Os Cátaros
«Entende-se por fanatismo uma loucura religiosa, sinistra e cruel; é uma enfermidade que se contrai como com a varíola.» - Voltaire
Mesmo que a Igreja CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA não tivesse banido pelo menos 30 evangelhos que, no séc. II, circulavam por dezenas de congregações cristãs, tudo indica que a cristandade teria igualmente conduzido a humanidade numa guerra contra a natureza que actualmente atingiu o seu ponto mais crítico.
No século XII toda a região do Languedoc e comarcas adjacentes eram um reduto cátaro. A Igreja Católica chamava a esse fenómeno religioso «a louca lepra do sul».
Mesmo entre a população local (que habitava no sul de França e norte de Itália) que não queria abdicar dos seus cultos católicos ou judaicos, os cátaros eram tidos em alta consideração, tendo granjeado a simpatia unânime devido à sua índole geralmente pacífica e daimosa. Até podiam ser sectários (ex.: alguns jejuavam até à morte e tinham horror à animalidade basilar e intrínseca ao homem), mas transmitiam uma imagem de probidade e de compaixão, de integridade entre o discurso e a acção.
Os cátaros praticavam um género de socialismo humanista muito mais próximo da mensagem de Cristo, do que o rumo que o Vaticano seguia e impunha à sociedade. A sua ética exemplar incluía obras de acção social, tais como a assistência médica (independentemente do credo e da condição social dos enfermos) e o ensino gratuitos. Ademais, os seus líderes (onde se incluíam alguns nobres) eram tidos como pessoas muito cultas, amantes da poesia e da literatura. (Há investigadores que estão convencidos de que se a acrisolada cultura cátara não tivesse sido prematura e brutalmente extinta, poderia ter assumido o brilhantismo que veio a conhecer a Itália renascentista a partir da cidade de Florença.)
Não é, pois, de admirar que haja tantas referências sobre o facto de que, durante a Cruzada (anti)Albigense, nas cidades sob ataque, quase todas as pessoas capazes de pegar em armas e lutar, fizeram-no ao lado dos cátaros. Sob o prisma da verdade pragmática, é preciso notar que estavam todos a lutar pelas suas vidas (pouco importando qual o seu credo, ou se tinham parentes e amigos entre os cátaros), pois os cruzados não se molestavam em fazer distinções quanto ao credo, etnia, sexo ou idade, empenhados que estavam em consumar um genocídio. Vítimas da política de totalitarismo baseada na limpeza étnica promovida pelo Vaticano, muitos católicos foram igualmente submetidos a indescritíveis tormentos que sempre acabaram em massacres.
A propósito, ficou célebre uma frase geralmente atribuída a Inocêncio III, mas que, na realidade , é da autoria de um representante seu chamado Arnaud Amaury, Arcebispo de Narbonne. Na cidade de Beziers , onde ocorreu uma das referidas chacinas purgatórias, tendo escapado com vida poucos habitantes, houve quem tivesse reparado que muitos católicos fiéis ao Papa também foram mortos nessa orgia de sangue. Perguntaram então ao Arcebispo Amaury como poderiam distinguir, na confusão do morticínio, os católicos dos heréticos, pois que tinham a mesma aparência física. Ante esta confrangedora evidência, para tranquilizar a consciência dos matadores/carrascos, ele respondeu : « matem-nos a todos! Deus encarregar-se-á de distinguir os seus»… (A seguir foi escrever relatórios para o Papa, pejados de pormenores sórdidos sobre o bem sucedido projecto de luxúria homicida que conduzia…)*
*Durante toda a história da cristandade o ódio racista foi instigado pelos clérigos. Os que tinham a pele mais escura que os caucasianos, deveriam ser considerados como obra do demónio, e o facto de professarem religiões pagãs/heráticas assim o comprovava. Mas, nem sempre era fácil distinguir a natureza das confissões pela cor da pele. Então, em 1215, no quarto Concílio de Latrão ( (para o qual foram convidados de honra os Templários; o mesmo acontecendo no Concílio de Lyon, em 1277) , a Igreja estabeleceu um código identificativo para os muçulmanos e para os judeus, obrigando-os a usar uma roseta (que seria o sistema percursor da estrela amarela com que os alemães nazis identificavam os judeus).
