quarta-feira, janeiro 27, 2010


Se eu acreditasse na parvoíce da reencarnação, suspeitaria que esta garça-moura teria sido noutra vida um tarado exibicionista, desses que vão para os parques urbanos vestindo apenas uma gabardine; e, à passagem de garotas/mulheres, descobrem a sua nudez...
Com a popularidade de Lula bombando até internacionalmente (o que deixa os brasileiros babados), e devido à falta de alternativas político-partidárias fabricadas com esteróides mediáticos, o mais provável é que seja eleita a sua candidata à presidência da república: Dilma Rousseff.
Apesar das suas corajosas quizílias com os energúmenos da ditadura militar, esta mulher é cheia de caganças acadêmicas e bem nojentinha para com o povão, cuja realidade ela realmente desconhece. Ela parece ter sido formada nas escolas do Banco Mundial, do FMI ou da Fundação Rockfeller (onde poderá ter se envolvido num Ménage à trois com o Cavaco Silva e o “Betoneira” do Amaral...). O seu ideário fetichista de “progresso” e “desenvolvimento” só é possível apoiando-se em megaprojectos industriais e no saque mais absoluto da natureza, cilindrando quem vive ou tenta viver harmoniosamente com as suas biorregiões, praticando uma economia sustentável.
Depois de se regozijar boicotando e sodomizando – com vidro moído e limalha de ferro! – a ex-Ministra do Ambiente Marina Silva, revelou à imprensa o cerne da sua política: “o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável” (sic)
Caramba, não dá vontade de entregarmos os nossos filhos às instituições acadêmicas em que ela se formou, a fim de que também possam acumular títulos e sapiência análogos?! Não, pois até o semi-analfabeto do Lula (a encarnação do “sonho americano” versão tropical) já tinha dito algo semelhante dos índios e dos ambientalistas...
Até dá para ouvir o imperativo que o futuro do Brasil nos grita: “guardiões da natureza, reciclem-se e tentem arranjar empregos na Petrobrás!”


The very lands we all along enjoyed
they ravished from the people they destroyed ...
All the long pretenses of descent
are shams of right to prop up government.
' Tis all invasion, usurpation all;
' Tis all by fraud and force that we possess,
and length of time can make no crime the less;
Religion's always on the strongest side.

Daniel Defoe, Jure Divino (England, 1706)
http://www.survivalinternational.org/news/5436?utm_source=E-news+%28English%29&utm_campaign=3cb7f422df-Enews_Jan_10&utm_medium=email

'Survival's 'Greenwashing Award 2010' has been won by ranching company Yaguarete Porá'.

A Brazilian company bulldozing an uncontacted tribe’s land in Paraguay has won Survival’s ‘Greenwashing Award 2010’.

The company, Yaguarete Porá S.A., has won the award for ‘dressing up the wholesale destruction of a huge area of the Indians’ forest as a noble gesture for conservation’, says Survival’s director Stephen Corry.

Yaguarete owns 78,549 hectares of forest that is part of the Ayoreo-Totobiegosode tribe’s ancestral territory. After satellite photos were published around the world revealing that it has destroyed thousands of hectares of the tribe’s forest, the company issued a press release announcing it intends to create a ‘nature reserve’ on its land.

But plans submitted by Yaguarete to Paraguay’s Environment Ministry reveal that the amount of ‘continuous forest’ in the reserve will be just 16,784 hectares out of the 78,549 hectares total, and the company in fact plans to convert around two thirds of the land to cattle ranching.

Some of the Totobiegosode have already been contacted and vehemently condemned the plans for the ‘reserve’, pointing out that it violates their rights under both Paraguayan and international law. The contacted Totobiegosode have been claiming legal title to this land since 1993, but most of it is still in private hands.

The Totobiegosode are the only uncontacted Indians in the world having their territory destroyed for beef production.

Survival director, Stephen Corry, said today, ‘This is textbook ‘greenwashing’: bulldoze the forest and then ‘preserve’ a bit of it for PR purposes. The public won’t fall for it. Yaguarete should stop playing games and pull out of the Totobiegosode’s territory once and for all.’


Survival’s Greenwashing Award
Is presented to Yaguarete Porá S.A. for dressing up the wholesale destruction of a huge area of the Ayoreo-Totobiegosode’s forest as a noble gesture for conservation.

The Totobiegosode in numbers:

2,800,000
Estimated hectares of Totobiegosode territory 50 years ago

550,000
Hectares claimed through the courts by the Totobiegosode

78,549
Hectares of Totobiegosode land ‘owned’ by Yaguarete Pora S.A.

57,000
People around the world who have signed a petition in support of the Totobiegosode

16,784
Hectares of ’continuous forest’ planned by Yaguarete for a ‘private nature reserve’ on Totobiegosode land

3,000
Estimated hectares destroyed by Yaguarete in 2009

2,533
Resolution number passed in 2008 by Paraguay’s Environment ministry canceling Yaguarete’s licence to work on Totobiegosode land

169
International law that Yaguarete is violating by working on Totobiegosode land

6
Minimum number of bulldozers operating on Totobiegosode land in recent months

0
Public statements by President Lugo about the Totobiegosode

segunda-feira, janeiro 25, 2010


uma casa "100% Jesus"?! Puta-que-pariu!!


Perturbações Espirituais
“No Brasil concentraram-se todas as formas de
obscurantismo da humanidade”- Diogo Mainardi

No Brasil a multiplicação de cultos segue as mais elementares regras da economia de mercado livre – incluindo o seu espírito de competição gananciosa. À semelhança de qualquer empresa que procura o seu nicho comercial, os cultos religiosos são moldados de acordo com as expectativas do público-alvo/potenciais clientes.
Por um lado, quase toda a gente no Brasil foi formatada na crença do deus das religiões abraâmicas e das respectivas patranhas de dúbia moral. Por outro, nesta sociedade impera um individualismo idiota e consumista. O truque é oferecer uma pletora de escolhas que não passam de ligeiras variações da mesma merda. Tal, pelo menos, teve como “benefício” refrear um pouco as ambições absolutistas da Igreja Católica (que continua a ser largamente maioritária, mas já não detém o monopólio das “almas”).
Não querendo negar os mais elevados desideratos que animam muitas pessoas religiosas, as religiões em si continuam engordando à custa da ignorância crédula, do medo sobrenatural, do preconceito, da hipocrisia e até das ambições mundanas dos seus líderes.
Recentemente deparei-me com uma notícia que ainda conseguiu me surpreender.
A devoção ao hedonismo fútil – entronizado pelo culto do corpo - cobrou a vida de mais uma brasileira. A mulher em causa, apesar de jovem e magra, já se tinha submetido a duas lipoaspirações. E, como diz o povo, “não há duas sem três”, quis repetir a dose - em nome da beleza. Só que, desta feita, tudo correu mal. A clínica de cirurgia estética da sua eleição não estava minimamente preparada para lidar com complicações médicas graves.
Provavelmente devido a uma reacção aguda à anestesia, esticou o pernil. Os seus últimos momentos nesta vida foram gastos a delirar, soltando uma algaravia de necedades de cariz religioso. (outra coisa não seria de esperar num país que, segundo as estatísticas oficiais, cerca de 99% dos seus habitantes acredita em deus, tornando a religião omnipresente até onde a Constituição o proíbe e soltando sobre a terra um exército de fanáticos.)
A versão – assinada em laudo médico - do acidente fatal, que a clínica responsável tentou impingir à família da vítima, foi que ela sofrera de “perturbações espirituais” (sic) que a levaram à morte!... Em que outro país este absurdo seria possível?!
Dá vontade de gritar: ó Cristo, vem cá abaixo ver isto! Aproveita e repete aquela tua pérola de sapiência “benditos sejam os pobres de espírito”...

