segunda-feira, julho 23, 2007


Gary Snyder:

«Coyote and Ground Squirrel do not break the compact they have with each other that one must play predator and the other play game.» (The Practice of the Wild, 1990. )
«We . . . must try to live without causing unnecessary harm, not just to fellow humans but to all beings. We must try not to be stingy, or to exploit others. There will be enough pain in the world as it is. » ;
«Creatures who have traveled with us through the ages are now apparently doomed, as their habitat - and the old, old habitat of humans - falls before the slow-motion explosion of expanding world economies. » ;
«We need a civilization that can live fully and creatively together with wildness. We must start growing it right here, in the New World.» ;
«Some tiny but critical tracts are held by private nonprofit groups like The Nature Conservancy or the Trust for Public Land. These are the shrines saved from all the land that was once known and lived on by the original people, the little bits left as they were, the last little places where intrinsic nature totally wails, blooms, nests, glints away. They make up only 2 percent of the land of the United States.»;
«The world is our consciousness and it surrounds us.»;
The depths of mind, the unconscious, are our inner wilderness areas, and that is where a bobcat is right now . . . the bobcat that roams from dream to dream. »;
«The pathless world of wild nature is a surpassing school and those who have lived through her can be tough and funny teachers.» ;
«Why should the peculiarities of human consciousness be the narrow standard by which other creatures are judged? »;
«The lessons we learn from the wild become the etiquette of freedom.»;
«Greed exposes the foolish person or the foolish chicken alike to the ever-watchful hawk of the food-web and to early impermanence. »;
«Nature is orderly. That which appears to be chaotic in nature is only a more complex kind of order.» ;
«It is clear that the forests must be managed in a way that makes them permanently sustainable.»;
«We ask for slower rotations, genuine streamside protection, fewer roads, no cuts on steep slopes, only occasional shelterwood cuts, and only the most prudent application of the appropriate smaller clear-cut.» ;
«We call for a return to selective logging, and to all-age trees, and to serious heart and mind for the protection of endangered species.»;
«Forests in the tropics are cut to make pasture to raise beef for the American market. Our distance from the source of our food enables us to be superficially more comfortable, and distinctly more ignorant. »;
«Our art is full of animal and plant motifs. All art is full of it. And all story telling and song is full of animals and plants.» (Talking on the Water, 1994.) ;
«Nature literacy is being tuned to the weather and to birds and animals. It's having a sense of what your particular climatic type is. It's knowing what river you're living on and where your drinking water comes from.»;
«You see things differently by actively studying plants , flowers, weather , birds , over a long period.»;
«There's a big, old live oak down in one end of the meadow I have walked by hundreds of times. I knew what it was&emdash;an interior live oak. I've crawled under it on several occasions. It was no mystery to me. But one day last spring, I stopped and took a look at it, and I really saw it. In a sense, it showed itself to me. No woo-woo about it . . . In India, this is called darshan. »;
«The natural world is a community I want to be a part of, because I have more respect for myself when I'm engaged with it.»;
«It's good to understand that the range of the world itself has made things happen, that there would be no orcas without seals, no seals without salmon, and no salmon without little pink plankton.»

sexta-feira, julho 20, 2007

A propensão para experiências místicas e os privilégios (em termos de equilíbrio psíquico e físico*) que acarretam é, tanto quanto sabemos, uma singularidade exclusiva da nossa espécie. Os circuitos neurológicos e toda a sua complexa química cerebral estão adaptados/aptos à espiritualidade.
Uma nova ciência, chamada neuroteologia, assumiu a difícil tarefa de perceber como e porquê. Essas investigações pioneiras, iniciadas em 1970 pelo psiquiatra e antropólogo Eugene d´Aquili,estão essencialmente a ser conduzidas pelo Dr. Persinger e pelo Dr. Newberg. Ao que apuraram, o transe místico e a consequente epifania processa-se com a hiperestimulação dos lóbulos temporais, ao mesmo tempo que os lóbos parietais (onde se situa a autoconsciência e a orientação tempo-espacial) quase cessam a sua actividade. (Claro que várias outras partes do cérebro estão envolvidas neste processo, mas têm um papel menos preponderante que as anteriormente citadas.) Quando o ego deixa de se comportar como um monólito obcecado com o sucesso da sua sobrevivência física, e a percepção da realidade deixa de estar centrada na análise das informações transmitidas pelos nossos sentidos, os indivíduos sentem o poder da mente expansiva e uma comunicação ao mesmo tempo una e transcendental com o universo (aquilo a que os devotos católicos chamam de "união mística").
Existem suficientes registos científicos que demonstram que a epilepsia dos lobos temporais, quando se manifesta em ataques agudos, pode levar os pacientes a experimentarem alucinações temporais.Sabemos agora que as actividades geomagnéticas extraordinariamente intensas (como acontece com as auroras boriais/austrais com todas as tempestades geomagnéticas e correntes eléctricas a que estão associados estes fenómenos) originam um aumento significativo de experiências místicas. É possível induzir artificialmente essas experiências "místicas" / transcendentais através da exposição a campos electromagnéticos. A maioria dos voluntários testados deste modo tiveram visões sobrenaturais e sobretudo sentiram a presença de entidades invisíveis.

*Os indivíduos religiosos geralmente são mais felizes, saudáveis, serenos e, logo, menos sujeitos aos efeitos nefastos do stress, o que lhes permite terem vidas mais longas .A médica pedagoga Maria Montessori observou que as crianças às quais é dada a oportunidade de exercitarem (num ambiente tranquilo e sem interrupções) a mente através de longos períodos de contemplação e de concentração, após estes exercícios introspectivos, geralmente experimentam um bem estar extraordinário e demonstram um desejo de ajudar os outros. No final do dia seria bom que os seus encarregados de educação lhes incutissem o hábito de reflectirem sobre os acontecimentos mais marcantes, perquirindo-oscom uma lupa moral (válida apenas para as relações humanas) que realce a importância de cultivar a amizade e os seus ritos e de agirmos de acordo com os nossos melhores valores e de consciência tranquila/apaziguada, mesmo que uma sociedade enferma premeie (com poder) quem faz exactamente o contrário.Os adultos deverão estar sempre disponíveis para discutirem estes assuntos quando solicitados pelas crianças.