Impõe-se outro axioma de Voltaire: «aqueles que nos conseguem convencer dos maiores absurdos, conseguem induzir-nos a cometer as maiores atrocidades.»
Esta atitude reflecte bem o despotismo católico e seu fundamentalismo sanguinolento que não dava qualquer valor à vida dos que se lhes opunham, não lhes bastando o anátema da excomunhão – necessitavam de exterminar os dissidentes!
Adiante analisaremos sucintamente esta tragédia, mas, por ora, voltemos a debruçar-nos sobre as crenças dos cátaros.
A palavra cátaro tem uma raiz etimológica grega, catharos, que significa «puro».
A história oficial tem sido sempre uma compilação das versões propagandísticas escritas pelos vencedores facciosos. Assim, a maioria das informações que possuímos sobre os cátaros são de índole injuriosa, forjadas pelos seus inimigos que conseguiram aniquilá-los, destruindo igualmente grande parte dos textos sagrados dos gnósticos mais célebres.
Mesmo assim, sabemos que os cátaros albigenses aceitavam as mulheres como seus pares na hierarquia confessional – isto numa época em que as maiores sumidades (varões católicos que julgavam ter o monopólio do conhecimento, para além de serem os pilares da moral e da fé) tinham relutância em aceitar que as mulheres fossem seres humanos completos!... (Ainda no séc. XIX, muitos dos homens mais insignes, tanto da ciência como da teologia, debatiam acerca das probabilidades de as mulheres terem, ou não, alma…)
Os líderes religiosos cátaros eram ascetas pios, permanentemente atormentados pelo temor aos instintos, sobretudo em relação às demandas da sensualidade. Não reconheciam virtudes noutra forma de os sexos se relacionarem que não fosse o amor platónico. (A exaltação desse género de romantismo tem um papel de destaque na poesia e na literatura cátara.) Para os puristas cátaros, o sexo – até para fins de procriação - era uma actividade bestialmente nojenta, que diminuía o ser humano. Por isso, até desprezavam o matrimónio.
Mais do que a concepção sem sexo, o seu ideal era um plano espiritual em que fosse possível nascer sem passar pelo ventre de uma mulher. (Ex.: Evangelho gnóstico Segundo Tomé o Dídimo, dito 15 e 79)
Acreditavam que, se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, então o Ser Supremo tem que possuir uma essência hermafrodita (que transcende as particularidades e limitações dos géneros humanos). Os nossos sexos tratar-se-iam de polaridades complementarias, não antagónicas. Por isso, na ordenação dos mestres da doutrina cátara, os Perfeitos, não havia descriminação de género.
Como todos os movimentos religiosos de grande expressão (que agremiaram um elevado número de fiéis oriundos de vários estratos sociais e proveniências geopolíticas), longe de viverem numa harmonia consensual, entre as fileiras dos cátaros havia diversas correntes filosófico-doutrinárias; cada uma delas, por sua vez, ia beber as suas influências a um leque de movimentos ideológicos orientados para a teologia, das quais podemos destacar o bogomilismo, o neoplatonismo, o paulianismo, o maniqueísmo e o marcionismo. No seio dos mais sectários medravam contradições sincréticas. (Ex.: em 1178 alguns bispos cátaros de Toulouse ousaram contestar os dogmas instituídos pelos seus homólogos de Bizâncio.)
A pobreza asceta praticada por muitos cátaros e predicada por todos, não impedia que muitos dos seus líderes (tanto nobres como eclesiásticos) fossem muitos ricos…
O dualismo maniqueísta da sua doutrina fazia-os desprezar de tudo o que fosse terreno, ao ponto de crerem que o mundo natural era obra de uma falsa divindade, senão mesmo do próprio Lúcifer. ( Talvez essa acepção se baseasse no Evangelho segundo S. Mateus, de onde se deduz que o mundo físico, material, em que vivemos é propriedade de Satanás, pois este, ao tentar Jesus Cristo, como parte da barganha, afirma poder oferecer-lhe os reinos deste mundo sob o seu controlo.)