sábado, janeiro 23, 2010

O genocídio secreto do Canadá




As políticas genocidas perpetradas contra minorias étnicas têm sido praticadas até por países considerados internacionalmente como exemplo, quase bastiões/ “santuários”, dos valores democráticos e da salvaguarda dos direitos humanos.
Um dos casos mais horrendos de que tenho conhecimento refere-se às escolas-residenciais, hospitais e sanatórios (para tuberculosos) em que o Canadá, entre 1890 e 1984, enclausurou as crianças indígenas – com o intuito de eliminar fisicamente a maioria delas; aculturando as restantes para que se comportassem como colaboracionistas e servos dos euro-americanos.
Existiram mais de 100 destes internatos infernais. Uns eram geridos por oficiais do governo, mas, na maioria dos casos, a responsabilidade de tutoria das crianças foi entregue a instituições de cariz confessional apoiadas pelo Estado, nomeadamente as igrejas Católica, Anglicana, Presbiteriana e a United Church of Canada.
Abundantes e idôneas testemunhas, assim como relatórios oficiais, referem os recorrentes (ao longo de quase um século) crimes de rapto; estupro (algumas crianças foram até prostituídas a pedófilos +++ a pornógrafos fora dos muros dos internatos) ; esterilização e abortos forçados; espancamentos e tortura (física e psicológica); assassinatos; experimentação médica não consentida, tanto drogas como exposição e inoculação de bactérias e de vírus letais – o que acrescenta o crime de guerra biológica; privação extrema de alimentos (muitas crianças morreram de fome) e administração de alimentos impróprios para consumo; trabalhos forçados; roubo de terras e de recursos naturais vitais para a comunidade indígena,... Enfim, uma sistematizada guerra contra os povos tribais não cristianizados, que decorreu longe dos mídia e da opinião pública influenciada por estes.

+++ Um dos muitos pedófilos que trabalhou e molestou crianças nas referidas instituições, acabou caindo nas malhas do FBI, que descobriu evidências de ser o autor de 142 casos de abusos sexuais a crianças durante cerca de uma década.

Os relatos testemuniais desta tragédia encoberta evidenciam tratar-se de um crime contra a humanidade inserido na definição de genocídio oficializada pelas Nações Unidas, cuja convenção foi ratificada pelo Canadá em 1952.
Até em relatórios oficiais do Departamento dos Assuntos Indígenas é referido que nos mortíferos internatos perderam a vida mais de 50 mil crianças! Acresce-se um pormenor macabro e, no mínimo, suspeito: a esmagadora maioria desses cadáveres nunca foram vistos, menos ainda recuperados, pelas respectivas famílias. De facto, continua um mistério qual o seu destino final. Os registos pessoais das crianças “desaparecidas” foram igualmente obliterados, como se as vítimas nunca tivessem existido. E nem conta para efeitos estatísticos os corpos dos abortos e dos que foram mortos à nascença. As testemunhas eram coagidas ao silêncio ou também desapareciam sem deixar rasto, lembrando a política nazi de “noite e nevoeiro” (nacht und nebel).
Não faltam testemunhas que referem a existência nos internatos ou nas suas imediações de cemitérios secretos, corpos emparedados e câmaras-frias para armazenamento dos cadáveres. Quando, na década de 70, os internatos para índios começaram a ser fechados, os restos mortais das crianças foram retirados e destruídos apressadamente. Mas ainda há muito material forense disponível para análise; só falta vontade política para esclarecer a fundo esses crimes.
A polícia sempre se recusou a investigar; até chegaram a ameaçar as crianças queixosas. Possivelmente a participação destes agentes foi além da ocultação de provas. Pelo menos, há relatos de meninas que foram obrigadas a se prostituir aos policiais.
Já em 1907 a imprensa canadiana levantou a lebre, constatando que a taxa de mortalidade das crianças índias que estavam (compulsivamente/ por ordem judicial) internadas excedia os 50%. Ou seja, mais de metade morria em relativamente pouco tempo.
O Dr. Peter Bryce, quando trabalhava para o Departamento de Saúde de Ontário, foi contratado pelo Departamento de Assuntos Indígenas de Ottawa a fim de fazer vistorias às condições insalubres a que estavam sujeitas as crianças indígenas nos internatos da costa Oeste e Columbia britânica. O que ele viu deixou-o profundamente abalado e escreveu um relatório em que deixava claro as atrocidades testemunhadas por ele . Os seus superiores hierárquicos do governo e os clérigos ocultaram/destruíram esse relatório e trataram de afastar Bryce da função pública. Só volvidos 13 anos, em 1922, é que este médico revelou à sociedade pormenores do que chamou um crime nacional contra os índios.
Um dos procedimentos corriqueiros (também denunciado pelo Dr. Bryce) era o de infectar com tuberculose as crianças. Depois obrigavam outras crianças ainda livres dessas bactérias a dormir na mesma cama que as enfermas. Bastava esperar até se cumprir a “vontade de deus” de acabar com os pequenos pagãos. Quando não eram bactérias e vírus mortais, as injecções de veneno faziam o trabalho mais rapidamente. (entretanto, o governo dos EUA inoculava plutónio nos pobres – maioritariamente negros, mexicanos e índios – que procuravam ajuda médica, numa experiência que durou quase toda a Guerra Fria.) À medida que estes assassinatos se tornavam quotidianos e a uma escala industrial, a metodologia homicida foi perdendo “subtileza”. Valia tudo no esforço nacional de erradicação do “problema indígena”: espancamentos; fome/inanição; estrangulamentos; garotos atirados pelas janelas e escadas abaixo,...
E não pensem que o trabalho sujo desta barbárie planeada era exclusivo dos “gorilas”/energúmenos contratados para o efeito; muitos padres e freiras foram vistos a brutalizar até à morte indiozinhos, da forma mais cruel e sádica que se pode imaginar.
Os algozes certamente que confiavam na impunidade dos seus crimes, cuja responsabilidade se estende para além dos oficiais do governo e dos representantes das igrejas; a conspiração envolve igualmente médicos, enfermeira, policiais, juízes e empresários. Foi a cooperação de todos que tornou possível consumar este holocausto canadiano sem a condenação da comunidade internacional. ( E é lícito deduzirmos que o legado essa cabala continua a permitir que as redes de pedofilia predem tantas crianças indígenas no Canadá ...)

Neste contexto, refira-se, por curiosidade, que a expressão “solução final” notoriamente utilizada pelos nazis para designar o seu plano de extermínio em massa, foi cunhada (em 1910) pelo superintendente dos Assuntos Indígenas
Duncan Campbell Scott quando se referiu ao modo como o Canadá deveria lidar com o “problema indígena”.
Noutra ocasião, ele definiu o intuito principal dos internatos nos seguintes termos: “matar o índio dentro do índio”.

