sexta-feira, maio 19, 2006

Educação Ambiental, a última esperança? (III)


«Na ecologia académica (…) as únicas coisas que se fazem nos trabalhos de campo é medir e recolher amostras. A contemplação profunda da natureza infelizmente é considerada perda de tempo, mas, na realidade, é decisiva para a nossa compreensão do planeta e para o nosso desenvolvimento pessoal.» (Stephan Harding, 1996)

Está provado que a simples acumulação de conhecimentos científicos pouco contribui para a adopção de comportamentos ambientalmente saudáveis (Dieckmann & Preisendôrfer, 1991; Bolscho, 1995). Veja-se, por exemplo, a quantidade de pessoas com grandes qualificações académicas que aceitam prostituir a ciência, pondo-a ao serviço de corporações industriais e militares, conscientes de estarem a contribuir fortemente para a devastação do planeta; ou ainda os numerosos “educadores ambientais” que na prática aplicam muito pouco do que predicam… Ademais, ninguém consegue dominar a avalanche de informações técnico-científicas referentes a cada temática ambiental e dos diversos ramos científicos que deles se ocupam (ainda por cima, cada vez mais as nanociências tendem para a hiperespecialização isolada).
A microbiologia, em especial a eng.ª genética, tem sido um poderoso chamariz (devido às maiores possibilidades de carreira) para os jovens biólogos, em detrimento da etologia. Até a geologia e a paleontologia centrou os seus interesses no trabalho de laboratório.«Os sistemas naturais costumam oferecer uma tenaz resistência aos intentos humanos de impor sobre eles esquemas e classificações simples.» – Carlos Herrera
A estimulação do amor pela natureza e da motivação são, pois, factores primordiais na elaboração de programas de educação ambiental.
EA trata-se de um diálogo para a intervenção, o que exige sinergias entre os conhecimentos técnico-científicos e os conhecimentos empíricos dos usuários tradicionais ( os campesinos).
«A ecologia quer tornar o homem responsável e adulto.» – Alain Hervé
Uma nova corrente da educação ambiental (tem pouco mais de uma década), cuja denominação inglesa – Earth Education – poderia ser traduzida por “educação telúrica”, dá especial ênfase à relação directa com a natureza, à observação e experimentação in situ; à percepção do mundo potencializando as aptidões naturais idiossincráticas (não só através de experiências sensoriais e assimilação de informações teóricas, mas também visando o desenvolvimento intuitivo e espiritual); à composição e funcionamento dos ecossistemas; e à forma como cada indivíduo influencia e é influenciado por estes factores; à consciencialização e à motivação de cada indivíduo para que adopte comportamentos ambientalmente correctos de moto próprio e por convicção, mais do que a mera prossecução de prémios académicos (notas), e os saiba transmitir aos seus pares.
Os jardins infantis na natureza (nature kindergarten) são disso bons exemplos e a sua popularidade na Alemanha não pára de crescer. A ideia consiste em deixarem as crianças (sob o olhar atento de educadores especializados, obviamente) passarem os dias num bosque o mais próximo possível das suas casas. Aí todas as estações são desfrutadas e interpretadas (exceptuando apenas os dias de intempérie). Assim, as crianças tornam-se mais saudáveis e felizes. Por acréscimo, poupa-se o erário público, uma vez que é dispensada a construção de infra-estruturas e mesmo, a longo prazo, reduzem-se os gastos de saúde.

«Fui para os bosques porque pretendia chupar o tutano da vida, defrontar-me apenas com os seus factos essenciais, e ver se podia aprender o que ela tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido.» –Henry Thoreau

Escusado será dizer que os educadores que podem ciceronear os jovens por verdadeiros “santuários naturais” * com uma orografia grandiosa e pululantes de animais de grande porte que demonstram pouco ou nenhum temor pelo homem, têm a tarefa facilitada. Por cá, demasiados séculos de perseguição implacável (com um notório acréscimo de violência a partir de 1974) fizeram com que os animais que habitam estas paragens estejam sujeitos a um stress elevadíssimo, permanentemente aterrorizados com a nossa presença; a sua sobrevivência depende sobretudo da capacidade de se esquivarem aos humanos (no caso mais agudo dos mamíferos, o sigilo fantasmal que os caracteriza é o seu melhor segurode vida). E não é para menos, só na Península ibérica são chacinados anualmente entre 50 a 90 milhões de animais – um bem comum a todos - para deleite de apenas 2% dos cidadãos! Este holocausto cinegético, nos últimos quatro séculos já levou à extinção 270 espécies de vertebrados! E há ainda que considerar as mortes obscuras por plumbismo«««««.

