quinta-feira, junho 08, 2006

Já que na Chamusca vai ser construída uma central de compostagem – que tanta falta nos faz e que só ainda não existe em Alpiarça por termos políticos que se estão a marimbar (viram? Eu disse “marimbar” e não “cagar”…ficam mais satisfeitos com a minha versão polida?) para o mau estado do ambiente -, está na hora do executivo camarário deixar-se de negociatas execráveis que resultam sempre em atentados ecológicos, e assumir iniciativas que poderão colocar a nossa terra no centro das atenções nacionais, como um exemplo do respeito pelo ambiente, ao invés do que acontece actualmente. Para além das intervenções que eu estou farto de sugerir para o Paul dos Patudos, o mínimo que poderão fazer é apoiar os veículos automóveis menos poluentes (que usam como combustível o gás GPL, o biodiesel, os motores híbridos, …) através da isenção do imposto (municipal) de circulação. É um começo… Mais importante, sei que existe um sério interesse (privado) em implementar uma unidade de transformação de biodiesel (reciclando os óleos alimentares que sobram nos restaurantes e nas cantinas) nesta região. Provavelmente também irá para a Chamusca, que se quer tornar a capital do tratamento de resíduos. Até que o hidrogénio se torne uma tecnologia acessível à maioria dos automobilistas, o biodiesel, o bioetanol e o gás natural serão os combustíveis do futuro mais imediato. As autarquias que se mexam para tornar esse desiderato possível ! (Os seus compadres da especulação imobiliária, dos industriais que pretendem continuar a deitar os seus resíduos para a Vala de Alpiarça e os vendedores de automóveis de luxo já comeram o suficiente…)
Para além de fazerem mais e melhores ciclovias, deveriam dar o exemplo, adaptando a sua frota de veículos aos combustíveis alternativos, instalando painéis solares (de aquecimento de água e fotovoltaicos) e sistemas de aproveitamento das águas da chuva nos edifícios do Estado! Bruxelas está prestes a obrigar a todos os países da UE a adopção de normas de construção bioclimática (cujas vantagens há muito que são reconhecidas), mas os nossos autarcas, que adoram mamarrachos e o lóbi do cimento, nada fazem para que tenhamos edifícios muito mais saudáveis e eficientes do ponto de vista energético. Um país dominado pela ganância, pelo culto dos automóveis, pelas intoxicações lúdicas (ex: futebol, televisão imbecil, etc..), religiões contra natura e política demagógica ao serviço de interesses corporativos, merece bem os políticos merdosos que tem…
Têm-me perguntado por filtros de água para uso doméstico. Tal matéria está longe de ser a minha especialidade, mas posso sugerir os que trabalham por osmose, os de vapor e os que têm filos de carvão activado. Embora com resultados substancialmente diferentes, as melhorias na qualidade da água que beneficia da acção de qualquer um destes filtros, são evidentes, mas nenhum deles faz milagres… Enquanto os lixiviados da lixeira “selada” continuarem a contaminar os aquíferos e as linhas d’água; enquanto as ETARs (industriais e domésticos) continuarem a funcionar pessimamente; enquanto os campos estiverem saturados de pesticidas, adubos de síntese química e resíduos de plásticos queimados; enquanto os caçadores continuarem a despejar toneladas de chumbo (um metal pesado extremamente tóxico) por todo o lado; enquanto até as águas das chuvas estiverem contaminadas com poluentes derivados do tráfico automóvel e da indústria, etc… apenas podemos recorrer a paliativos (que não nos podemos dar ao luxo de subestimar).
Se não encontrarem por cá este género de filtros mais eficientes, procurarem na Internet por empresas espanholas, ou contactem com o CIR/Quercus.