Efectivamente, o Canadá foi bem sucedido em ocultar os seus equivalentes aos centros de eugenia negativa e campos de extermínio nazis. Não é uma analogia forçada. A descomunal violência a que temos submetido as nações indígenas faz parte de uma estratégia concertada internacionalmente num clima de consenso. A limpeza étnico-religiosa era uma prioridade assumida, “legitimada” pelos esforços civilizatórios, em que a ciência e o cristianismo poderiam dar as mãos para dominar e homogeneizar o mundo, como um modernizado legado das cruzadas e da Inquisição, levando consigo o estandarte da “guerra justa" contra os não-cristãos. Assegurar os interesses dos industriosos saqueadores / exploradores da Terra, os que geram capitais e postos de trabalho, é considerado o mesmo que defender a civilização.
No século XIX a política expansionista dos euro-canadianos estava a todo o vapor. Civilizar apresentava-se como um imperativo moral – que não passava de uma fachada para “justificar” a invasão, usurpação e morticínio nos territórios a desbravar. Em 1857 o Canadá intensificou essa política respaldando-a por um corpo legal (Gradual Civilization Act) que parece ter sido redigido em parceria entre clérigos e industriais. Esse documento vil estabelece oficialmente a inferioridade das pessoas pertencentes às primeiras nações, e serviu de base para a Lei federal dos Índios que, em 1874, dava o tiro de partida para o referido sistema de internatos.
Ainda em 1960 (na revisão do estatuto da Colômbia Britânica) se reafirmou a definição de índio que continua a vigorar: “pessoa não civilizada, destituída do conhecimento de deus, ou qualquer outra clara e enraizada crença religiosa.”



Como já referi abundantemente, facilita o trabalho de genocídio (cultural e físico) desumanizar as vítimas – comummente conotando-as com as criaturas (de preferência rastejantes) da fauna silvestre que os europeus mais desprezam; mas a melhor sucedida estratégia difamatória tem sido a de demonizá-las. Assim é fácil engajar a sociedade numa luta que, mais do que a erradicação de pragas , é o dever cristão de se opor por todos os meios às representações do mal supremo que insiste em querer arruinar as conquistas da civilização, fazendo-nos regredir até ao intolerável estado de “selvagens”, indistinguíveis das feras que povoam os nossos pesadelos.


Os genocidas seguiam a mesma cartilha e conheciam o trabalho dos seus colegas e aliados ideológicos, tentando emular-se mutuamente. Era aplaudida qualquer acção social que as autoridades e/ou a iniciativa privada apresentassem “em nome da civilização e do progresso” – expressão interpretada com sinistra benevolência pela sociedade caucasiana, que preferia desconhecer os tenebrosos meios para alcançar esse enaltecido fim. Ninguém quer revolver essa cloaca com medo de se sujar, mas essa atitude a todos nos torna cúmplices por indiferença.

O modelo dos internatos para extinção das culturas e etnias aborígenes foi exportado para todo o mundo, mas continuam desconhecidos da maioria dos civilizados que se viciaram em telejornais...

No âmbito da sua política de “guerra de baixa intensidade” (sic), os EUA fizeram o mesmo com os descendentes dos maias, na América Central, onde constituíram as suas “aldeias-modelo”. Depois o “Tio Sam” chegou à conclusão de que bastava pressionar os seus governos-títeres para a implementação das medidas reestruturantes (que têm por testa de ferro o banco Mundial e o FMI), arrasando com a autonomia económica, a auto-suficiência numa escala que respeita os limites biorregionais dos recursos, enviando directamente para as maquilas e para as plantações dos latifundiários os campesinos expulsos dos campos (pela força das armas e/ou pela miséria induzida).

O culto ao poder simbólico do capital sempre foi o motor destas políticas genocidas. À semelhança do que aconteceu no desbravamento do interior do Brasil (ex.: Mato Grosso e Minas Gerais), em que as igrejas eram erguidas o mais próximo possível dos filões de ouro, no Canadá as escolas-residenciais para indígenas foram estrategicamente situadas em locais cujas riquezas naturais eram e são muito cobiçadas pelos “brancos”. As Igrejas puderam assim amealhar muito negociando com as empresas sobretudo de pesca e de madeiras nobres.

Na América do Norte, os eugenistas, quando se referiam às suas monstruosas intenções, foram bem mais parcimoniosos no uso de eufemismos do que os alemães engajados na mesma luta pela “purificação racial”.
Como bem observou Simon Wiesenthal, referindo-se aios campos de morte nazis, “onde há aprovação oficial, não pode haver arrependimentos nem contrição pública”.
Os euro-canadianos decentes que ficam indignados perante esporádicas notícias (de um mundo que a maioria sente ser bastante distante da sua amena realidade) sobre alguém que se atreveu a negar a existência do holocausto nazi, sendo imediatamente alvo de justificada e generalizada condenação moral, falham em reconhecer o seu holocausto indígena. E não é apenas porque se tratam de crimes que parecem demasiado graves para ser verdade, cometidos por pessoas que ainda detém prestígio e poder na sua sociedade; a maioria dos que ainda vivem continuam impunes e beneficiando de subsídios estatais bem como, no caso das igrejas, de isenção fiscal. Tal qual acontece com os torturadores e os matadores que estiveram, ou continuam na activa, ao serviço de governos ditatoriais. Na rara eventualidade da protecção política falhar com alguns deles, as instituições que estes serviram continuam intocáveis. (De vez em quando ainda é possível toparmo-nos com declarações à imprensa proferidas por clérigos que fazem a apologia dos seus internatos para indígenas, costumando dizer o seguinte: “se alguma coisa correu mal, os objectivos do nosso projecto eram e são louváveis”. Poucos se indignam...)
E quando os mídia clamam por justiça, não costumam ir mais longe do exigir medidas “compensatórias” para as vítimas de abusos (umas indemnizações pecuniárias, “e já vão com sorte”...).
A maior relutância da sociedade canadiana não-índia em perceber as verdadeiras dimensões deste problema (que está muito longe de ver o seu término) deve-se principalmente a que a sua identidade, conforto, segurança e orgulho patriótico assenta no facto de que pertencem a um sistema político que só pode desenvolver-se com sucesso através da usurpação dos territórios indígenas, destituindo os seus habitantes originais de tudo o que lhes era essencial e dava sentido às suas vidas. A mesma crítica pode ser feita em relação a todos os países criados pela expansão imperialista da Europa. Uma vez que é impensável que as potencias ocupantes se retirem e que tudo volte a ser como nos tempos pré-colombianos, o busílis do problema é como conviver fraternalmente e com justiça social na multiculturalidade e multietnicidade? As possíveis respostas não se me afiguram otimistas, porque todas as sociedades subjugadas ao capital e ao industrialismo ecocida, a fim de manterem as suas economias artificialmente prósperas, é-lhes imprescindível continuar a devorar o mundo e a esmagar os modos de vida alternativos...