É até perigoso ir passear para o campo nas 5ªs Feiras, Domingos e feriados durante a época venatória, pois demasiados espingardeiros disparam a tudo o que se mexe, e os acidentes com humanos baleados abundam. Em Portugal os critérios “selectivos” do morticínio gratuito continuam a basear-se, em grande medida, num sobejamente conhecido lema (em jeito de remoque de mau gosto) dos caçadores:” acima de mosquito, abaixo de guarda”… Nada disto deveria surpreender num país que consagra mais direitos de usufruto do território aos caçadores do que aos restantes cidadãos – que são a esmagadora maioria.
Resignado a que tão cedo algumas pessoas não vão deixar de matar porprazer, devo aconselhar a todos os caçadores, gestores de zonas de caça, funcionários da DGF , autarcas e ambientalistas que estudem e adoptem as regras propostas por um documento científico sabiamente elaborado pela instutuição nuestra hermana Fungesma e que se intitula: "buenas practicas cinegéticas" ( Editora Mundi-Prensa, 2002)
Necessitamos que o ICN, a DGF, as ONGAs e os biólogos ao serviço tanto das universidades como do sector privado, encetem um programa conjunto, bem coordenado e dinâmico de vigilância às zonas afectas ao Regime Cinegético Ordenado , a fim de se erradicar a prática ilegal e não selectiva da utilização de venenos para “controlo de predadores”. (Também seria conveniente estas empresas de caça serem sujeitas a uma séria vigilância fiscal devido à facilidade com que fogem ao fisco e até aos casos de lavagem de dinheiro…)
Alguns ninhos das espécies de aves de rapina mais ameaçadas também carecem de um programa de monitorização permanente.

«O amor inteligente, simultaneamente cordial, ao campo, é um dos mais refinados produtos da civilização e da cultura. Quem verdadeiramente ama a natureza nela não vê peças de caça.» – Miguel Unamuno

«Existe uma diferença fundamental entre animais a preço e apreço pelos animais. O apreço é incompatível com tornar vítimas os objectos queridos.»- Carlos Herrera

« Quando um homem mata um tigre, chama-se a isso “desporto”; quando um tigre mata um homem chama-se a isso ferocidade.» - George Bernard Shaw