Apenas consideravam digno de adoração um deus de bondade celestial, que se relacionava exclusivamente com uma dimensão espiritual, onde tudo deveria ser verdadeiro, puro e perene; estando para além da compreensão racional(ista). A gnose dos gnósticos estava divorciada do conhecimento escolástico, sendo de origem mística e intuitiva. Mas a transmissão dos conhecimentos que consideravam fundamentais obedecia a um elitismo esotérico, pois era da exclusividade confiado aos iniciados de acordo com os interesses de grémio.
O caminho para a transcendência tinha como farol o amor sublime que a sua religião/o seu deus lhes proporcionava..
Tal como (S.) Paulo, também eles mal podiam esperar a hora para abandonarem a vida mundana, libertando o espírito da sua prisão carnal (mas parece que acreditavam na reencarnação).
Apesar da sua aversão ao mundo material, eram vegetarianos, opondo-se à morte violenta tanto de pessoas como de bestas. (A propósito, ficou-nos um relato paradigmático que seria apenas anedótico se o seu desfecho não tivesse sido trágico. Em 1051, camponeses da Lorena que professavam a religião cátara foram denunciados por um bispo local ao imperador. Na presença deste último, aos acusados foi-lhes dado um teste: ou matavam uns pintainhos, ou iam para a forca… eles mantiveram-se fiéis às suas crenças pacifistas…)
Consta que o Evangelho Segundo S. João era o mais utilizado pelos cátaros, mas há muita divergência quanto a esta suposição. Sabemos que utilizavam os evangelhos gnósticos, em particular os de Filipe e o de Judas (os mais detestados pela Igreja de Roma). Também davam preferência a um texto teológico a que chamavam «o Evangelho do Amor», sobre o qual sobraram pouco mais do que obscuras suposições.
No Evangelho de Judas este apóstolo maldito é ilibado como o derradeiro e mais vil dos traidores (tal como é apresentado no Evangelho Segundo S. João, que demoniza Judas como um símbolo dos judeus, aos quais, na época m que foi escrito, as novas comunidades de cristãos gentios queriam distanciar-se – até para tentarem escapar á implacável perseguição do imperador Nero). O evangelho de Judas é bastante enigmático. Nele Judas é apresentado como o principal confidente de Cristo, assim como o único entre os apóstolos que compreendeu o seu papel no plano concebido pelo Messias com a finalidade de se libertar da sua forma carnal e dar o exemplo aos seus seguidores. O relato termina abruptamente com a traição de Judas, omitindo propositadamente a crucificação – o que sublinha a crença gnóstica de que Jesus tinha uma dupla natureza (animal versus espiritual) e que apenas o seu espírito poderia ter saído – pleno e livre - do túmulo onde sepultaram o (descartável) corpo mortal. Talvez por isso haja tantas referências de observadores exteriores ao culto que asseveraram que os cátaros negavam Cristo.
Para os gnósticos, o ritual de iniciação mais sagrado não era o baptismo, mas sim um rito esotérico (segundo as indicações do evangelho de Filipe) que culminava num beijo místico, símbolo de um renascimento purificado.
Enquanto penassem na Terra, os gnósticos sentiam-se fiéis depositários de uma parcela do poder e graça divinos consubstanciados nos seus espíritos, que necessitava ser conhecida e cultivada como a única forma de o ser humano assumir a sua riqueza interior e ser feliz. (Evangelho gnóstico segundo Tomé o Dídimo. Dito 3, biblioteca Nag Hammadi)
Enquanto que os católicos estão limitados por uma mitologia morta, nas celebrações litúrgicas dos cátaros, os seus participantes entravam num estado de transe que identificavam como um tipo de possessão divina (superior a qualquer credo ou dogma) que assegurava uma ligação directa com o que para eles era de mais sacrossanto. (Esses rituais de comunhão divina, na sua essência, podem ainda ser observados em religiões como o candomblé, o vudu, o xamanismo e entre milhões de indígenas que, embora subjugados à Igreja católica, optaram pelo sincretismo com as suas antigas crenças e práticas religiosas.) por isso, rejeitavam a intermediação (imposta) de sacerdotes católicos e toda a hierarquia clerical.
À semelhança do que actualmente acontece com as testemunhas de Jeová, também se recusavam a adorar ídolos e outros símbolos do poder secular e temporal (incluindo a "cruz de Cristo"), para além de considerarem a Igreja Católica com decadente e corrupta; uma autêntica personificação do mal.
