quinta-feira, maio 11, 2006

Educação Ambiental, a última esperança?
“Se eu fosse rei de França não permitiria que nenhuma criança menor de doze anos entrasse em cidade alguma. Até essa idade, as crianças teriam que viver no campo, sob o sol, nos bosques, em quintas, na companhia de cães e cavalos, cara a cara com a natureza, que vigora o corpo, fortalece a inteligência, inspira a poesia na alma humana e desperta a curiosidade mais valiosa que todos os livros do mundo.”
“Dessa forma, as crianças aprenderiam a interpretar os ruídos e o silêncio da noite, e adquiririam a melhor de todas as religiões: a que Deus mesmo põe de manifesto em todas as suas gloriosas maravilhas. E ao completarem doze anos, fortes, com a mente despoluída e compreensiva, teriam já a capacidade para receberem instrução metódica que fosse adequado proporcionar-lhes, e que poderia então incutir-se-lhes com facilidade em poucos anos.”
“(…) A minha opinião é que a educação física deve ser o primeiro passo no desenvolvimento das crianças.”__Alexandre Dumas

“(…)Para compreender que o desaparecimento de uma espécie implica o descalabro de todo um ecossistema, é necessário um profundo conhecimento da natureza. Por isso penso que grande parte dos nossos problemas seriam superados se organizássemos a educação dos nossos filhos no campo, rodeados de animais e de plantas; a biologia deveria aprender-se a partir dos cinco anos de idade.”—Konrad Lorenz

“A meu ver, a finalidade da educação é revelar e desenvolver globalmente o que há de melhor na criança e no homem, quer se trate do corpo, da inteligência ou do espírito.” ___ Gandhi

Um inquérito (da «Observa») efectuado em 1997 mostrou que o ambiente era a quinta preocupação dos portugueses. No entanto, está bem instituída na mentalidade ocidental a equação fatalmente errada: ambição egoísta e acumulação de bens materiais + destruição da natureza e exploração dos mais fracos = “qualidade de vida”.
Funambulando entre o descrédito ou a simples ignorância da generalidade dos portugueses, a EA não poderá continuar a ser apenas o porta estandarte dos dias comemorativos (ex.: da árvore, do ambiente, da água,…), eivados de enfatuada demagogia, nem de instituições com nomes sumptuosos apoiadas em legislação “para inglês ver”. Temos que ter atenção ao facto de que essas acções de charme apenas lidam superficialmente com os sintomas, não com as causas da doença civilizacional; não têm uma intervenção preventiva, profilática; não resolvem nenhum problema porque não os previnem. Quando muito servem para acicatar a má consciência de alguns cidadãos mal-educados nas regras basilares de civilidade e convivencialidade, que aproveitam para expiarem os seus “pecados ambientais” com estes gestos pontuais e descontextualizados. Ir para uma praia apanhar lixo, ou para uma escola ensinar como se faz a reciclagem caseira de papel são exemplos esclarecedores. A Reciclagem é a última solução para o problema dos resíduos na política dos 3 erres (não é à toa que a reciclagem é precedida em primeiro lugar pela redução, seguida da reutilização); não deixa de gerar muita poluição e de consumir matérias-primas.
A reciclagem apresenta-se assim como um placebo que os ambientalistas propõem para “resolver” a enfermidade crónica da Megamáquina, sem a criticarem a fundo, nem muito menos procurarem vias verdadeiramente alternativas de entendimento, de organização social e de convivência com o meio ambiente.*

*É por isso que os apelos à reciclagem são pouco mais eficazes do que usar T-shirts com slogans do género «salvem os golfinhos!» e «parem com as chuvas ácidas!» (mas em inglês, que é para dar mais estilo…), enquanto os seus portadores degustam sandes de atum e se deslocam para todo o lado em automóvel próprio…