A assimilação cultural dos índios significa cortar a sua ligação espiritual com a Terra e toda a sua cultura telúrica de respeito reverente pela natureza. Despojá-los dos seus territórios ancestrais, submetê-los a leis injustas, à força das armas, à corrupção e à miséria econômica e à subsídio-dependêndia, até que aceitem desistir de defender aguerridamente o que a nossa sociedade deseja rapinar. As nações indígenas nunca quiseram nem pediram a “ajuda” da civilização. Se não for já tarde demais, talvez um dia a nossa sociedade compreenda que para sobreviver e cumprir o seu melhor potencial necessita da ajuda dos povos que mais tem tentado destruir...


genocideincanada.blogspot.com
http://www.hiddenfromhistory.org/
hiddenfromhistory@yahoo.ca
(250) 753-3345 ( Canada )

http://canadiangenocide.nativeweb.org/

http://assets.survivalinternational.org/static/files/books/InnuReport.pdf

Através da Internet, poderão ainda adquirir as seguintes obras :

* Hidden from History: The Canadian Holocaust (2005)
* Love and Death in the Valley (2002) at: www.1stbooks.com/bookview/11639
* UNREPENTANT (documentário acessível para visionamento no google vídeo)

Agora um pouco de marketing bem intencionado: Noam Chomsky é provavelmente o pensador e ativista político (para além de ser um filólogo brilhante) mais relevante e respeitado desde J.P. Sartre. Ele disse que Kevin D. Annett, um destacado membro da Comissão para a Verdade acerca do Genocídio no Canadá (The Truth Commission into Genocide in Canada), “merece o Prémio Nobel da paz mais do que a maioria dos que já o receberam”.

domingo, janeiro 17, 2010

Cristóvão Colombo acreditava ter encontrado o jardim do Éden original ao passar na foz do rio Orinoco. Mas logo que os conquistadores se embrenharam naquela natureza que os fascinava, a ganância desmedida que os consumia entrou em conflito irreconciliável com tudo o que não queria ser domado e resistia ao saque, passando a considerar a mata como um “inferno verde” e os povos tribais que nela habitavam foram conotados com o demónio.
A estratégia dos europeus sempre se baseou num desenraizamento espiritual, que os levava (e a saga ecocida está a atingir o seu paroxismo...) a tentar vergar tudo o que não pertencesse à civilização, e explorar até à exaustão a natureza (o que incluía os povos tribais, escravizados e assassinados). Seguindo para novas conquistas, deixando para trás um rasto de destruição. Será que já percebemos que a Terra é um sistema fechado de recursos finitos?!

quarta-feira, janeiro 13, 2010



Yellowstone

Yellowstone (EUA) foi o primeiro Parque Nacional do mundo. tal faz dessa “área protegida”um bom caso de estudo.

Em vez de deixarem a natureza seguir o seu curso, preservando-a de interferências humanas, as primeiras (e duradouras) medidas de gestão desse parque foram a eliminação dos lobos e dos pumas. Essas campanhas de extermínio duraram várias décadas e cumpriram os objectivos determinados. Na década de 30 (do séc. XX) foi por lá avistado o último lobo. O parque foi privado da sua presença durante 67 anos.

Como consequência, a população de cervídeos aumentou em demasia, impedindo muita da regeneração natural da floresta e acentuando os problemas de erosão sobretudo ao longo dos rios. As árvores formadoras de galerias ripícolas deixaram de poder se regenerar na década em que desapareceram os lobos daquelas paragens, pois os grandes herbívoros, particularmente os veados, puderam proliferar de modo descontrolado. Tal traduziu-se numa excessiva pressão trófica sobre as jovens árvores/plântulas que eram maioritariamente constituídas por choupos e salgueiros. Em breve os rios deixaram de ter as suas margens “domadas” pela intrincada rede de raízes das frondosas árvores entretanto desaparecidas. O mesmo colapso ecológico arrastou as plantas herbáceas que necessitam da proteção dessas matas ribeirinhas.
Até os lobos serem reintroduzidos, as doenças entre os animais que eram as suas presas habituais proliferaram, ameaçando tornarem-se epidemias incontroláveis.
A outra medida prioritária foi anular a ocorrência de quaisquer fogos. A acumulação de biomassa vegetal num ecossistema que sempre esteve sujeito a fogos periódicos tornou a situação explosiva e, de facto, no final dos anos (19)80 Yellowstone foi dizimado por um incêndio de proporções nunca vistas.
Os bisontes, que se tornaram num símbolo nostálgico do velho oeste americano, foram deliberamente chacinados pelos invasores europeus até quase à sua extinção. Agora estão confinados ao parque, que, por sua vez, está rodeado por grandes explorações agro-pecuárias. Os rancheiros temem que os bisontes transmitam brucelose ao seu gado e por isso os guardas do parque vêm-se forçados a reencaminhar e até a abater os bisontes que ultrapassem /transgridam os limites do parque, tratando-os como se fossem gado doméstico. Todos os anos mais de mil bisontes são eliminados deste modo. O lóbi dos rancheiros determina as políticas do parque.
A grande ironia é que foi o gado doméstico que pegou aos bisontes essas doenças. Acabou-se a liberdade das planícies, e os bisontes, quando os rigores do Inverno se instalam, deixaram de poder migrar em busca de pastagens mais amenas e generosas como o faziam os seus antepassados.
Um estudo recente revelou que, dos 300 mil bisontes que restam nos EUA, apenas 15 mil são geneticamente puros, ou seja, não apresentam indícios de que os seus progenitores se cruzaram com o gado doméstico. (Buffalo Field Campaign, 2004)
Essas políticas de gestão de desequilíbrios continuam a ser o ex-libris dos espaços legalmente protegidos. os índios que os habitaram durante milhares de anos desenvolveram uma cultura de respeito reverente que os coagia a não cometerem graves agressões à natureza que sempre foi generosa para eles.

PB
O corpo exótico, espetáculo da diferença
Margareth Rago


RESUMO:
O corpo exótico foi construído como espetáculo da diferença a ser contemplado por todos, tanto como forma de lazer, quanto como objeto de investigação científica de prestigiados anatomistas europeus, desde o século XIX. É assim que o interesse despertado pelo corpo da africana Saartjie (Sarah) Baartmann, conhecida como “Vênus Hotentote” leva à sua captura na África e à exibição nas feiras, circos e salas de espetáculo de Londres e Paris, entre 1810-1815. Suas nádegas volumosas ensejam, depois de sua morte aos 26 anos de idade, a dissecação e conservação dos seus órgãos sexuais, até o século XXI. Viso evidenciar o racismo e o sexismo manifestos no desejo voyeurista de consumo do corpo diferente, como modo de relação ambígua e perversa com o outro, no mundo ocidental.

Palavras-chave: corpo exótico, diferença, Vênus Hotentote, racismo, sexismo, zoológicos humanos.