A Igreja católica é como um polvo de vastos tentáculos
E com uma gula insaciável por almas e territórios geopolíticos; sempre reagindo com irado zelo a qualquer ameaça . Continuando com a metáfora, os polvos têm 9 cérebros: o principal está na cabeça, mas cada tentáculo seu o seu próprio cérebro rudimentar. Estes animais não poderiam sobreviver se todos os tentáculos, separados radialmente, insistissem em tentar seguir direcções diferentes… O Vaticano será, portanto, a cabeça desse cefalópode, e cada tentáculo as suas Ordens. Se Algumas destas dá sinais de sedição herética, o comando central está disposto a extirpar esse tentáculo, regenerando outro em pouco tempo.
Em 1165, na cidade de albigense de Albi, a Igreja condena de forma oficial e desafiante a heresia cátara.
Dois anos depois, os cátaros (através do seu patriarca de Constantinopla) organiza o Concílio Cátaro de de Saint Feliz de Caramon, mas não conseguem apaziguar as relações com o Vaticano.
Em 1178, no Concílio de Lombers, a Igreja reforça a sua posição antagónica em relação aos cátaros. No ano seguinte, durante o III Concílio de Latrão, a Igreja convoca as forças seculares para que, através da lei e da espada, reprimirem com dureza a heresia cátara, exigindo total submissão à autoridade eclesiástica.
Editou-se, então, a bula Ad-Abolenda que declarava o direito e o dever de o Rei expropriar as terras aos nobres que protegessem os cátaros e quaisquer outros hereges. «É necessário que os heréticos sejam esmagados pelo Vosso poder e que as misérias da guerra os tragam de volta à verdade» (sic)
Quando, em 1198, Inocêncio III é eleito Papa, este toma como a sua principal missão erradicar a ameaça herege, pois considerava que uma rebelião nas hostes cristãs era muito mais grave e premente do que ir combater sarracenos para o vespeiro do Médio Oriente.
Para tal, o Papa sabia que necessitaria de manter em sintonia os interesses do poder monárquico com os do papado. Nesse sentido, pressionou o Rei de França, Filipe Augusto, mas este preferiu lidar com a Igreja pela via da tergiversação.
Entretanto, um incidente diplomático alvo de acesa polémica (que persiste até hoje) precipitou os acontecimentos que culminaram num banho de sangue.
Com o aparente propósito de fazer um último esforço diplomático para a conversão dos cátaros, em 1208 o Papa enviou ao Languedoc um representante seu chamado Pedro de Casteunau. Aparentemente, este foi assassinado por um escudeiro do conde Raimundo VI, que se tornou o principal suspeito de estar por detrás deste crime (embora se considere como plausível a possibilidade de ter sido uma armação do Vaticano…).
Inocêncio III logo excomungou Raimundo VI. A seguir, em 1209, organizou uma cruzada contra os cátaros.
A todos os que se juntassem a esta expedição de punição, o Papa prometeu as benesses habituais: remissão total dos pecados (desde que se empenhassem na matança pelo menos durante 40 dias) e a possibilidade de conseguirem substanciais melhorias financeiras, devido à legitimação do saque.
Os poderes instituídos do resto de França não se identificavam com a cultura albigense (que até tinha uma língua diferente) e invejavam-lhe a riqueza e a prosperidade, bem como a sua privilegiada posição geoestratégica que gozava de uma independência político-administrativa em relação ao rei de França . Antigas rivalidades regionais estavam em ebulição…tanto pior porque nos conflitos medievais imperava a noção de que o recurso à força bruta era um recurso primordial e legítimo para os fortes atingirem/conquistarem os seus objectivos expansionistas.
Em Lyon foi onde se juntaram mais voluntários para esta cruzada que ganhou contornos de guerra civil. A horda/turba de sicários era constituída por senhores eclesiásticos, nobres, vassalos, mercenários, vilões, camponeses, vagabundos, desordeiros e criminosos de toda a índole. Foi eleito como o seu líder militar o conde Simon de Montfort, que se revelou um dos mais cruentos genocidas da história europeia (absolvido pela Igreja e recenado pelos livros de história…). Desta forma, conseguiu usurpar uma imensidão de terras e de castelos (que petenciam aos cátaros). De pouco lhe valeu a ambição desmedida e inescrupulosa, pois morreu em combate na cidade de Toulouse, em 1213.
