistura (ex.: a Expo 98,a sede da Caixa Geral de Depósitos, a barragem do Alqueva, o Centro Cultural de Belém, o Euro 2004, o TGV,...).não sou saudosista dos "bons velhos tempos", até porque antes da entrada do nosso país na UE (na Altura CEE - Comunidade Económica Europeia) as coisas tampouco estavam bem, nem tenho a pretensão de aqui fazer uma análise politica-económica-social de fundo, mas é óbvio que desperdiçámos uma oportunidade única de endireitar o país e rumar na direcção de um desenvolvimento sustentável. É difícil deixar de estabelecer uma relação entre este período (em que uma torrente de subsídios, que se precipitou de Bruxelas, apenas foi capaz de inundar os bolsos de uns poucos, mas lavou os cérebros à maioria dos portugueses) com a época em que ao país afluíam os tesouros saqueados em África e no Brasil, e que, em vez de serem aproveitados para melhorar a qualidade de vida do povo, as elites desperdiçaram quase toda essa riqueza em luxos importados. A ostentação deixou o país na miséria.
O que as actuais empresas papeleiras alemãs estão a fazer na Indonésia, é muito semelhante ao que as suas homólogas inglesas e suecas (que nos seus países têm leis muito rígidas no que respeita a desencorajar o plantio de espécies exóticas, bem como ao controlo da poluição) fizeram em Portugal a partir da década de 60: destruição da vegetação autóctone; monoculturas de eucaliptos (associados à erosão dos solos, aos incêndios constantes, àsfontes secas, a doenças das árvores, como as transmitidas às nossasazinheiras e sobreiros); poluição dos rios (com os efluentes altamente tóxicos das celuloses a serem despejados directamente nos cursos de água), dos “lençóis” freáticos, do litoral e do ar, e o fomento da corrupção. No final das contas, o grosso dos lucros seguia (e segue) para esses países nórdicos, enquanto que nós ficámos com os problemas - que ainda estão longe de ser resolvidos.Na altura já havia subsídios para se efectuar a rearborização com espécies autóctones, mas o nosso governo (com ministros, como Mira Amaral, que faziam parte dos quadros administrativos de empresas de celulose) sonegava-os, apenas incitando os portugueses a transformar o país num imenso eucaliptal, afirmando demagogicamente que essas árvores eram "o nosso petróleo verde"(sic). Se poucos achavam estranho que em 1993, mesmo no auge da “febre dos eucaliptos”, o Estado tivesse que transferir do erário público 4 milhões de contos (~20 milhões de euros) para cobrir os prejuízos da Portucel (a empresa pública com ordem para devastar e poluir à vontade), menos ainda se ouviam vozes discordantes quanto ao facto de de os Estudos de Impacte Ambiental (EIA) dos eucaliptais serem feitos pelas empresas de celulose... havia outra situação de um terceiro-mundismo tão revoltante quanto caricato. Por lei, era garantido às autarquias o direito de veto aos projectos de implementação de eucaliptais com mais de 50 hectares. Mas essas comissões de avaliação (que muito raramente chegaram a ser constituídas) davam direito de voto/parecer vinculativo às empresas proponentes (de celulose)...
A Direcção Geral das Florestal foi o organismo estatal encarregue de garantir que os interesses das celuloses seriam cumpridos integralmente - até tivemos um director-geral da DGF que, pelos bons serviços prestados às celuloses, lhe foi oferecido um cargo nos quadros directivos da Soporcel (uma empresa com capitais luso-britânicos), sem que este estranhasse mudança alguma no seu trabalho...
Era preciso convencer os portugueses de que poderiam ficar ricos como os alemães no prazo de uma década, ou menos. Quase vinte anos depois, continuamos a ser o país da U E (antes do alargamento aos 25 estados) em que os cidadãos têm o menor poder de compra, mas ganhámos um novo estatuto comunitário: o do país com mais dívidas per capita (em 2004, o endevidamento das famílias portuguesas ultrapassava os 90 mil milhões de euros) ...Na primeira década da adesão de Portugal à U E (então CEE), o governo, sob direcção de Cavaco Silva, vendeu a agricultura e até a água dos nossos rios internacionais (suponho que ainda hoje os políticos pensam que o dinheiro é algo que se pode comer e beber – mesmo com os recursos naturais esgotados e inquinados), ficando Portugal, em ambos os casos, dependente dos espanhóis como não há memória .
Cavaco Silva tinha pressa em dar ao país um ar de “desenvolvido” (segundo as suas convicções de economista neoliberal), antes que fosse coagido pela implementação de legislação europeia de protecção ambiental. O seu governo portou-se como um agente imobiliário sem ética e sem moram, nem fazendo a menor ideia do que é o desenvolvimento sustentável, apenas obcecado com as comissões das vendas; colocou à venda tudo, absolutamente todo o nosso património natural e a cultura campesina. Só não eram “filhos-da-mãe” porque foi a primeira coisa que venderam; afinal, a “mãe” do Estado somos todos nós, contribuintes; a “mãe” é o bem mais precioso, é um passado de que nos possamos orgulhar e um futuro que valha a pena alcançar.

Plano Hidrológico Espanhol (PHE)
Todos podiam constatar que o Guadiana estava a secar. Em Lisboa atribuíam-se as culpas às condições meteorológicas, afinal, no início dos anos 90 vivia-se a por seca do século no Alentejo. Mas ninguém do governo se molestou em olhar para jusante do problema; é que os espanhóis, sem darem cavaco aos vizinhos portugueses, tinham construído 24 barragens no Guadiana, privando-nos da água que é nossa por direito (legal e moral) e que tanta falta nos faz.
Denunciado em 1993 pela revista Grande Reportagem, o PHE apanhou de surpresa o governo português e até os técnicos dos órgãos que supostamente deveriam zelar/velar pelos nossos recursos naturais.
Esse alerta, que foi amplificado pelos restantes “órgãos de comunicação social”, fez a nação aperceber-seque, desde os anos 70, os espanhóis estavam a reter boa parte do caudal dosnossos rios internacionais - o que equivalia a uma subtracção de 60% doGuadiana, 30% do Tejo e 20% do Douro (deste último, as autoridades espanholas pretendiam desviar 900 hectómetros para o seu plano hidrológico)- a atitute do governo português foi inicialmente de cepticismo e até declararam inócuo o PHE (a verdade é que os espanhóis nem sequer tinham elaborado um estudo de impacto ambiental que abordasse o lado português). Quando os políticos não puderam mais escamotear o problema e à indignação da opinião pública, o então Ministro do Ambiente, Carlos Borrego, avança com uma versão nacional do PHE, agravando o disparate dos castelhanos. Depois invocaram acordos internacionais (o desviar da água doce vinda de Espanha violava convénios subscritos por Salazar e por Franco, e a Convenção de Helsínquia, que se refere ao usufruto das águas internacionais, além da legislação europeia),e acabaram por aceitar uma compensação pecuniária , avançada por Madrid, pela água roubada. (A empresa espanhola que elaborou o EIA nem teve em consideração o ladoportuguês…)
Mas a celeuma não esmorecia e, entre o dito pelo não dito e muitas manobras de bastidores para recuperarem o prestígo político nessa matéria, alguns membros do governo PSD, como o Secretário de Estado Dr. Menezes, passaram a fazer campanha suprapartidária contra o PHE. É preciso ter descaramento!
Actualmente, em Espanha (mais concretamente em Múrcia) há empresas que estão aser alvo de investigações decorrentes da venda ilegal da água…



Entrava dinheiro a rodos no nosso país (falava-se em 2 milhões de contos por dia!). Todos sabíamos que a CE (UE) não era uma associação filantrópicaseduzida pelos nossos lindos olhos, mas, como galinhas presas num galinheiroàs quais se atira uma mancheia de milho, estávamos demasiado ocupados atentar "debicar" o máximo que nos poderia caber no papo, como para nospreocuparmos com a conta que Bruxelas nos passaria mais tarde, com asconsequências ambientais e sociais desse "desenvolvimento" forçado, muitomenos procurávamos vias alternativas para nos desenvolvermos de formaequilibrada.
Cavaco Silva aceitou matar a agricultura tradicional e as comunidades ruraispor uns 550 milhões de euros. (Coitado do Judas que ficou com tão má famapor ter traído um amigo/mentor por uns míseros 30 dinheiros que nem chegou a gozar...)

Os seus manuais de economia diziam que um país "desenvolvido" tinha uma população ínfima de agricultores««««. Ainda por cima, as principais produções agrícolas do nosso país tinha a UE em excesso (e gastava fortunas a armazenar e a destruir esses produtos, enquanto em África milhares morriam à fome...) Foi então decretada a morte financeira aos pequenos e médios agricultores.
Para tal bastou empurrá-los para a um ultra competitivo mercado europeu de excessos, que deixava a agricultura baseada numa economia de mercados locais fora da competição, e tornar os agricultores gananciosos e subsidiodependentes. Os bancos (sobretudo os directamente ligados ao crédito agrícola) alinharam na estratégia, concedendo empréstimos a juros baixos que logo subiram em flecha, fazendo com que muitos perdessem as suas propriedades (que eram depois vendidas pelos bancos a lisboetas endinheirados que queriam ter um monte alentejano como segunda residência). Como os subsídios raramente chegavam na data acordada pelo Ministério da Agricultura, e entretanto havia fornecedores a pagar para seguir adiante com as colheitas, não tinham outro remédio senão contrair esses empréstimos.Eufóricos com tanto dinheiro a entrar no país, os agricultores que não foram arrumados para as mesas das tascas com reformas antecipadas, tornaram-se caçadores de subsídios (e a primeira coisa que fizeram com o dinheiro foi compara veículos todo-o-terreno). Até se pagava para não se produzir. Por vezes deixava-se apodrecer nos campos as culturas porque havia subsídios para semear mas não para colher (os famosos “girassídios”). Haviam prémios para se arrancarem as vinhas, as oliveiras (34 mil hectares de olival foram arrancados na 1ª metade da década de 90) e outras árvores de fruto (ex.: pessegueiros e variedades tradicionais de macieiras), para logo a seguir se subsidiar a sua replantação...
«««« tendo os EUA como farol e Meca do capitalismo industrial, os economistas apontavam como um dos principais factores de “desenvolvimento” desse colosso o facto de há 100 anos 35% da sua população vivia da agricultura, e actualmente, com a hiper industrialização do sector primário, nem 2% das famílias norte-americanas se dedica a essa actividade. O problema desse economistas é que se esquecem sempre de contabilizar os danos ambientais e sociais da agricultura industrial, tanto nos países ricos, como nos países pobres para onde vertem os seus excessos arruinando os agricultores tradicionais.
Os exemplos mais extremos disso no século XX foram a reforma agrária de Mao Tsé Tung, que pretendia industrializar o campo e converter os milhões de campesinos em operários vinculados à produção deaço, resultaram na irremediável erosão dos solos e na fome generalizadaque cobrou a vida de 30 milhões de chineses; Ou ainda os planos de Staline deacabar com a pequena agricultura, encarregando-se o Estado de gerir grandesunidades agroindustriais , deixando a maioria dos campesinos num estado depenúria crónica e matando 22 milhões em campos esclavagistas. A CEE (U E) fez fincapé na redução da população de agricultores portugueses - de 20% para 6%, como competia a um país “desenvolvido”. Decretou-se então a morte à agricultura de subsistência – que ainda hoje é tida como sinónimo de pobreza aguda e de atraso, motivo de embaraço em relação aos nossos parceiros comunitários (que escarnecem, rindo desbragadamente, de em Portugal ainda haver quem conheça o seu gado por nomes próprios).