É inevitável associar a imagem do “corpo exótico”, no Brasil, às figuras do turismo sexual veiculadas na mídia. Já faz tempo que se construiu toda uma tradição imaginária em torno do mito do “paraíso tropical”, tão bem trabalhado por Sérgio Buarque de Hollanda, das terras virgens, dos rios caudalosos e das índias nuas, ansiosas “à espera dos portugueses priápicos”, na visão de Paulo Prado e da promiscuidade sexual reinante de que nos fala Gilberto Freyre, retomando as informações de Pero Vaz de Caminha e dos viajantes que o sucederam (PARKER, 1993). A figura da “mulata sensual” e as imagens do carnaval transbordante de cores e de energia e da alegria excessiva de todo um povo impregnam o imaginário social, como mostram vários estudos críticos atuais (BOCAYUVA, 2006).
Aqui, gostaria de perguntar por outro lado desse imaginário que move o turismo sexual: a visão dos europeus brancos sobre o Brasil, quando em busca do corpo das mulatas e negras do Nordeste, tentando reviver o mito do selvagem, do exotismo e da possibilidade de reencontro com uma origem paradisíaca perdida.
Nesse movimento, não há como deixar de considerar que somos transformados/as em parques humanos pelo olhar do visitante, o que leva a perguntar como se estruturou, na longa duração, esse olhar europeu sobre a alteridade, tanto quanto pelas condições em que emergem os zoológicos humanos. Nesses espaços, em que mulheres e homens substituem os animais, a fantasia e o desejo coloniais transformam o outro em corpo exótico, expressão da irracionalidade e da sensualidade excessiva, predomínio absoluto do instinto sobre a razão, logo, incapacidade de autogoverno. Em especial, é a figura feminina que se torna o principal repositório dos preconceitos sexuais e das estigmatizações construídas cientificamente desde as teorias da degenerescência, que floresceram na Europa do século XIX.
Na produção dos monstros masculinos e femininos de um mundo obcecado pela higiene, pela beleza e pela normalidade, são principalmente as mulheres que pecam por excesso sexual, em especial as índias, as negras e as prostitutas. Estas são consideradas mais atrasadas do que as “mulheres castas”, que também são vistas como inferiores em relação aos homens pobres, por sua vez, mais incapazes do que os proprietários brancos: as hierarquias de classe, gênero e etnia se constróem e se repõem. Em Freyre, por exemplo, as índias são consideradas tão ardentes quanto os portugueses, por si só mais viris do que os índios e os negros. Em suas palavras:
" Já não seria então, como no primeiro século, essa união de europeus com índias, ou filhas de índias, por escassez de mulher branca ou brancarana, mas por decidida preferência sexual. Paulo Prado foi surpreender 'o severo Varnhagen' insinuando que, por sua vez, a mulher indígena, 'mais sensual que o homem como em todos os povos primitivos [...] em seus amores dava preferência ao europeu, talvez por considerações priápicas´ (FREYRE, 1975,92).

Assim, no imaginário ocidental sobre os povos africanos, entre outros considerados diferentes e exóticos, o cérebro aparece como o lugar de medição da inferioridade da raça, enquanto os órgãos sexuais femininos revelam as taras e o desejo ninfomaníaco. Na classificação da sexualidade bestial, as mulheres situam-se entre a histérica e a ninfomaníaca.
Bhabha mostra como, para além do desejo de dominação, há um prazer no discurso colonial ao caracterizar o outro como sensual, inferior e degenerado (BHABHA, 2003). O corpo exótico, fetichizado e domesticado transforma-se em “degenerado”; logo, deve ser conhecido, aberto, devassado, exposto e espetacularizado como o corpo da “Vênus Hotentote”, dissecado pelo anatomista Georges Cuvier, nos inícios do XIX, ou da prostituta Naná, no romance homônimo de Émile Zola. A degeneração moral deve coincidir com a degeneração física, com as doenças que destroem e corroem o organismo e a sociedade, a exemplo da sífilis (CORBIN, 1991,141). Não foi diferente com o problema da AIDS em tempos mais recentes.
Bhabha aponta, ainda, como se produz o estereótipo por meio de uma forma de conhecimento e identificação ambivalente, que produzem efeitos de verdade e tornam possíveis os processos de sujeição. Dispositivo estratégico do poder, o discurso colonial apóia-se no reconhecimento e negação das diferenças raciais, culturais e históricas, “em termos dos quais se exerce vigilância e se estimula uma forma complexa de prazer/desprazer”. Este autor explicita:
"O objetivo do discurso colonial é apresentar o colonizado como uma população de tipos degenerados com base na origem racial de modo a justificar a conquista e estabelecer sistemas de administração e instrução. (...) Estou me referindo a uma forma de governamentalidade, que ao delimitar uma “nação sujeita”, apropria, dirige e domina suas várias esferas de atividade. (...) o discurso colonial produz o colonizado como uma realidade social que é ao mesmo tempo um outro e assim inteiramente apreensível e visível" (BHABHA, 2003,111).

- exotismo e degeneração

Sabemos hoje que, no mesmo movimento em que os negros/as eram trazidos da África para a diversão dos europeus, desde os inícios da urbanização, pelo comércio que enriqueceu muitos empresários, como Carl Hagenbeck, o conhecimento científico progredia fundamentando as diferenças raciais e sexuais, justificando a inferioridade biológica dos africanos, dos indígenas e de outros povos e legitimando a expansão imperialista e a dominação colonial (BANCEL, 2004, 29).
Durante todo o século XIX, homens e mulheres das tribos africanas foram levados à Europa para serem exibidos, ao lado dos animais, como lembra o narrador-símio de Kafka, no conto “Relatório para uma Academia”, nas feiras, teatros de variedades, espetáculos circenses e exposições universais, e para serem observados e estudados a fim de comprovarem-se as teorias médicas eugenistas sobre a superioridade da raça branca (KAFKA, 2003). Em se considerando os grupos de raças ditas inferiores, as mulheres eram definidas como ainda mais inferiores, pelo predomínio dos instintos sobre a capacidade racional.
Dos estudos da frenologia à teoria de Darwin, da craniometria à antropologia criminal, as teorias científicas evolucionistas não mediram esforços para provar a diferença hierárquica entre os povos, os gêneros e as classes. Lamarck formula a hipótese da origem animal do homem, retomada por Darwin, para quem a seleção natural e luta pela vida são determinantes fundamentais. O grande anatomista será Paul Broca (1824-1880), pioneiro no estudo da Antropologia física, que cria um modo especial de medir crânios. Césare Lombroso (1835-1909), médico e naturalista italiano, procura mostrar que a natureza do criminoso está inscrita em seu próprio rosto, assim como a da “degenerada nata” pode ser percebida no tamanho dos quadris, no formato da testa, no tamanho dos dedos, entre outros sinais corporais.(LOMBROSO; FERRERO, 1896, 1991). O corpo é o lugar de desvendamento e classificação científica dos indivíduos. Alcoólatras, criminosos, prostitutas e artistas entram nessa dança, que prossegue e se afirma com a Antropologia Criminal, reforçando as hierarquias de classe, gênero e etnia.
A teoria da degeneração é a resposta que a psiquiatria e a medicina legal oferecem, na segunda metade do século XIX, aos pânicos morais e às necessidades de “ordem social”, indispensáveis para manter a hegemonia burguesa (GARCÍA-ALEJO, 1987). O psiquiatra francês Benedict August Morel, herdeiro de Buffon (ROQUEBERT,1994), em Traité des dégénérescences physiques, intellectuelles et morales de l´espèce humaine et des causes qui produisent ces variétés maladives, de 1857, surpreende-se com o crescimento do número de doentes mentais, com a suposta decadência da raça, ameaçando os níveis da produtividade econômica. Evolucionista e apostando na teoria da hereditariedade, Morel afirma que as doenças mentais provêm de anomalias no organismo, que tendem a agravar-se, degenerando o indivíduo e corrompendo a família e a sociedade.
Os zoológicos humanos surgem nesse mesmo convulsionado período, continuando as exposições de “monstros exóticos” de épocas anteriores; contudo, marcam uma ruptura, pois agora trata-se de um sofisticado cruzamento de espetáculos e da produção de saberes. Dentre os povos africanos levados para a Europa, os koisan tornam-se muito conhecidos, lotando os auditórios dos circos e as exposições exóticas, servindo ao mesmo tempo como material empírico para as pesquisas antropológicas e para a construção do conceito de raça (FAUVELLE-AYMAR apud BANCEL, 2004, 116). A racialização do corpo diferente reforça a inferiorização biológica, nessa construção do olhar sobre o outro, que não deixa de ser uma valorização dos “civilizados” e que das elites passa para toda a sociedade. Segundo Bancel, ao fazer a genealogia do racismo, a construção desse olhar estigmatizador, desde final do século XVIII, precede a formação da identidade nacional, questão muito importante no século seguinte.