Os que visitam este blog apenas para saciarem a “sede de sangue” com diatibes políticas, preparem-se para a ressaca da desilusão. Claro que, de vez em quando (atendendo ao pouco tempo que tenho para gerir este blog), continuarei a revelar “bombas” (fedorentas) sobre este executivo camarário, bem como outras pessoas que abusam do seu poder atentando contra o bem comum, mas já aqui deixei suficientes munições argumentativas como para os continuarmos a atacar por muito tempo. Ainda nos devem muitas explicações e correcções de rumo e de atitude! Aqui em Alpiarça tampouco conheço ninguém da oposição (oficial) que esteja realmente preocupado/a e esclarecido/a sobre as problemáticas ambientais que são o meu cavalo de batalha. Por isso, não partirei descansado com a esperança de que se empenharão em salvar o paul; em que tenhamos água de qualidade (isso jamais acontecerá enquanto não investirem a séria na agricultura biológica!); que a Vala será efectivamente limpa, etc… Conhecendo bem os políticos, duvido igualmente que irão pedir ajuda a não alinhados como eu…
A minha principal função/missão é de ser um educador ambiental, jamais um político de carreira. Politicamente sou libertário, o que significa que sempre lutarei como um contra-poder – mas disposto a trabalhar com pessoas de boa vontade e ideais, não importando com as cores político-partidárias com as quais mais se identificam (ou não). Tenho pago um preço elevadíssimo por defender os meus ideais, e faço o que creio que devo fazer mais por descargo de consciência, do que por nutrir a (vã) esperança de que as pessoas acabarão por se reconciliar com a natureza e aceitar uma mudança de atitudes e de comportamentos, fazendo os compromissos necessários no nosso estilo de vida urbano-industrial extremamente deletério e suicida - para toda a humanidade, não apenas para as dezenas de espécies que se extinguem todos os dias, bem como para as mais de 30 mil crianças de morrem de desnutrição, também diariamente! Parece que, para a nossa espécie, nem a terapia de catástrofe funciona… Apesar de a situação real do mundo ser catastrófica, evito a pedagogia do medo, o que não significa que acho correcto “dourar a pílula”. Não obstante, creio que o que mais necessitamos é de exemplos que nos inspirem (para alguns poderão tratar-se de verdadeiras epifanias) e que nos resgatem da indiferença e da inércia. Acredito que, se queremos realmente trabalhar para o bem comum (assumindo a responsabilidade pelas nossas «pegadas ecológicas» e pelo legado das próximas gerações), teremos que nos juntar, aprender a fazer compromissos (começando por abjurar o hedonismo excessivamente egoísta e fútil, assim como moderando o espírito competitivo); tomar consciência dos principais problemas que afectam toda a comunidade; a estipular prioridades; trabalhar em equipa; e sermos conscientes, inteligentes, vigilantes e reivindicativos.
Provavelmente continuarei a “pregar no deserto”, mas tudo o que tenho nesta vida são os meus ideais… Não ter creio ter uma estatura moral maior do que a maior parte das pessoas, nem quero doutrinar ninguém, mas considero uma tristeza e uma grande vergonha se o melhor que ambicionarmos legar às nossas crianças é um monte de papelinhos no banco, a reputação de termos conduzido carrões e deixá-las vulneráveis a comentários do género «lá vai o/a filho/a do/a sacana que me lixou a vida por ser ganancioso/a», e/ou que «torrou uma quantidade obscena de dinheiros públicos nas suas negociatas»…
PB



Reconciliações
«Recuperar a nossa autonomia e voltar a estar ligados à vida exige um esforço deliberado, mas as recompensas são instantâneas. Novas avenidas de prazer, da criatividade e do amor abrem-se à nossa frente na proporção em que as procuramos. Ao agirmos assim, fornecemos uma plataforma à geração seguinte. Pode ser possível forjar um caminho rumo a uma cultura sustentável apenas durante o nosso tempo de vida. Talvez a maior responsabilidade seja assim explorar todas as saídas possíveis, ir até onde pudermos e depois transmitirmos o que aprendemos. As crianças que se desenvolvem imersas na cultura dominante hodierna ficam inevitavelmente sujeitas a um trauma quase constante, de que algumas formas são extremamente sofisticadas e sedutoras. Se alguns jovens não receberem ferramentas eficazes para a sua autodefesa, exploração e criatividade – e exemplos do que é um ser humano relativamente livre e feliz – o caminho que nos depara parece sombrio.» - Richard Heinberg (1996)
O homem necessita reconciliar-se consigo e com os seus semelhantes para se reconciliar com a natureza., pois «os desequilíbrios (...) tão frequentemente observados hoje nos nossos universos de metal, vidro e betão são (...) marcados por uma profunda ruptura que se consumou (...) entre o homem e a natureza», ficando nós «bruscamente amputados do nosso ambiente natural e cultural. Porque se o homem cria ambientes novos inteiramente artificiais, estes irão marcá-lo, por sua vez. O ambiente não é neutro: suporte da nossa existência, ele deverá manter-se o cordão umbilical que nos liga a essa natureza em que vivemos e que nos contém. Esquecê-lo seria expor-se aos mais graves perigos. Entre o computador e o castanheiro, se fosse preciso escolher, seria o castanheiro o que se deveria conservar.» - Jean-Marie Pelt (1996)


