sábado, maio 20, 2006

Pesticidas na U E
A União Europeia é o maior mercado mundial de pesticidas, onde têm autorização para serem comercializados 800 tipos diferentes de agrotóxicos. 30 mil toneladas de pesticidas aplicados anualmente no nosso país.

Entre 1950 e 1967, no auge da “Revolução Verde”, um aumento de 5% da produção de alimentos equivaleu a um incremento de 267% nas aplicações de pesticidas.

O uso global dos pesticidas era de 50 milhões de quilogramas em 1945, e subiu para os actuais 2500 milhões de quilogramas. Entre 1945 e 1989 a potência dos agroquímicos multiplicou-se por 30. agora espera-se que as novas variedades de organismos transgénicos tenham a capacidade de suportar doses de pesticidas até 300 mais intensas do que as variedades tradicionais. Tal, obviamente, implicara um aumento na dose diária de químicos tóxicos que ingerimos. Também significará uma prática agrícola mais intensiva, com a consequente exaustão e inquinamento dos solos e da água.
A amarga ironia é que os pesticidas de síntese química nem sequer resolveram o problema das pragas agrícolas, antes pelo contrário, segundo a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), em 1965 ( duas décadas depois de se Ter iniciado o actual modelo intensivo de agricultura) estavam registadas 182 pragas agrícolas; em 1977 o número ascendia a 364. Actualmente, o número de espécies de insectos resistentes aos biocidas supera as 500. Ainda baseando-nos nos dados da FAO, em 1945 as perdas causadas pelas pragas alcançavam 7% das colheitas; em 1989 afectavam já 13% das colheitas.
O uso de Fertilizantes sintéticos subiu de 14 milhões de tl em 1950 para 134 milhões de tl em 2000.
A situação é demasiado grave e evidente para continuar a ser subestimada e escamoteada por alguns agentes económicos e pelas autoridades oficiais que, com cinismo irresponsável e imoral, não se cansam de pedir que se apontem a origem de um câncer ou de uma mal formação genética directamente relacionados com um agroquímico específico, quando somos vítimas constantes de uma conspiração de agentes patogénicos. (Entre 70 a 100 mil novos produtos químicos foram criados e libertados para o meio ambiente desde a revolução industrial…)
De uma lista “negra” (elaborada por investigadores independentes) referente às 30 substâncias tóxicas utilizadas como agroquímicos que mais urge serem proibidas, destacamos as seguintes: o aldicarbe, os metamidofos, o brometo de metilo ( o bromo também está presente, por exemplo, no interior dos extintores enas explosões nucleares, e acredita-se ser responsável pela destruição de cerca de 20% da camada do ozono) e o paraquato (sob a forma de gramaxone)
É por demais extensa a lista de efeitos perniciosos (conhecidos) atribuíveis aos agroquímicos, mas não pretendo tornar este alerta num interminável “muro das lamentações”, nem tampouco creio que a pedagogia do medo é a melhor estratégia para incentivar acções construtivas. Existem bons exemplos que podemos ( e devemos!) seguir.


«Na Alemanha, fornecedores privados de água descobriram os benefícios económicos da agricultura biológica. Empresas de Munique, Osnabruck e Leipzig pagam aos agricultores locais até 550 marcos (cerca de 250 dólares) por hectare, durante três anos, para fomentar a conversão dos agricultores às práticas biológicas. Responsáveis pelo fornecimento de água limpa aos seus clientes, essas firmas chegaram à conclusão de que é mais barato (e, logo, mais rentável) investir numa agricultura sustentável, do que extrair pesticidas da água poluída.» (World Watch Institute, 2001) Do outro lado do Atlântico, a cidade de Nova Iorque está a seguir esta mesma política integrada e consciente.
O parlamento dinamarquês deliberou uma progressiva redução no uso de agroquímicos tóxicos, para que em 2010 toda a agricultura dinamarquesa seja biológica. Mesmo cingindo-se a uma perspectiva economicista, concluíram que os gastos com a saúde pública e a deterioração dos solos e da água, a curto, médio e longo prazo, acarretam custos muito superiores aos lucros pecuniários que advêm da agricultura intensiva.
Para tal, à semelhança do que acontece na Finlândia, na Noruega, na Suécia e brevemente na França também, a Dinamarca tem em vigor impostos sobre a venda de pesticidas. A medida tem-se saldado por um enorme sucesso.
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*-+ Este louvável objectivo afigura-se-me demasiado optimista pois, segundo dados de 1998, apenas 3% das terras agricultadas nesse país mereciam certificado de produção ecológica. Erradamente os dinamarqueses (tanto no sector público como no privado) têm apostado forte nos agroprodutos geneticamente modificados a fim de efectuarem esse corte radical com os pesticidas de síntese química. Os OGMs, se houver um mínimo de bom senso, jamais se poderão considerar “ecológicos”. Nem tão pouco a criação intensiva de animais destinados exclusivamente à produção de peles (comércio de casacos de luxo),sendo que a Dinamarca controla metade da produção mundial de peles de visão(10,8 milhões de peles por ano).