"Não há dúvida de que essas exibições etnológicas representam uma virada essencial na construção de um imaginário sobre o Outro, fundado em uma visão racista, legitimado pela ciência antropológica, que encontra uma mediação sem precedentes por meio dessa espetacularização. Os zoológicos humanos, verdadeira cultura de massa, instituem sob muitos aspectos, a relação com o Outro do Ocidente, pois a imensa maioria dos europeus e americanos terão seus primeiros contatos com as populações “exóticas” – logo majoritariamente coloniais – através desses enquadramentos, classificações e barreiras, que os separam desses “selvagens” (BANCEL, 2004, 6).

- da Vênus Hotentote

É nesse contexto que negras africanas foram capturadas para exibição em celas transportáveis pelos espetáculos itinerantes, feiras e exposições universais da Europa e dos Estados Unidos, a exemplo de Joyce Heth (BANCEL, 2004, 26) e que foram submetidas às pesquisas e estudos dos cientistas europeus e norte-americanos, preocupados em legitimar cientificamente a superioridade dos brancos, racializando e hierarquizando os povos.
Gilman destaca, em particular, a exibição da Vênus Hotentote pela Europa, durante cinco anos consecutivos, no início do século XIX. Nascida no Sul da África, com 1,35 m de altura, Saartjie (Sarah) Baartmann pertencia ao povo dos Hotentotes, ou dos Bushmen, e fora levada para a Europa em 1810, por causa da configuração diferenciada de seu corpo, com as nádegas muito salientes (esteatopigia) e uma espécie de “avental genital” na região frontal. Baartman foi exibida em Londres, no Egyptian Hall do Picadilly Circus, em espetáculos que hoje se chamariam de “freak souls”, lembra Citeli, mesmo sob a mira dos ataques dos abolicionistas:

"A apresentação em jaula realçava-lhe a natureza suspostamente perigosa e selvagem, a qual se associava a noção de sexualidade também perigosa, incontrolável. Para Stephan Jay Gould, a fama da Vênus Hotentote como objeto sexual provinha justamente das duas características que seu próprio apelido realçavam, ao combinar uma suposta bestialidade (“hotentote”) com as fascinação lasciva (“Vênus”). O interesse lascivo despertado pelas apresentações de Sarah fica explícito nos inúmeros cartuns que focalizavam suas nádegas” (CITELI, 2001,164).

Lembre-se, ainda, que nesse mesmo período, a ginecologia afirmava-se, assumindo que a mulher nascera para a maternidade e que não tinha desejo sexual expressivo, o que seria próprio dos homens e característico das “anormais”, como as prostitutas, - consideradas como “esgotos seminais” por Alexandre Parent-Duchâtelet - e das negras, mais libidinosas do que as brancas, porque biologicamente inferiores. Segundo o médico J.J. Virey, que se baseou nas descobertas de Georges Cuvier, a voluptuosidade nas negras constituía-se num grau de lascívia desconhecido no clima europeu, “pois seus orgãos sexuais são muito mais desenvolvidos do que os das brancas” (CUVIER apud GILMAN, 1994, 85). Era crença comum que as mulheres negras eram “especialmente receptivas sexualmente, devido à estrutura da sua genitália”, assim como que “o sistema nervoso grosseiro delas e as membranas mucosas secas resultavam em uma ‘necessidade de sensibilidade genital’” (LAQUEUR, 2001, 192). Como explica Gilman,
"a fisionomia, a cor da pele, a forma da genitália marcou as negras diferentemente. O século XIX percebeu a mulher negra como possuindo não só um apetite sexual “primitivo”, mas também os sinais externos de seu temperamento, a genitália ‘primitiva’( GILMAN, 1994, 85).

Os viajantes ingleses que foram à África descreveram o chamado “avental hotentote” como “uma hipertrofia dos lábios e ‘ninfae’ causados pela manipulação da genitália e considerados belos pelos Hotentotes e Bushman e por outras tribos.”
Sarah foi levada a Paris, por volta de 1814, onde fez sucesso no teatro de Vaudeville, sendo exposta diariamente por mais de doze horas. Atraiu caricaturistas e inspirou canções. Depois, foi vendida a um exibidor de animais, exibida em prostíbulos e espetáculos de saltimbancos e animais amestrados, como ursos e macacos, pulgas e percejos (BADOU apud CITELI, 2001,164).
No ano seguinte, um grupo de zoólogos e fisiologistas examinaram-na por três dias, no Jardin du Roi, - jardim botânico de vocação médica em Paris, antes chamado de Jardin royal des plantes médicinales -, enquanto um artista pintou seu nu. Cientistas como Henri de Blainville (1777-1850), Georges Cuvier (1769-1832), um dos fundadores da biologia moderna e seu colega, o zoólogo e biólogo Geoffrey Saint-Hilaire (1772-1844), - que passara sete anos no Egito, integrando a “Comissão de Ciências e Artes”, por iniciativa do gen. Napoleão Bonaparte e que acumulara, então, uma grande quantidade de animais e múmias humanas e animais - ocuparam-se da africana, em vida e mesmo depois de sua morte, em 1815, por pneumonia, ou por outra doença causada por forte ingerência de bebida alcoólica (FAUSTO-STERLING, 1995, 25). Em 1817, Cuvier, que era chair da cadeira de anatomia dos animais no Museu de História Natural, em Paris, especialista em criar novas classificações das espécies animais que aportavam com as expedições levadas a outros continentes, fez a autópsia de Sarah, dissecou seu cadáver, moldou e colocou as partes genitais em formol.
A apresentação da “Vênus Hotentote” por Cuvier, - que, segundo Gilman, “constitui o principal significante para a imagem da Hotentote como primitivo sexual no século XIX” – associava uma mulher da espécie humana “a mais baixa” com a mais alta da família dos macacos, o orangotango e descrevia as “anomalias” de sua genitália. Suas duas anomalias é que causavam grande interesse ao olhar dos europeus: a esteatopigia, ou nádegas protuberantes, característica das mulheres da tribo khoisan e a “macronymphie”, isto é o alongamento dos lábios inferiores (FAUVELLE-AYMAR, apud BANCEL, 2004, 111). O olhar estarrecido era, às vezes, insuficiente para uma platéia ansiosa; muitos aproximavam-se para apalpá-la e constatar se suas nádegas eram mesmo reais.
Como observa Fausto-Sterling, nesse universo misógino e racista, enquanto os homens eram comparados aos primatas superiores a partir da linguagem, da razão ou da cultura, as mulheres eram diferenciadas dos animais a partir de traços da anatomia sexual, como seios, presença do hímen, estrutura do canal vaginal, localização da uretra (FAUSTO-STERLING, 1995, 28). Aliás, em visita ao acervo de Paul Broca, no Musée de l´ Homme de Paris, Gould observa ironicamente não ter encontrado “cérebros de mulheres, nem o pênis de Broca, nem qualquer genitália masculina” (GOULD, 1985, 292).
Os africanos eram vistos como tão próximos do mundo animal quanto do humano, talvez constituindo o elo perdido na cadeia evolucionária, entre os macacos e os homens (LINDFORS, 1999, viii). Para Cuvier,
"Não é por acaso que a raça caucasiana chegou a dominar o mundo e fez o mais rápido progresso nas ciências, enquanto os negros estão ainda mergulhados na escravidão e nos prazeres dos sentidos...O formato de sua cabeça aproxima-os de certo modo mais do que nós aos animais” (CUVIER apud LINDFORS, 1999).