A caça, nas nossas latitudes, tornou-se numa caricatura grotesca e perversa de uma actividade que outrora contribuiu não só para a mera sobrevivência da nossa espécie, mas também para o nosso desenvolvimento físico, intelectual e social.
* “Santuários naturais”, saberemos mesmo o que isso significa? Os conhecimentos científicos, a viabilidade económica e a identidade cultural poderão dispensar os vínculos espirituais? Estou convicto de que não.
O capitalismo e o industrialismo matam a espiritualidade que nos une, ou deveria unir, à natureza. Creio que a Índia é o país que, na actualidade, esse conflito atinge as proporções mais dramáticas.
Uma vez que as “áreas protegidas” estão sob alçada do governo, a gestão das mesmas é, antes de mais, visto como um cargo político. Assim, os directores indigitados não são seleccionados tendo em conta primeiramente a sua capacidade técnica e muito menos as suas afinidades ambientalistas. No organograma dos órgãos que tutelam as “áreas
protegidas” , até as ramificações mais modestas e periféricas são internamente investigadas quanto às suas eventuais ligações ao movimento ecologista. Não se admitem “fundamentalistas” numa instituição de respeito e muito menos se lhes dá um poleiro nos seus quadros! Apesar da displicência, incompetência e compadrio reinantes; da falta de “amor à camisola”; da carência de meios técnicos e até de formação adequada, em abono da verdade, devo dizer que o ICN conta com alguns profissionais de grande valor, cujos méritos deveriam ser melhor reconhecidos e aproveitados.
Os cânones de gestão tem sido transformar as “ áreas protegidas” em santuários insularizados - que nem sequer em teoria são preservados -, enquanto o restante território está a saque. tal como a paisagem urbana se vai transformando em ilhas de riqueza rodeadas por um mar de pobreza caótica e insustentável.
Nesta época de realidades virtuais, em que o divertimento é um luxo, a tendência é para transformar as “áreas protegidas”e outras áreas naturais com grande interesse ecológico-paisagístico em parques temáticos; um género de Disneylandias (ou disney- lendias?) verdes para onde confluam, durante os seus “tempos livres”, os citadinos em busca de alívio para o stress.
E lá vão eles - multicoloridos, se se deslocam em bicicletas de montanha ou em motas; vestidos ao melhor estilo Coronel Tapioca fantasiando estarem aparticipar num safari hollywoodesco ou num Camel Trophy, enquanto conduzem os seus jipes (de onde mal saem) por caminhos velhos (geralmente erosionadobarreiras, partindo calçadas e degraus construídos com imenso esforço há várias gerações e avançando porlinhas d'água...), apreciando a "floresta" (o mais certo é tratar-se deeucaliptais ou acaciais...) a caminho do restaurante de “comida típica”.atentem na terminologia usada pelas empresas, associações e desportistasindividuais que exploram certos atractivos paisagísticos, referindo-se a estes como "terreno de jogos". Mas como estes são incapazes de deixar de equacionar a rentabilidade máxima do seu tempo e do seu dinheiro, ao invés de serem instruídos a adaptarem-se aos ritmos da natureza silvestre, as infra estruturas dos parques tendem a orientar-se a tornarem-se extensões de estilo de vida urbano-industrial dos turistas. (Até os guardas fogem de viver no campo!) Assim, põe-se à disposição dos visitantes uma panóplia de jogos e de desportos radicais (frequentemente referidos como “desportos que libertam a alma”), quais acendalhas de adrenalina destinadas ao avivamento imediato dos seus fogos interiores que o sedentarismo, o tédio e a resignação amoucada quase extinguiu.
A Rede Natura 2000 pretende proteger a biodiversiade dos ecossistemas mais importantes de cada Estado da EU . Quando estes ecossistemas representativos ficam fora das “áreas protegidas” beneficiam de outras figuras legais de protecção (embora, mesmo no papel, se mantenha a confusão entre os estatutos das Zonas Especiais de Conservação e as Zonas de Protecção Especial), que se espera sejam contempladas e respeitadas (vá lá, tentem não se rir, até porque não dá jeito nenhum ler com os olhos lacrimejantes) pelos Planos Directores Municipais. Para já, ainda nem sequer viu a luz do dia o anunciado “Plano Sectorial Global”, que defina estratégias muito concretas e realistas para tão boas intenções. Entretanto, as áreas da Rede Natura 2000 vão sendo pejadas de parques eólicos, atravessadas por auto-estradas e vias rápidas, submersas por barragens inúteis, esventradas por pedreiras, cimentadas por empreendimentos turísticos,…

Rede natura (RN) - A ausência de Planos Estratégicos transformou a R N numa simpática lista de intenções que os autarcas e a falta de coragem e força política do Ministério do Ambiente converteram num nado morto.
Agora o governo (de Durão Barroso/ Santana Lopes) tentou entregar a gestão da Reserva Agrícola Nacional (Ran) e da Reserva Ecológica Nacional (Ren) às autarquias . A Ran E a Ren São instrumentos indispensáveis de ordenamento do território que deverão ter uma gestão nacional coerente e firme, não podendo ser deixadas à exclusiva gestão das autarquias, pois os poderes que as autarquias servem estão expectantes como abutres prontos a estraçalhar um animal abatido por predadores mais fortes. A transferência de competências destinada a abolir quaisquer estatutos e mecanismos de protecção do nosso património natural foi ao ponto de pretenderem que as “áreas protegidas” ficassem sob tutela da secretaria de Estado das Florestas (os tais que adoram eucaliptos e caça…).