No mister de retomarmos ligações harmoniosas indispensáveis à nossa sanidade e sobrevivência, reatando laços perdidos, os educadores deverão evitar recorrer a parques e jardins zoológicos, oceanários, espectáculos circenses (com animais silvestres domesticados) e quejandos, bem como a compra de animais exóticos para mascotes, pois estes tipos de exploração faunística , além de alimentarem um afecto opressor, transmitem a mensagem (contraproducente) de que a natureza é algo que podemos subjugar, manipular, truncar e “encaixotar” para o fútil e fugaz deleite de alguns cidadãos com um grave défice de consciência ambiental e demasiado preguiçosos para irem para o campo tentando descobrir a bicharada (mesmo que apenas pelos seus subtis sinais de presença, como sejam as pegadas, os excrementos, as vocalizações,...) nos seus respectivos habitats naturais
Os animais (silvestres) expostos em cativeiro forçado são obrigados a desempenharem o papel de dignos representantes das suas respectivas espécies (apenas como sucedâneos tridimensionais da natureza interessante exibida nalguns programas televisivos). Mas como poderá isso ser possível quando estão confinados em espaços minúsculos que lhes são estranhos e hostis? Na maioria desses escravos silvestres são bem visíveis os profundos desequilíbrios psicossomáticos que os horrores do cativeiro lhes provoca. Ao contrário do que publicitam os responsáveis pelos zoos, na verdade esses espaços enfatizam o pungente desencontro entre uma civilização que procura viver de uma forma artificial, insustentável, auto-destrutiva e profundamente desrespeitosa para com o meio natural que nos suporta. Ademais, continuam a fomentar o espólio e tráfico de animais silvestres (destinados à ostentação devido ao fascínio e admiração/surpresa que causam, mas não ao estímulo da afectividade)- que se podem tornar também num perigo para a saúde pública. Por esse motivo,a comercialização e posse de primatas e de serpentes já foi proibida emPortugal. Mas até os vulgares psitacídeos (ex.: papagaios, catatuas,piriquitos) podem transmitir psitasicoses letais para o homem e foi assim que a gripe aviária fez a sua entrada na Grã Bretanha.
Pense bem nisto e talvez lhe passe a vontade de ter, ou de oferecer, um papagaio ou uma tartaruga. (Em termos morais e éticos, não existe uma diferença substancial entre as pessoas que adquirem estes animais “corriqueiros” e os capitalistas que têm mãos de gorilas a fazer de pisa-papéis ou patas de elefante a fazer de bengaleiro. Apenas difere o capital investido.*) Mesmo que tenham nascido em cativeiro, uma espécie silvestre nunca será adequada para uma mascote. São necessários vários séculos de domesticação para que uma espécie dilua/atenue os seus instintos selvagens e se torne submissa ao homem.
* Para os que têm a curiosidade mórbida dos recordes, posso dizer-lhes que um quilograma de pó de corno de rinpceronte-negro pode custar 50 mil euros, um tigre-da-Sibéria morto é facilmente adquirido por 25 mil euros, e há pouco tempo houve quem pagasse 141 mil euros por um saratoga albino. Há espécies (como, por exemplo, os estorninhos de Bali e as ararinhas-azuis) que têm mais efectivos em cativeiro (para deleite particular de coleccionadores) do que na natureza – onde em breve se extinguirão.

A UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e o CITES (Convenção Internacional das Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora) julgam que anualmente são traficados uns 200 mil primatas, 5 milhões de aves, 200 a 350 milhões de peixes tropicais e pelo menos 50 milhões de espécimes de répteis, anfíbios, mamíferos, insectos, etc… Entre as plantas, destacam os cactos e as orquídeas, com 7 e 9 milhões de exemplares respectivamente. 40% são transaccionados por vias ilegais.
Se considerarmos que 75% destes animais morre só no transporte, imaginem a pilha de cadáveres que se esconde por detrás de cada animal, ou partes deles, que podemos adquirir... Muitas das que sobrevivem nas mãos dos seus últimos donos, quando se tornam excessivamente incómodos, são libertados em ecossistemas que lhes são estranhos, podendo provocar desastres de enormes proporções: 40% das extinções acompanhadas pela ciência nos últimos quatro séculos deveu-se à introdução de espécies.