Em Portugal sucede exactamente o contrário. Para além da falta de visão e coragem política necessárias à tomada de consciência da gravidade do problema e enfrentarem os fortes lóbis das indústrias que produzem e comercializam os agroquímicos, a fiscalização é manifestamente insuficiente e apoiada por uma má política de secretismo, o desinteresse por parte da população em geral e a falta de capacidade demonstrada pelas associações (confederações, sindicatos,...) de agricultores, bem como grande parte dos professores nas escolas agrárias, para pensarem a médio e longo prazo investindo numa agricultura saudável e sustentável, faz com que não se perspectivem mudanças importantes neste sector que é tão vital, mas que teima em basear-se em filosofias e atitudes contra-natura. Mas tampouco sejamos ingénuos ao ponto de defendermos que, com as actuais exigências de produção agrícola nacional (embora nas últimas duas décadas não tenha parado de diminuir a nossa produção agrícola, à medida que aumenta a nossa dependência dos agroprodutos espanhóis – de qualidade muito duvidosa) e com o total desequilíbrio ecológico instalado nos agrossistemas convencionais, seria possível de um momento para o outro banirmos radicalmente o uso de pesticidas e fertilizantes de síntese química sem que a produção agrícola se ressentisse brutalmente. A meio caminho (que poderá, ou não, ser um processo de reconversão) entre a agricultura convencional e a agricultura biológica encontra-se a “protecção e/ou produção integrada”,método em franco crescimento no nosso país.
Enquanto que nas nossas escolas agrícolas continua-se a intoxicar as mentes dos alunos com ideias retrógradas que a agricultura não é viável sem recurso apesticidas e fertilizantes de síntese química, em escolas congéneres daAlemanha, da Dinamarca, da Holanda e da Áustria, a agricultura biológica éuma disciplina obrigatória. E como disciplina facultativa, é possibilitada ainscrição aos estudantes universitários do Reino Unido, da Finlândia, daItália e da Grécia.
Os pequenos agricultores biológicos de todo o mundo produzem mais e melhor do que os agricultores industriais. ( Para além da salubridade dos seus alimentos e de não serem subvencionados, o seu consumo de água e de energia é 10 vezes inferior e a fertilidade das suas terras é muito mais longeva/duradoura/estável.) O facto de a agricultura biológica ir beber muito à cultura vernácula secular, não é impedimento para que incorpore os conhecimentos técnico-científicos de vanguarda (tudo depende de como orientamos o nosso engenho). Tentando respeitar o equilíbrio produtivo e a capacidade regeneradora da terra, alguns ensaios (levados a cabo em países pobres e recorrendo exclusivamente a técnicas biológicas) revelaram-se extremamente promissores. Por exemplo, segundo a FAO, nos últimos anos a horticultura cubana dobrou a sua produção, ao passo que na Bolívia conseguiram que algumas colheitas de batatas mais do que triplicassem. O mesmo sucedeu em regiões africanas de fraca aptidão agrícola. No Quénia as colheitas de milho subiram de pouco mais de 2 toneladas por hectare para 9 tl/ha; e na Etiópia houve culturas/plantações de batatas que multiplicaram a sua produção de 6 tl /ha para 30 tl/ha

No seu livro mais célebre e polémico, «A Primavera Silenciosa», Rachel Carson escreveu: «O chamado “controlo da natureza” é uma frase concebida pela arrogância, nascida na Idade Neandertal da biologia e da filosofia, quando era suposto que a Natureza existia para a exclusiva conveniência do homem (…). A nossa alarmante infelicidade reside no facto de uma ciência tão primitiva se ter armado a si mesma com as armas mais modernas e terríveis, e que, ao dirigi-las contra os insectos, as tenha assestado igualmente contra toda a Terra.»

Paulo Barreiros

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