Depois a CEE (U E) disse aos alentejanos que aquilo que eles produziam já havia em excesso na Europa e subvencionou novedosas práticas agrícolas cada vez mais daninhas à terra e, em última instância, ao campesinato. Muitos optaram pelos subsídios para não mais produzirem. A sua identidade, a sua dignidade cultural e os seus valores comunitários
A industrialização dos campos acabou com a maioria dos postos de trabalho permanentes e especializados. Tal como acontece noutros países do “pelotão da frente” da Europa comunitária (ex.: França e Alemanha), também por cá a tendência é a agricultura ser praticada em regime de part-time por empresários ou diletantes com poucas raízes no mundo rural
O uso de pesticidas aumentou tremendamente (claro, julgavam que as grandes corporações detentoras do mercado das máquinas agrícolas e de agroquímicos, que defenderam o projecto da Europacomunitária, não iriam sacar a maior parte dos subsídios concedidos aos agricultores? Tal como delegados de propaganda médica que subornam médicos para receitarem os seus medicamentos mais caros, também estas corporações participavam na "formação" dos técnicos encarregados de dar apoio oficial aos agricultores...). A corrupção generalizada era inevitável e servia os interesses dos que queriam acabar com a agricultura sustentável.
A PAC estava empenhada em apoiar a “revolução verde”, tal como esta era imposta pela OMC. Assim, apoio o excesso de produção, beneficiando acima de todos os grandes proprietários rurais, por estes terem maiores capacidades de produção (latifúndios, agricultura intensiva , muita maquinaria e agroquímicos ) do que os pequenos e médios agricultores. A concentração das terras em poucas mãos ( e muitas vezes em agentes económicos alheios ao meio rural) e as leis de marcado causou falências e desemprego generalizado(os latifundiários são os piores empregadores, baseando-se na contratação sazonal e subestimando a mão-de-obra especializada dos saberes empíricos), desintegrando todos os valores sociais da agricultora. Apenas os ricos ficaram mais ricos , o que também fazia parte do plano.

Apareceram até investidores estrangeiros que foram recebidos pelos governantes (em atitude terceiro-mundista) como se se tratassem de messias enviados pelos tecnocratas da PAC (Política Agrícola Comunitária) e do GATT para modernizar a nossa agricultura, tornando-a intensiva e competitiva (arruinando os solos com agroprodutos para exportação). Tal foi o caso do Sr. Thierry Roussel, em Odmira, cujo projecto"modernista" foi apadrinhado (com respectivo foguetório e circomediático) tanto pelo Primeiro Ministro como pelo presidente da autarquialocal (apesar de pertencerem a cores políticas/partidárias aparentementeincompatíveis). O empresário "cámone"(que tinha pago uns whiskies amembros do governo português bem como a membros do parlamento europeu), logoque se apanhou com os bolsos cheios de dinheiros públicos (e apesar dos benefícios fiscais e outras palmadinhas nas costas dos ministros), declarou falência pôs-se na alheta sorridente ,deixando muitos trabalhadores agrícolas no desemprego e uma pequena fortuna emmáquinas e em infra-estruturas agrícolas abandonadas ao "Deus-dará".
Muitas fábricas surgiram com esquemas parecidos, e continuam a migrar para a Ásia ou para a Europa do Leste em busca de mão de obra mais barata. Os empresários portugueses compreenderam rápido a marosca, também declarando falência (que os ilibava de pagar aos trabalhadores postos no desemprego, bem com aos fornecedores), enquanto transferiam a maquinaria para outro armazém e reiniciavam a actividade com outro nome...E já cá canta mais um Ferrari parao Sr. Industrial da área têxtil ou do calçado...++++
++++ Quando a industrial têxtil do norte do país (com especial relevância no valedo Ave) entrou em ruptura (porque as fábricas se mudaram para o oriente a para o Norte de África e porque o Prof. Cavaco Silva acordou com a U E aniquilar essa indústria a troco de mais uns milhões de escudos), o que salvou aquela população de operários desempregados da fome foram as suas ligações à pequena agricultura.

A Europa rica também não perdeu a oportunidade de exportar para cá lixo industrial (ex. escórias de alumínio) e tecnologia obsoleta e perigosa . O caso das incineradoras que os franceses tanto nos queriam vender é bastante elucidativo««««. Os serviços de relações públicas dessa indústria gaulesa eram mesmo eficientes a convencer pacóvios: custeavam as deslocações e a estadia de luxo (não dispensando o champanhe e o serviço de acompanhantes) a um grupo de autarcas, mostravam-lhes unidades fabris com um aspecto impecável, davam-lhes algum paleio técnico (que os pretensos compradores não faziam a menor ideia do que se tratava - e nem uma palavra sobre os perigos ambientais ), convencendo-os que as incineradoras eram um método quase milagroso de fazer “desaparecer” o lixo e ainda ganhariam dinheiro a produzir electricidade. Os autarcas só tinham que candidatar-se a certos subsídios comunitários que acabariam nas mãos dos franceses. Isto passava-se numa altura em que por todo o Hemisfério Norte crescia a contestação às incineradoras (por serem um perigo para a saúde pública e por serem contra as políticas de redução a montante e de reciclagem de resíduos) e estavam a ser encerradas algumas e proibida a construção de muitas outras propostas. No meio de tanta confusão, os jovens faziam da frequência de cursos de formação (“da CEE”) subsidiados uma profissão em si, tanto quanto os seus formadores. Para além desses rendimentos, tais acções de formação tiveram pouca utilidade.
«««« Está bem documentado o aumento do número de cancros relacionados com a expansão das incineradoras (entre 1975 e 1995) em território francês.

A precariedade dos empregos nunca foi tão grave. Os prazos dos contratos laborais reduzem-se de ano para ano, e muitos são obrigados a trabalhar com recibos verdes( que enganam as estatísticas sobre o desemprego), ficando desprovidos de quase todas as regalias sociais, como, por exemplo, o subsídio de desemprego e o direito de serem amparados pela segurança social com uma assistência médica comparticipada durante o primeiro mês de doença, etc…). Abundam casos de trabalhadores ilegais (sobretudo provenientes de países de leste) que são roubados impunemente. A precariedade das condições laborais conduziu ao aumento dos acidentes de trabalho, o que (a par com os acidentes domésticos e os rodoviários, com os viciados em televisão, o analfabetismo, o número de incêndios, a percentagem mais elevada de cidadãos comsida …) nos catapultou para o primeiro lugar da lista negra europeia.
Segundo a ONU, Portugal é o segundo país mais pobre da Europa dos 15, com uma pobreza 7% superior à média europeia.
Por contraste, os gestores portugueses estão entre os mais bem pagos da U E (aparecendo em nono lugar, com uma média de 43 mil euros anuais). Numa lista dos 25 países mais ricos, os nossos executivos estão confortavelmente no 14º lugar.
Enquanto que por cá cabe à classe média e média baixa (fundamentalmente trabalhadores por conta de outrem) sustentar o Estado, suportando quase toda a carga fiscal. Por outro lado, grandes grupos económicos beneficiam de isenções fiscais e de diminuições de colecta actuando nos off shores/ paraísos fiscais.
A pobreza aumenta, de forma galopante, na U E, sendo as suas principais vítimas as mulheres, as crianças e a generalidade dos imigrantes. Dos 50 milhões de pobres que existem na “Europa rica”, 3 milhões são sem-abrigo.
PB

quinta-feira, junho 22, 2006

Retrospectivas vergonhosas

Quase me dá vontade de rir ver Cavaco Silva, nos seus hodiernos périplos pelo “país real”, referir-se à problemática os incêndios com o apelo à consciência de todos nós para combater esse flagelo, começando pela prevenção do mesmo. Este conselho tem tanto de ajuizado como de demagógico; a hipocrisia asquerosa destes políticos não tem limites. Esse FDP fala em consciência, mas onde está a dele?! Quem é que tudo fez para que Portugal se transformasse num imenso eucaliptal «à beira mar plantado»? Um dos ministros de Cavaco, que tinha acabado se saltar da direcção de uma industria de celulose para S. Bento, até dizia aos portugueses que o eucalipto é o nosso «petróleo verde», enquanto que bloqueava toda a informação que Bruxelas disponibilizou relativos aos subsídios para repovoamentos florestais com espécies autóctones (não eram grande coisa, é certo, pois a PAC só lhe interessava a superprodução). A Direcção Geral das Florestas correspondeu, tornando-se no organismo estatal mais corrompido pelos “eucalipteiros” (e pelas reservas de caça privadas)
Quem é que deu carta branca às indústrias de celulose para poluírem tudo o que quisessem, desrespeitando igualmente as escassas leis que havia relativas à protecção dos solos e das linhas d’água? O que poucos perceberam é que a maioria dessas indústrias pertenciam a suecos e a ingleses, que levavam o grosso dos lucros que por cá faziam (de uma forma que lhes seria impossível nos seus países, onde os políticos não são tão terceiro-mundistas) e deixando-nos sofrer as consequências nefastas da sua actividade.
Quem é que deixou que o “combate” aéreo aos incêndios se tornasse num negócio milionário (em que estavam directamente envolvidos alguns membros do governo…)?
Quem é que vendeu o país a retalho (até vendeu a água que os espanhóis estavam a roubar dos nossos rios internacionais) e matou a agricultura tradicional, fazendo com que o interior se desertificasse?
Que governo é que subornou um monte de pseudojornalistas para que cantassem loas aos eucaliptos e denegrissem a floresta autóctone?
Quem é que deu as mais absurdas regalias às empresas estrangeiras para que se viessem cá instalar (sem se preocuparem com nenhum tipo de fiscalização…), “esquecendo-se” de exigir em troca compromissos de que não se deslocalizariam quando lhes apetecesse, como acontece actualmente? Com estas “brincadeiras” durante a época do Cavaquistão, em apenas 10 anos os nossos rios ficaram transformados em cloacas e o fogo tomou conta das serras desumanizadas… a máquina de propaganda do governo de Cavaco até conseguiu abafar o anúncio proferido pelo Greenpeace (no final dos anos 80, início dos 90, não me recordo com precisão) de que a Ria de Aveiro estava no “top 10” dos sítios mais poluídos do mundo!...
Será que, olhando para os últimos 20 anos de políticas neoliberais, de capitalismo macroeconómico predatório e irresponsável, Cavaco Silva (que teve à sua disposição uma quantidade obscena de dinheiro supostamente para melhorar país) tem coragem para assinar este projecto suicidário? Revê-se neste Portugal onde as assimetrias sócias não param de crescer e os recursos naturais são completamente desprezados? As grandes diferenças sociais que eu vejo na sociedade desde que fomos recebidos na U E (então CEE), é que os portugueses estão obcecados pelo consumismo (e por isso estão endividados até à raiz dos cabelos…), o parque automóvel renovou-se e até temos auto-estradas paralelas às vias rápidas, além de estádios novos deixados às moscas …
Marques Mendes, na qualidade de Ministro de Cavaco, era oficialmente “consultor” de 16 empresas. Nesse tempo isso ainda não era ilegal, “apenas” moralmente abjecto. “Consultor de empresas” tratava-se um eufemismo que significava que recebia muito dinheiro de algumas empresas para abusar do seu poder político como membro do governo, a fim de lhes “facilitar” a atribuição da execução de grandes projectos estatais (o que lhe permitiu comprar até um helicóptero particular…). No fundo, não é muito diferente do que fez José Sócrates quando se apanhou na “Corte de Lisboa”, tendo que retribuir os favores aos industriais e políticos da Beira Interior que lhe custearam esse sonho…
( Marques Mendes deve ser o herói do Dr. Rosa do Céu, pois, com o beneplácito de Cavaco, chegou a mandar comprar para o seu gabinete 13 BMWs topo de gama… Lembro-me também que a Drª Edite Estrela, quando estava à frente da CM de Sintra, deu uma bela facada no erário público ao adquirir uns quantos Mercedes para si e para os seus vereadores…este tipo de exemplos são às centenas... e ainda há quem fique ofendido quando eu digo que temos uns políticos de merda…)