PB

quinta-feira, julho 19, 2007

Aprender en libertad

Carlos Fresneda

Suena la sirena en el patio carcelario de un colegio público de Madrid. Corren los niños a ponerse a fila como en un disciplinado ejército, bajo la vara invisible de la instrucción. Quedan por delante siete u ocho horas de confinamiento y sumisión, en aras del rigor académico y bajo la guillotina del fracaso escolar.
Cantan ahora los pájaros en los árboles de la Sudbury Valley School, a tiro de piedra de Boston. Niños de todas las edades campan a sus anchas por los prados. No hay prisa para entrar en clase, porque no hay "clases" propiamente dichas, sino "habitaciones" donde los 160 chavales podrán adentrarse cuando y como quieran en el mundo de la música, del arte, de la ciencia o de la informática.
El tiempo fluye mágicamente en el caserón de la escuela. No hay horarios rígidos, ni programas estrictos, pero da la impresión de que todos saben qué hacer. Los diez "tutores" están siempre disponibles, aunque dejan que sean los niños quienes marquen la pauta. Unos ensayan una obra, otros se encierran en el laboratorio de fotografía, otros se sientan ante el ordenador, otros se ponen el delantal y cocinan spaghetti para la gran familia. Una vez por semana, grandes y pequeños se ven las caras y votan a mano alzada en la Reunión Escolar, donde se decide hasta el último detalle de la vida en Sudbury. Los padres pueden participar también en la Asamblea, el máximo órgano legislativo. Todos los días, el comité judicial examina las pequeñas incidencias y trata de mediar en los conflictos que van surgiendo. Los niños aprenden sobre la marcha que libertad y responsabilidad son dos caras de la misma moneda.
Y el entretiempo, sin presiones, sin notas, sin exámenes, los estudiantes pueden elegir entre los cientos de libros que forran las paredes de la escuela. En todos ellos está escrito con tinta invisible: "Conócete a ti mismo".
"Cuando empezamos, en 1968, hubo gente que nos decía que esto era un idea utópica, que los niños se estrellarían contra la realidad", recuerda Mimsy Sadofsky, una de las "pioneras" de Sudbury Valley. "Pero la verdad es que la vida aquí se parece mucho más a la realidad exterior que en la mayoría de las escuelas, donde se habla de democracia pero casi nunca se practica".
"Nosotros confiamos en los niños, les permitimos que tomen decisiones y asuman la responsabilidad de su propia educación", añade Mimsy, madre de tres hijos, crecidos a la sombra de Sudbury Valley. "Si a los niños le das confianza, ellos mismo buscan, prosiguen con el aprendizaje todos los días de una manera muy natural, sin necesidad de controlarles hasta el último minuto y exigirles constantemente resultados".
Los intentos de "liberar" las escuelas, de convertirlas en centros de aprendizaje y convivencia —y no en fábricas de ensamblaje o en instrumentos de control social— se remontan a hace más de un siglo. El propio Leon Tolstoi, en "Educación y Cultura", abogaba por "conceder a los estudiantes total libertad" y se preguntaba si la escuela de sus sueños sería realidad en cien años.
La experiencia de Summerhill, iniciada en 1921 por A.S. Neill en Inglaterra, ha sido tradicionalmente el punto de referencia. Los años sesenta trajeron a Estados Unidos el viento refrescante de las escuelas "libres", y desde entonces el epicentro se ha trasladado a Sudbury Valley, ese bucólico rincón de Massahussetts a donde siguen acudiendo educadores de todo el mundo a la busca de inspiración
Hoy por hoy existen ya 184 escuelas "democráticas" en 31 países, y muchas otras guiándose por los principios del aprendizaje en libertad. Estados Unidos, Holanda e Israel van a la proa, pero el movimiento se está extendiendo por todo el globo. El próximo verano, en Sydney, se celebra la 13 Conferencia Internacional de Educación Democrática (IDEC), con una pregunta lanzada al aire: "¿Cuál es el siguiente paso?".
Daniel Greenberg, autor de "Por fin libres" y uno de los fundadores de la Sudbury Valley School, tiene una visión muy clara: "Estamos en pleno tránsito de una sociedad industrial a una post-industrial. No podemos desmantelar de un día para otro las instituciones de la sociedad industrial, pero sí crear escuelas de transición, libres y democráticas".
Greenberg vaticina que las escuelas acabarán "abriéndose al mundo más allá de sus fronteras" y que los estudiantes se beneficiarán de "las innovaciones y de la libertad de elección" para ir dibujando su destino en la vida, y respondiendo sobre la marcha al modelo de sociedad que están ayudando a crear.
Pascal, Zaack e Ilona, tres de los alumnos más jóvenes de Sudbury Valley, se conforman de momento con modelar la arcilla y pintar dragones ante los ojos ávidos de Mark Bell, 52 años, el tutor de música, con una querencia especial por los más pequeños. Mark se pone a su altura y procura no interferir en lo que se traen entre manos. En vez de proponer actividades o de pedir resultados, espera el momento mágico en que los niños le digan: "¡Mira lo que he hecho!". Mark Bell fue alumno antes que tutor, y aún recuerda como si fuera ayer la "tremenda liberación" que sintió al abandonar el sistema escolar tradicional y recalar en Sudbury… "Yo fui uno de los pioneros, en 1968. Tenía 15 años, y hasta entonces mi vida se limitaba a obedecer órdenes. Sentí como si de pronto me quitaran unos correajes. Aquí me escucharon por primera vez, aquí encontré la confianza en mí mismo y aprendí a ser adulto".
En esta atmósfera de impagable libertad, Mark acabó descubriendo que lo suyo era la guitarra, y terminó creando su propia banda "Mach Five", con la que toca después de cumplir con la escuela. "Pero no creas que todos salimos por la cosa artística y creativa", precisa Mark. "A mi hermana Cathy, que llegó aquí con trece años, le dio por la carrera militar y acabó ingresando en las Fuerzas Aéreas".
Profesores, abogados, empresarios, físicos, granjeros, músicos, bailarinas… La lista de profesiones de los ex alumnos de Sudbury es tan variada como la de cualquier otra escuela. El 82% de los estudiantes que han pasado por aquí en los últimos 38 años han acabado en la universidad y la gran mayoría afirma haber sido fiel al lema que da título al libro colectivo con sus experiencias: "The Pursuit of happiness" ("La busca de la felicidad").
"Hemos probado que esta escuela crea una atmósfera que permite que los niños piensen por sí mismos y lleven una vida plena, jubilosa y satisfactoria", afirma Mimsy Sadofsky, que hizo el estudio de campo. "El aspecto emocional cuenta tanto como el cognitivo, y eso es algo que es muy difícil de medir pero de alguna manera está presente en todos los que pasaron por Sudbury".
"Aunque es posible que este modelo no sea válido para todos los niños", admite Sadofsky. "Hay padres que vienen con una idea y se arrepienten al poco tiempo porque piensan que sus hijos necesitan menos libertad y más "estructura". Otros tienen miedo de que sus hijos tengan "lagunas" y les preocupa que puedan sufrir un choque cultural cuando tengan que foguearse en una sociedad competitiva".
Pero la experiencia nos dice lo contrario", corrige la pionera de Sudbury Valley. "Otra de las grandes ventajas es que aquí los niños no están segmentados por edades. La interacción se produce a todas las horas: los pequeños aprenden de los grandes, y viceversa. A todos se les trata con el mismo respeto y todos asumen las mismas responsabilidades".
Dan las once de la mañana en Sudbury Valley. A esa hora se reúne el comité judicial en una pequeña habitación contigua al salón principal del caserón. Chelsea, de 14 años, y Jason, de 17, se estrenan tal que hoy como "jueces" después de haber sido elegidos democráticamente.
Todo el que quiera está invitado a participar, aunque sólo están obligados a dar la cara quienes se han visto envueltos en incidentes, como Pascal, "acusado" de insultar a Austin, o Sarah, que no cumplió con las normas internas de limpieza.
Bajo la supervisión de un tutor, Chelsea y Jason interrogan a los chavales, pero sin llegar a intimidarles, como si fuera un juego. Al cabo de una hora dictan las sentencias que acto seguido serán hechas públicas en el tablón de anuncios.
Pese a la mezcla de edades y a la atmósfera de libertad, los conflictos son menos habituales que los de cualquier escuela. "Cuando a la gente le cuentas cómo funcionamos, se piensan que esto es la anarquía", cuenta Chelsea. "Pero la verdad es que cada uno asume su responsabilidad, y si te pasas de la raya tienes que rendir cuentas". Chelsea siente curiosidad por las leyes, por eso se presentó para el comité judicial, aunque lo que más le tira de momento es el arte. Jason llegó a Sudbury de rebote, después de haber perdido el interés por los libros, y aquí ha descorchado como un cerebro de la informática, profesor insustituible de los más pequeños.
El día discurre plácidamente en Sudbury Valley, como el agua del lago en los confines de la escuela. Un grupo de chavales hace tiempo al aire libre mientras llega la hora del almuerzo; otros deciden quemar energías en la cancha de baloncesto.
Al mediodía, por gentileza de Mark, Jedi y Paul llega el plato especial de spaghetti, que servirá de paso para recabar fondos para la escuela. Los estudiantes están siempre ingeniándoselas para recaudar dinero y mejorar los equipamientos.
Aunque también hay tiempo, mucho tiempo, para la reflexión y el juego. Para muchos ex alumnos, el principal recuerdo de Sudbury es la experiencia impagable de contemplar el cambio de estación desde la rama de un árbol o desde lo alto de una roca. O la persecución tenaz de un sueño, una pasión o una idea más allá de las imposiciones que han convertido la infancia en una carrera de obstáculos.
¿Y quién nos garantiza que los niños aprenden las nociones básicas? Preguntan los padres escépticos. "En primer lugar, tendríamos que cuestionarnos quién decide lo que deben saber nuestros hijos", replica Laura Stephan, una de las madres que ha impulsado el proyecto de la Escuela Libre de Brooklyn, siguiendo los senda de Sudbury Valley y de la también legendaria Free School de Albany.
"Cada niño tiene sus propios intereses y su ritmo de aprendizaje, y ni siquiera sus padres somos quiénes para imponerles lo que deben saber en los próximos cinco o diez años", añade Laura. "El mundo en que vivimos cambia cada vez más rápido, los conocimientos circulan con más y más fluidez, y los niños necesitan ante todo confianza y flexibilidad para desarrollarse como pensadores independientes".
Laura educó a su hija Macy en casa hasta los siete años, hasta que se unió a un grupo de padres de Brooklyn y se decidió apuntarla a la Escuela Libre. "Para la niña no hay sido un cambio muy grande", admite. "La única diferencia es que ahora tiene un lugar de encuentro y que está en contacto con niños de todas las edades, pero es ella la que sigue marcando el camino. El aprendizaje es una cualidad innata: lo único que necesita un niño es un ambiente propicio para la automotivación".
Cada cual es muy dueño de ofrecer una clase a los alumnos de la Escuela Libre de Brooklyn, siempre y cuando no sea obligatoria. La exploración y el contacto con el entorno urbano de Nueva York es la única asignatura común para los estudiantes, cuya voz y voto pesa tanto como la del personal docente.
La escuela se compromete a "eliminar completamente, si es posible, la influencia directa, la presión y el estrés derivado de las expectativas para que los niños adquieran una visión determinada de la sociedad o respondan a criterios arbitrarios de aptitud". La carta fundacional de la Brooklyn Free Scchool, la última de las 80 escuelas "democráticas" que funcionan en Estados Unidos, puede leerse casi como si fuera una declaración de derechos: "Creemos que los niños son autodidactas por naturaleza y que están capacitados para perseguir sus propios intereses, del modo que ellos elijan, a su propio ritmo y por el tiempo que quieran, siempre y cuando no restrinjan el derecho de otra persona a hacer lo mismo".
Más información:
. Conferencia Internacional de Educación Democrátrica

Sudbury Valley School: www.sudval.org Brooklyn Free School
Por fin Libres, de Daniel Greenberg (Asociación de Familias para el Desarrollo del Autodidactismo: autodidacto arroba wanadoo punto es)
Artículo publicado originalmente en la revista Integral en su edición en papel, en el número de junio del 2006

terça-feira, julho 17, 2007

Os Cátaros

«Entende-se por fanatismo uma loucura religiosa, sinistra e cruel; é uma enfermidade que se contrai como com a varíola.» - Voltaire


Mesmo que a Igreja CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA não tivesse banido pelo menos 30 evangelhos que, no séc. II, circulavam por dezenas de congregações cristãs, tudo indica que a cristandade teria igualmente conduzido a humanidade numa guerra contra a natureza que actualmente atingiu o seu ponto mais crítico.
No século XII toda a região do Languedoc e comarcas adjacentes eram um reduto cátaro. A Igreja Católica chamava a esse fenómeno religioso «a louca lepra do sul».
Mesmo entre a população local (que habitava no sul de França e norte de Itália) que não queria abdicar dos seus cultos católicos ou judaicos, os cátaros eram tidos em alta consideração, tendo granjeado a simpatia unânime devido à sua índole geralmente pacífica e daimosa. Até podiam ser sectários (ex.: alguns jejuavam até à morte e tinham horror à animalidade basilar e intrínseca ao homem), mas transmitiam uma imagem de probidade e de compaixão, de integridade entre o discurso e a acção.
Os cátaros praticavam um género de socialismo humanista muito mais próximo da mensagem de Cristo, do que o rumo que o Vaticano seguia e impunha à sociedade. A sua ética exemplar incluía obras de acção social, tais como a assistência médica (independentemente do credo e da condição social dos enfermos) e o ensino gratuitos. Ademais, os seus líderes (onde se incluíam alguns nobres) eram tidos como pessoas muito cultas, amantes da poesia e da literatura. (Há investigadores que estão convencidos de que se a acrisolada cultura cátara não tivesse sido prematura e brutalmente extinta, poderia ter assumido o brilhantismo que veio a conhecer a Itália renascentista a partir da cidade de Florença.)
Não é, pois, de admirar que haja tantas referências sobre o facto de que, durante a Cruzada (anti)Albigense, nas cidades sob ataque, quase todas as pessoas capazes de pegar em armas e lutar, fizeram-no ao lado dos cátaros. Sob o prisma da verdade pragmática, é preciso notar que estavam todos a lutar pelas suas vidas (pouco importando qual o seu credo, ou se tinham parentes e amigos entre os cátaros), pois os cruzados não se molestavam em fazer distinções quanto ao credo, etnia, sexo ou idade, empenhados que estavam em consumar um genocídio. Vítimas da política de totalitarismo baseada na limpeza étnica promovida pelo Vaticano, muitos católicos foram igualmente submetidos a indescritíveis tormentos que sempre acabaram em massacres.
A propósito, ficou célebre uma frase geralmente atribuída a Inocêncio III, mas que, na realidade , é da autoria de um representante seu chamado Arnaud Amaury, Arcebispo de Narbonne. Na cidade de Beziers , onde ocorreu uma das referidas chacinas purgatórias, tendo escapado com vida poucos habitantes, houve quem tivesse reparado que muitos católicos fiéis ao Papa também foram mortos nessa orgia de sangue. Perguntaram então ao Arcebispo Amaury como poderiam distinguir, na confusão do morticínio, os católicos dos heréticos, pois que tinham a mesma aparência física. Ante esta confrangedora evidência, para tranquilizar a consciência dos matadores/carrascos, ele respondeu : « matem-nos a todos! Deus encarregar-se-á de distinguir os seus»… (A seguir foi escrever relatórios para o Papa, pejados de pormenores sórdidos sobre o bem sucedido projecto de luxúria homicida que conduzia…)*
*Durante toda a história da cristandade o ódio racista foi instigado pelos clérigos. Os que tinham a pele mais escura que os caucasianos, deveriam ser considerados como obra do demónio, e o facto de professarem religiões pagãs/heráticas assim o comprovava. Mas, nem sempre era fácil distinguir a natureza das confissões pela cor da pele. Então, em 1215, no quarto Concílio de Latrão ( (para o qual foram convidados de honra os Templários; o mesmo acontecendo no Concílio de Lyon, em 1277) , a Igreja estabeleceu um código identificativo para os muçulmanos e para os judeus, obrigando-os a usar uma roseta (que seria o sistema percursor da estrela amarela com que os alemães nazis identificavam os judeus).
Impõe-se outro axioma de Voltaire: «aqueles que nos conseguem convencer dos maiores absurdos, conseguem induzir-nos a cometer as maiores atrocidades.»