A seguir às drogas+++++ e às armas, o comércio ilegal de espécies é o mais lucrativo do mundo, estimando-se que este mercado negro (controlado por máfias bem organizadas*-+ movimente anualmente à volta de 18 biliões de dólares (americanos). Todas as estimativas são terríficas: segundo a WWF (World Wildlife Found),entre 600 e 800 espécies estão em risco iminente de se extinguirem por este motivo. Mais 2.300 animais e 24.000 plantas encontram-se ameaçadas em menor grau, mas necessitando igualmente de protecção urgente.
*-+ até grupos guerrilheiros como os Kmeres vermelhos que o ocidente gosta de acreditar estarem desactivados, formam agora grupos mafiosos que traficam madeiras, animais selvagens, drogas a armas.



Muitos zoólogos e biólogos apoiam estas lamentáveis iniciativas justificando a negociata repetindo, com convicção doutoral, a doutrina académica de que: “um exemplar não é significativo para a conservação da espécie.” Já ouvi isto de uma bióloga enquanto esta se aconchegava ostensivamente num casaco feito de peles de vários animais não comestíveis (futilidade sangrenta é a designação mais correcta para esta deficiência de carácter e de consciência). E prosseguiu defendendo a caça como um desporto e gabando as mascotes exóticas que recentemente adquirira… Afinal, para estes técnicos das “ciências da vida” os seres são um amontoado de genes animados por reacções químicas; meros instrumentos de trabalho que não lhes merecem grande respeito.

Mesmo em técnicos qualificados para realizar actividades de investigação de espécies selvagens, o gosto excessivo pela manipulação de animais e a falta de ética que os impeça de se afirmarem à custa dessas manipulações, nos piores casos (que não são infrequentes) retumba na morte dos seus “objectos de estudo”.

Chega de fazermos dos animais brinquedos das nossas misérias culturais e espirituais!
«O poder do fraco é tentar fazer os outros mais pequenos do que ele.» - Mia Couto
http://www.redlist.org/
http://www.wwf.es/
http://www.uicn.org/
http://www.traffic.org/
http://www.cites.org/
http://www.faunaiberica.org/


Quando o homem domesticou alguns animais (que anteriormente caçava), estes, ao nosso olhar de conquistadores, foram destituídos da sua aura sobrenatural, da sua mística primitiva, da sua dignidade indómita. Essa admiração religiosa que anteriormente lhes era devotada, foi reestruturada e canalizada para uma nova mitologia antropocêntrica e antropomórfica, focada no espírito dos antepassados humanos. (Essa evolução mitológica pode ser observada nas pinturas rupestres e nos cultos das primeiras cidades.)
Não é, pois, de estranhar que quem faz profissão da pecuária industrial nutra pouco respeito por cada uma das suas rezes (notar que “rês” em latim significa “coisa”), para além do seu valor comercial. O mais comum é dirigirem-se a estes animais (estupidificados e adoecidos pela domesticação maciça) vociferando um chorrilho de insultos, pragas e ameaças de violência física (quando não chegam a vias de facto).
Por outro lado, os animais que, singularmente, oferecem uma elevada distinção social, ou o prazer da companhia, aos seus proprietários costumam ser alvo de atenções, e até deferências luxuosas, maiores do que a sociedade dispensa às pessoas com fraquíssimas posses materiais. São situações que temos que nos esforçar para corrigir.
A imposição de uma ilusória supremacia física e intelectual sobre outros seres (humanos ou não) leva inevitavelmente ao aniquilamento do respeito que lhe devemos. Essa arrogância em breve degenera em abusos cruéis e tirânicos. A obsessão pelo poder (característica do homem domesticado e acondicionado numa sociedade de massas) afasta-nos da salutar comunhão com o verdadeiro poder da vida – que transcende o abarcamento total da nossa percepção sensorial e cognitiva e que nunca poderemos aspirar ao seu domínio, por mais sucessos pessoais que conquistemos. Cada um de nós partilha, como fiel depositário, desse legado sagrado. Penso que não existem caminhos pré-definidos por divindades metafísicas, nem que estas nos irão recompensar ou punir (em vida ou post morten)pelas nossas acções; ao universo pouco importa as opções de vida dos humanos^^. Mas é a força moral que brilha no âmago das nossas consciências que deverá iluminar os nossos passos, e que faz realmente valer a pena ter o privilégio de segurar a tocha da vida – mas estejamos conscientes de que, apesar de estarmos a penas a cumprir uma estafeta, quando a geração seguinte nos estender a mão não a podemos trair!
Teremos que encontrar meios para revalorizar a vida; reconhecer as nossas prioridades mais profundas, bem como as nossas limitações; praticar a humildade pacífica (mas não conformista), a compaixão e a generosidade abnegada, são formas de conquistarmos um equilíbrio e uma espiritualidade revitalizante.