Em Portugal uns 7 milhões de pessoas vive junto ao litoral. Só nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, concentra-se 40% da população.
Nos anos (19)60 cerca de um milhão de portugueses tinha emigrado. A ditadura, a pobreza crónica e a guerra colonial não deixavam muitas esperanças de um melhor porvir para os que por cá ficavam. As cidades eram um pólo de atracção irresistível para muitos. O êxodo rural deu-se com proporções e velocidade tais que as cidades não puderam crescer de forma equilibrada e saudável. Faltavam planos de ordenamento e infra-estruturas de saneamento, e sobravam bairros clandestinos, habitações precárias, pobreza e doenças. (A cólera é, como todos sabem uma doença dos pobres, e era frequente em Portugal naqueles tempos. O último grande surto que Lisboa conheceu foi em 1974.)
Nos anos 80, graças aos esforços do arquitecto paisagístico Gonçalo Ribeiro Telles, esboçaram-se os futuros Planos Directores Municipais (PDM) e demarcaram-se as divisões territoriais correspondentes às áreas de Reserva Agrícola e de Reserva Ecológica nacionais. Mas só nos anos 90 é que foram regulamentadas estas leis. Não obstante, estes planos de ordenamento (incluindo os esperados Planos Regionais de Ordenamento) nada conseguiram fazer para conter a urbanização desordenada, sobretudo junto ao litoral, onde prolifera como cogumelos no Outono ou como metástases em Chernobyl. Os poderes públicos têm até gasto fortunas a construir esporões e outras obras de engenharia constantes e ubiquistas para defender construções que nunca deveriam ter sido feitas, e que, não raro, até são ilegais. Com 67% do nosso litoral muito ameaçado pela erosão (recuando vários metros por anos) e com as trocas sedimentares impossibilitadas pela barreira de cimento, o mais sensato – por razões económicas, ecológicas e sociais – é retirar-se essas construções desfasadas, como aconselham os técnicos e como é actualmente política consensual na U E.
Em Espanha, por exemplo, quando parecia que a urbanização desordenada tinha irremediavelmente chegado a um beco sem saída, o governo central estabeleceu uma área non idificandi, onde não é permitido construir mais nada e avançaram também com um programa de demolição onde a erosão costeira é mais violenta.
Os políticos são demais! Enquanto que Marcelo Rebelo de Sousa fazia campanha eleitoral dando um demagógico e mediático mergulho no Tejo em frente dos Gerónimos, e, ao chegar a terra, declarava aos jornalistas que o seu governo em poucos anos limparia o rio (Tejo), por forma a que os lisboetas reconquistassem o direito de nele se banharem quando o calor apertasse, sub-repticiamente, o mesmo professor de direito, junto com Freitas do Amaral, dava pareceres legais destinados a revogar um decreto que pretendia salvaguardar parte do património natural do nosso litoral. Neste caso, os clientes do Prof. Marcelo tratavam-se de autarcas e empresários da construção e dos empreendimentos turísticos que se uniram para reivindicarem poderes legais para continuarem a saquear a orla marítima. (Há muito que a ameaça tinha deixado de ser os mouros ao largo; quem nos andava a roubar o que de melhor tínhamos eram piratas engravatados que não enfrentam o mar...)*-+*-+

*-+*-+ Foi como aquele Decreto-lei que o governo, alvo de tantas críticas de conivência com os incendiários, promulgou proibindo a reconversão para eucaliptais e outras monoculturas alóctones de áreas onde tenha ardido vegetação autóctone considerada como “floresta” e/ou “matos”. O lóbi das celuloses não estava para brincadeiras, e imediatamente fizeram o governo emendar esse decreto, por forma a que só pudesse ser aplicado caso se provasse que os incêndios tinham tido/eram de origem criminosa…Isto num país onde as bombas incendiárias (algumas lançadas de avionetas) constituem uma prova desse crime tão válida como as pontas de cigarro lançadas pelos automobilistas descuidados.

As autarquias (sobretudo do litoral algarvio, do Alentejo e da costa oeste) propositadamente atrasaram a elaboração dos Planos Directores Municipais (PDM). Os autarcas ganhar tempo para aprovarem o máximo de projectos que sabiam ser incompatíveis com os PDM minimamente sérios. Depois bastava invocar os “direitos adquiridos”; isto quando as infra-estruturas sumamente agressivas não eram já um facto consumado – que era, e continua a ser, a política mais eficiente em Portugal.~~
~~ Por motivos análogos, anos mais tarde, os autarcas de todas as cores políticas conseguiram aniquilar o projecto europeu da Rede Natura 2000. Os políticos portugueses fazem de tudo para que qualquer projecto que tenha que ver com conservação da natureza e desenvolvimento sustentável se transformem, invariavelmente, em nados mortos.
Durão barroso e Santana Lopes extinguiram o Instituto de Promoção Ambiental (IPAmb) e tentaram fazer o mesmo com o Instituto da Conservação da Natureza (ICN). José Sócrates limitou-se a seguir essa política.
A Durão barroso foi-lhe dada uma oportunidade de ouro para fugir da merda que tinha feito como Primeiro Ministro, indo para Bruxelas, onde ocupou o cargo de Presidente da Comissão Europeia. Nos telejornais apenas temos podido assistir à sua futilidade demagógica dentro do Parlamento Europeu, mas o que os jornalistas não falam é que os maiores esforços de Barroso se têm centrado no boicote sistemático às normas de protecção ambiental…
Nunca se perguntaram como é que um político medíocre, com falta de carisma, servil aos interesses do império corporativo (veja-se a sua odiosa e irresponsável actuação aquando da preparação da 2ª guerra no Golfo Pérsico…), e que já tinha provado ser um péssimo Primeiro Ministro, foi convidado para Presidente da Comissão Europeia? Duvido muito que tal se tenha devido ao reonhecimento pelo bom trabalho que tinha feito, muitos anos antes, lutando pela causa a autodeterminação do povo timorense, quando era Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Cavaco Silva. Não quero estar a dar demasiado azo a teorias da conspiração, mas desconfio que esse seu regresso “glorioso” a Bruxelas se tenha devido sobretudo ao intrigante facto de, pouco antes, ter sido convidado para atender a uma reunião mais ou menos secreta da Mesa Redonda Europeia. .. Não, não se trata de mais palhaçadas que tenham que ver com o “Santo Graal” e/ou com Camelot; a Mesa Redonda Europeia é a associação de industriais mais poderosa da Europa e são eles que definem grande parte da política e das normas aprovadas em Bruxelas pelos seus políticos-marionetes.



O governo, pressionado pelos média e por Bruxelas, tentou (?) por termo a esta tramóia predatória, mas graças aos juristas supracitados e ao Provedor da Justiça, Meneres Pimentel, a defesa do litoral foi considerada anticonstitucional.
Foi preciso Bruxelas ameaçar fechar a torneira dos subsídios para que as autarquias apressassem a conclusão dos seus PDMs. O prazo foi estabelecido para 1999. As autarquias conseguiram cumprir esse compromisso, mas sem prestar um grande serviço ao país. Os PDM, apenas reflectem os seus interesses de expansão urbanística (ao ponto de preverem um crescimento da população residente de Lisboa em 5 ou 6 milhões de residentes e de, somando todos os PDM, até 30 milhões de portugueses, quando a tendência demográfica aponta para um decréscimo da população!), não contemplam a importância da integração harmoniosa das urbes nas suas respectivas biorregiões e estão cheios de erros técnicos , que incluem a construção de bairros sociais em leitos de cheia…
As cidades vão perdendo não só qualidade de vida mas também identidade, alastrando-se, como cogumelos no Outono, ou como metástases no corredor industrial dos Urales, em feias e uniformes áreas dormitório que, invariavelmente, seguem a construção de vias-rápidas, de auto-estradas e de pontes.


Então, ninguém entende porque é que este país se tornou num reles pasto para às chamas e para os patos bravos da construção civil? É preciso fazer um desenho?


Até agora, os lóbis que fazem dos políticos mais poderosos os seus títeres, conseguiram que os seus atentados ambientais (artigos 278 e 279 relativos a «danos contra a natureza» e à «poluição», respectivamente) passassem praticamente impunes, configurados como crimes de desobediência a prescrições administrativas. Uma palhaçada que está a ar cabo do país!
Vamos lá a ver se a reforma penal que está em curso dá outra configuração jurídica a esta situação inadmissível e suicidária, por forma a que, concretamente no que diz respeito ao nosso concelho, a autarquia deixe de rir-se dos autos que o SEPNA lhes tenta levantar, e de tudo o mais que se perpetra – com total impunidade - na zona industrial e no paul… Isso também vai depender da capacidade de vigilância e reivindicação dos cidadãos, assim como do apoio que os departamentos jurídicos das ONG de ambiente possam prestar à malta…







Seria óptimo que a Srª vereadora do poleiro do ambiente conseguisse amadurecer o suficiente [como] para prescindir de colocar sempre as suas vinganças pessoais à frente dos reais interesses da comunidade – a que é suposto servir…
Isto começa por resolver (ou relevar) as quezílias mesquinhas que insiste em manter com alguns professores locais, assim como não deveria ser admissível a alguns professores tentarem fazer das escolas liças político-partidárias e um trampolim para agarrarem tachos proporcionados pelo executivo camarário, ou até mesmo pela oposição. No meio desta parvoíce toda, são as crianças que sofrem os piores prejuízos…
Vou dar-vos um exemplo muito singelo (apenas porque não considero oportuno acicatar polémicas mais graves que pudessem dar a impressão de que pretendo utilizar as crianças como arma de arremesso contra a autarquia) : entre o final o ano passado e o início do corrente ano, a vereadora Vanda Nunes boicotou por duas vezes visitas de estudo ao Paul dos Patudos, cuja organização estava a cargo da escola C+S, apenas porque não suporta alguns professores que lá trabalham (sem que nenhum deles estivesse envolvido nesta acção…) e também porque suspeitava que a AIDIA – Associação Independente de desenvolvimento Integrado de Alpiarça – estava por detrás da iniciativa.