Morta aos 26 anos de idade, em 1825, Sarah continuou sendo apresentada como uma típica representante da inferioridade feminina, especialmente pelo tipo de genitália que possuía, - com uma espécie de “aba genital”, ou “avental” de pele cobrindo a púbis e um grande protuberância das nádegas - a qual, segundo os cientistas, aproximava sua tribo dos macacos (GILMAN, 1994, 88). Cuvier obteve autorização do prefeito para levar seu corpo ao museu, “onde sua primeira tarefa foi a de encontrar e descrever seus apêndices vaginais ocultos”. Segundo ele, as nádegas de Sara eram parecidas com os genitais inchados de mandris fêmeas e babuínos (grandes macacos africanos), “que cresciam em ‘proporções monstruosas’ em determinadas épocas de suas vidas” (FAUSTO-STERLING, 1995, 38).
Partes dos órgãos de Sarah, conservados em formol, integraram o acervo do Museu de História Natural de Paris, depois chamado de Musée de l´Homme, até 2002. Com a ascensão ao poder do líder Nelson Mandela, que se torna presidente da África do Sul, em 1994, e seu compromisso político de acertar contas com o passado e fazer justiça, foi lançada uma campanha nacional para que a França devolvesse os restos mortais de Sarah, episódio acompanhado pela imprensa nacional e internacional.(CITELI, 2001,174)
Não é difícil de entender que, ao longo do século XIX, os argumentos que condenavam a sexualidade feminina como patológica se reforçaram. Os médicos que desdobraram as pesquisas de Blainville e Cuvier associaram a má formação dos órgãos genitais com o desenvolvimento excessivo do clitóris, o que levaria a “esses excessos” conhecidos como “amor lésbico” (HILDEBRANDT apud GILMAN, 1994, 89). A figura da Hotentote foi assimilada à da prostituta e à da lésbica. “Mulheres negras representam tanto a mulher sexualizada, como a mulher como fonte de corrupção e doença”, adverte Gilman.(p.101) Estudos médicos do período, como os do dr. Parent-Duchâtelet e os da médica russa Pauline Tarnowsky, analisavam detalhadamente a fisionomia da prostituta, mostrando como os quadris eram maiores assim como o peso, entre outros dados que foram repetidos por várops especialistas, como Cesare Lombroso e G. Ferrero, em La Donna Delinquente.

"Lombroso aceita a imagem da prostituta gorda de Parent-Duchâtelet e a vê como sendo similar às hotentotes e às mulheres que vivem em asilos. Os lábios da prostituta são semelhantes aos das Hotentotes, senão dos chipanzés. A prostituta, em suma, é uma subclasse atávica de mulher" (GILMAN, 1994, 98).

Mas por que Sarah se tornou tão famosa, pergunta Fausto-Sterling? Por que os shows de deformidades e feiúra faziam tanto sucesso, na Inglaterra do século XVIII, pergunta Strother. Sarah participava de shows de monstruosidades, como animais estranhos, macacos amestrados, monstros, o “Homem mais gordo da Terra”, gêmeos siameses, anões e gigantes. Depois de seu show, vinha a “Vênus da América do Sul” e, em seguida, Tono Maria, um índio botocudo do Brasil exibia suas cicatrizes resultantes de adultério. Assim criaram-se visões de gênero, raça e sexo profundamente autoritárias e excludentes.
O Hotentote, que já era bem conhecido no imaginário europeu desde, pelo menos, o século XVI, firmara-se no século XVIII, “como uma figura quase sem linguagem, certamente sem religião e perigosamente perto de não ter nem a própria capacidade de pensar” (STROTHER apud LINDFORS, 1999, 13). Figura central da “iconografia da indolência”, Hotentote tornou-se sinônimo de “estupidez congênita” na imaginação popular.
Os historiadores mostram que o espetáculo em que Sarah era exibida associava a noção de fêmea selvagem com a de sexualidade incontrolável e perigosa. Nesse contexto, dizem Gilman e Fausto-Sterling, a bunda se torna um claro símbolo da sexualidade feminina. Para Strother, ao contrário de erótica e sexy, Sarah representava e assegurava uma figura do anti-erótico diante de um público europeu, “o que lhe permitia passar do “freak show” ao show etnográfico pseudo-educativo (...) incapaz de ameaçar o público com o poder sexual de uma ‘Vênus’ ” (STROTHER apud LINDFORS, 1999, 2).

- aos “reality shows”

As exibições midiáticas dos corpos das mulatas e sambistas do carnaval brasileiro talvez possam informar algo sobre esse sistema excludente de representações sexo/gênero, em especial, sobre a fixação sexual no “traseiro” das negras. Também poderíamos nos lembrar da garota L., de 15 anos de idade, que passou cerca de 20 dias numa prisão em Belém do Pará, com mais de trinta homens, submetida a abusos sexuais, violência e estupros seguidos, com o conhecimento e consentimento de todos (CAPRIGLIONE; BERGAMO, 2007). Em seguida, a “Folha Online”, de 8/2/2008, publica o artigo intitulado “Secretaria de Direitos Humanos comprova prisão de menina em cadeia masculina”, no qual informa:

"A Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) comprovou, nesta sexta-feira, a denúncia de que uma menina de 14 anos estava presa com outros 110 homens na cadeia pública de Planaltina (GO). Segundo o representante da secretaria, Firmino Fecchio, uma solução para o caso seria negociada com o juiz local. Para a SEDH, o local é inadequado para reclusão da menina e sua transferência para outra cidade que tenha centro de reabilitação de jovens é uma das possibilidades. Além disso, a secretaria vai tentar localizar a família da menina, que está presa há 13 dias. O diretor da cadeia, Reinaldo da Rocha Brito, confirmou que além da adolescente mais três mulheres estão presas no mesmo pavilhão que abriga os homens, embora em celas distintas. A cadeia tem capacidade para 49 detentos, mas atualmente existem 110. A unidade foi construída para abrigar presos que aguardam por julgamento."

A representação da jovem com um ser inferior que poderia sofrer abuso sexual e estupro livremente, inclusive com o conhecimento das autoridades públicas evidencia a assustadora permanência desse imaginário racista e misógino, construído há muito tempo.

- a revanche feminista

Estabelecendo uma aproximação e, ao mesmo tempo, uma distância entre as lutas feministas e o movimento ecológico, Celia Amorós afirma que
"se o ecologismo representa uma forma de consciência autocrítica profunda da espécie humana no que concerne à sua forma de inserção na e da relação com o conjunto das demais espécies naturais, o feminismo representa a autocrítica da espécie humana no que concerne à forma como esta tem exercido e definido seu próprio protagonismo como espécie" (AMORÓS, 1995, 217).

Segundo esta filósofa feminista, enquanto o ecologismo questiona e denuncia a maneira autoritária e destrutiva de relacionamento da espécie humana com a natureza, colocando-se hierarquicamente numa posição privilegiada, o feminismo critica o modo como a espécie se trata a si mesma. Segundo ela,
"Do mesmo modo que o ecologismo denuncia como a espécie humana tem maltratado a natureza – que é, ao mesmo tempo, a sua natureza – o feminismo denuncia como tem oprimido, como espécie, aquela metade de si mesma a que sempre definiu e fez identificar-se e carregar a cota de natureza, desde e sobre a qual pode constituir-se como cultura" (AMORÓS, 1995, 217).