Esta atitude reflecte bem o despotismo católico e seu fundamentalismo sanguinolento que não dava qualquer valor à vida dos que se lhes opunham, não lhes bastando o anátema da excomunhão – necessitavam de exterminar os dissidentes!
Adiante analisaremos sucintamente esta tragédia, mas, por ora, voltemos a debruçar-nos sobre as crenças dos cátaros.
A palavra cátaro tem uma raiz etimológica grega, catharos, que significa «puro».
A história oficial tem sido sempre uma compilação das versões propagandísticas escritas pelos vencedores facciosos. Assim, a maioria das informações que possuímos sobre os cátaros são de índole injuriosa, forjadas pelos seus inimigos que conseguiram aniquilá-los, destruindo igualmente grande parte dos textos sagrados dos gnósticos mais célebres.
Mesmo assim, sabemos que os cátaros albigenses aceitavam as mulheres como seus pares na hierarquia confessional – isto numa época em que as maiores sumidades (varões católicos que julgavam ter o monopólio do conhecimento, para além de serem os pilares da moral e da fé) tinham relutância em aceitar que as mulheres fossem seres humanos completos!... (Ainda no séc. XIX, muitos dos homens mais insignes, tanto da ciência como da teologia, debatiam acerca das probabilidades de as mulheres terem, ou não, alma…)
Os líderes religiosos cátaros eram ascetas pios, permanentemente atormentados pelo temor aos instintos, sobretudo em relação às demandas da sensualidade. Não reconheciam virtudes noutra forma de os sexos se relacionarem que não fosse o amor platónico. (A exaltação desse género de romantismo tem um papel de destaque na poesia e na literatura cátara.) Para os puristas cátaros, o sexo – até para fins de procriação - era uma actividade bestialmente nojenta, que diminuía o ser humano. Por isso, até desprezavam o matrimónio.
Mais do que a concepção sem sexo, o seu ideal era um plano espiritual em que fosse possível nascer sem passar pelo ventre de uma mulher. (Ex.: Evangelho gnóstico Segundo Tomé o Dídimo, dito 15 e 79)
Acreditavam que, se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, então o Ser Supremo tem que possuir uma essência hermafrodita (que transcende as particularidades e limitações dos géneros humanos). Os nossos sexos tratar-se-iam de polaridades complementarias, não antagónicas. Por isso, na ordenação dos mestres da doutrina cátara, os Perfeitos, não havia descriminação de género.
Como todos os movimentos religiosos de grande expressão (que agremiaram um elevado número de fiéis oriundos de vários estratos sociais e proveniências geopolíticas), longe de viverem numa harmonia consensual, entre as fileiras dos cátaros havia diversas correntes filosófico-doutrinárias; cada uma delas, por sua vez, ia beber as suas influências a um leque de movimentos ideológicos orientados para a teologia, das quais podemos destacar o bogomilismo, o neoplatonismo, o paulianismo, o maniqueísmo e o marcionismo. No seio dos mais sectários medravam contradições sincréticas. (Ex.: em 1178 alguns bispos cátaros de Toulouse ousaram contestar os dogmas instituídos pelos seus homólogos de Bizâncio.)

A pobreza asceta praticada por muitos cátaros e predicada por todos, não impedia que muitos dos seus líderes (tanto nobres como eclesiásticos) fossem muitos ricos…
O dualismo maniqueísta da sua doutrina fazia-os desprezar de tudo o que fosse terreno, ao ponto de crerem que o mundo natural era obra de uma falsa divindade, senão mesmo do próprio Lúcifer. ( Talvez essa acepção se baseasse no Evangelho segundo S. Mateus, de onde se deduz que o mundo físico, material, em que vivemos é propriedade de Satanás, pois este, ao tentar Jesus Cristo, como parte da barganha, afirma poder oferecer-lhe os reinos deste mundo sob o seu controlo.)



Apenas consideravam digno de adoração um deus de bondade celestial, que se relacionava exclusivamente com uma dimensão espiritual, onde tudo deveria ser verdadeiro, puro e perene; estando para além da compreensão racional(ista). A gnose dos gnósticos estava divorciada do conhecimento escolástico, sendo de origem mística e intuitiva. Mas a transmissão dos conhecimentos que consideravam fundamentais obedecia a um elitismo esotérico, pois era da exclusividade confiado aos iniciados de acordo com os interesses de grémio.
O caminho para a transcendência tinha como farol o amor sublime que a sua religião/o seu deus lhes proporcionava..


Tal como (S.) Paulo, também eles mal podiam esperar a hora para abandonarem a vida mundana, libertando o espírito da sua prisão carnal (mas parece que acreditavam na reencarnação).

Apesar da sua aversão ao mundo material, eram vegetarianos, opondo-se à morte violenta tanto de pessoas como de bestas. (A propósito, ficou-nos um relato paradigmático que seria apenas anedótico se o seu desfecho não tivesse sido trágico. Em 1051, camponeses da Lorena que professavam a religião cátara foram denunciados por um bispo local ao imperador. Na presença deste último, aos acusados foi-lhes dado um teste: ou matavam uns pintainhos, ou iam para a forca… eles mantiveram-se fiéis às suas crenças pacifistas…)


Consta que o Evangelho Segundo S. João era o mais utilizado pelos cátaros, mas há muita divergência quanto a esta suposição. Sabemos que utilizavam os evangelhos gnósticos, em particular os de Filipe e o de Judas (os mais detestados pela Igreja de Roma). Também davam preferência a um texto teológico a que chamavam «o Evangelho do Amor», sobre o qual sobraram pouco mais do que obscuras suposições.
No Evangelho de Judas este apóstolo maldito é ilibado como o derradeiro e mais vil dos traidores (tal como é apresentado no Evangelho Segundo S. João, que demoniza Judas como um símbolo dos judeus, aos quais, na época m que foi escrito, as novas comunidades de cristãos gentios queriam distanciar-se – até para tentarem escapar á implacável perseguição do imperador Nero). O evangelho de Judas é bastante enigmático. Nele Judas é apresentado como o principal confidente de Cristo, assim como o único entre os apóstolos que compreendeu o seu papel no plano concebido pelo Messias com a finalidade de se libertar da sua forma carnal e dar o exemplo aos seus seguidores. O relato termina abruptamente com a traição de Judas, omitindo propositadamente a crucificação – o que sublinha a crença gnóstica de que Jesus tinha uma dupla natureza (animal versus espiritual) e que apenas o seu espírito poderia ter saído – pleno e livre - do túmulo onde sepultaram o (descartável) corpo mortal. Talvez por isso haja tantas referências de observadores exteriores ao culto que asseveraram que os cátaros negavam Cristo.
Para os gnósticos, o ritual de iniciação mais sagrado não era o baptismo, mas sim um rito esotérico (segundo as indicações do evangelho de Filipe) que culminava num beijo místico, símbolo de um renascimento purificado.
Enquanto penassem na Terra, os gnósticos sentiam-se fiéis depositários de uma parcela do poder e graça divinos consubstanciados nos seus espíritos, que necessitava ser conhecida e cultivada como a única forma de o ser humano assumir a sua riqueza interior e ser feliz. (Evangelho gnóstico segundo Tomé o Dídimo. Dito 3, biblioteca Nag Hammadi)
Enquanto que os católicos estão limitados por uma mitologia morta, nas celebrações litúrgicas dos cátaros, os seus participantes entravam num estado de transe que identificavam como um tipo de possessão divina (superior a qualquer credo ou dogma) que assegurava uma ligação directa com o que para eles era de mais sacrossanto. (Esses rituais de comunhão divina, na sua essência, podem ainda ser observados em religiões como o candomblé, o vudu, o xamanismo e entre milhões de indígenas que, embora subjugados à Igreja católica, optaram pelo sincretismo com as suas antigas crenças e práticas religiosas.) por isso, rejeitavam a intermediação (imposta) de sacerdotes católicos e toda a hierarquia clerical.
À semelhança do que actualmente acontece com as testemunhas de Jeová, também se recusavam a adorar ídolos e outros símbolos do poder secular e temporal (incluindo a "cruz de Cristo"), para além de considerarem a Igreja Católica com decadente e corrupta; uma autêntica personificação do mal.
A Igreja católica é como um polvo de vastos tentáculos
E com uma gula insaciável por almas e territórios geopolíticos; sempre reagindo com irado zelo a qualquer ameaça . Continuando com a metáfora, os polvos têm 9 cérebros: o principal está na cabeça, mas cada tentáculo seu o seu próprio cérebro rudimentar. Estes animais não poderiam sobreviver se todos os tentáculos, separados radialmente, insistissem em tentar seguir direcções diferentes… O Vaticano será, portanto, a cabeça desse cefalópode, e cada tentáculo as suas Ordens. Se Algumas destas dá sinais de sedição herética, o comando central está disposto a extirpar esse tentáculo, regenerando outro em pouco tempo.

Em 1165, na cidade de albigense de Albi, a Igreja condena de forma oficial e desafiante a heresia cátara.
Dois anos depois, os cátaros (através do seu patriarca de Constantinopla) organiza o Concílio Cátaro de de Saint Feliz de Caramon, mas não conseguem apaziguar as relações com o Vaticano.
Em 1178, no Concílio de Lombers, a Igreja reforça a sua posição antagónica em relação aos cátaros. No ano seguinte, durante o III Concílio de Latrão, a Igreja convoca as forças seculares para que, através da lei e da espada, reprimirem com dureza a heresia cátara, exigindo total submissão à autoridade eclesiástica.
Editou-se, então, a bula Ad-Abolenda que declarava o direito e o dever de o Rei expropriar as terras aos nobres que protegessem os cátaros e quaisquer outros hereges. «É necessário que os heréticos sejam esmagados pelo Vosso poder e que as misérias da guerra os tragam de volta à verdade» (sic)