(Convém lembrar que a AIDIA é presidida pelo Dr. João Serrano, que, entretanto, passou de bestial a besta aos olhos deste executivo, calculo que por ter ousado criticá-los, mas não estou suficientemente a par dos motivos que os incompatibilizaram)

Sempre que a vereadora alegou estarem os autocarros da Câmara indisponíveis, eu vi-os estacionados e em perfeitas condições. (Um deles, o mais pequeno, nem sequer esteve ao serviço das escolas nesses dias.)
Foi preciso muita persuasão externa de alguém ligado ao RIPIDURABLE, para que a vereadora desse o apoio a que está moralmente obrigada. (Tenho quase a certeza de que se os seus filhos estivessem inscritos na visita de estudo em causa, estes problemas nem se colocariam…) Mas o argumento que finalmente a convenceu não foi a validade lúdico-didáctica da visita ao paul, mas sim o temor de que a “oposição” (esse monstro disforme, cabeludo e dentuço que ela vê escondido sob cada mesa e acoitado em cada canto…) tomasse a dianteira (como se esse “objectivo” fosse minimamente difícil ou interessante, mesmo trabalhando em regime de voluntariado, como é o caso) nas actividades de educação ambiental – a que a autarquia se comprometeu no âmbito do RIPIDURABLE, mas sem se molestar em contratar os serviços de alguém que perceba do assunto… (O que já gastaram em viagens ao estrangeiro e em almoços, provavelmente dava para montar um centro interpretativo/de educação ambiental…)
Lá conseguimos levar os garotos ao paul, e tudo correu bem.
De forma educada e diplomática, não deixei de convidar (com o ingénuo optimismo de que poderiam estar interessados em aprender alguma coisa…) os representantes da autarquia a participarem nestes passeios que orientei junto com umas professoras que estão a fazer um trabalho excepcional com algumas turmas que respondem de forma muito positiva a esse esforço. Também ninguém se esqueceu de agradecera autarquia, com toda a deferência e formalidade, pela amabilidade de ter cedido o transporte.
(A visita que estava planeada para a Primavera foi boicotada pelos pais, dominados pelo temor de que os seus filhinhos pudessem apanhar a gripe das aves… Que a maioria das pessoas esteja alarmada e, sobretudo, extremamente desinformada sobre este problema, até é compreensível, mas que os professores – licenciados em biologia - não tenham conseguido esclarecê-los, já me parece grave…)


Quer queiram, quer não, os professores e a autarquia estão ligados institucionalmente (com relações de interdependência)
e têm que aprender a trabalhar juntos fora das abjectas lutas político-partidárias!
Há uns 2 anos (desde que regressei a Alpiarça) que ando, de balde, a tentar convencer ambas as partes a aderir ao projecto da Rede Europeia das Eco-escolas. É algo relativamente fácil de conseguir e as vantagens são óbvias para todos (até para a sede de protagonismo mais ou menos parasitário da autarquia). Tem uma forte componente interdisciplinar; permite às escolas dotarem-se de tecnologia que respeita o ambiente; dá a oportunidade dos alunos de porem em prática conhecimentos teóricos, bem como de assumirem responsabilidades comunitárias; deverão contar com apoio técnico qualificado, etc…Assim até poderiam dizer que estão a tentar cumprir os objectivos da Agenda 21 local, sem provocarem muitas risadas…
Suponho que preferem que as crianças cresçam para se tornarem grunhos mal educados (com défice de atenção, carinhos, valores e orientação) que apenas consigam debitar miudezas sobre o futebol, os carros e o jet set, cujos sonhos se limitem a uma lista de compras hedonista, egoísta e irresponsável, enquanto se sacaneiam uns aos outros por causa de tachos para os quais não têm a menor competência… Assim não fazem ondas e é mais fácil aliciarem-nos a pegar em bandeirinhas de 4 em 4 anos – indiferentemente se é por causa do futebol ou dos partidos políticos. Viva Portugal, carago!!





Vanda Nunes já tentei explicar que, se a autarquia estiver realmente interessada em desenvolvimento sustentável (trata-se de uma hipótese de retórica, bem sei) relacionado com a exploração do paul, poderão apostar numa cooperativa de artesanato telúrico (ex.: peças de artesanato relacionadas com o património natural da região, que poderão ir das mais acessíveis, às mais sofisticadas e caras, como se pode observar no internacionalmente aclamado artista chileno Lucien Burquiers – cujo trabalho de extremo bom gosto dá emprego a muitas pessoas);
- Pequenas empresas de eco-turismo e de educação ambiental (a propósito, tenho um amigo que dirige uma destas empresas e que desistiu de apostar no paul da Gouxa devido à incompatibilidade extremamente incómoda e perigosa dos grunhos do todo-o-terreno que a autarquia continua apoiar incondicionalmente, sem que daí advenha nenhum lucro…);
- Criação da primeira reserva mundial do cavalo Sorraia (apostando forte também na hipoterapia), e depois associar os vinhos e os outros produtos agrícolas da região a esse equídeo ameaçado, bem como à avifauna local;
- Um centro interpretativo de apoio às escolas e aos turistas, mas também onde os investigadores possam fazer os seus trabalhos e pernoitar;
- Uma ecoteca;
- Um centro de formação para actividades ar livre (que também sirva a atletas e a crianças desfavorecidas de todo o país);
- Um museu de arqueologia e a recreação (ao ar livre, pois claro) de uma aldeia pré histórica (uma merecida e original homenagem ao nosso singular património arqueológico, já que Alpiarça é extremamente rica em vestígios da ocupação humana durante o Paleolítico inferior, e, posteriormente, até se desenvolveu aqui a chamada “Cultura de Alpiarça”, em que se destacam as peças de cerâmica);
- E, porque não ?, recuperar o espírito romântico do final do séc. XVII, XIX e início do séc. XX (que inspirou José relvas) e disponibilizar para os artistas (pintores, fotógrafos, poetas, músicos,…) um local lá no paul para que se inspirem e, em troca, ofereçam a Alpiarça o raro privilégio de ver o seu nome associado a algumas das mais belas e criativas manifestações da nossa cultura.Tudo isto sem terem que cimentar a natureza, bastando para tal recuperar os moinhos e as fábricas de cerâmica abandonados e em ruínas.

segunda-feira, junho 19, 2006

Arroz dourado, uma vedeta dos OGM em declínio

Com o suposto intuito de colmatar a deficiência de vitamina A (que a OMS calcula vitimar anualmente cerca de 124 milhões de crianças), uma grande multinacional de agrobiotecnologia financiou um projecto que culminou numa variedade de arroz transgénico (o chamado “arroz dourado”, concebido a partir de material genético proveniente de vírus e de bactérias associados a doenças das plantas com dois genes de narciso na mistura, e que, supostamente, permitem o armazenamento de betacaroteno em maiores quantidades) rico na supracitada vitamina. Foram necessários 10 anos e mais de 100 milhões de dólares para atingirem essa meta.
As suas "virtudes" foram largamente exageradas. "Por si só, o arrozdourado não diminui o défice vitamínico de forma significativa" (Martin Nestlé, responsável pelo Departamento de Estudos de Alimentação e Nutrição da Universidade de Nova Iorque)O betacaroteno (que existe em todos os frutos e legumes) em organismos subnutridos não tem a capacidade de se transformar em vitamina A. Mais, ao que têm demonstrado estudos exaustivos, nem sequer está provado que o arroz dourado tenha quantidades de betacaroteno extraordinárias e continua umaincógnita sobre os seus efeitos reais quando assimilado pelo organismo humano.
As vitaminas sintetizadas não são uma panaceia para os problemas causados pelas dietas deficientes. De forma natural, a acção de cada vitamina é potenciada em sinergia com outras vitaminas e diversos elementos químicos. Quando se sintetizam separadamente os seus efeitos nos organismos têm-se revelado desapontadores, quando não dramáticos. Veja-se o caso do estudo conduzido pelo Dr. Albanes (da Universidade de Tufts, Boston) que, com o intuito de prevenir o cancro do pulmão, recomendou a 15 mil fumadores pílulas de betacaroteno(numa dose “equivalente” a 6 cenouras diárias). Ao fim de 8 anos de acompanhamentos desses fumadores, concluiu-se que as pílulas de betacaroteno tinham sido responsáveis pelo aumentou em 28% a referida enfermidade, sem que os cientistas tenham conseguido perceber bem o porquê dessa reacção adversa. Outro estudo semelhante verificou um incremento da incidência de cancros de pulmão em 18%.
Os suplementos vitamínicos (de síntese química) com frequência se revelam uma agressão ao nosso organismo, pois o fígado não os consegue processar e/ou eliminar as doses exageradas com que muitas pessoas se auto medicam pesando tratar-se de substâncias que «se não fizerem bem, tampouco farão mal».



Mesmo escamoteando as questões da potencial perigosidade dos OGM e até dos direitos de patentes reivindicados pelas multinacionais, restam umas perguntas constrangedoramente óbvias: porque é que não foram estudadas e utilizadas outras fontes sobejamente conhecidas de vitamina A (como os vegetais verdes e o arroz com casca) muito mais baratas e naturais?! E porque é que não se atacam as causas politico-sociais que empurram tanta gente para a fome? Talvez a pergunta fundamental deste caso seja: quais as reais intenções dos promotores desta iniciativa?!
O Arroz dourado não procura solucionar as verdadeiras causas da carência alimentar: o acesso dos pobres a uma alimentação variada e nutricionalmente equilibrada. (Os que padecem de carência de vitamina A, também sofrem igualmente de falta de ferro, zinco, iodo, vitamina D, cálcio, etc…) Pelo contrário, fomenta a alimentação precária que se baseia numa única cultura agrícola. Antanho as populações cultivavam uma ampla gama de vegetais ricos em vitaminas com baixos custos.
Outro tipo de arroz GM desenvolvido para medrar nos meios salinos poderá facilmente colonizar e tornar-se numa praga incontrolável nos já ameaçados estuários.


Fraude Criminosa

8 anos após a generalização das agroculturas GM, o Centro de Ciência e Política Ambiental reportou um aumento no uso dos agroquímicos (que no caso do milho corresponde a mais 29 por cento por acre).

Num estudo recente que abrangeu 18 mil campos de cultivo nos E.U.A., chegou-se à conclusão que, em média, a produtividade das culturas transgénicas é menor que as convencionais (em menos 4%, mas nalguns casos em menos 10%). Complementarmente, o Dr. Charles Benbrook, do North West Science and Environment Policy Center of Sanpoint, demonstrou que a cultura da soja transgénica comercializada pela Monsanto utiliza mais 11,4% de herbicida (da mesma empresa) do que a soja convencional, pois “ervas daninhas” têm desenvolvido uma maior resistência a esse agroquímico.