Contrariando a posição defendida pelo histórico militante ecologista, Afonso Cautela, aquando da luta travada contra a implantação de centrais nucleares em Portugal na última metade da década de 70, a tendência actual é para que tecnocratas verdes e cientistas independentes trabalhem com a administração pública na resolução de problemas que o industrialismo e o capitalismo criaram, e que o Estado se revela desajustado.
Embora pareça um inacreditável paradoxo para a maioria de nós, o certo é que nos países em que grassa a miséria que mais se reciclam os resíduos urbanos – até 80%, contra os 20% médios dos países mais ricos. (Basta dar uma olhada nos arredores de Manila, Cairo, Manágua e Guatemala, convertidos em monturos infectos, onde milhares de pessoas passam os seus dias a revolverem lixo a fim de o venderem, após uma tosca selecção /triagem, para as fábricas de reciclagem. É neste ambiente insalubre e de miséria pungente, e não na escola, que encontraremos sempre as crianças pobres; grande parte delas alimenta-se literal e directamente do lixo)
A U E exige que, a partir de 2011, Portugal recicle 55% dos seus resíduos. Com as actuais políticas e hábitos instituídos, ninguém sabe como é que isso poderá ser possível...
Esses 852 milhões de pessoas que vivem na mais extremapobreza não podem olhar o futuro com mais optimismo que o tigre siberiano, o panda ou o lince ibérico.
Já que são os pobres oprimidos que têm que fazer o trabalho sujo que enriquece os mandantes, é essencial que os que sustêm a pirâmide do poder possam apreciar formas de prazer e de realização pessoal alternativas.

Em 1993 os portugueses (não emigrados) produziram 3,3 milhões de toneladas de resíduos urbanos. Dez anos depois, aumentámos a nossa “quota de desenvolvimento” para mais de 5 milhões de toneladas. Acho que tal feito merece a encomenda à Nelli Furtado de outro hino a enaltecer o imparável progresso dos progressos, bem como a comercialização de caixotes e de compactadores de lixo com a bandeira nacional impressa. [Alusão satírica à palhaçada do «Europeu de Futebol 2004»]
Enquanto continuam a investir em aterros caríssimos que se enchem em metade do tempo previsto, “justificando” a construção de mais fábricas de venenos mortais, que são as incineradoras, e a gastarem o dinheiro dos nossos impostos em anúncios publicitários que nos aconselham a separar algum do lixo para a reciclagem – e a triste verdade é que grande parte desses materiais reaproveitáveis jamais chegam a cumprir esse fim, acabando misturado com os restantes resíduos.
Caramba, nem é difícil entalar contra as sua mentiras os autarcas e as empresas com quem trabalham. Basta seguir os veículos destinados à recolha dos resíduos urbanos para averiguar que fins lhes dão. Munam-se de câmaras de fotografar e de vídeo. Há sempre trabalhadores descontentes nas câmaras municipais que vos poderão fornecer os horários dessas colectas nocturnas.

A Lei de Bases do Ordenamento do Território e do Urbanismo, apoiada no respectivo Plano Nacional Estruturante, prometia trazer alguma ordem no caos insustentável em que vivemos, mas agora os políticos querem-nos convencer que a fasquia dos valores foi posta tão alta que apenas serve para deslumbrar os teóricos radicais. Apenas uma nação de apáticos ignorantes poderá deixar que este género de medidas emgabelantes prescrevam antes de serem implementadas.

"Todos os cidadãos têm o direito de consultar e obter cópias dos documentos administrativos em posse da administração pública. Esta faculdade está consagrada na Constituição da República Portuguesa e regulamentada pela Lei 65/93, de 26 de Agosto. (...)No entanto, há restrições de acesso aos documentos que sejam nominativos (que contenham dados pessoais), que revelem informação susceptível de pôr em causa a segurança interna e externa do Estado, que ponham em causa segredos comerciais, industriais ou de vida interna das empresas, que estejam abrangidos pelo segredo de justiça, ou que se refiram a processos não concluídos." - Ricardo GarciaSe nos for negado um documento em qualquer órgão da administração pública ecaso haja dúvidas em relação ao estatuto de excepção acima referido (que raramente se pode aplicar aos atentados ambientais), deveremos sempre recorrer (por escrito) à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), invocando a Lei n.º 65/93, a Directiva Comunitária 90/313/CEE , a Convenção de Aarthus e , na eventualidade de se tratarem de jornalistas credenciados e identificados, o estatuto de jornalista (Lei n.º 1/99).
É possível que as autoridades tentem fazer-nos desistir das nossas reivindicações fazendo-nos esperar indefinidamente e/ou soterrados em burocracia (para além da caótica sobreposição de competências, existem centenas de organismos estatais que duplicam, ou diluem, as acções de outros organismos estatais). Mas o certo é que a administração pública é obrigada por lei aresponder-nos num prazo máximo de dez dias úteis."É importante lembrar que o cidadão também tem um papel fundamental na fiscalização das normas legais na área do ambiente. A legislação confere a cada português um conjunto de poderes neste sentido (...) - direito de participação em vários procedimentos (avaliação de impacto ambiental, elaboração de planos de ordenamento, licenciamentos, etc...), de acesso à informação, de queixa, de petição à acção popular e outros. Alguns destes recursos são relativamente recentes, e a sua utilização ainda é tímida. Mas cada vez mais surgem notícias que resultam, precisamente, da mobilização da sociedade civil em torno de prerrogativas legais defiscalização de que os cidadãos dispõem." - Ricardo Garcia