Quando, em 1198, Inocêncio III é eleito Papa, este toma como a sua principal missão erradicar a ameaça herege, pois considerava que uma rebelião nas hostes cristãs era muito mais grave e premente do que ir combater sarracenos para o vespeiro do Médio Oriente.
Para tal, o Papa sabia que necessitaria de manter em sintonia os interesses do poder monárquico com os do papado. Nesse sentido, pressionou o Rei de França, Filipe Augusto, mas este preferiu lidar com a Igreja pela via da tergiversação.
Entretanto, um incidente diplomático alvo de acesa polémica (que persiste até hoje) precipitou os acontecimentos que culminaram num banho de sangue.
Com o aparente propósito de fazer um último esforço diplomático para a conversão dos cátaros, em 1208 o Papa enviou ao Languedoc um representante seu chamado Pedro de Casteunau. Aparentemente, este foi assassinado por um escudeiro do conde Raimundo VI, que se tornou o principal suspeito de estar por detrás deste crime (embora se considere como plausível a possibilidade de ter sido uma armação do Vaticano…).
Inocêncio III logo excomungou Raimundo VI. A seguir, em 1209, organizou uma cruzada contra os cátaros.
A todos os que se juntassem a esta expedição de punição, o Papa prometeu as benesses habituais: remissão total dos pecados (desde que se empenhassem na matança pelo menos durante 40 dias) e a possibilidade de conseguirem substanciais melhorias financeiras, devido à legitimação do saque.
Os poderes instituídos do resto de França não se identificavam com a cultura albigense (que até tinha uma língua diferente) e invejavam-lhe a riqueza e a prosperidade, bem como a sua privilegiada posição geoestratégica que gozava de uma independência político-administrativa em relação ao rei de França . Antigas rivalidades regionais estavam em ebulição…tanto pior porque nos conflitos medievais imperava a noção de que o recurso à força bruta era um recurso primordial e legítimo para os fortes atingirem/conquistarem os seus objectivos expansionistas.
Em Lyon foi onde se juntaram mais voluntários para esta cruzada que ganhou contornos de guerra civil. A horda/turba de sicários era constituída por senhores eclesiásticos, nobres, vassalos, mercenários, vilões, camponeses, vagabundos, desordeiros e criminosos de toda a índole. Foi eleito como o seu líder militar o conde Simon de Montfort, que se revelou um dos mais cruentos genocidas da história europeia (absolvido pela Igreja e recenado pelos livros de história…). Desta forma, conseguiu usurpar uma imensidão de terras e de castelos (que petenciam aos cátaros). De pouco lhe valeu a ambição desmedida e inescrupulosa, pois morreu em combate na cidade de Toulouse, em 1213.
Entre as dezenas de milhares de pessoas que foram assassinadas no Languedoc durante a referida cruzada, contou-se até um regicídio: foi o de Pedro, Rei de Aragão, que se deslocara até ao sul de França em auxílio do seu cunhado Raimundo VI, apenas para encontrar a morte na batalha de Muret (1213), quando enfrentou o exército liderado por Simon de Montfort. A vitória deste último permitiu-lhe apoderar-se de Toulouse.

Raimundo VI também não sobreviveu ao conflito, passando a liderança da resistência herética para Raimundo e Rogério de Trencavel.

A nobreza e sobretudo a monarquia francesa que cobiçavam a região cátara, saíram fortalecidos por esta cruzada. O tratado de Meaux, em 1229, acabou por selar a anexação do Languedoc à França dos Capetíngios, ficando assim com o livre acesso ao Mar Mediterrâneo, com todas as enormes vantagens comerciais que daí decorrentes, para além do controlo da exploração dos vinhos mais afamados.
A Cruzada Albigense oficialmente durou uma década, mas sobreviveram alguns focos de resistência cátara, que continuaram bastante activos pelo menos até 1250. Posteriormente há relatos esporádicos dessa actividade herética até 1320. (Note-se que Filipe o Belo, antes de se empenhar na destruição dos Templários, ainda perseguiu os cátaros remanescentes.)
Ironicamente, existe uma óbvia correlação entre primeiros cristãos submetidos aos piores tormentos a mando do imperador (romano) Nero, e o que os Cátaros arrostaram às mãos dos cruzados católicos.
«Como nos primeiros tempos do cristianismo, os cátaros continuavam a pregar suas ideias pelos campos, nos bosques, em esconderijos e em casas de um ou outro mais corajoso simpatizante, e até nas cavernas, numa trágica simetria com as catacumbas frequentadas pelos cristãos primitivos. Não se entregavam, não renegavam suas ideias, nem mesmo quando se lhes oferecia a escolha final entre a vida e a fogueira, ou seja, entre a fé e a morte. A opção de todos - com ínfimas excepções, uma unanimidade - era pelo sacrifício supremo, sem um gemido, temor ou angústia» - Hermínio Miranda (2002).
A célebre beatitude estóica era sustentada em situação extremas. Há relatos fidedignos que referem o facto de alguns cátaros manterem um sorriso enigmático (provavelmente tinha tanto de beatífico como de sardónico) mesmo quando atearam as fogueiras da Inquisição que os consumiram num sofrimento atroz…
Com o extermínio dos Cátaros, «toda a Europa caiu numa espécie de modorra e barbárie, e a Igreja se impôs, pelo espectáculo desumano que cometera, como a única legítima representante de Deus, exercendo poder até mesmo em assuntos civis e de Estado» - Carlos Guimarães (2004)
Na Idade Média, finda a Guerra dos Cem Anos (séc.s XIV-XV), milhares de "cães de guerra" ficaram desempregados e, como não sabiam fazer mais nada e nem estavam interessados em regressar à pobreza explorada da vida civil, organizaram-se em/por muitos bandos que percorriam a Europa martirizando as populações e deixando um rasto de hediondadevastação à sua passagem. Por três séculos ganharam o seu sustento cometendo as maiores atrocidades (que incluíam esquemas de extorsão "mafiosa", vendendo "protecção ou aniquilando quem a recusava) as populações rurais e até das pequenas cidades desprotegidas viviam aterrorizadas por estes bandoleiros-guerreiros , que não hesitavam emas atacar, saquear, assassinar, violar e destruir os bens imóveis (incluindo as culturas agrícolas), sempre a oportunidade se proporcionava.

A Cruzada Albigense serviu igualmente de mote para a Igreja (através do Papa Gregório IX) instituir o Tribunal da Santa Inquisição, funcionando como uma profilaxia de terror capaz de eliminar qualquer nova ameaça (por mais embrionária ou fantasmal) à Igreja.

Xando

segunda-feira, julho 16, 2007

«Andar é uma aventura maior; a meditação primeva; a prática da cordialidade e do entusiasmo vital que acompanha a origem da humanidade. Andar é o equilíbrio certo entre a espiritualidade e a humildade.»
(…)«A etiqueta do mundo silvestre requer não apenas generosidade, mas uma bem-humorada estoicidade que alegremente tolera o desconforto, a consciência da fragilidade inerente a todos e uma certa modéstia.» - Gary Snyder

O poeta Robert Bringhurst, aludindo a um princípio Zen, diz que andar é a verdadeira poesia para quem sabe respirar pelos pés.

«Uma paisagem conquista-se com as solas do sapato, não com as rodas do automóvel» - William Faulkner.

«Desfrutar a natureza – mas de carro, de jipe ou de mota: expressão lúdica do humano reduzido à condição de deficiente motor, sem pernas, sem energia própria, dependente de próteses mecânicas para tudo. E ainda por cima chamar a essas coisas de aventura.» - Júlio Henriques
«Se eu fosse rei de França não permitiria que nenhuma criança menor de doze anos entrasse em cidade alguma. Até essa idade, as crianças teriam que viver no campo, sob o sol, nos bosques, em quintas, na companhia de cães e cavalos, cara a cara com a natureza, que vigora o corpo, fortalece a inteligência, inspira a poesia na alma humana e desperta a curiosidade mais valiosa que todos os livros do mundo.»
«Dessa forma, as crianças aprenderiam a interpretar os ruídos e o silêncio da noite, e adquiririam a melhor de todas as religiões: a que Deus mesmo põe de manifesto em todas as suas gloriosas maravilhas. E ao completarem doze anos, fortes, com a mente despoluída e compreensiva, teriam já a capacidade para receberem instrução metódica que fosse adequado proporcionar-lhes, e que poderia então incutir-se-lhes com facilidade em poucos anos.»
«(…) A minha opinião é que a educação física deve ser o primeiro passo no desenvolvimento das crianças.» - Alexandre Dumas

«(…)Para compreender que o desaparecimento de uma espécie implica o descalabro de todo um ecossistema, é necessário um profundo conhecimento da natureza. Por isso penso que grande parte dos nossos problemas seriam superados se organizássemos a educação dos nossos filhos no campo, rodeados de animais e de plantas; a biologia deveria aprender-se a partir dos cinco anos de idade.» — Konrad Lorenz
«A meu ver, a finalidade da educação é revelar e desenvolver globalmente o que há de melhor na criança e no homem, quer se trate do corpo, da inteligência ou do espírito.» - Gandhi

« Normalmente considera-se que a universidade presta serviços à sociedade, ou que a sua actividade deva ser "relevante" para os problemas sociais. Essa ideia é justificável. Todavia, quando colocada na prática isso usualmente significa que a universidade presta serviços às instituições sociais existentes, que estão na posição de articular as suas necessidades e subsidiar os esforços para equacioná-las (...) O Pentágono e as grandes corporações podem formular as suas necessidades e subsidiar a maneira pela qual elas podem ser implementadas. Mas os camponeses na Guatemala ou os desempregados no Harlem não estão em posição de fazer o mesmo.» - Noam Chomsky (1973)
«A democracia e a liberdade, mais do que valores que devemos estimar, são essenciais para a nossa sobrevivência.» - Noam Chomsky «A instrução [formal] é ignorância imposta.» – Noam Chomsky«É um milagre que a curiosidade sobreviva ao que entendemos por educação formal.» (...) « Eu nunca ensino os meus pupilos; eu apenas tento criar as condições mais propícias para que possam aprender.» - Albert Einstein «Aprende-se mais e vive-se melhor sem educação formal.» – Bill Wetzel«A escola tornou-se antidemocrática. Tem por finalidade formar consumidores disciplinados para uma tecnocracia cada vez mais devoradora.» – Ivan Illich «A verdade é que as escolas não ensinam mais do que a obedecer ordens. (…)A educação deve estar ao serviço das famílias e das comunidades.» – John T. Gatto«Creio, sinceramente, que a única maneira válida de aprendizagem é o auto-didactismo.» – Isaac Asimov «Nunca permiti que a escola interferisse na minha educação.» (…)«Primeiro Deus fez os idiotas. Isso foi só para praticar. Depois fez os conselhos escolares.» – Mark Twain«Se ensinássemos as crianças a falar e a caminhar da mesma maneira como são instruídos nas escolas, provavelmente nunca aprenderiam.» – John Holt «O professor medíocre despeja informações. O bom professor explica. O professor excepcional demonstra. Mas os maiores professores inspiram.» – William Ward«É impossível ensinar seja o que for a alguém; os educadores apenas poderão ajudar outrem a encontrar dentro de si mesmos esse conhecimento.» - Galileo Gallilei «O feito mais importante da educação é ajudar os estudantes a tornarem-se independentes da educação formal.» – Paul Gray«Que melhor maneira para os jovens aprenderem a viver do que, sem mais delongas, experimentarem a vida real?» – Henry Thoreau


«Afinal o segredo da aprendizagem é simples: concentrem-se somente naquilo que amam, sigam esse objectivo, pratiquem-no, idealizem-no. E então compreenderão que a aprendizagem sempre esteve com vocês, consumando-se na prática.» – Grace Lliwellyn

domingo, julho 15, 2007

«As crianças são uns anjinhos que todos protegemos…»