Nada melhor do que o caso da Vênus Hotentote para revelar a misoginia do olhar e da ciência ocidentais. Nessa direção, o romance feminista de Bárbara Chase Riboud, de 2004, que traz o título dessa personagem, ganha destaque e remete a Walter Benjamin, para quem os historiadores do presente têm como missão salvar aquilo que no passado foi esquecido, realizando o que nos foi um dia negado (BENJAMIN, 1985). Situando-se estrategicamente no lugar de Sarah Baartman, a narradora desconstrói e denuncia os movimentos nervosos dos grandes cientistas que devassam ansiosamente seu corpo:

"Agora vamos proceder à dissecação do corpo da mulher batizada como Sarah Baartman, conhecida pelo nome de Vênus hotentote, que alguns de vocês já examinaram quando de seu comparecimento em 1815 (...) O cadáver está fresco e em perfeito estado de conservação (...) Como observei anteriormente, a conformação de Sarah surpreende inicialmente pela enorme largura de suas ancas, que ultrapassam 45 centímetros e pela saliência de suas nádegas, que é de mais de 16 centímetros. O restante do corpo e dos membros nada tem de disforme. Seus ombros, seu dorso, a região superior de seu peito são graciosos. A saliência de seu ventre não é excessiva. Seus braços têm algumas marcas de varíola, mas são muito bem feitos e suas mãos...charmosas (CHASE-RIBOUD , 2004, 393, 397).


Referencias bibliográficas:

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nota biográfica
Margareth Rago é professora livre-docente do Departamento de História do IFCH da Universidade de Campinas, Unicamp . É coordenadora do Grupo de Estudos Foucaultianos e da Linha de Pesquisa História, Cultura e Gênero do Programa de Pós-Graduação em História deste Depto. Foi professora-visitante no Departamento de História do Connecticut College, nos Estados Unidos, pela Comissão Fulbright. Publicou vários livros: O que é Taylorismo? ,Brasiliense,1984; Do Cabaré ao Lar. A utopia da cidade disciplinar, Paz e Terra,1985; Os Prazeres da Noite.Prostituição e Códigos da Sexualidade Feminina em São Paulo, Paz e Terra,1989; Narrar o Passado, Repensar a História, com Renato Aloisio Gimenes ,Unicamp,2000 e Entre a História e a Liberdade. Luce Fabbri e o Anarquismo Contemporâneo, ED.da Unesp, 2001.

quarta-feira, janeiro 06, 2010



www.storyofstuff.com




Terri,
I know that it sounds corny and maybe even impropriated / weird (what do I know? I’m just a crazy bum), but when I see these birds in flight, shining a dazzling blue, white and grey, I often remember your eyes. Maybe it’s because of the somehow matching colors; the fact that we both love the outdoors, watching the wildlife. It might be also because I rarely saw so much life, brightness and kindness as in your eyes.
It has been a rare privilege - so inspiring! – to maintain a far-flung friendship with you. Thanks for everything. (I have to pay you guys a visit someday.)
Maybe one day you’ll be a “case study”… People will desperately want to know how do you managed to raise such a great family and live a great life, mastering everything that really matters. ;-D
Plus, you’re the best teacher one can hope to find. If I had kids (which I refuse to), I wouldn’t want to put them in school (it was too much of a trauma for me; no one should go through the same kind of shit), but I would trust them with you in a heartbeat. And that surely would please me a lot.
Hopefully there are, and will be for many years to come, loads of kids also inspired by you, making this crazy and sturdy world a better place.
If there’s anything that I can do for you or anyone that lives in that big heart of yours, please let me know.
Your friend,
Paulo


terça-feira, janeiro 05, 2010



Lhasa de Sela (27 de Setembro de 1972-1 de Janeiro de 2010) foi uma cantora nascida na pequena cidade de Big Indian, no estado de Nova Iorque, em 1972, e tendo-se mudado para o Quebec, Canadá.
Sua ascendência era de um lado mexicana e de outro americano-judeu-libanesa. Filha de um professor, não convencional, que percorria os EUA e o México, difundindo o conhecimento, e de uma fotógrafa. Assim, passou sua infância, de maneira nómada, junto com seus pais e suas três irmãs.
A sua obra musical mescla tradição mexicana, klezmer e rock e é cantada em três idiomas : espanhol, francês e inglês.
Faleceu a 1 de Janeiro de 2010, em Montreal, Canadá, vítima de cancro da mama.

segunda-feira, janeiro 04, 2010



Campanha de Desbaptização (retirado do blog pimentanegra.blogspot.com)
Apresentamos a seguir uma carta-modelo que deve ser dirigida à paróquia, assim como ao bispo de que depende a paróquia, onde foi realizado o baptismo a pedir a sua desbaptização. Ao pedido deve seguir-se uma carta da própria paróquia a confirmar a renúncia ao baptismo.
Exmº Sr. Padre ( ou bispo) da paróquia de...
Tendo sido baptizado na Igreja de..............., no dia de... /..../...., sob o nome de............................, venho junto de V. Exª requerer que junto do meu registo de baptismo seja feito um aditamento com a seguinte menção: "renegou o seu baptismo por carta de ..../..../...."
A minha atitude deve-se ao facto das minhas convicções filosóficas não corresponderem às das pessoas que, de boa fé, me fizeram baptizar. Assim, por imperativo da minha consciência, e por amor à verdade, venho por este acto contribuir para a reforma dos registos a fim de que estes sejam limpos de qualquer ambiguidade.
Esperando uma confirmação escrita da Vossa parte, queira aceitar os meus sinceros agradecimentos
Data e Assinatura





(retirado do blog pimentanegra.blogspot.com)

O Dinheiro como Dívida é um documentário didáctico onde se explica como é criado e como funciona o dinheiro.
Depois de visto, ninguém mais poderá dizer que não sabe como funciona o estranho e iníquo mundo financeiro capitalista.

Sintomático é a frase que se ouve a certo momento do conhecido banqueiro Meyer Rothschild, fundador da dinastia financeira Rothschild, em que ele diz:

«Dêem-me o controle do dinheiro e não me importa saber quem faz as leis»
("Permit me to issue and control the money of a nation, and I care not who makes its laws."
Mayer Amschel Rothschild, International Banker )



«O nosso sistema monetário é isto: se não houver dívidas, não há dinheiro»
(“That is what our money system is. If there were no debts in our money system, there wouldn’t be any money.” )
Marriner S. Eccles, Chairman and Governor of the Federal Reserve Board


«O estudo do dinheirio na economia é, antes do mais, uma complexa forma que é usada para mascarar a verdade, isto é, para escondê-la em vez de a revelar »
(«The study of money, above all other fields in economics, is one in which complexity is used to disguise truth or to evade truth, not to reveal it.”»)
John Kenneth Galbraith , economist, author, Money: Whence it came, where it went - 1975, p15


«O dinheiro é uma nova forma de escravidão e distingue-se da antiga pelo simples facto de que agora a escravatura é impessoal, ou seja, não existe uma relação humana entre o senhor e o escravo»
(“Money is a new form of slavery, and distinguishable from the old simply by the fact that it is impersonal, that there is no human relation between master and slave.” )
Leo Tolstoi


Para saber mais:

http://www.moneyasdebt.net/

Compreender o dinheiro:
http://wfhummel.net/