Um estudo (divulgado em 2004) conduzido pela Universidade Nova de Lisboa, por encomenda do Ministério do Ambiente, deixa claro que os elevadíssimos custos de instalação das incineradoras faz com que a queima de resíduos urbanos custe às autarquias 26,5 euros por tonelada. A opção da separação de resíduos, armazenamento e envio para as fábricas de reciclagem comporta custos na ordem dos 16 euros por tonelada. Com os aterros, e para que estes cumpram as líricas directivas comunitárias referentes à separação e recolha de resíduos orgânicos compostáveis e embalagens biodegradáveis junto dos maiores produtores (agopecuária) e em cada lar urbano, cada tonelada de resíduos aí depositados debita 15 euros dos orçamentos camarários.
CIR- Centro de Informação de resíduos/QUERCUS telf.: 217788474 www.netresiduos.com/cir/index.htm
Instituto de resíduos telef.: 218424000 www.inresiduos.pt



Informem-se sobre a Agenda 21 Local, pois trata-se de um plano de acção viável, assumido globalmente (foram signatários 178 países) e de implementação nacional e regional. Estes objectivos foram reafirmados com especial ênfase uma década depois, na Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (África do sul). Devemos exigir aos políticos que sigam esta linha condutora.
Até o ex- Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, Luís Nobre Guedes (do governo Barroso – Lopes), admitiu que não mais de 5% dos municípios portugueses estão a implementar os preceitos mínimos estipulados na Agenda 21 Local. (Água & Ambiente, Jan. 2005)
Por seu turno, o Instituto de Ciências Sociais, através do programa Observa, corroborou a ignorância crassa dos nossos autarcas em relação à Agenda 21 Local. Para começar, dos 201 autarcas contactados, apenas 82% responderam. Por experiência própria, sei que estes inquéritos nunca são respondidos pelos autarcas, até os vereadores que têm os respectivos pelouros com as competências relativas às matérias abordadas, delegam a função de os responder aos seus técnicos. Com tantos jovens, ainda com a tinta do canudo fresca, a desempenharem essas funções nas autarquias, tanto mais grave é a conclusão do programa Observa de que só 9,8% dos inquiridos tinha vagas ideias sobre o assunto.
Urge que uma comissão competente, credível e independente (que integre técnicos das nossas universidades, das ONGs e até tecnocratas de Bruxelas, sendo imune à dança das cadeiras de S. Bento) faça auditorias, município a município, a fim de averiguar as principais carências e potencialidades de cada concelho. Uma vez estabelecidas as prioridades e as estratégias de intervenção, avançaríamos para a implementação rigorosa de um Plano de Acção Ambiental e de Melhoria da Qualidade de Vida.