Quando eu andava no antigo 8º ano, já estava acostumado a limitar-me a assinar os testes de matemática, podendo bazar essa hora para algum jardim, enquanto os meus “colegas” (ou seja, uma cambada de garotos unidos por um aleatório desfurtúnio comum, não pela sintonia de interesses ou de carácteres) ficavam encafuados na sala de aulas a queimar os neurónios com parvoíces inúteis.
Mal sabia eu que o sistema tinha a faca e o queijo na mão para consumar a sua implacável vingança disciplinadora –, para além da falta de dinheiro e do idealismo ainda por consolidar, a merda da matemática acabou por boicotar-me as vestigiais aspirações a tirar um curso “superior” de artes plásticas ou de ciências da natureza. Aprendi muito mais e melhor como autodidacta em cerca de 20 anos de estudo diário - por gosto e sede de conhecimentos, não para mera acumulação de créditos académicos, aumentos de ordenado e outros símbolos de poder e prestígio social que sempre mereceram o meu desprezo – , tanto acumulando informações científicas minimamente independentes dos poderes político-corporativos, como andando no campo (algo que, por mais absurdo que pareça, poucos biólogos fazem), labutando com muitas ONG e viajando fazendo curtos estágios (que geralmente resultavam em frutíferas amizades) com verdadeiros mestres à escala mundial das matérias que mais me interessavam, tornaram-me bastante competente em actividades como a ornitologia, a herpetologia, a mastologia; o eco-turismo; a educação ambiental; e a fotografia de natureza.
Nos últimos 3 ou 4 anos, através de uma auto imposta uma severa disciplina de leitura e escrita, creio ter quase mantido sob controlo o problema da dislexia (algo que nenhum professor se molestou em tentar diagnosticar, preferindo as frequentes humilhações à frente dos “colegas”, porque eu dava demasiados erros ortográficos…FDP!).
Mas nada disto vale um chavo no «País dos Doutores», onde oscilamos entre o analfabetismo funcional, cuja boçalidade servil e deslumbrada é sobretudo uma herança do Estado Novo; e a ignorância pedante dos que acham que um canudo é um posto numa casta superior, só porque tiveram o privilégio de andar uns anos a decorar definições ~ estéreis que despejam nos testes para esquecer no dia seguinte.
A verdade é que, mesmo tendo sido entregue ao Estado para ser instruído (não educado, o que é algo bastante diferente) na incubadora do trabalho arregimentado, se, por um “milagre” burocrático, tivesse beneficiado dos serviços de bons professores, tê-los-ia seguido como se fosse um cachorrinho, até porque devido à idade conturbada e à situação familiar deplorável, ainda andava à procura de figuras paternais (independentemente do género) que me pudessem dar alguma orientação salutar e admiráveis exemplos de conduta. Mas a mediocridade uniformizante e castrante do ensino formal só me fazia arrostar tédio e humilhações; e, quando me sentia minimamente vivo, também alguma indignação. Da longa lista de professores facilmente olvidáveis, nunca ouvi quaisquer palavras de encorajamento para prosseguir pelo caminho que considerava o mais correcto, muito menos me deram indicações nesse sentido. Tampouco algum tentou averiguar quais eram as minhas apetências e talentos, a fim de me ajudar a tentar fazer algo de bom (para mim e para a sociedade) com a matéria prima que me tinha calhado na lotaria dos genes. Só conta a obediências às hierarquias e a competição entre os putos tratados como gado.
Por então a maioria dos licenciados abraçava a profissão de professor, não por vocação ou competência, mas apenas porque era a maneira mais fácil de conseguir um emprego seguro, aceitavelmente remunerado e com períodos de férias maiores do que oferecem as empresas privadas. Ademais, como desde tenra idade que estavam metidos no ensino formal, a maioria dos docentes teme não saber o que fazer fora da redoma académica. Actualmente, devido às imposições corporativas baseadas em medidas macroeconómicas neoliberais, essas benesses para muitos empregados da função pública deixaram de existir, o que, certamente, não se traduzirá no aumento da qualidade do ensino.


Voltando à estória inicail, no começo do último período a professora (de matemática) foi substituída, e a nova mulherzinha quis obrigar-me a ficar sentado, quieto e calado durante todo tempo destinado aos testes. Entrou a matar, assemelhando-se àqueles cães minúsculos e hiper irritantes que necessitam de fazer muito barulho para se afirmarem. Resolvi jogar com a sua insegurança…
Fingi estar a desenhá-la na folha de teste, enquanto me ria com um ar bem sacaninha. Ela logo ficou incomodada ao ponto de, passados uns 10 ou 15 minutos, ter revogado a sua decisão (proferida como se fosse um sargento-chichiuaua ), pedindo para que eu lhe entregasse o teste e saísse. Era mais fraquinha do que eu inicialmente avaliara. Assim, sentindo-me na mó de cima em relação à força opressora, percebi que o melhor seria levar a brincadeira até ao fim. Retorqui-lhe que ainda tinha muito para trabalhar na folha de teste. E comecei mesmo a desenhar o seu focinho antipático e arrogante – só que com a cabeça decepada num charco de sangue e muitas ratazanas a de volta dela num festim macabro… e entreguei-lhe a obra contestatária.
No dia seguinte fui chamado ao conselho directivo (onde, aliás, me tornaria cliente habitual daí a 2 anos…). A directora viu à sua frente um garoto franzino (com a aparência de uns 11 anos), bastante andrógino e obviamente deslocado, mas, apesar de, como sempre, me ter subestimado, também percebeu algum talento revolucionário. Senti-me intimidado pela sua severa tranquilidade, típica dos que sabem que os miúdos à sua guarda estão nessa situação contrariados, mas desconhecem as (escassas e bloqueadas) vias alternativas para poderem medrar e realizar-se fora da instituição destinada principalmente a adestrá-los na obediência servil e bajuladora, bem como na competição injusta e desapiedada pela definição e consolidação de hierarquias no frenesim alimentar ( que em biologia tem a designação de Pecking order), tendo o capital como deus e, consequentemente, o capitalismo como religião – atitude que é indispensável à Megamáquina para lhes consumir as vidas através do trabalho forçado.
Sem conseguir disfarçar uma expressão divertida, de sobrolho franzido, a directora disse-me que eu não deveria ter feito aquilo, mas que também não era justo a professora ter-me dado apenas o costumeiro «0» no teste alvo de polémica, porque a qualidade do desenho merecia mais uns valorzitos (sic)… em breve viria a arrepender-se de me ter dado essa abébia, pois
tal serviu-me de inspiração para testar os limites da sua tolerância, acabando por ir longe demais com a brincadeira.
Na semana seguinte, estava eu sentado sob uma das carteiras lá do fundo (as que, logo na primeira aula, qualquer professor sabe que são ocupadas pelos cábulas…) a mamar cerveja* em lata e a desenhar (com giz) no soalho a caricatura da tal professora com um corpo de vaca. Desta feita deram-me cá um responso! (Só me arrependo do trabalho que dei às senhoras da limpeza.) Ora gaita !, foi a única altura da minha vida que eu achei alguma utilidade ao meu talento para o desenho. Tive que adoptar outras tácticas de guerrilha – pois não restam dúvidas que me tinham empurrado para um ambiente de guerra que consumiu o que restava de melhor em mim, até me tornar num espectro abúlico e de olhar distante – mas nunca uma mascote pela trela ou um autómato pronto para o desumanizante mercado de trabalho e para o consumismo acéfalo como eles queriam!
O meu processo de recuperação intelectual e espiritual demorou alguns anos e só pôde iniciar-se quando deixei o ensino formal. Tive que (re?)aprender tanto a ser útil aos meus ideais como a gargalhar com prazer (sozinho ou entre amigos), consciente desse privilégio mas com a tranquilidade de quem sabe apreciar esses momentos confiante de que se sucederão sem ser à custa da desgraça de terceiros nem da sanidade do planeta.

* Desde os 19 anos que não toco numa gota de álcool. Essa decisão radical foi tomada cerca de 2 anos após me ter tornado vegetariano.

Xando
drogas

As drogas que mais matam em Portugal - o álcool e o tabaco - são legais. Aliás, em todo o mundo o tabaco mais mata mais pessoas do que todas as outras drogas combinadas.
Em Inglaterra as restrições (severas, se comparadas com Portugal) ao consumo de álcool nos pubs (ex.: não servem bebidas alcoólicas depois das 23h) não foram decretadas pelos efeitos do álcool contra a estabilidade e harmonia familiar e social, mas sim por ter sido considerado um mal para a indústria militar durante a Segunda Guerra Mundial.
Todos sabemos que a criminalização do comércio e consumo de álcool nos EUA (a "Lei Seca" da década de 30) fez com que aumentasse o seu consumo(clandestino) e, principalmente, o preço do "fruto proibido", enriquecendomafias e corrompendo o governo (ex.: os políticos que mais lucravam com ocomércio ilícito de álcool eram os maiores defensores da manutenção dessaproibição). A situação mantém-se hoje em dia; apenas mudou o nome e a constituição química das drogas estigmatizadas e das socialmente aceites.
Dólares p´rà veia!...
Um relatório elaborado pela Agência das Nações Unidas para o Controlo da Droga e Prevenção do Crime (ONUDC) e publicado em 2005, refere que o mercado das drogas ilícitas rende 320 mil milhões de euros anuais (mas algumas ONG especializadas no assunto afirmam que o montante real ascendo aos 400 mil milhões de dólares), valor que supera a riqueza produzida em cerca de 90% dos actuais países. Dentro do volume de negócios dos bens de primeira necessidade, o multibilionário sector dos têxteis mobiliza verbas inferiores às do narcotráfico que representa 8% de todo o comércio.
De forma branqueada ou não, este dinheiro entra nocircuito financeiro em que esta sociedade se apoia. Se esses capitais fossemsuprimidos de um dia para o outro, a nossa economia entraria em colapso, ecertamente que veríamos muitas respeitadas instituições e figuras públicas"insuspeitas" entrar em pânico enfrentando a ruína.Quando no anos 80 rebentou o escândalo de que o Banco do Vaticano estavaenvolvido na lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas noMediterrâneo, o que mais surpreendeu e embaraçou (pela celeuma que causou na opinião pública) os poderes políticos que assediam os votos dos católicos,foi a sinceridade cínica de um bispo de Roma chamado Marcincus (que é o principal suspeito na plausível teoria do assassinato de João Paulo I) que, ao ser confrontado com estasacusações, retorquiu : «a Igreja não se sustenta com Avé-Marias...»
O supracitado relatório da ONUDC adianta que existem pelo menos 200 milhões de consumidores de drogas ilícitas, o que corresponde aproximadamente a 5% da população mundial com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos.