Outras multinacionais optam por, na fonte, impregnar as “sementes castradas” com quantidades ingentes dos seus pesticidas e de bactérias geneticamente modificadas (ex.: Bacillus subtilis). Quando não conseguem escoar toda a produção (visto que a validade das sementes expira com rapidez), despejam esses resíduos tóxicos perigosos no chamado “3º Mundo”. De entre muitos exemplos possíveis, cito o caso da empresa norte americana Delta & Pine Land Co. Que em 1998 depositou o seu lixo tóxico na pacata e desprotegida povoação de Rincon-í, no Paraguai, tendo provocado intoxicações letais nos desavisados habitantes locais, além do inquinamento de terras e dos lençóis freáticos. Este caso não difere substancialmente do ocorrido após a primeira Guerra do Golfo (promovida por Bush pai), quando o exército norte-americanos foi despejar o seu arsenal químico (que não chegou a ser utilizado contra os iraquianos) extremamente tóxico numa baía no norte da Filipinas. Desde a Segunda Guerra Mundial que os EUA mantêm bases militares nas Filipinas. Os estaleiros dos seus barcos e aviões de guerra sempre produziram uma enorme quantidade de resíduos tóxicos (ex.: amianto, mercúrio, chumbo, PCB, FBT, dioxinas, etc…) que, mais cedo ou mais tarde, acabariam na baia de Subic. (Pergunto-me o que terão estes tipos arrojado ao mar dos Açores durante todos estes anos que têm ocupado a Base das Lages…)A saúde dos filipinos que consumiam essas águas inquinadas deteriorou-se de tal forma que o caso atraiu a atenção da comunidade internacional. Carolina, a princesa de Hanover, encabeçou uma forte campanha de solidariedade a estas vítimas – que não têm recursos suficientes para custearem os tratamentos. (www.amademondiale.org/)
O exército yankee foi chamado a prestar contar, ou melhor, a pronunciar-se sobre este atentado ecológico. A resposta é que não satisfez ninguém. Os responsáveis pela superpotência militar afirmam que nos contratos que assinaram (sob coação) com o governo das Filipinas, não existe nenhuma clausula que os obrigue a limpar a sua porcaria letal. O Congresso (dos EUA) produziu (em 1992) um documento a esse respeito um relatório que concluiu que “os custos da remoção e limpeza desses resíduos tóxicos são demasiado elevados.” (sic)
Igualmente esquecidas estão dezenas de toneladas de armas de armas químicas abandonadas pelas tropas estado-unidenses e britânicas no Panamá, em relação ás quais o governo NA afirma que não vê justificação para mobilizar meios destinados a limpar esse seu lixo tóxico «em terras não aptas ao desenvolvimento urbanístico, residencial ou comercial» (sic). Isto apenas significa que não se trata de uma área (florestal) onde os yankees tenham esse género de investimentos, mas não deixa de ser o lar de muitos panamenses que vivem na aflição de que os seus filhos sejam vítimas de bombas de gás mostarda que pululam pelas matas em redor das suas casas.

Os média, em vez de se preocuparem tanto com a liça futebolística, deveriam mostrar os horrores de que estão a padecer estas populações vítimas inocentes do imperialismo inimputável inerente a esta globalização corporativista…
É deveras intrigante que a conhecida multinacional Bayer ( que produz e comercializa produtos farmacêuticos, agroquímicos e OGMs) tenha escolhido, de entre os seus funcionários-modelo, para proferir o discurso de abertura das comemorações dos seus 50 anos de vida (desde que foi reestruturada em 1951), um dos cientistas responsáveis pela criação, durante a II Guerra Mundial, do gás Ziklon-B. Este gás (que é um pesticida) foi encomendado por oficiais nazis de propósito para executarem judeus, negros, ciganos e outras minorias étnicas e religiosas, homossexuais e vários outros indesejáveis ao 3º Reich, nas hediondas câmaras de gás. Finda a guerra, provou-se em tribunal que o referido cientista tinha conhecimento de uso pretendido para a sua sinistra invenção. Por isso passou sete anos na cadeia. Agora é um dos “excelsos crânios” que inventa a comida que vamos buscar ao supermercado...

Mais alguns exemplos dos crimes corporativos da Bayer:
- No final do séc. XIX, início do séc.XX, a Bayer comercializou heroína;
- em 1925 a Bayer fazia parte de um cartel corporativo que viria a fundir-se com o nome de IG Farben. Esta, durante a II Guerra Mundial, utilizou mão de obra escrava fornecida pelos nazis (a partir dos campos de concentração) e foi responsável pela criação e comercialização do gás Zyklon B, para além de ter usado esses prisioneiros como cobaias, injectando-lhes germes drogas que seriam utilizados numa possível guerra química e/ou biológica. Não só os seus cientistas trabalhavam nos campos de concentração fazendo dos prisioneiros cobaias, como também essa empresa subsidiou as experiências horríficas do Dr. Mengela, mais conhecido como “o anjo da morte”.
A IG Farben tinha acesso facilitado/privilegiado a matérias primas e a empréstimos durante a ditadura de Hitler, devido a que os quadros administrativos da empresa ocupavam também altos cargos no partido nazi. E como controlavam ainda o monopólio da borracha sintética e, em conluio com a empresa NA Standard Oil, asseguravam parte do fornecimento ao exército dos combustíveis sintéticos, foi enorme a sua responsabilidade nos esforços de guerra dos alemães.
No Tribunal de Nuremberga (1947) os executivos e cientistas da Farben foram condenados por crimes de guerra, mas, estranhamente, o Tribunal Americano ilibou-os dessas acusações…Na caça ao cientista em que se empenharam as potencias aliadas após a guerra, o governo NA chegou oferecer emprego a alguns destes facínoras…
Essas práticas não foram, de todo, banidas pela Bayer até aos nossos dias. A Bayer não tem poupado esforços em, manobras de bastidores para que a administração Bush (mais concretamente através da Agências de protecção Ambiental – EPA) levante a moratória aos estudos sobre a toxicidade em que, deliberadamente, submetem humanos aos efeitos dos pesticidas. A emprega germânica alega que esses testes são necessários e que todos os que se submeteram ao contacto com os tóxicos eram “voluntários”. Pois, quando se é pobre, a troco de umas somas ridículas, as pessoas “volutearam-se” a qualquer coisa. Do mesmo modo que chamamos voluntários – e não mercenários – aos que se alistam no exército com o único propósito de escapar à pobreza e ao desemprego. É de admirar que o Bush e Blair não tenham autorizado essas experiências nos seus prisioneiros considerados “combatentes inimigos”…
As provas mais recentes de que a Bayer tem utilizado humanos como cobaias em experiências com pesticidas remontam a 1998, num estudo (realizado na Escócia) para determinar os efeitos fisiológicos do insecticida baseado em metilo de azimfos (???) (um químico derivado de um organofosfato originalmente desenvolvido e utilizado como um gás com capacidade para destruir o sistema nervosos central durante a II Guerra Mundial).
Tais práticas violam leis federais (dos EUA), o Código de Nuremberga, a Declaração de Helsinkia; vão contra as deliberações do painel de aconselhamento científico da EPA e são consideradas aberrantes de acordo com as legislações e a ética científica e a moralidade de qualquer nação dita civilizada.
A Bayer não é única empresa a testas (na “segurança” dos laboratórios) pesticidas em humanos. Junto da EPA foram entregues mais 10 estudos que recorrem a esta metodologia abjecta provenientes de diferentes entidades. Se a EPA ceder às pressões da Bayer, abrirá um precedente extremamente perigoso.
Em 1988, durante a administração de Bush sénior, o então Director da EPA proibio a agência de utilizar dados referentes a experiências semelhantes conduzidas pelos nazis.


A política que estão agora a submeter os consumidores (vítimas dos seus pesticidas e dos seus OGM), no essencial, não difere muito das suas práticas durante o regime de Hitler. E nem o seu departamento de farmacologia foge à regra. Eis um exemplo disso: em 1989 a Bayer tinha em seu poder estudos que demonstravam claramente a ineficácia do seu antibiótico comercializado com o nome Ciprox; quando este entrava em contacto com outras drogas, perdia muita da sua capacidade bactericida. Mas a empresa estava (e está!) mais interessada nos lucros comerciais imediatos, do que em proteger a saúde pública, deixou que, pelo menos, 650 pessoas arriscassem as suas vidas no bloco operatório sem que os médicos fossem informados das deficiências do Ciprox.

Nos Andes peruanos, uma comunidade de campesinos foi recentemente abalada pela morte de 24 crianças, além de outras 18 terem ficado gravemente lesionadas, em consequência de um envenenamento colectivo causado por um pesticida da Bayer. As vítimas desta tragédia julgaram tratar-se de leite em pó. O seu erra (fatal) justifica-se pelo facto de que o pesticida em causa (comercializado com o nome “Folidol” e cujo principal agente químico activo é o químico metilo paratião) foi vendido a agricultores analfabetos e que só falavam quechua em embalagens semelhantes às do leite em pó e com indicações em espanhol – sem elementos gráficos que o identificassem como tóxico.


Claro que nem todos os cientistas da biotecnologia agem de má fé; alguns são mesmo movidos por ideais nobres. Mas não é paliando os sintomas dos problemas (ainda por cima brincando aos aprendizes de feiticeiro) que vamos solucionar as desigualdades sociais e a degradação dos recursos naturais. Todo esse esforço intelectual, técnico e financeiro deveria estar canalizado para encontrarmos soluções realmente sustentáveis para a agricultura mundial, em vez de forçarmos a abertura da «caixa de Pandora», que, no mínimo, nos afasta das soluções sustentáveis.

PB

domingo, junho 18, 2006

A Escola-Estado-Empresa
ou
Revoluções nos Baldios
Reorganizando-se, o arquivo defeca
Fichas de adolescentes escolares,
Num baldio próximo.
As suas expressões forçadas,
Não escondem o olhar consternado
Ante a morte prematura.
Holocausto virtual. Não importa.
A tragédia é a das consciências
Suprimidas e formatadas
Pela e para a Megamáquina.
Osmose cibernética da escravidão.
Estuprados pela indiferença
E famintos de verdade e de justiça,
Escancaramos os buracos da cabeça,
Oferecendo aos desesperados
A caixa de ressonância
Dos nossos peitos abalroados
(Covil de esqueletos
Que são diapasões;
Conjuras de cristal
Prestes a estilhaçar-se…)
Para que em nós ecoem
Os seus gritos amordaçados.
Garotos, fujam para a floresta!
Terão os vossos proprietários absentistas
E todos os adestradores de secretária
Conseguido imunizar-vos
Contra a liberdade comunalista?
Já abjuraram a inocência dos vossos sonhos,
Substituídos por uma lista de compras?...
A tribo dos marginais conscientes
Está dispersa e enfraquecida,
Mas ainda celebramos
Mitologias vivas
Epistemológicas
Iconoclastas;
Ainda fazemos amor
Para além dos corpos;
Ainda nos aquecemos(Até à queimadura)
Na pira das paixões idealistas!
Não temos uma terra prometida,
Temos as unhas ensanguentadas
De afiar lanças-libertárias…

Revolução Verde

Spartacus, Zumbi, Osceola e Mohamed Ali

versus (verso e reverso – fora versículos!)