Por outro lado, quando as crianças assumem o compromisso de cuidar do bem estar de um animal doméstico, estas tornam-se progressivamente mais responsáveis e autoconfiantes (tanto melhor se souberem que poderão contar sempre como apoio dos adultos para a resolução de algumas complicações que eventualmente surjam). Como esses animais costumam ser alegres, afectuosos, leais, não recriminam quem trate deles, desconhecem o que são preconceitos e a crueldade gratuita, a sua companhia tem um efeito profundamente terapêutico, ajudando-as a ter um protagonismo social mais positivo. Deste modo, os animais domésticos podem converter-se nos melhores confidentes e nos mais fiéis amigos, que ensinam as crianças a ser mais carinhosas e respeitosas, além de desenvolverem o instintivo sentido de justiça e de protecção em relação à vulnerabilidade das suas mascotes, que, no fundo, é algo semelhante à sua num mundo de adultos que costumam abusar do seu poder.
«O nível civilizacional de um povo mede-se pela forma como este trata os animais.» - Gandhi
O mestre de equitação Nuno Oliveira costumava falar da moralidade de criarmos condições para que os cavalos tivessem prazer em trabalhar com os homens.


«O contacto entre os instintos puros (os do animal e os da pessoa) não está contaminado por juízos de valor e estabelece-se através da linguagem do corpo e dos sentidos. Portanto, quando há entendimento entre ambas as partes origina momentos muito catárticos de aceitação do próprio instinto por parte da pessoa. Isto é terapêutico.» - Isabel Salama (2001)
Cuidar de animais geralmente implica algum salutar exercício ao ar livre;
É ainda uma valiosa oportunidade de as crianças aprenderem, de forma despreconceituosa, sobre as mais relevantes manifestações do ciclo da vida: o nascimento, a infância, o amadurecimento sexual, a reprodução, a doença, o envelhecimento e a morte. Quanto a este último aspecto, o facto de ser vulgar as crianças assistirem à morte das suas mascotes, prepara-as para lidar com esse conceito de perda permanente tão difícil de aceitar e de compreender, fortalecendo-as para quando no futuro sobreviverem aos seus entes queridos. Os rituais funerários que as crianças inventam para os seus companheiros irracionais são muito importantes; além de lhes estarem a prestar uma homenagem respeitosa e humilde, cria estruturas psicológicas de autodefesa contra a angústia associada à morte. (American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 2002)
As crianças entre os 3 e os 6 anos que convivem com animais domésticos de pequenas dimensões tendem a carregá-los por todo o lado, espremendo-os contra os seus corpos e em posições muito desconfortáveis para as suas mascotes.
Outras, cujos pais não os deixam ter contacto constante com animais, ou temem-nos e repugnam-se ante a sua presença, ou têm modos demasiado brutos para com os pobres bichos.
Um bom exercício (tanto para as crianças como para os adultos) é aprender a ganhar a confiança de um gato adulto, dócil mas desconhecido. É necessário não se fazer movimentos bruscos; falar num tom baixo, pausado/calmo e carinhoso; não olhar fixamente nos seus olhos; chamá-lo de forma não autoritária, não correndo atrás dele, mas antes deixando que ele se nos aproxime. Depois é preciso aprender a pegar-lhe de modo a que o animal se sinta confortável, num aconchego não sufocante, deixando-o à vontade para partir quando lhe apetecer. Até fazer festas aos animais é uma coisa que se aprende. É indispensável que tenhamos ganho a sua confiança para que nos deixe explorarmos o seu corpo. Deveremos estar atentos à linguagem corporal para percebermos quais os gestos que mais apreciam e quais as zonas interditas ao toque.
Claro que este exercício será impossível se atirarmos um gato para o meio de um grupo numeroso (digamos mais de 8 miúdos), excessivamente excitado e com comportamentos de arruaceiros. (Previsivelmente, o gato entraria em pânico e fugiria, ou, ao sentir-se acuado, acabaria por magoar alguém.)
Depois poderemos fazer esta experiência com um cão adulto. Verificaremos que, embora ambas as espécies gostem de ser acariciadas, têm preferências e sinais de no-las comunicar díspares. (Por exemplo, os cães costumam gostar de festas na barriga mas os gatos não. Uma cauda de cão a abanar é um sinal de contentamento, mas as caudas dos gatos transmitem mensagens num código bem diferente…)
Poderemos conceber aquários e terrários (tendo o cuidado de fazer toda a pesquisa bibliográfica e pedir o apoio directo a especialistas a fim de reproduzirmos com o máximo de fidelidade os seus habitas naturais) para alojar temporariamente pequenos animais da nossa região. É especialmente interessante observarmos o desenvolvimento metamorfósico dos anfíbios, dos odonatos (libélulas e libelinhas), dos lepidópteros (borboletas), etc... No final da experiência, é imperioso que se devolvamos animais ao seu meio natural.
www.ceda-online.org
http://www.animalliberationfront.com/
http://www.shac.net/
http://www.indymedia.org/
http://www.animanaturalis/.com
http://www.experimentation-animale.org/
http://www.caft.org.uk/
http://www.lpda.pt/