A OCDE calcula que metade do dinheiro proveniente do narco-tráfico passa pelos bancos norte-americanos. Quando Reagan era Presidente dos EUA, os promotores de justiça federal e os tribunais, intrigados pelo enorme afluxo de capitais (às instituições financeiras de Miami) de origem obscura e pelos crescentes rumores que apontavam para o tráfico ilícito de drogas, iniciaram uma investigação com o objectivo de apurarem as origens desse dinheiro (que até tem servido para custear acções da CIA…). Mas o governo (na pessoa do Vice Presidente George Bush sénior), cedendo ao lóbi dos banqueiros, ordenou a interrupção dessas investigações, boicotando ainda a aprovação de leis (no Congresso) contra a lavagem de dinheiro.
Aquando da queda do Bloco Soviético, os EUA também enfrentavam problemas económicos graves (nomeadamente um galopante défice comercial e fiscal bem como uma crise do sector agrícola que só tinha paralelo com o período da “grande depressão”), enquanto que o capitalismo japonês se revelava mais eficiente e ameaçador. Em 1989, Bush sénior, dando continuação à estratégia de Ronald Reagan e fazendo um agrado à direita cristã, lançou uma campanha mediática destinada a desviar a atenção da economia para o problema das drogas (ilegais)++++. Com esse pretexto, as autoridades policiais puderam espezinhar os direitos civis dos contestatários às políticas governamentais, enquanto que no estrangeiro as agências secretas ligadas ao Pentágono e o exército aniquilavam qualquer oposição aos interesses corporativos e geoestratégicos do império. As forças rebeldes passaram a ser vistas pela opinião pública como meros traficantes de droga (anos antes eram “comunistas” e actualmente são “terroristas”…).
++++ - Vale a pena mencionar uma ironia tragicómica da cruzada anti-drogas (ilegais) liderada pelo casal Reagan. A primeira dama, Nancy, escolheu para representar o papel de soldado-estrela nessa guerra de fantochada uma adolescente chamada Drew Barrymore, que já tinha conquistado em Hollywood o estatuto de actriz prodígio. Esta miúda representava bem demais (e nesse tempo a opinião pública ainda o desconhecia) a hipocrisia histérica da América conservadora, incapaz de olhar com profundidade para a raiz dos seus males. Enquanto a menina Drew Barrymore era chamada à Casa Branca, a fim de fazer declarações aos média apelando aos jovens para se absterem das drogas, ela era consumidora de marijuana desde os 10 anos de idade; com apenas 12 anos já estava viciada em cocaína e aos 14 tentou suicidar-se, cortando os pulsos, tendo sido salva in extremis…


Nesse tempo já os técnicos de saúde estado-unidenses calculavam que o tabaco cobrava anualmente umas 300 mil vidas, enquanto que as vítimas mortais do álcool poderiam ser umas 100 mil. Mas “apenas” eram atribuídas 3500 mortes anuais às drogas duras. A histeria que as sucessivas administrações republicanas criaram à volta da marijuana parecia de todo injustificada, pois, dos 60 milhões de consumidores estimados para aquele país, nem uma morte foi registada. Aliás, vários estudos revelaram que um número considerável de fumadores de “erva” (pot) tornaram-se consumidores de cocaína e de crack, porque, com a guerra às drogas, tornou-se muito mais fácil ter acesso às drogas ditas duras.
A hipocrisia era evidente, pois o governo protegia a indústria tabaqueira (e continua a fazê-lo) – que já comercializava cigarros com um aditivo muito tóxico destinado a acentuar a dependência da nicotina. Chegaram mesmo a criar uma comissão para estudar a possibilidade de impor sanções económicas à Tailândia, por o seu governo ter tentado restringir as importações e a publicidade ao tabaco NA. Em nome do “mercado livre”, os EUA tornaram-se nos maiores traficantes de drogas (legais e ilegais) do mundo.
O consumo do tabaco diminuiu drasticamente na América do norte exclusivamente por iniciativa popular; as fortes campanhas anti-tabágicas e de mudanças de atitudes e de hábitos culturais associadas a esse vício agressivo para toda a gente, foram feitas à revelia do governo (mais interessado em defender a multimilionária indústria do tabaco do que a saúde pública).

A legalidade ou ilegalidade das drogas é uma arbitrariedade cultural. As drogas sempre foram utilizadas pelos humanos em todas as suas culturas. Na verdade, existem numerosas espécies de animais que, para alterarem os estados emocionais e a percepção sensorial, recorrem intencionalmente às drogas que encontram nos seus habitats naturais.Nas comunidades tribais (o modus vivendi natural ao homem) o papel das drogas psicotrópicas é o de auxiliarem as pessoas a alcançarem e exploraremregiões obscuras e místicas da psique. A ingestão dessas substânciasgeralmente obedece a rituais imbuídos de profunda espiritualidade quereforçam a sua comunhão com o universo, acrescentando dimensões eperspectivas à cosmologia tribal. Podem ainda tratar-se de estimulantesdestinados a aguçar alguns sentidos (ex.: os mais importantes para a caça),ou a servirem de lenitivo à fadiga e à fome.Ao contrário do que acontece na nossa civilização, os povos tribais que vivemem harmonia com a natureza e com o seu ambiente social, não recorrem àsdrogas procurando meras alienações embrutecedoras e degradantes, nem o fazem por hedonismo fútil, irresponsável e auto-destrutivo. Eles conhecem ospesarosos efeitos das inevitáveis ressacas tão bem quanto as suasresponsabilidades perante as respectivas comunidades. Para comprovarmos averacidade destas afirmações, basta compararmos os efeitos sociais eclínicos que a planta da coca tem nas culturas andinas por oposição à nossasociedade...Sabendo-se hoje que os psicotrópicos (como, por ex., a cocaína) estimulampontos do nosso cérebro e respectivas reacções bioquímicas análogas ao queexperimentamos no estado psicológico que conhecemos por amor, não admira que haja tantos toxicodependentes.(É curioso que tantos toxidependentes tenham grandes dificuldades em atingir orgasmos, mesmo que não sofram de disfunções que os impeçam de consumar as relações sexuais.) As pessoas estão demasiado carentes efrustradas. Entre nós, as drogas são, pois, mais um sintoma da enfermidadesocial, não a sua causa principal. Este grave problema deve ser abordado, nãoatravés da repressão jurídica e policial (que só agrava o problema,patrocinando os cartéis de criminosos milionários e estigmatizando quemnecessita de ajuda), mas sim através de uma perspectiva sociológica eclínica.


Plano Colômbia (PC)
Desde que o início do “Plano Colômbia” que a produção e o comércio de drogas mais do que duplicou. A intensificação da produção de narcóticos tem sido proporcional à intensificação das fumigações com desfolhantes, assim como o aumento da produção de petróleo colombiano é proporcional à presença militar NA.

Dos seus 40 milhões de habitantes, 30 milhões vivem na penúria, barbaramente oprimidos. O racismo mancha todo o tecido social, sendo osafro-americanos os menos respeitados.
A ONU afirma que a Colômbia tem a 3ª maior população de refugiados do mundo


A população está subjugada pelo medo e, com razão, não tem qualquer confiança nas instituições estatais.
Os massacres e o desalojamento de campesinos é uma estratégia dos militares e dos paramilitares que querem o livre acesso e controlo das zonas com os recursos naturais mais apetecíveis (ex.: madeiras e petróleo)para as corporações multinacionais. Que a Colômbia seja um dos países onde os órgãos estatais são mais corruptos, só facilita essas negociatas.
As populações locais, bem como todas as ONGs no terreno, asseveram que os paramilitares e os miltares são a mesma merda. Se por um lado a Casa Branca fornece mercenários (via empresas privadas) para fazerem o trabalho sujo, sem incriminarem demasiado os políticos e o exército, por outro lado o governo colombiano serve-se dos paramilitares para os mesmos propósitos.
Basta taxar de “narcotraficantes” os campesinos pobres e os guerrilheiros (que, ainda por cima, são “esquerdistas”), para que Washington e Bogotá se sintam com “legitimidade moral” (aos olhos das minorias que detêm o poder no mundo) para lhes fazerem as maiores atrocidades. Quaisquer opositores políticos (ex.: sindicatos, ONG humanitárias e ambientalistas, líderes estudantis e religiosos, etc…) são considerados membros ou simpatizantes da guerrilha e, como tal, têm que ser eleminados.
Os raptos e as extorsões também se tornaram um negócio para as várias facções da guerrilha.

Entre 1978 e 2001, forampulverizadas (regularmente) 200 mil ha de plantações de coca e 60 mil ha depapoilas do ópio.A Monsanto tem sido a principal empresa fornecedora de agroquímicos para o PC, tal como o tinha feito com o seu “agente laranja” intensamente/maciçamente fumicado sobre o Vietname e sobre o Laos. Estima-se que esse pesticida esteja na origen de 50 mil casos de más formações de crianças nascidas nesses países do sudeste asiático, além de uns 100 mil casos de cancros entre residentes e soldados NA que por lá combateram. Actualmente o Vietname é considerado o país mais contaminado com dioxinas de todo o mundo.Um dos químicos mortíferos mais utilizados é uma versão mais agressiva(cuja fórmula é mantida em segredo) do Round up (além de 4 milhões delitros de Glifosato, Paraquat, Tebuthiuron, Imazapyr e Garlon-4). Assim, aMonsanto enriquece utilizando a Colômbia como um gigantesco campo deexperiências (tão bom como qualquer zona de guerra), sem quaisquerrestrições e com total impunidade quanto ao atentado ambiental e àsviolações dos direitos humanos. Os muitos milhares de toneladas de venenosque têm sido despejados sobre a selva tropical (bem como sobre as culturasagrícolas de subsistência e sobre os pobres agricultores que nada têm a vercom as drogas) são naturalmente escoados para a bacia do amazonas, como senão bastasse a poluição provocada pelos laboratórios de campanha utilizadospelos narcotraficantes na produção de cocaína e que despejam nas linhasd´água gasolina, éter, acetona e ácido sulfúrico.No meio de toda esta devastação, os traficantes são deixados em paz...Osobjectivos dos governos de Washington e de Bogotá são outros, como adianteveremos.O PC foi implementado sem sequer ter sido discutido no Parlamento colombiano. E No Senado NA o debate centrou-se sobre quais as empresas que iriam receber osmelhores contratos. Os milhares de milhões de dólares gastos com o PC servemfundamentalmente para subsidiar a indústria militar estado-unidense.Também a U E contribuiu (com uns 500 milhões de dólares) para esta "guerraao narcotráfico". Mas quase toda esta "ajuda" monetária passa porcréditos bancários, o que contribui para o aumento da enorme dívida externada Colômbia - país onde 30 (dos 40) milhões de habitantes vive napenúria. A ONG Transparência Internacional considera a Colômbia como osétimo país mais corrupto do mundo, tanto no que se refere aos organismopúblicos como ao sector privado. Por ouro lado, a Colômbia aparece em terceiro lugar (a seguir a Israel e aoEgipto) na lista dos países mais apoiados militarmente por Washington.Falta um dado essencial nesta equação: a Colômbia é o 7º maior fornecedor de petróleo dos EUA, e, fora do Médio Oriente, neste aspecto só perde para a Venezuela (país que, apesar de estar com relações conflituosas com o império, continua a fornecer-lhes o precioso combustível.
As empresa yankees(apoiadas pelo exército e pela NAFTA***) controlam essa exploração e arrecadam 75% dos lucros do petróleo colombiano.(O acordo inicial era de 50% para as corporações petrolíferas yankees e outro tanto para o governo de Bogotá, mas este último perdeu força negocial.)
***O Acordo de Livre Comércio das Américas é o culminar de uma política NA que peretende o monopólio do comércio e dos recursos naturais da América Central e do Sul através do estupro de quaisquer inconveniências político-legais de soberania nacional. O Tio Sam sempre disponibilizou os serviços mafiosos do seu exército para garantir às suas corporações o saque e exploração dos seus “vizinhos de baixo”. A OMC vem, assim, consolidar legalmente o que as armas, o FMI e o BM iniciaram.