É notória a falta de tradição e escassa consciência e sensibilidade ambiental da população em geral, começando pelos próprios dirigentes políticos e outras figuras públicas, industriais e educadores.
Os média carecem de programas de EA realmente credíveis pela simples razão de que quem paga maioritariamente esses órgãos de entretenimento de massas são as grandes corporações industriais/comerciais que a última coisa que querem é que se questione o consumismo irresponsável – e essa é, incontornavelmente, uma batalha prioritária da EA.
Só nos Estados Unidos, em 2002, as multinacionais (apoiadas em estudos de psicólogos infantis que lhes revelam os pontos mais vulneráveis – carências afectivas convertidas em compulsões consumistas – dos petizes) investiram 12.000 milhões de dólares em anúncios destinados a assediar as crianças. (Nesse país cada criança vê em media 20.000 anúncios publicitários por ano.) *
*Recentemente a psiquiatra australiana Helen Street fez um estudo exaustivo sobre as depressões infantis (um fenómeno tragicamente generalizado, ao ponto de as autoridades norte americanas liberarem o uso do Prozac a partir dos 8 anos de idade!...) e concluiu que as crianças mais propensas a sofrerem deste flagelo são aquelas que pensam (tendo assimilado inteiramente o triste exemplo que nós adultos lhes damos) que a felicidade é proporcionada pelo dinheiro e pela popularidade. Paralelamente, numerosos inquéritos mostram que a maioria das crianças o que mais desejam é tempo; tempo compartido com os pais e com os amigos, sem stress.
Portugal é o segundo país da U E com maior consumo de medicamentos per capita. A venda de antidepressivos e de ansiolíticos, entre 2000 e 2005, subiu 45%. É plausível aferir-se que o consumo de psicotrópicos em geral acompanhou essa subida de consumo.


“Os ocidentais possuem os relógios, mas nós possuímos o tempo.” Provérbio bosquímano.
A infância é uma fase de fantasias, experimentações e descobertas por excelência. Daí que seja errado, uma vez a criança manifestar alguminteresse ou apetência especial por um determinado assunto/actividade, os educadores forçarem-nas ( mesmo utilizando eufemisticamente a palavra"encorajar") a dedicarem-se plenamente ao desenvolvimento monoespecífico.Tal costuma acontecer quando os tutores tentam projectar nas crianças a seu cargo a realização das suas aspirações frustradas. Tentando realizar velhos sonhos , os pais competem através das crianças, chegando a tornar-se gestores das carreiras dos seus filhos.
Mas também temos que ter em conta as enormes pressões competitivas e as demandas económicas a que os adultos estão sujeitos, e que (n)os força a valorizar demasiado os resultados e a considerar a educação como um investimento económico. Se uma criança se entusiasma com fósseis, não o vejam logo como um paleontólogo em miniatura (embora até o possa ser em potencial) e pensem em estabelecer para ela um rígido programa de estudo na prossecução dessa meta, porque umas semanas depois o mais certo é que queira ser desportistaprofissional e no mês seguinte cantor pop.Poderá acontecer que em adultos consigam dominar várias artes e ofícios, mas do que mais necessitarão são de valores e de força de espírito que lhes permitam ultrapassar as dificuldades e decepções que a vida, inevitavelmente,lhes reserva.
“Educar não é darmos uma carreira para dela vivermos, mas temperar a alma para as dificuldades da vida.” - Pitágoras
As mudanças na sociedade (vista como um mercado de recursos humanos que exploram os recursos naturais) ocorrem com demasiada rapidez como para podermosprever com exactidão que género de instrução académica será a mais adequada para que as crianças de hoje venham a ter uma carreira profissional de sucesso (ainda por cima a maioria dos cursos universitários ainda estão orientados para o superlotado ensino.). Mesmo que se acerta na área laboral que será bem remunerada e socialmente relevante quando forem adultos, com o mercado de trabalho extremamente competitivo e hiper especializado e volátil, a maioria nãochegará a ser bem sucedida. Até os que integrarem a minoriatriunfante/triunfadora poderão gerir as suas carreiras por caminhos que não conduzam à felicidade. São sobejamente conhecidos casos de pessoas que aparentemente tinham tudo o que os outros mais desejam e que acabaram por se suicidarem, incapazes de vencer a infelicidade e o vazio interior.
A este respeito, as estimativas da OMS são esclarecedoras: mais de um milhão de pessoas suicidam-se anualmente. Poderão ser 10 a 20 milhões os que o tentam. Nos próximos 15 anos os suicídios deverão aumentar 50%...
“A sabedoria só chegará quando te fartares da tua esperteza.” – Frithiof Brandt