Esses efeitos terapêuticos não se restringem ao cuidar de animais, abrangendo outras actividades fundamentais como o cultivar de hortas, jardins, viveiros florestais,… As crianças exultam com o misterioso “milagre” renovado de ver nascer e crescer os animais e as plantas de que cuidam com daimoso afecto e responsabilidade diligente. A ideia de que muitas dessas criaturas poderiam não sobreviver sem os seus cuidados fá-los dominarem rapidamente as técnicas básicas da agro-pecuária, auto-disciplinando-se numa rotina amena e gratificante. O desenvolvimento /desabrochar destas qualidades é o que a célebre pedagoga Maria Montessori chamou de “puro auto-didactismo”.(Eventualmente, por extrapolação, poderão reconhecer e apreciar melhor o trabalho dos adultos que se empenham por cuidar delas.) Esse elo simpático e o desfrutar das fecundas dádivas da natureza aquece-lhes o peito e transborda em sorrisos luminosos. Há poucas coisas que conseguem entusiasmar e enternecer mais as crianças. Tais sentimentos são contagiantes, e nem os adultos mais ranzinzas lhe ficarão indiferentes.
A paciência e a expectação confiante de que o seu trabalho frutificará implica uma acuidade de planeamento, motricidade coordenada e construtiva, disciplina, optimismo/fé e, preferencialmente, trabalho de equipa.
Tenho constatado que o trabalho físico feito em conjunto (e em torno de causa que, por mais prosaicas, são unanimemente reconhecidas como válidas) estreita mais os laços de camaradagem do que o trabalho imaterial.Considero grosseiramente abusiva aMáxima cientifica que afirma todos os seres tenderem para a energia mínima. É verdade que até as aves, sempre que podem, perdem essa admirável capacidade por esta implicar um grande esforço energético. Mas levemos a coisa ao extremo de aceitar que o melhor sítio para os animais selvagens é nos jardins zoológicos. Tampouco faria qualquer sentido a nossa originalidade no mundo animal de nos submetermos voluntariamente a regimes de exercícios físicos (improdutivos, a não ser do ponto de vista estético e como salvaguarda da nossa saúde) e de cortes alimentares para tentarmos compensar os excessos da dieta e do sedentarismo.
É inegável a tendência para pouparmos energia numa atitude indolente e para nos entregarmos a um hedonismo egoísta e consumista (a que só tem acesso uma fracção da população mundial) , mas não compreendo a aversão, a raiar o terror, que os citadinos afectos ao sector terciário têm em relação ao trabalho físico ao ar livre (parece que suar é vergonhoso excepto quando se pratica desporto...). Afinal, a natureza preparou-nos a todos para a disciplinada prática da austeridade/frugalidade fisicamente exigente. Todos os seres humanos que alcançaram a paz de espírito adoptaram esse modo de vida.
Passar um fim-de-semana a cuidar da horta ou do jardim, a arranjar os armários ou caminhar pelas montanhas, sem dúvidas que é fisicamente mais exigente do que passá-lo em frente da televisão a empanturrar-nos de comida de plástico, mas é tão mais reconfortante e saudável!