Cristo, Gandhi Buda e Martin Luther King

Feto infecto

Dualidade mal casada

Que dilacera o espírito libertário

Celeuma de radicais livres

Que escaparam às boas intenções

Das exaustas mitocôndrias

Que jamais saem à rua…




O Carnaval Medieval

e

A Cruzada das Bacantes

ou

Rapsódia Pop Sincrética


O remorso queima-lhe as entranhas.
Por entre miasmas e lençóis ensanguentados,

Barbara Cillei agoniza sem salvação.
Urra uma derradeira vontade: « Voltarei!...»

…Para o incesto fraternal e a magia negra…

E voltou… nas páginas dum romance.
(O sorriso cúmplice de Angelina Jolie …

Ah, se Jim Morrison fosse vivo, comia-a!)
Sigemundo rouba o corpo da sua amada.
Um amor que transcende a moral
E os limites da natura.
Invoca o Príncipe das Trevas
Num ritual de ressurreição.
Mermado pela idade e pela doença,

Mas sem essas pretensões vampíricas,

O genial Leonardo escreve: « Eu continuarei!»

Carmila partiu uma unha

À procura da mandrágora

Que cresce no sopé do castelo

Sob a erecção dos enforcados.

Ali perto, Dríade lava os seus cabelos

No regato que nunca saciará a sede

Do jovem monge que a espreita…

Os anéis de Morgana carregam venenos

Sempre que partilha o vinho com Merlim.


A Rainha Branca oculta-se da luz solar.
As suas pupilas abrem-se como o Maelström,
Fazendo lembrar os olhos duma coruja.
Não é da escuridão, nem do desejo;
É da beladona que a deixará cega…
O tempo mantém-se sempre no presente
Porque nos parasita a juventude…
Um gume afiado rouba o líquido vital
Para que a condessa Bathory se banhe
Numa geriática mezinha
Que exige uma hecatombe…
Será emparedada a pão e água,
Sem conhecer o segredo dos nosferatu
Nem o perfume de Teresa d’Ávila.


O sepulcral silêncio dos claustros

É tecido com o ciciar de conspirações.

A cenofóbica arquitectura das celas

Protege a integridade dos místicos

Que castigam a sua carne

Por esta ter vontade própria;

Julgam poder negar a animalidade intrínseca

- Tudo o que é instintivo, é essencial!

Através da litania embrutecedora

E da repetição de rituais litúrgicos

(Vazios de espiritualidade viva),

Esperam a bênção da cegueira divina

Que os ajudará a vencer a natureza-

Onde só vêm pecado, sofrimento e morte…

Aferram-se à virgindade maniqueísta

Das virtudes não testadas

Pelos compromissos da vida.

Martelando as paredes do crânio,

Rebelam-se os demónios interiores

Contra a tirania do hemisfério esquerdo,

E ameaçam escapulir em hordas

De licantrópicas metamorfoses…



Os homens raparam as cabeças
E cobriram os rostos com cinzas.
As mulheres têm os cabelos desgrenhados
E os olhos vermelhos de carpir.
O bruxuleante luto nas suas mãos;
A procissão é uma serpente luminosa
Que acompanha o regresso a casa
Dos restos mortais de Inês,
Aos quais é negado o descanso
Sem antes voltar a servir o marido
Na sua nemésica afirmação de poder.
Reza a lenda que Pedro sentou (a lembrança d)a esposa
No trono que a corte lhe negara em vida,
Obrigando a que reconhecessem a sua soberana.
Na macabra encenação duma cerimónia de coroação,
Genuflectidos, beijam a mão descarnada
Os que compactuaram com o seu assassinado.

Dentes afiados na Pedra Filosofal
Tingem-se com o sangue de dragão
Que os alquimistas extraem das romãs
Colhidas na Floresta Negra…
(…Como os seus preconceitos cabalísticos);
Assim, anelam produzir rubis
Com os quais comprarão princesas
(loiras ubérrimas, de preferência…)
O éter saturado de lamentos
E a presença fantasmal da culpa,
Mantêm-nos afastados dos pântanos
Amortalhados por níveas trevas.
Para lá atiraram os amuletos
Os que perderam a fé,
Deixando de mentir às crianças.
Vigiam-nos sete ninhos de águias
Que serão usurpados pelas harpias
Quando chegar o solstício de Inverno…
Resta-nos a música de Loreena McKennitt
Contra o estupro da alma nas encruzilhadas.
Oiçam a ciranda das bruxas!
(Peidam-se ou pisam sapos?)
Em breve voarão alto,
Cruzando o céu nocturno,
Montadas em vassouras
- Espetadas nas suas vaginas…
Os cabos bem esfregados
Com unguentos alucinogénicos…
Sabem as cantigas de embalar proibidas
Que derrotaram um exército
De números inteiros e de triângulos,
Condenando Pitágoras ao exílio.
Poderiam ser boas mães,
Mas arrostam o anátema
Do conhecimento herético
E da liberdade telúrica.
A cidadela está sitiada.
Choram os herdeiros de Dionísio
Traídos pelos bastardos da Casa de David
Cujo olhar transforma em estátuas de sal
Os que não usam máscaras espelhadas.
As rosas nos confessionários
Tresandam a enxofre…
Disparam flechas à lua
E acertam no unicórnio.
Um trovador vingará a sua morte
Trespassando o arqueiro iconoclasta
Com um dente de narval
(Oferta das Bacantes)
Em Allambra, Isabel enamora-se
Pela cultura que decapitou…

A Senhora conhece o seu corpo
Com a ajuda da aia favorita.
O Senhor há dias que está ausente;
Partiu em expedição de caça.
E percorre o seu feudo
Ao som de belíssonas trombetas.
Latejam-lhe as têmporas
Quando os mastins despedaçam o cervo
Enquanto viola a filha do servo (da gleba)
E amaldiçoa o grasnar trocista das gralhas
Que um dia lhe comerão os olhos
Quando cumprir o seu destino
Prostrado no campo de batalha
Com um ferimento nas costas.
Seguem o sol até à Finisterra.
Há desvios no caminho Jacobeu…
Alguns peregrinos perdem-se.
Passando a vau o Aqueronte,
Atendem ao torneio dos cios.
Logo, juntam-se à [dança da] tarantela
- Quem adormecer, morrerá!...
Rodopiam as saias rodadas;
As rendas a roçagar a poeira,
Como a espuma das ondas na praia,
Solto o sortilégio do mar bravio…
… A humidade salgada na vieiras
Frementes sobre as coxas…
(Como as rosas de Isabel de Portugal…)
Os cavaleiros levantam as viseiras,
Respondendo aos aplausos das moças.
O arrebol nos rostos destas
Não esconde os olhares gulosos
(Que são o óbolo dos menestréis…)


Decretaram que o Domingo é sagrado
Oferecendo protecção aos hipócritas aos agricultores;
uns recenam fachadas, outros queimam plásticos...


Para os cristãos, a demanda do Graal
É apenas cobiça aurívora.
Nas enfunadas velas, a Cruz Templária.
É o sinal de ominosas profecias
Que dão início ao holocausto indígena…
No alto mar, o escorbuto da saudade
Cura-se com uma prole de mulatos…
(A “rebarba” faz ver sereias
Onde só existem manatins…)
O resgate de Atapaualpa não chega
Para encher os hiatos espirituais…
Guardiã da minha solidão,
Ainda conservo os despojos da nossa relação…
Por muitas noites juntos,
Conjuras-te a tua selecção de pueris fantasias;
Um cortejo de fabulosas criaturas
Que esvoaçavam dessa boca tão desejada
Para nos arrastar até às profundezas
Da inconsciência anódina
- Onde ressumavam medos inconfessos
Que minavam um amor clandestino…
Só o sexo celebrava
A união dos nossos corações
- Em cavalgada sincronizada
Rumo ao precipício… (Redentor?)
Nesses momentos de satisfação,
As fugazes centelhas dos teus sorrisos
Foram incapazes de me queimar
Como as improváveis certezas
Das paixões que não chegam a madurar;
Húmus de poesias estéreis
Que teimam em medrar
Nos peitos arrombados
Por inevitáveis desilusões.
Que desperdício de romantismo!
Até a sua versão gótica,
Eivada de erotismo pagão,
É uma piada para quem pensa
Que o amor Platónico não passa
De um bacanal de atlantes…
Nunca pretendeste desvendar o meu espírito arcano,
Apenas fazer do teu leito um altar profano.
O que eu melhor recordo é de ser surpreendido
Por te despires – para mim?! -
Com a discrição dos salgueiros no Outono…
…Era quando quase acredita que podíamos ser felizes…
PB
Não gostam? Eu também não. Ponham as culpas da minha incompetência como vate ( a excessiva adjectivação é um claro indicador disso) nos transportes públicos, pois eu escrevi essa merda enquanto esperava por um comboio muito atrasado. Acabei o texto durante a viagem (é uma das muitas vantagens de andar de comboio).
Como me Irrita imenso a moda das (pseudo)esoterices tipo fast food para idiotas mimados e seduzidos pela "cultura" nórdica, que acreditam que tudo o que soa a segredo arcano e/ou cabalístico tem um significado necessariamente profundo, peguei em vários mitos e lendas, personagens históricos e literários que entronizam o folclore negro da Europa, bem como hodiernos ícones do mundo do espectáculo e gozei com eles numa salgalhada capaz de confundir os crédulos.
Eu só perpetro poesia quando não tenho menor hipóteses de fazer nada de minimamente interessante (nem que seja olhar para pardais-do-telhado ou para rabos-de-saia que impeçam o tédio de açular a loucura). Felizmente, tal é raro acontecer. Suponho que, por mais rasca que seja a poesia, sempre é melhor do que perder o tempo com vídeo jogos, puzzles, telenovelas e futebol (televisivo), ou mexericos sobre a vida sexual alheia. Não é? Acima de tudo, para mim tratam-se de brincadeiras privadas sem quaisquer veleidades literárias e geralmente incompreendidas por terceiros. O que é uma pena; gostaria que se divertissem tanto quanto eu quando escrevo fósmeas pop-sincréticas pseudo eruditas.Para um disléxico como eu, escrever poesia é um desafio, mais de uma mera masturbação intelectual, que só pode ser enfrentado se não me levar demasiado a sério. Claro que eu tampouco desperdiço oportunidades para mandar umas bocas de cariz político na onda satírico-libertária. Está-me no sangue.
Sophia’s Blues
ou
Balada Azul
O pintor procura o tom certo
Para o olhar inalcançável - de Sophia
No azul-indómito
Das suas pupilas, o óleo
Do mistério helénico.
Amorosa recreação da tez;
Veneração da essência
- Que a transcende.
Sempre que sopra a nortada,
A limpidez azul-celeste
Evoca a memória genética
Dos que ainda velam por ti;
Um legado fabulado
Repleto de florestas encantadas
À beira de fiordes,
Onde árvores resinosas luzem
Cabeleiras de líquenes.
Aí caminhas-te feliz – com tua prole
Sobre um manto de musgos,
Sorrindo às fadas amigas
E aos cogumelos mágicos.
O teu toque primaveril
Despertava a seiva
E a tua voz unia-se ao coro
Álacre e ruflante das aves.
E colhias morangos silvestres
Junto de cantarolantes riachos;
E brincavas às escondidas
Com lebres grandes como cães.
Como te enamoraste
Desta paisagem meridional,
Onde a sensualidade e o vinho
Perpetuam o estio?
Resistindo sobre a terra safara,
As árvores cansadas de sonhar
Arreiam as suas nemorosas almas,
Que se metamorfoseiam em mariposas;
Fugindo às nossas incautas pisadas,
Erguem-se em multicolores revoadas;
Flocos de silêncio,
Etéreas carícias.
Nostalgia da perfeição
Dos momentos que perdemos.
Fúteis ambições exilam-nos
Dessa ousadia de frescura
Singela
Anódina
Êxtase: asas
Poesia: voo
Ritual: prazer
Só tínhamos um culto:
A biografia íntima -de Gaia.
Ecos desse amor telúrico
Insinuam-se nos búzios
Dos meus ouvidos,
Ensinando-me cânticos
Em teu louvor.
Depois encantámo-nos
Espreitando as palavras
Que cortejam e fazem amor
Com as melodias,
Gerando híbridos férteis.
Mostraste-me a corda iridescente
Das palavras que entrelaçaste
Para escapares ao abismo
Do desamparo resignado
E das solidões encaixotadas
No frio aprumo do concreto.
Sobreviver aos sonhos e às esperanças
É pior do que sobreviver aos nossos filhos...
Calma, os versos precisam de respirar,
Como respiram os cantores
E os bebés a dormir…