A aprendizagem nessa fase é baseada na brincadeira. As travessuras são necessários exercícios de descontracção perante a pressão de acatar regras sociais e a responsabilidade de corresponderem às expectativas dos mais velhos. e servem também para medir, escudados pelo humor, a flexibilidade dessas regras, o poder e a tolerância dos adultos. Pode, ainda ser interpretadas como uma vingança pelo facto de saberem que nós estamos a construir uma tecnoesfera e uma socioesfera ( que, juntamente com a bioesfera, formam a trindade do mundo conhecido/da realidade perceptível) à medida dos adultos e com poucas contemplações e concessões às necessidades primordiais das crianças. (Daí que encontrem um refúgio quase autista na fantasia cibernética das realidades virtuais que julgam ser um mundo muito mais à sua dimensão.)
As travessuras são mais passíveis de descambarem em abusos graves se as crianças se sentirem demasiado reprimidas; se estiverem carentes de atenção e de afecto; se não virem nenhum sentido nas vidas que levamos; se lhes for vedado o acesso a um legado cultural de que se possam orgulhar e que saibam ser o garante da sua felicidade e prosperidade; e se sentirem que a comunidade não vela pelo bem estar dos mais fracos. Há ainda que Ter em conta que as crianças ( e não poucos adultos com os quais me sinto irmanado) têm muita dificuldade em compreender o conceito imposto de propriedade privada aplicado a bens comuns, indispensáveis à sobrevivência de todos nós. E como não têm capacidade argumentativa, nem poder aquisitivo para fazer valer as suas posições e tampouco se resignam a aceitar as desigualdades sociais (sobretudo quando estão do lado errado das estatísticas), poderão manifestar o seu descontentamento através de comportamentos violentos, mentiras e furtos.
Nalgumas aldeias beirãs, no final dos anos (19)70, início dos anos 80, creio Ter assistido (e participado ocasionalmente) aos últimos dias de uma confrontação amigável e secular entre crianças e idosos. Os dois grupos etários, postos um pouco à margem da azáfama produtivista, divertiam-se mutuamente. Alguns velhotes arreliados fingiam não tolerarem as provocações dos garotos, e a sua severidade era um desafio permanente e irresistível ao espírito travesso e à argúcia dos putos que, não raras vezes, concebiam planos tão brilhantes quanto hilariantes para trocarem as voltas à “brigada do reumático”. A emigração e a televisão puseram um fim a essas brincadeiras.
“Quando cá o povo [aldeia] estava cheio de canalha [crianças] e de mocidade, a gente nem precisava de televisão.” (Idoso anónimo de uma aldeia beirã. Comunicação pessoal.)



Para onde foi parar a mordacidade reivindicativa e beligerante que já conhecemos aos ecologistas?! Na sua ânsia de se tornarem mais respeitáveis e consensuais (e temendo ser conotados com o movimento Deep Ecology que estava a causar muita celeuma nos EUA), fizeram uma apostasia e até mudaram para um nome “politicamente correcto” . O campo foi substituído pela secretária e as gravatas e as loas académicas substituíram as guedelhas e os binóculos; a teoria científica, a tecnocracia e o protagonismo diplomático substituíram a paixão, o idealismo e a integridade (alguns até aceitaram cargos no governo, deixando de ser vozes incómodas…). São duas maneiras antagónicas, porém complementares, de namorar as câmaras de televisão. Os novos líderes ambientalistas são cinzentões, com uma falta de ousadia proporcional à falta de carisma, desconfortáveis nos seus fatos-e-gravatas (comos quais julgam estar a fazer um figurão) e com uma deprimente cultura televisiva. Ainda não perceberam a força do sentido de humor (nomeadamente da sátira). Infelizmente, a maioria das pessoas não está nada interessada em ouvir falar de pormenores técnicos que lhes são estranhos e enfadonhos. Além disso, como já tinha avisado (no início dos anos 80) o ecólogo e educador ambiental espanhol Fernando Bernaldez, existe o perigo antidemocrático da excessiva tecnocratização das informações em posse de uma elite.
Edward Goldsmith (fundador e ainda director da mítica revista The Ecologist,que é um referência obrigatória do movimento ecologista europeu) adverte que«a ecologia actual é reducionista, mecanicista e com resultadosquantificáveis. Castrou-se a verdadeira ecologia para a torna “respeitável”, esquecendo que o todo é bem mais que a soma das partes, oque é um conceito ecológico básico»(1999)



Paulo Barreiros

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