Quando orientamos as nossas vidas por forma a que todas as actividades (por mais árduas ou singelas que sejam) a que nos dedicamos façam sentido, diluem-se as fronteiras entre o trabalho e o lazer. Essa bipolaridade/dicotomia ocidental é estranha aos povos indígenas (não aculturados), que conseguem imprimir uma faceta celebrativa todas as suas actividades.
Uma das actividades originais que engloba todos estes aspectos e que poderá angariar as simpatias da comunidade, é a elaboração de um jardim de plantas silvestres da região onde se implantará. As espécies eleitas devem, preferencialmente, ter propriedades medicinais e aromáticas. O nosso jardim ficará muito mais interessante se, após prévia investigação bibliográfica e encetados alguns contactos com técnicos dessa especialidade, os critérios de escolha das plantas contemplarem as que fazem parte da dieta de determinadas espécies de borboletas que gostaríamos de ver ao nosso redor. Teremos, pois, que ter atenção ao facto de na fase de lagartas geralmente alimentam-se de plantas diferentes do que acontece quando completam as metamorfoses que lhes darão asas. Providenciaremos, assim, um perfeito “restaurante para lepidópteros” onde possam completar todo o seu ciclo.
Para consumarmos o projecto, deveremos colocar pequenas placas (preferencialmente em madeira gravada) indicando o nome vulgar e o nome científico das plantas, bem como placares contendo informações (sucintas e gráficas) sobre os ciclos das borboletas que conseguimos atrair.
Os jardins são igualmente um óptimo sítio para colocarmos caixas-ninho (para aves e para morcegos), bebedouros e alimentadores (estes últimos, caso sejam orientados para as aves, não é conveniente que estejam em funcionamento durante a época de nidificação).
A horticultura, o nutricionismo, a culinária alternativa deveriam ser disciplinas obrigatórias. Todas as escolas deveriam Ter fornos solares e tradicionais a lenha para coser o pão, que não são menos importantes que os pavilhões gimnodesportivos e as salas de audio-visuais. Os pais desempregados poderiam formar pequenas empresas de alimentos caseiros e saudáveis para abastecerem as escolas e os estudantes que vivem longe dos pais.
Atenção que antes de calejarmos as mãos, procuraremos saber se existem animais potencialmente perigosos (ex.: escorpiões, víboras, aranhas-lobo, carraças, peixes-aranha,…) nos terrenos em que pretendemos intervir. Em caso afirmativo, é imprescindível que as crianças sejam informadas dos riscos (na verdade, mínimos) e de como poderão evitá-los com tranquila naturalidade. Em caso algum deixaremos que alguém da nossa equipa de trabalho dirija hostilidades assassinas a seres que têm todo o direito à vida e que jogam um papel importantíssimo nos ecossistemas que evoluíram e conquistaram muito antes da nossa espécie ter surgido. Precauções básicas como, por ex., usar luvas sempre que for necessário levantar pedras, não andarem descalços lá fora à noite (é quando os lacraus deambulam), nem trepar às árvores quando o sol já se pôs (as víboras, que são habitantes das zonas montanhosas, quando o verão vai adiantado, têm hábitos arborícolas). Se formos acampar, verificar bem as roupas, o calçado e os sacos-cama antes de neles nos metermos.
Centro de Informação Anti venenos, telef.: 217950143
Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) telef.: 808250143
ou simplesmente o 112