Entre as dezenas de milhares de pessoas que foram assassinadas no Languedoc durante a referida cruzada, contou-se até um regicídio: foi o de Pedro, Rei de Aragão, que se deslocara até ao sul de França em auxílio do seu cunhado Raimundo VI, apenas para encontrar a morte na batalha de Muret (1213), quando enfrentou o exército liderado por Simon de Montfort. A vitória deste último permitiu-lhe apoderar-se de Toulouse.
Raimundo VI também não sobreviveu ao conflito, passando a liderança da resistência herética para Raimundo e Rogério de Trencavel.
A nobreza e sobretudo a monarquia francesa que cobiçavam a região cátara, saíram fortalecidos por esta cruzada. O tratado de Meaux, em 1229, acabou por selar a anexação do Languedoc à França dos Capetíngios, ficando assim com o livre acesso ao Mar Mediterrâneo, com todas as enormes vantagens comerciais que daí decorrentes, para além do controlo da exploração dos vinhos mais afamados.
A Cruzada Albigense oficialmente durou uma década, mas sobreviveram alguns focos de resistência cátara, que continuaram bastante activos pelo menos até 1250. Posteriormente há relatos esporádicos dessa actividade herética até 1320. (Note-se que Filipe o Belo, antes de se empenhar na destruição dos Templários, ainda perseguiu os cátaros remanescentes.)
Ironicamente, existe uma óbvia correlação entre primeiros cristãos submetidos aos piores tormentos a mando do imperador (romano) Nero, e o que os Cátaros arrostaram às mãos dos cruzados católicos.
«Como nos primeiros tempos do cristianismo, os cátaros continuavam a pregar suas ideias pelos campos, nos bosques, em esconderijos e em casas de um ou outro mais corajoso simpatizante, e até nas cavernas, numa trágica simetria com as catacumbas frequentadas pelos cristãos primitivos. Não se entregavam, não renegavam suas ideias, nem mesmo quando se lhes oferecia a escolha final entre a vida e a fogueira, ou seja, entre a fé e a morte. A opção de todos - com ínfimas excepções, uma unanimidade - era pelo sacrifício supremo, sem um gemido, temor ou angústia» - Hermínio Miranda (2002).
A célebre beatitude estóica era sustentada em situação extremas. Há relatos fidedignos que referem o facto de alguns cátaros manterem um sorriso enigmático (provavelmente tinha tanto de beatífico como de sardónico) mesmo quando atearam as fogueiras da Inquisição que os consumiram num sofrimento atroz…
Com o extermínio dos Cátaros, «toda a Europa caiu numa espécie de modorra e barbárie, e a Igreja se impôs, pelo espectáculo desumano que cometera, como a única legítima representante de Deus, exercendo poder até mesmo em assuntos civis e de Estado» - Carlos Guimarães (2004)
Na Idade Média, finda a Guerra dos Cem Anos (séc.s XIV-XV), milhares de "cães de guerra" ficaram desempregados e, como não sabiam fazer mais nada e nem estavam interessados em regressar à pobreza explorada da vida civil, organizaram-se em/por muitos bandos que percorriam a Europa martirizando as populações e deixando um rasto de hediondadevastação à sua passagem. Por três séculos ganharam o seu sustento cometendo as maiores atrocidades (que incluíam esquemas de extorsão "mafiosa", vendendo "protecção ou aniquilando quem a recusava) as populações rurais e até das pequenas cidades desprotegidas viviam aterrorizadas por estes bandoleiros-guerreiros , que não hesitavam emas atacar, saquear, assassinar, violar e destruir os bens imóveis (incluindo as culturas agrícolas), sempre a oportunidade se proporcionava.
A Cruzada Albigense serviu igualmente de mote para a Igreja (através do Papa Gregório IX) instituir o Tribunal da Santa Inquisição, funcionando como uma profilaxia de terror capaz de eliminar qualquer nova ameaça (por mais embrionária ou fantasmal) à Igreja.
Xando
1 comentário:
Nem sei...
Cumprimentos!
Enviar um comentário