quarta-feira, janeiro 13, 2010
Yellowstone
Yellowstone (EUA) foi o primeiro Parque Nacional do mundo. tal faz dessa “área protegida”um bom caso de estudo.
Em vez de deixarem a natureza seguir o seu curso, preservando-a de interferências humanas, as primeiras (e duradouras) medidas de gestão desse parque foram a eliminação dos lobos e dos pumas. Essas campanhas de extermínio duraram várias décadas e cumpriram os objectivos determinados. Na década de 30 (do séc. XX) foi por lá avistado o último lobo. O parque foi privado da sua presença durante 67 anos.
Como consequência, a população de cervídeos aumentou em demasia, impedindo muita da regeneração natural da floresta e acentuando os problemas de erosão sobretudo ao longo dos rios. As árvores formadoras de galerias ripícolas deixaram de poder se regenerar na década em que desapareceram os lobos daquelas paragens, pois os grandes herbívoros, particularmente os veados, puderam proliferar de modo descontrolado. Tal traduziu-se numa excessiva pressão trófica sobre as jovens árvores/plântulas que eram maioritariamente constituídas por choupos e salgueiros. Em breve os rios deixaram de ter as suas margens “domadas” pela intrincada rede de raízes das frondosas árvores entretanto desaparecidas. O mesmo colapso ecológico arrastou as plantas herbáceas que necessitam da proteção dessas matas ribeirinhas.
Até os lobos serem reintroduzidos, as doenças entre os animais que eram as suas presas habituais proliferaram, ameaçando tornarem-se epidemias incontroláveis.
A outra medida prioritária foi anular a ocorrência de quaisquer fogos. A acumulação de biomassa vegetal num ecossistema que sempre esteve sujeito a fogos periódicos tornou a situação explosiva e, de facto, no final dos anos (19)80 Yellowstone foi dizimado por um incêndio de proporções nunca vistas.
Os bisontes, que se tornaram num símbolo nostálgico do velho oeste americano, foram deliberamente chacinados pelos invasores europeus até quase à sua extinção. Agora estão confinados ao parque, que, por sua vez, está rodeado por grandes explorações agro-pecuárias. Os rancheiros temem que os bisontes transmitam brucelose ao seu gado e por isso os guardas do parque vêm-se forçados a reencaminhar e até a abater os bisontes que ultrapassem /transgridam os limites do parque, tratando-os como se fossem gado doméstico. Todos os anos mais de mil bisontes são eliminados deste modo. O lóbi dos rancheiros determina as políticas do parque.
A grande ironia é que foi o gado doméstico que pegou aos bisontes essas doenças. Acabou-se a liberdade das planícies, e os bisontes, quando os rigores do Inverno se instalam, deixaram de poder migrar em busca de pastagens mais amenas e generosas como o faziam os seus antepassados.
Um estudo recente revelou que, dos 300 mil bisontes que restam nos EUA, apenas 15 mil são geneticamente puros, ou seja, não apresentam indícios de que os seus progenitores se cruzaram com o gado doméstico. (Buffalo Field Campaign, 2004)
Essas políticas de gestão de desequilíbrios continuam a ser o ex-libris dos espaços legalmente protegidos. os índios que os habitaram durante milhares de anos desenvolveram uma cultura de respeito reverente que os coagia a não cometerem graves agressões à natureza que sempre foi generosa para eles.
PB
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