As hemotoxinas presentes nos animais domésticos estimulam o sistema humanitário das crianças, diminuindo, assim, a incidência de alergias (aos animais) que muitos carregam pela vida fora e que, eventualmente, podem culminar em trágicos choques anafiláticos. (Ironicamente, uma percentagem elevada dos afectados foi-lhes negado o contacto regular com animais por “questões de saúde”.)





Não basta o amor sentido e declarado,

Nem o coagular do acidental sangue

Arrancado no virar das páginas

Que lamentamos ter escrito

No padrão das cicatrizes

Interpretamos os presságios,

Reforçando as armaduras

A cada tentativa frustrada

E que o atrito da realidade

Me liberte a pele de guerreiro

Cansado de lutas sem fim.

- Magoar-te é atentar contra o melhor de mim!

Nómada do amor, tenho andado em círculos

Seguindo os meus rastos no deserto

À procura da paz que anda monte…

Acampo agora junto à cidadela da minha amada.

«Demasiado cedo para ela, demasiado tarde para ti!»,

Crocitou-me o guardião das muralhas.

Pela calada, na noite dos teus temores,

Destranquei-te o coração e entrei pela janela…

O corpo e o espírito do peregrino

Moldam-se nos caminhos iniciáticos,

Não nos pátios floridos de édens para elites

(festas em condomínios fechados

Em solo roubado à floresta…)

A angústia pendular que se quer apear,

Invejando as orquídeas agarradas às alturas.

Na obscuridade, sou seduzido pela raflésia,

Mesmo conhecendo o segredo da sua exuberância…

Qual de nós poderá ser um presente envenenado

De uma divindade que eu não acredito?...

Tudo está vivo!

E no âmago de tudo, a gesta

E a génese da sua destruição…

Até as rochas envelhecem

E renovam-se ciclicamente;

Elas são guarda-jóias do calor solar

E das gotículas de condensação.

Procuremos no primordial húmus

Onde está guardada a origem

Da carne e do verbo…

E o sentido da vida

- Na cooperação libertária!

Sente o pulsar enamorado

Nesta meridional paisagem

Em que a sensualidade e o vinho

Perpetuam o estio

E as árvores, exaustas de sonhar,

Arreiam as suas nemorosas almas…

À sua volta crescem as solidões encaixotadas

No frio aprumo do concreto.

Hiante pelas saudades,

Um oceano conspira para nos separar;

Ou a nossa união espiritual estende-se

Entre as margens de 2 continentes?...

A virgindade da nossa entrega;

Os ditames dos corpos e das vidas

Que precisam crescer juntas.

Sem pontos de referência,

Poderás compreender a natureza do meu amor?

- Só através da aceitação mútua,

Enfrentando com tranquilidade a nudez da verdade.

A sapiência de negociar liberdades

Fazendo os compromissos certos

(e às vezes as pazes na cama ;-D …),

Sem nunca perdermos o encantamento radical

A cumplicidade na alegria de lontra;

Amor de pororoca,

Que nos leva sem perguntar;

Tentaremos manter-nos à tona…

…A tranquilidade num mergulho de apneia…

Colherei estrelas-do-mar na concha da tua boca.

O bolbo dos teus olhos que florescem

Num tributo à vida – que desejo!

Olhar de conto de Inverno junto à lareira;

A expressão que em mim verás quando nos reencontrarmos;

A derradeira inspiração de profeta

Antes de ser baptizado na correnteza dos mitos

- Sentes o arrebatamento no mistério?

Pois não supera os teus beijos e sorrisos!

Rugidos na mata despertam-te;

Um preá diz-te «bom dia!»

A devoção de um vate;

Uma criança que nos segura a mão

E nos comove com a pureza do seu afecto.

Nem o ocaso reflectido na erva-coceguinha (Agrostis sp.)

Ou no desfiladeiro que passeias,

Se compara è luz dos teus olhos!...

Eles são o meu miradouro,

Dando-me aconchego e visão de ave

Sobre um futuro cheio de possibilidades felizes…

Asas quebradas forçaram-me ao exílio,

Mas sou resgatado pela anódina confiança

Que os nossos abraços vão destilando.

Encontrei o paraíso ao perder-me

Nas veredas dos teus dedos…

Reconheço as tuas impressões digitais

Na essência que te revelei

(Leio-as como um texto sagrado em Braille…)

Espalhas o óleo da ternura pelas auroras

Que nascem nos teus sorrisos

- Esse é o colostro que me mantém vivo!

Entre sonhos e metáforas cinestésicas.

Depois encantamo-nos espreitando as palavras

Que cortejam a fazem amor com as melodias,

Gerando híbridos férteis

No mangue das minhas palavras

e outros carinhos

Não vais edificar ambições palacianas,

Somente um amor que lhe desconheço o fim.

É chegada a hora de me dares a mão;

Aproxima-se uma tempestade…

…Vamos nadar à chuva!

Xando







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