O humanismo que raspou o tutano
Fazendo dos ossos leitos de rios interiores;
A tua boca qual cadinho de verdades
E as mãos pedestais de utopias.
A vida forçada a fazer sentido
Na partilha da beleza
Que se arma contra a prepotência
No reino das palavras necessárias;
As que têm a capacidade de reconstruir futuros
Sobre os escombros de ódios fratricidas.
A sabedoria que carregas no nome
Também te ajudou a manter a serenidade elegante
De mãe e esposa emancipada sob o olhar público.

Tu que afirmaste Ser da raça
Dos que mergulham
- De olhos abertos,
E mergulhaste
Nas águas azul-turquesa
Do Mar Mediterrâneo
Na insular fronteira com o Oriente.
Que esse berço profanado
De antigas civilizações
Te traga marés assombradas
De arrebatadores mitos,
Onde a cruz e o crescente conspiram
Para matar o nosso amor pagão.
Resoluta, abres o corpo
Ao lânguido entardecer,
E embalas a saudade
- Adoptada
Na concha do teu regaço.
Cobre-a com rendilhados
De espuma salgada,
Que o vento carrega
Na minha direcção.
Namoro marinho: Estrondosa genuflexão
Em cada render das ondas,
Que a teus pés depositam
Tesouros das profundezas.
Os mais resplandecentes
Terás que procurá-los
Na escuridão abissal
- De onde não podem sair.
Quiçá possas trocá-los
Pelo incerto porvir,
Quando dedos coralinos
Nos tactearem as costas
E arrepios de maresia
Entranhada
Revelarem a nossa identidade
Apátrida
Argonauta
Ígneas pétalas
Fecham-se no céu
Fazendo assentar a rutila fuligem
Aguarelada de rosas e de carmins.
O girassol já pode descansar
A sua vassala elipse solar.
Recolhe-se a seiva às raízes,
Não vá congelar
Com a promessa de alforria
No hálito frio da noite.
Batedores insónes voltarão
A cavalgar até de madrugada
Procurando uma paixão que anda a monte.
Errarão em círculos,
Seguindo as seus próprios rastos…
No padrão das cicatrizes
Tentam ler os presságios,
Reforçando as armaduras
A cada entrega frustrada.
Chegando onde a montanha desagua no oceano,
Saberão se cumpriram a demanda,
Ou se souberam viver cada momento…
Ao se debruçarem sobre o passado
Preocupam-se em recenar os seus papéis,
Inconscientes de que passam ao largo
Possíveis recomeços - virgens
Do sangue arrancado ao virar das páginas
E de toda a beleza frágil e efémera,
Qual orquídea silvestre,
Que sufocou no ávido aperto das nossas mãos;
Estas nunca aprenderam a perfilhar
A paciência de plantar um pomar,
Prelibando o frutos anunciados
Pela miríade de flores,
Aparentemente modestas
(Na sua individualidade),
Mas sustentadas por um porte lenhoso
Que dá continuidade aos nossos sonhos
- mais esforçados ! -,
Imune aos temores e às frustrações
De não corresponder às expectativas de terceiros.
As pernas, o coração e o espírito do peregrino
Moldam-se nos caminhos (iniciáticos),
Não nos pátios floridos do paraíso.
Do outro lado do mundo,
Toda a ansiedade
Numa gota d’água
Que luta por se libertar
De um glaciar moribundo;
A Terra connosco
Suspende a respiração
- Porque o ciclo da vida emudece
Aos que se opõem
À sua sapiência intuitiva.
- Porque o mavioso sortilégio
Não pode ser quebrado!
No húmus primevo
Está guardada a origem
Da carne e do verbo. *
Deveremos aprender a sacralizar
O sensual e a sensualizar o sagrado.
Simples… como metáforas sinestésicas à mesa
Com requeijão, mel, amêndoas, passas e abraços
Na estreia das manhãs algarvias…
…Osgas translúcidas fundem-se com paredes de barro;
A efervescência da cal;
Hortas acabadas de regar;
A doce melancolia dos melros nas alfarrobeiras;
A sofrida indolência dos rebanhos no estio,
De que troçam as cigarras;
O compassado espreguiçar das horas
Que esperam ser fecundadas
Pela criatividade idealista.



(A expectante previsibilidade)
Preia-mar: O abraço líquido
Do séquito lunar.
Âmbar-dourado: Lágrima cristalizada
Do olho celeste
- Padroeira dos amantes;
Fiel companheira
Dos cansados viandantes.
O que te trouxe ao mundo
Foi um poema líquido;
Imitação do mar.
Tu que nasceste para a paz,
Ainda te vestes de algas
Para sentir os perfumes
Derramados pelos amantes
Sobre a areia que os corpos moldaram
E as águas apagaram tudo
Menos as melhores memórias
Retocadas pela imaginação.
Ausentaste-te da nossa praia,
Recusando o reencontro
Onde velas aportam espadas,
Vergando vontades imaculadas.
Regressarás num dia azul,
Quando os guerreiros abjurarem
As vis orgias de sangue ferido
E a vida finalmente honrarem
Nos risos fraternais
E no pão repartido;
Quando as sereias cantarem
Os teus versos às crianças,
Adormecendo os inocentes
E mantendo-nos em vigília;
Quando ninguém te distinguir
Dos elementos que te inspiraram.
Boa viagem, Sophia!
(Respeitosamente dedicado à memória de Sophia de Mello Breyner Andresen)
* A raiz etimológica da palavra “humano” significa “que provém do húmus”.

quinta-feira, junho 15, 2006

O Império do Mal (II)