Em 2002, a administração Bush deixou (parcialmente) cair a máscara da sua"luta contra o narcotráfico" e contra as forças insurrectas (comunistas!)na Colômbia, assumindo a operação militar como sendo parte da sua "lutacontra o terrorismo".*-+ Entretanto, os paramilitares colombianos, em estreitaassociação com o exército, gozam de carta branca para intimidar e massacrara sociedade civil (em especial as comunidades que vivem em zonas que cobiçadas pelas indústrias madeireiras e petrolíferas...). Os EUA até lhes fornecem mercenários (via empresas privadas subcontratadas pelo Pentágono) para esta guerra secreta. (Convém termos em mente que ogeneral que comanda o exército colombiano bem como muitos dos seus subordinados foram formados na Escola dasAméricas...) O Presidente Andrés Pastana mantinha negociações com os rebeldes no sentido de por fim ao conflito que devasta o país há vários anos, mas, quando em 2002, recebeu de Washington mais uma choruda verba destinada à “luta contra a insurreição e o terrorismo”, abandonou o diálogo com rebeldes. O investimento dos narcodólares na Colômbia baseia-se muito no latifúndioassociado às explorações agropecuárias, que destroem a selva e expulsam opequeno campesinato.
*-+ A linguagem dos políticos é cuidadosamente estudada e polida para iludir a opinião pública. Por exemplo, a administração de W. Bush baniu as expressões "guerra ao Iraque" e "aquecimento global" – substituindo-as por "guerra ao terror" e "alterações climáticas", respectivamente – por sugestão do "mago" da publicidade política Frank Luntz. Este jovem yuppy ajudou Giuliani (ex-Presidente da autarquia de Nova Iorque), Berlusconi (..Itália) e W. Bush a conseguirem importantes vitórias políticas, apenas pela sua habilidade em manipular eufemismos e os média. Mas é claro eu Luntz, como um (muito bem sucedido) profissional amoral (?) é considerado inimputável das consequências para a comunidade dos enganos que engendra. Provavelmente ele também trabalharia para causas em favor do bem comum se as forças de contra-poder pudessem pagar os seus honorários principescos, aceitando lutar com as mesmas armas do sistema. Há muitas formas de prostituição, e a que opera nas esquinas não é a mais degradante nem a mais ameaçadora para a sociedade…

Como é óbvio, os que dirigem o império americano estão pouco preocupados com a expansão do narcotráfico. Muito pelo contrário. A CIA tem, aliás, um longo historial de fomento da produção de drogas ilegais, de protecção aonarcotráfico e de utilização dos narcodólares para financiar as suasguerras que, supostamente, têm um fundamento ideológico, mas que, naprática, apenas servem os interesses do seu complexo militar-industrial.- French Conection , assim denominada porque a CIA deu continuidade às ligaçõesperigosas que os serviços secretos franceses mantinham com as tribos que lutavam contra os comunistas e que eram simultaneamente produtoras de ópio e de heroína. Os serviços secretos ajudaram-nas a exportar a droga para a Europa.

A heroína (muitas vezes era oculta em sacos mortuáriosdestinados ao transporte de soldados falecidos em combate no Vietname) era traficada pela CIA em aviões do governo.
Enquanto escalava a tensão da Guerra Fria, a Europa, relutantemente, ia perdendo as suas colónias, que se transformaram em campos de guerra. A França contava com o auxílio dos EUA para manter o “seu” Vietname. Mas internamente a opinião pública francesa opunha-se àquela luta armada imperialista. Essas vozes opositoras faziam-se ouvir sobretudo através do Movimento Trabalhista, que fazia uso do finca-pé grevista/das greves e tinha o apoio dos intelectuais e dos estudantes. A CIA em conluio com alguns respeitados sindicalistas (em “missão patriótica contra os comunistas europeus”) e com a máfia, puseram em prática um plano destinado a enfraquecer e a desacreditar os trabalhistas franceses. Em troca, a Máfia exigiu o restabelecimento do comércio de heroína que tinha sido reprimido com sucesso pelos governos fascistas. (Noam Chomsky, 02)
- No Laos (durante toda a década de 60 e início dos anos 70) juntaram-se aoschefes tribais na produção de heroína , cujas receitas reverterammaioritariamente para financiar as forças anti-comunistas do Vietname do Sul.
(Um relatório da CIA elaborado em 1971 concluiu que 34% dos soldados NA destacados no Vietname do sul eram consumidores de cocaína…)
- No Afeganistão (durante a década de 80), apoiaram aqueles que agora consideram terroristas e combatentes inimigos, na produção de ópio, actividade que custeou asactividades de guerrilha contra a ex-URSS.
Quando os Talibãs apoderaram-se do governo, porque desejavam o reconhecimento internacional e apoios finaceiros que lhes permitissem sobreviver ao embargo económico, erradicaram (em 2001) a cultura das papoilas. (Como recompensa, a Grã Bretanha entragaram-lhes um milhão de libras e os EUA contribuiram com uma quantia semelhante.) nesse ano a produção de ópio baixou drasticamente para 185 toneladas.
Com a invasão do Afeganistão pelas tropas ao serviço da administração Bush, em 2001 a CIA ajudou a Aliança do Norte a voltar à cultura e tráfico da heroína para financiar aluta contra os talibãs e a Al Qaeda.
Os ingleses estavam então a liderar um programa de erradicação das papoilas, seguindo uma política de não confrontação. Como consequência, em 2002, a produção de ópoio subiu para 3200 tl e a área agrícula ocupada pelas papoilas multiplicou-se por 10. Em 2004, o Afeganistão estava a exportar 4 mil tl de ópio. Enquanto isso, o governo NA gastou 200 mil euros por hectare no seu programa de “erradicação” das papiolas, que apenas funcionou em 200 hectares.
O novo Presidente do Afeganistão, Karsay, apelou a uma jihad contra o ópio e a heroína, mas nesta luta perdida mandam os interesses escondidos da opinião pública. A corrupção é total (incluindo as autoridades provinciais afegãs e oficiais do exércit dos EUA), mas os menos culpa têm são os próprios agricultores. É preciso Ter em conta que o exército soviético destruiu a economia rural daquele país; os solos são muito pobres e os acessos (que poderiam facilitar o escoamento de produtos hortícolas legais) são quase inexistentes; os agricultores passam fome (situação que se agravou com o embargo internacional contra o governo dos talibãs) e muitos estão presos a um sistema de dívidas contraídas com os traficantes de droga. Quem lhes propociona alternativas economicamente viáveis ao ópio?
Os narcodólares também financiaram os Contras nicaraguenses
desde a década de (19)60 que algumas agências governamentais NA têm inundado com drogas duras (que foram inicialmente distribuídas apreços muito atraentes) os guetos onde vivem maioritariamente negros pobres e outros desfavorecidos sociais, como estratégia para enfraquecer a oposição política das classes mais desfavorecidas e contestatárias.

Nem tudo o que se refere às actividades humanas nas selvas colombianas são más notícias.
A comunidade indígena, liderada pela tribo Ingano e contando com o apoio de várias ONG ambientalistas e da comunidade científica internacional, conseguiu finalmente que as autoridades governamentais assinassem com eles um tratado que lhes permite fazer a gestão do Parque Nacional do Alto Fragua-Indiwasi.
Este é umprecedente muito importante em que a comunidade não indígena e/ou urbana reconhece aos povos da selva o direito de decidirem o destino das terras que habitam – em harmonia – Há muitas gerações em áreas consideradas protegidas pela sua espantosa biodiversidade (que não incluía os humanos). Ainda por cima este parque poderá transformar-se num santuário pacífico dentro de um país devastado por conflitos armados. Para além dos nossos tratados legais e dos complexos de superioridade típicos da sociedade urbano-industrial, este reconhecimento dos direitos dos indígenas deveria simplesmente tratar-se de os deixarmos em paz para viverem da maneira que consideram melhor para si, como, aliás, sempre o fizeram até serem invadidos pelos ocidentais. Mas nos tempos que correm a sociedade globalizada pretende que os seus maiores desafios civilzacionais sejam compartilhados por todos, e assim vê como um “projecto-piloto” com a obrigatoriedade de mostrar mais valias sócio-económicas baseadas na produtividade capitalista, não tanto na felicidade (não contabilizável nem comercializável) dos indígenas. As cidades condescendem em conceder esta benece aos indígenas desde que vejam benefícios para si mesmas (ex: turismo, investigação científica, comércio de produtos da selva,…).