A verdadeira "cortina de ferro" é a que separa os produtores dos consumidores, independentemente das cores políticas dos países. O comércio actual só beneficia os intermediários especuladores. Mais do que o segredo, é a supressão das consciências que faz a alma dos actuais negócios - quanto mais desalmados, mais lucrativos. Os consumidores perdidos na deslumbrante parafernália tecno-industrial são induzidos a crer que as realidades virtuais (que escamoteiam lindamente as legislações, nomeadamente no que se refere aos crimes sexuais) estão a tornar-se mais agradáveis do que a realidade do quotidiano cinzento e desprovido de sentido. A verdade é que o pior do nosso mundo - a miséria e a destruição de outros seres humanos e da natureza silvestre/indomada - é consequência directa das acções globais decorporações que ocultam os seus métodos predatórios sob os engodos iridescentes dos logótipos impingidos por estelionatárias campanhas publicitárias que nos seduzem e embotam como drogas psicadélicas.Com agressivamente contundente George Orwell referiu-se à publicidade como «o remexer dum pau dentro dum balde de comida para porcos.»Definitivamente, o marketing transformou a natureza na mais concorrida das prostitutas.
Mais uma curiosidade do mundo das multinacionais: o que a Nike gasta por ano em publicidade é o equivalente à soma dos ordenados de 50 mil empregados da sua fábrica Yue Yen, na China, durante 19 anos... E o salário do presidente da Nike, Phill Knight, em 1994, equivalia a 15 séculos de trabalho de cada empregado dos seus empreiteiros chineses …As mesmas sapatilhas que lá se produzem custam a essa corporação uns 5 dólares (dados de 2000) mas são vendidas no ocidente até 150 dólares a unidade. Grande parte dos clientes (cultores) destas marcas podem sentir indiferença pelas horríficas condições em que foram fabricados os desejados artigos, mas talvez reagissem de modo diferente se percebessem que estão a ser extorquidos. Pior, as dificuldades monetárias em que muitas das suas famílias vivem, em parte deve-se à migração das fábricas para pontos longínquos (mas não suficientemente longe do olhar da opinião publica ocidental como gostariam as corporações) do planeta, deixando milhares de pessoas no desemprego.Como disse Groharlem Brundland : «somos uma só Terra, mas estamos longe de ser apenas um mundo.» O cineasta e activista político Michael Moore, numa entrevista a Joel Bakan(autor do livro - fundamental - «The Corporation: the PathologicalPursuit of Profit and Power», que originou um/redundou num documentáriohomónimo e aclamado tanto pela crítica como pelo público) fala sobre a ironia de serem as grandes corporações a distribuir o seu trabalho, mesmo que ele empregue o dinheiro que estas lhe pagam a denegri-las. As razões para esta aparente incongruência deve-se, segundo Moore, a que , primeiramente, as multinacionais não têm outros valores que não os pecuniários. Logo, como existem milhões, de pessoas dispostas a pagarem para "ouver" as polémicas mensagens dos seus documentários, para algumas das maiores distribuidoras de filmes trata-se de um investimento seguro. Em segundo, porque essas corporações sentem-se suficientemente intocáveis, confiando que as audiências poderão comover-se e indignar-se, mas não irão modificar os seus hábitos para tomarem uma atitude de protesto construtivo, até porque quase todos os canais para agir contra o poder corporativo e militar estão bloqueados e a população foi alvo de uma bem sucedida lavagem cerebral.Moore diz operar pelas maiores gretas do capitalismo: a sua ganância desmedida, acrescentando que são «como um homem ganancioso que nos vende a corda que o irá enforcar, se julga que isso o fará mais rico.» (sic)
A estrutura orgânica das corporações (entendidas como reuniões de investidores em torno de negócios cujos investimentos/montantes transaccionados e lucros obtidos seriam impossível de alcançar pelos accionistas individualmente; não têm propriamente uma pátria, comprando empreendimentos comerciais por todo o lado; fundindo-se e abandonando/liquidando, como se se tratassem de carcaças exangues, as empresas que deixam de render por terem sido geridas de forma insustentável, pensando no lucro máximo a curto prazo, vendendo-as por fim às partes, deixando atrás de si uma legião de desempregados e devastação ambiental ) remonta aos finais do séc. XVII, inícios do séc.XVIII. o passo seguinte foi a aprovação de leis que desresponsabilizavam os investidores pelas acções funestas/danosas perpetradas pelas empresas de que eram responsáveis. Embora seja menos difícil vermos uma cigana frequentar um cursos universitário em Portugal, do que um administrativo/executivo de um grande conglomerado empresarial atrás das grades por danos que a sua empresa causou à sociedade eao ambiente, existe essa remota possibilidade, mas os accionistas são sempre intocáveis/ilibados. A figura legal das corporações só as "legitima" a obter o máximo de lucros para os accionistas, isentando-as de responsabilidades sociais. Tanto assim é que a morte de inocentes pode ser “justificada” se for lucrativa para as corporações.Nos EUA, durante o séc. XIX, o Supremo Tribunal reconhecia o estatuto de"pessoa legal" às corporações. Como sangue derramado em águas cheias de tubarões, isso deu o mote aos advogados para reivindicarem para as corporações que representavam a protecção que a 14ª emenda concedia para os escravos libertos após a Guerra da Secessão. Parece incrível, sobretudo porque, em toda a história da humanidade, nunca houve nada nem ninguém que tivesse escravizado tantas pessoas como as corporações. Em 1994 a General Motors (GM) foi processada devido a um acidente (ocorrido no ano anterior) que provocou queimaduras graves nos cinco ocupantes de um veículo (um Chevrolet Malibu de 1979) como consequência da explosão do seu tanque de combustível. A família acidentada (uma mãe com os seus quatro filhos – todos ficaram desfigurados) tinha o carro parado num sinal de «stop » e outro veículo veio contra eles embatendo por detrás. Este trivial acidente de tráfico não teria tido consequências tão graves se o tal Chevy não apresentasse uma construção deficiente no que se refere à segurança dos seus ocupantes: o tanque encontrava-se perigosamente posicionado cerca do pára-choques traseiro. Tal desrespeito pela vida dos seus clientes não era fruto de negligência/incompetência ingénua; ficou provado em tribunal que a GM tinha plena consciência da perigosidade dos seus modelos de automóveis; disso dava conta um relatório interno datado de 1973 (ano em que estavam a desenhar o Chevrolet Malibu) e não ocultava a morte de aproximadamente 500 pessoas em situações análogas. Com a frieza característica dos homicídios premeditados, os directores e os engenheiros da GM fizeram as suas diabólicas contas: se a empresa tivesse que pagar 200 mil dólares (preço a que eram cotadas as vidas humanas na altura) de indemnização por cada morte prevista, e dividindo essa quantia pelos 41 milhões dos seus carros em circulação, isso prejudicar-lhes-ia o negócio em 2,4 dólares por carro (não contando, claro, que a má publicidade pudesse arruinar-lhes as vendas). Os custos de construção inerentes a tornar os seus carros mais seguros (apenas restringindo-se à localização mais adequada dos tanques de combustível) custar-lhes-ia 8,59 dólares por carro. Dou um doce a quem adivinhar qual foi a decisão da GM…A ascensão do império corporativo está inegavelmente associada aos regimes totalitários fascistas (lá vai mais uma redundância). Tomemos como exemplo oevento mais terrífico do séc. XX, a II Guerra Mundial, para compreendermos como os lucros da indústria e das corporações são proporcionais ao sofrimento das massas oprimidas. Algumas das maiores empresas da actualidade apoiaram Mussolini e Hitler, e obtiveram lucros obscenos com esse investimento nas esferas políticas mais ignóbeis. (a chegada ao poder destes, e de outros, ditadores provocou um aumento de investimento dos capitais por parte dos industriais, libertos das nmedidas de protecção social, dos sindicatos e dos partidos que apoiavam os direitos dos trabalhadores.) Algumas não se limitaram a negociar com os nazis (ex.: Coca-Cola, IBM, International Telephone and Telegraph, Ford MotorCompany, Selecções do Reader´s Digest...), mas foram ao extremo deboicotarem os esforços de guerra do seu próprio país no intuito deinflaccionarem os preços dos seus produtos e serviços. Tal foi o caso da Alcoa(que detinha o império do alumínio, assegurando que este material essencial à conclusão do conflito bélico **, da General Motors, da Du Pont, da Standart Oil of New Jersey (que foi a empresa-mãe da Exxon), entre outras.
Como é que a dinastia dos Bush conseguiu tanto poder na cena política ecorporativa norte-americana? O avô (Prescott Bush) e o bisavô (George Walker) do actual presidente George Walker Bush foram ambos capitalistas que apoiaram (ideológica e financeiramente) a escalada política de Hitler, desde os anos 20 até ao controlo da Alemanha nazi. Os Bush amealharam uma fortuna à custa do trabalho escravo proveniente dos campos de concentração (incluindoAuschwitz).Durante a guerra, enquanto George Bush I comabtia os nazis na Europa, o seu pai continuava a ser o banqueiro secreto de Hitler… Mesmo após o termino da guerra, a dupla Walker&Bush estiveramenvolvidos na lavagem de dinheiro proveniente de saques aos tesouros nazis(“ladrão que rouba a ladrão...").Transcendendo os interesses na indústria petrolífera, a guerra continua a ser um negócio de família para os Bush. William Bush é tio do actual presidente (sendo o irmão mais novo daquele que foipresidente dos EUA entre 1989 e 1993) que, uns meses antes do seu sobrinho tomar de assalto a Casa Branca,aceitou o convite para pertencer ao conselho administrativo da empresa Engineered Support Systems Inc. (ESSI). Esta fornece uma panóplia de materiaispara o exército (ex.: radares, geradores, blindagens, abrigos para ataquesquímicos e biológicos, etc...). O "tio Bucky" (como é conhecido pelafamília) é um homem de negócios astuto. Com a aproximação da invasão doiraque, aproveitou para adquirir o máximo de acções da sua empresa, sabendoque isso o faria milionário em pouco tempo. Assim foi. A ESSI tem ganho vários contratos (de dezenas de milhões de dólares) com o exército, não secoibindo de apimentar/fermentar os seus preços (é que, à semelhança do quetem sucedido com a Halliburton, alguns desses contratos foram-lhes entreguesde bandeja, sem passarem por concursos públicos). Mais, no Pentágono, asupervisão e aprovação dos mesmos ficou a cargo de um alto cargo do exército que acabou por enfrentar uma pena de prisão efectiva por ter favorecidofraudulentamente a Boeing. Oficiais do departamento de defesa assinalaram irregularidades nesses contratos, mas não as consideraram dignas de uma investigação mais aprofundada)Entetanto, a ESSI expandiu os seus negócios, aliando-se aos governos da Arábia Saudita, de Israel e até da China. O "tio Bucky" deve dar graças aos céus (e aos seus) por, na lotaria cósmica, não lhe ter calhado um Mahatma Ghandi como sobrinho... ** O Secretário do Tesouro da administração George W. Bush , Paul O´neil, foi Presidente executivo E da Alcoa (durante 13 anos) e, usando a sua influência no governo (nos 23 meses que lá esteve), conseguiu para essa empresa uma carta branca para poluir.A generalidade dos membros do governo dos EUA liderado por George Bush filho saltaram para a Casa branca desde os altos cargos das corporações que agora favorecem, com destaque para as que comercializam armamento, petróleo e medicamentos.


Essa riqueza foi depois investida em negócios do petróleo e finalmente no impulsionar das carreiras políticas dos seus descendentes. Nos anos (19)30, a América dos ricos estava assumidamente seduzida pela ideologia e metodologia fascista (que foi o laboratório corporativo da pilhagem imoral que estamos a viver à escala global). O presidente Franklin Roosevelt tentou, com o seu programa político denominado "New Deal Administration", tirar o país do buraco financeiro da recessão, fazendo com que os barões corporativos pagassem somas minimamente justas de impostos, apoiou empresas públicas para que estas assegurassem o abastecimento de bens essenciais, aprovou algumas leis de protecção social, nomeadamente aos trabalhadores. Por este motivo, os capitalistas norte-americanos queriam vê-lo fora da casa branca - vivo ou morto! - , não estando dispostos a esperar por novas eleições presidenciais, até porque se arriscavam a que fosse reeleito. Assim, em 1933 (no mesmo ano em que Hitler chegou ao topo do poder estatal, um grupo de conspiradores endinheirados contactou/tentou cooptar o general Smedley Butler, pedindo-lhe que encabeçasse um golpe de Estado que o levaria a ocupar o célebre gabinete oval. (Além de alguma argumentação fascista, entregaram-lhe uma avultada maquia para que reunisse um pequeno exército de mercenários/terroristas.)
Mas qual a razão de terem eleito este general para se tornar um ditador-marionete? É que, mais do que ser na altura o "herói de guerra" mais condecorado, o velho Marine tinha um impressionante currículo , utilizando o exército dos EUA com o intuito de, no estrangeiro, preparar o terreno para o controlo financeiro por parte das empresas do seu país. Vale a pena ler a declaração que Butler proferiu numa convenção da Americam Legion, em Connecticut, 1931.«Passei 33 anos a desempenhar o papel de homem de força de alta roda/classe ao serviço do Big Business (grande capital), para a Wall Street e para osbanqueiros. Em suma, fui um ganster do capitalismo...(...) Ajudei a limpar a Nicarágua para a International Banking House of Brown Brothers, entre 1909 e 1912. ajudei a tornar o México (...) seguro para os interesses da indústria petrolífera [norte-]americana, em 1916. no mesmo ano, subjuguei a resistência da República Dominicana ao monopólio das empresas de açúcar [norte-]americanas. Ajudei a tornar o Haiti e Cuba sítios decentes para que os rapazes do National City [Bank] aí pudessem sacar dividendos. Ajudei a violar meia dúzia de republicas da América Central para benefício de Wall Street...na China, em 1927, eu tornei possível que a Standard Oil pudesse fazer as suas conquistas comerciais ser ser molestada...Tinha ao meu dispor óptimos meios de intimidação. Por isso fui recompensado com honras, medalhas, promoções... Poderia até ter dado algumas dicas ao AlCapone. Afinal, o melhor que ele conseguiu foi operar extorsões em três cidades; os Marines operaram em três continentes.»
Felizmente o general Butler não estava interessado em continuar a ajudar os capitalistas mais ambiciosos, e muito menos em derrubar ilicitamente o Presidente Roosevelt. Mas, a fim de reconhecer todos os implicados na conspiração, fingiu alinhar com eles, e, uns meses mais tarde, denunciou-os atodos ante a MacCormack-Dickstein House Committee. O golpe de Estado foi, deste modo, frustrado, mas nenhum dos conspiradores multi-milionários e extremamente influentes na vida política (incluindo os responsáveis pelaGeneral Motors, pela Du Pont, pelo Morgan bank, pela Good Year e pela JP Millan) foram chamados a depor; nenhuma sanção legal pesou sobre eles, continuando descaradamente/impunemente a boicotar as políticas sociais de Roosevelt.
Ainda hoje há pelo menos 57 grandes corporações estado-unidenses que fazem negócios (impunemente) com os governos oficialmente declarados inimigos e com todo o género de déspotas.

Paulo Barreiros