Xando
CRECER SIN ESCUELA
PÉTER SZIL (Artículo publicado en La Revista Integral, diciembre 2000)
Educación no es lo mismo que escolarización. Varias familias en España han optado por que sus hijos se eduquen en casa según sus motivaciones y su ritmo. Todos están satisfechos.
¿Aprender sin escuela? ¿Es posible? Hace 13 años, cuando mi hijo Lomi se acercaba a la así llamada edad escolar, mi respuesta hubiera sido un "no" rotundo. Y no es que su madre y yo no fuéramos críticos con el sistema escolar. Cuando Lomi comenzó el colegio, nos implicábamos en el APA, el Consejo Escolar y en actividades que requerían la colaboración de los padres para mejorar el colegio. Estábamos dispuestos a seguir muchos años con esa tarea de Sísifo, pero nuestro hijo tuvo otra idea.
Tras una corta fase de entusiasmo por la novedad, vinieron las quejas. Las tareas impersonales del cole contrastaban con la creatividad a que él estaba acostumbrado tanto en casa como en un jardín de infancia Waldorf con mucho espacio para el juego y la fantasía. El horario le cortaba sus propios "proyectos" (que, por cierto, no encontraban ningún eco en el curriculum escolar). Los grupos grandes en la clase y en los recreos, con cientos de niños en un triste patio asfaltado, le asustaban. Las situaciones que requerían de él una competitividad (que no iba ni con su carácter ni con los valores que él traía consigo) y el constante bullicio le causaban dolor de barriga y de cabeza. Dejó el comedor escolar diciendo: "Yo no puedo comer en medio de una guerra." Una vez volvió al colegio tras dos semanas de "descanso" y, al recuperar la materia de ese período en una hora, expresó por primera vez su idea: "¿Y por qué no puedo yo estudiar en casa?"
El intento de solucionar el problema con un cambio de colegio le llevó sólo a formular que su malestar se debía a la institución misma, "porque es imposible que a 20-30 chavales les interese la misma cosa en el mismo momento".
Escuchar a los hijos Su madre y yo estábamos de acuerdo en que no valía la pena criar hijos sin escucharles, tomarles en serio y confiar en su criterio para sus propias vivencias. Yo soy además psicoterapeuta. Mis pacientes adultos me han enseñado las profundas consecuencias de la coerción ejercida sobre su infancia, en gran parte por el colegio (algo que en mi formación apenas se mencionaba), así que yo les aconsejaba que como padres hicieran por lo menos de su hogar un espacio donde los niños podían vivir su ritmo y regularse por sus propias necesidades.
También me estaba dando cuenta de que los procesos que contribuían al desarrollo de trastornos alimentarios (la bulimia o la anorexia) se aplicaban también a los problemas de aprendizaje. Obligar a niños a acabar platos que no les apetecen impide que se autorregulen y más tarde puedan evaluar sus propias necesidades alimentarias. Algo parecido ocurre al tener que tragar conocimientos sin curiosidad e interés. Muchas investigaciones corroboran que una educación formalizada en edades tempranas puede causar problemas cognitivos en la adolescencia y que las duras exigencias de la competitividad escolar constituyen un fenómeno parecido a la presión ejercida sobre los jóvenes en cuanto a su apariencia física.
Pruebas de laboratorio muestran que el cuerpo no absorbe por completo los nutrientes de los alimentos ingeridos sin apetito (con comentarios del tipo "¡cómete eso, es bueno para ti, tiene muchas vitaminas!"). De la misma manera, se nos queda poca cosa tras los exámenes de una trayectoria académica.
Encuentro de familias Así que Lomi se quedó en casa (su madre y yo nos alternamos para estar con él y su hermana pequeña) y comenzó a abrirnos una perspectiva inesperada. Lomi recuperó sus ganas de leer, emprendió proyectos creativos impulsados por su curiosidad y estaba aprendiendo sin que le enseñaran. Al cabo de un año así ya no podíamos negar que estábamos incurriendo en "objeción escolar".
Contactamos con familias que habían optado por esta alternativa y asociaciones que las agrupan en Estados Unidos, Inglaterra y Francia y en 1993 pusimos un anuncio en Integral para organizar el primer encuentro de familias con niños no escolarizados en España. Nos llevamos una sorpresa por la cantidad de familias (50 personas, casi la mitad niños) y también por la diversidad tanto en los motivos que podían llevar a una familia a educar los hijos en casa, como en las maneras de llevarlo a cabo.
A ese encuentro siguieron muchos otros en varios puntos de España, en los que los padres intercambiamos experiencias, los niños de estas familias pioneras notan que no son los bichos raros que pueden parecer en un país donde esa opción educativa todavía no está extendida. Así, muchas familias sin niños o con niños pequeños llegan a conocer esta alternativa de cerca y a tiempo. En 1997 nació el boletín semestral Crecer Sin Escuela, un punto de contacto fijo en una red de apoyo por lo demás muy informal.
Arce, Luna y Hada Una de las familias que conocimos en uno de los primeros encuentros vive en Cantabria. Sus tres hijos nunca han pisado un aula. Para ellos la no escolarización era una continuación de su crítica al sistema social y la búsqueda de otras alternativas.
"Los materiales con los que contamos", nos cuenta Isabel, la madre de Arce, 13 años, Luna, 10 y Hada, 4, "son nuestras propias inquietudes e intereses, tiempo juntos, mucho hablar de todo, libros de todo tipo, biblioteca, trato con gente que presenta 'otras cosas', incluso material escolar que a veces nos pasan, actividades apetecibles... Procuramos evitar demasiada estimulación de lo que consideramos pernicioso: televisión, radio, publicidad, noticias macabras o vacías, comics...".
Los niños están en casa por la mañana con la madre, mientras el padre trabaja como funcionario. Por las tardes la familia suele participar en talleres, va al teatro, conciertos o bibliotecas o colabora en grupos y asociaciones.
"Una de las ventajas que últimamente he descubierto", nos explica Isabel "es que los niños se liberan de mucho del estrés que nos impone la forma habitual de vida: horarios, exigencias, competición, exámenes..."
Los que llevamos muchos años educando a nuestros hijos en casa podríamos quejarnos de que la prensa sume en el silencio a esta alternativa. A una familia de Almería le pasó justo le contrario. En septiembre de 1999 el delegado de educación de Almería armó un escándalo creyendo haber descubierto "el primer caso de un niño no escolarizado en España". Su cruzada por "agotar todas las medidas legales a su alcance para liberar al menor de un daño que considera evidente" acabó bruscamente en el juzgado donde se le impidió incoar diligencias al no haber nada delictivo. Sin embargo los medios se hicieron eco de toda una serie de falsedades sobre "el niño que estudia por internet".
Lola y Gabriel En realidad no se trataba de un niño que pasaba su tiempo delante de un ordenador, sino de una pareja, Lola y Gabriel, cuyo objetivo en la educación de sus hijos es potenciar su espíritu independiente y crítico, la confianza en sí mismos y en su creatividad para resolver los problemas según su propio criterio y capacidades para encontrar recursos. "Consideramos", dice Lola, "que lo primordial en la educación es el respeto al niño y son las asignaturas las que deben adaptarse a su personalidad, talento y preferencias y no al contrario. Cuando nuestro hijo mayor, que ahora tiene 8 años, llegó a la edad escolar, buscamos un colegio en el que al menos una parte de estos requisitos los pusieran en práctica. Pero no encontrarnos ninguno. Como creemos que somos los padres los primeros responsables y después los profesionales de la educación, optamos por educarle en casa".
Su formación se realiza al estilo de la de un adulto autodidacta, que abarca tanto el dibujar, pintar, cocinar, leer y jugar al fútbol con sus amigos como proyectos específicos o escribir sus propias historias, primero a mano y luego al ordenador para que parezca un libro.
Al mismo tiempo le matricularon en una escuela por correspondencia en Estados Unidos, una institución que da mucha libertad a cada niño para desarrollarse a su propio ritmo y basándose en sus propios intereses. En primaria son los padres los que están en contacto con la escuela (por carta o, si lo tienen, por correo electrónico, siendo esto último la base de todo el malentendido que se ocasionó por "estudiar por internet"). En secundaria el niño entra en contacto directo con un equipo de profesores que le asesoran sobre sus opciones personales.
Lola y Gabriel tomaron también decisiones que a lo mejor eran más importantes que las que conciernen la forma de aprender del niño. "Nos mudamos a un lugar tranquilo donde los niños pudieran jugar en la calle y explorar los alrededores por ellos mismos. Mi marido cambió a jornada de trabajo continua en el taller de electrónica que dirige para estar en casa a partir del mediodía. Al elegir este tipo de educación hicimos un acto de fe en nosotros mismos, aunque teníamos dudas. Hoy ya no las tenemos».
Una opción consciente En mi familia también íbamos disipando las dudas conforme crecíamos juntos en la experiencia. Si sacar a Lomi del colegio fue un acto nacido de la desesperación, no escolarizar a nuestra hija, hoy de 14 años, ya fue una decisión consciente y positiva.
Éstas y muchas otras experiencias demuestran que educarse sin acudir a la escuela es posible y presenta una serie de ventajas sobre la educación convencional. El reconocimiento del mérito histórico de la escolarización generalizada (que ha cumplido una función vital en este siglo y ha contribuido precisamente a que hoy tengamos una sociedad tan matizada que precisa diferentes formas de educación) no debe confundirnos a la hora de ver su papel actual. No es el primer logro social que se vuelve contraproducente por su uso masivo e indiscriminado. La resistencia de las bacterias al tratamiento con antibióticos está aumentando de forma alarmante, al igual que el fracaso escolar o la delincuencia juvenil. Recurrir a medicinas o a maneras de aprender que son respetuosas con lo particular del individuo no puede sino contribuir a la auténtica pluralidad de una sociedad.
Lomi, de 20 años "Para mí lo positivo de no ir al colegio ha sido poder dedicarme a mis propios proyectos mientras me interesaban y el tiempo que me hacía falta para acabarlos. He tenido varios períodos, que podían durar años, en los que me he interesado por cosas como la cocina (haciendo de aprendiz en un comedor vegetariano) o imagen y sonido (tengo incluso un título sin utilizar de locutor de radio y TV) hasta que di con lo que estoy haciendo ahora: artes escénicas y circo."
"En muchos momentos me he sentido raro por no ir al colegio (aunque no más que cuando almorzaba una zanahoria en el recreo en el cole), pero para mí ha sido y es más importante poder elegir que ser 'normal'."
"Yo he oído mucho por ahí que al que no va al colegio y no tiene título le va a ser difícil en este mundo. Actualmente tengo casi veinte años, llevo dos años viviendo por mi cuenta, gano mi propio dinero y sigo formándome al mismo tiempo. Desde septiembre estoy estudiando con una beca en una escuela de teatro en Inglaterra."
El dilema de la 'socialización' Muchos expertos, psicólogos y educadores pregonan sus dogmas no sólo sobre los supuestos beneficios de la escolarización, sino también sobre los daños irreversibles de la no escolarización sin haber conocido personalmente a algún niño que haya crecido sin ir al colegio. Su argumento preferido es el de la socialización, al estilo de los que esgrimen que para hacerse hombre hay que ir a la mili y no mencionan que también existe una socialización negativa. De esto habla por ejemplo Vicente Garrido, profesor de psicología criminal. Él relaciona la escalada de la delincuencia juvenil con el hecho de que "la estructura familiar perdió su capacidad de socializar, de establecer patrones de comportamiento en los niños" y añade: "...la familia es el agente socializador por excelencia". Muchos pedagogos acusan al aumento de la edad de escolarización de disparar la agresividad en los colegios.
La diferencia entre la socialización de niños escolarizados y no escolarizados es que los primeros pasan muchas horas al día con muchos niños de la misma edad, mientras que los últimos se socializan a través de contactos más individuales con niños y jóvenes de edades diferentes y con adultos. Estudios realizados en países donde ya existen varias generaciones de personas no escolarizadas muestran más bien que los niños no escolarizados son más cooperadores y que ven a los adultos como aliados y no como enemigos.
El vacío legal en España La Constitución española dice: "La enseñanza básica es obligatoria y gratuita" (Art. 27.4), pero precedida por la frase: "Los poderes públicos garantizan el derecho que asiste a los padres para que sus hijos reciban la formación religiosa y moral que esté de acuerdo con sus propias convicciones" (Art. 27.3). La administración, basándose en la LOGSE sigue, de momento, sin prever la posibilidad de educar a los hijos en casa. Por eso la toma de posición de los jueces ha sido decisiva para llenar el vacío legal.
En palabras de Luis Columna, juez que en 1994 condenó en Almería a 150 padres por absentismo escolar derivado del abandono, en la desescolarización consciente no hay "responsabilidad penal ante un caso de este tipo, ya que los padres no hace dejadez de sus obligaciones con los hijos sino todo lo contrario". Otras sentencias han sentado precedente jurídico: "La formación educativa efectuada al margen de la enseñanza oficial es perfectamente aceptable en el marco de libertades diseñado por la Constitución".
Ninguno de los jóvenes educados sin escuela en España ha tenido problemas a la hora de incorporarse a la enseñanza superior o al mundo laboral, a pesar de que aquí todavía no se han formalizado mecanismos como los que hay en otros países (Estados Unidos, Canadá, Australia, Francia, Inglaterra) donde la educación en el hogar es completamente legal desde hace varias generaciones.
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