«««««»»»»» O chumbo é um metal pesado extremamente tóxico, susceptível de entrar na cadeia trófica e afecta com gravidade, ou mesmo matar, os seres vivos - incluindo ohomem!Os alquimistas associavam este metal ao planeta Saturno, pelo que se designa porsaturnismo as intoxicações agudas que provoca nos humanos. Nos restanteanimais essa enfermidade é conhecida como plumbismo.Como elemento químico, o chumbo não intervém em nenhum processo metabóliconas reacções bioquímicas dos organismos vivos. Pelo contrário, é deelevada toxicidade, afectando principalmente os sistemas digestivo, nervoso esanguíneo. É ainda um antagonista químico do cálcio nas moléculas queformam as células ósseas e nervosas
Segundo análises (efectuadas em 1965) de gelo da Gronelândia, asactuais concentrações de chumbo (causado pela poluição atmosférica) são400 vezes superiores às verificadas no ano de 800 antes de Cristo. Estudoscomplementares indicam que a quantidade de chumbo acumulado nos esqueletos dosnorte-americanos é 500 vezes superior à dos primeiros seres humanos.Felizmente, devido às medidas aplicada ao sector dos combustíveis automóveis,a situação tem vindo a melhorar significativamente. Podendo ainda absorve-lo nas tintas (mesmo tratando-se de velhos fragmentos que frequentemente são ingeridos por bebés) e, actualmente em menor medida, através das canalizações antigas.As crianças (devido ao seu metabolismo mais acelerado, à maior actividadefísica e à maior quantidade de ar que respiram em relação ao seu pesocorporal) absorvem pelo menos o dobro de chumbo que os adultos.São muitos os efeitospatogénicos do chumbo no nosso organismo, com destaque para as disfunções natransmissão nervosa do sistema auditivo; ); deficiências no sistemaimunológico, na formação de sangue, e na absorção de ferro, cálcio efósforo; lesões nos rins; infecções na apêndice (apendicitis aguda);diminuição das faculdades cognitivas e de crescimento. Vários estudosapontam para que as crianças cujos pais vivem em grandes meios urbanos, e, como tal, respiram grandes quantidades de chumbo proveniente dos escapes dos veículos motorizados, ao nascerem já apresentam níveis de chumbo no sangue superiores aos máximos recomendados pela Organização Mundial de Saúde(OMS).Essas crianças urbanas estão a ficar menos inteligentes, mais propensas a depressões e têm um sistema imunitário muito fraco, sendo especialmente vulneráveis a patologias respiratórias .Segundo a OMS, se fossem cumpridos os parâmetros mínimos “impostos”pela U.E. referentes à qualidade do ar, no “velho continente” poderiam ser salvas anualmente cinco mil crianças. (A propósito, Portugal foi recentemente processado pela U.E. por não ter um plano de redução dos poluentes atmosféricos.Todas as espécies, animais e vegetais, encontram-se expostas a este perigosos metal pesado que tem sido largamente utilizado pelo homem desde há séculos, embora nunca de forma tão grave como no último século. E libertamo-lo para o ambiente através da combustão da gasolina (problema que actualmente tem beneficiado de medidas paliativas), dos resíduos das minas de chumbo, de vários tipos de indústrias, com destaque para a produção e a utilização de tintas, e merece ainda destaque, pela negativa, as actividades da caça e da pesca.O chumbo é, juntamente com os pesticidas e as manchas de crude, uma dasprincipais causas de morte por envenenamento das aves aquáticas, que o ingereminocentemente enquanto debicam os solos contaminados, pois, como não têmdentes para mastigar os alimentos, necessitam da ajuda de pedrinhas que actuem como aparelho triturador nas suas moelas. Aí, por erosão mecânica e atacado pelos sucos gástricos, o chumbo erosiona-se rapidamente e acaba por ser absorvido pelo tubo digestivo e posteriormente distribuído pelo sistema circulatório a todas as células dos indivíduos afectados e alojando-se nos tecidos dos órgãos vitais.
Ainda não existem estudos sobre esta problemática em Portugal, pelo que temos que nos basear na realidade da vizinha Espanha, em que se calcula que mais de 10 000 toneladas/ano de chumbo são lançados ao meio ambiente devido à actividade cinegética. Em Espanha existem 1 300 000 caçadores e em Portugal não chegam aos 250 000. São 7 milhões em toda a União Europeia, o que corresponde a um mínimo de 30 000 toneladas/ano; a nível mundial calculam-se que sejam 100 000 toneladas/ano. Os pesos e alguns anzóis utilizados na pescatambém são feitos de chumbo. Provocam a morte por intoxicação a pelo menos 50 000 aves, na sua maioria aquáticas e rapinas. O condor da Califórnia chegou a extinguir-se na natureza devido ao plumbismo. (Mesmo quando os poucos exemplares remanescentes eram capturados e sujeitos a hemodiálise periódica, passado pouco tempo da sua libertação já estavam outra vez envenenados...)
O plumbismo provoca uma deficiência imunológica nas aves, tornando-as muito mais susceptíveis a contraírem infecções bacterianas (como, por ex., aaspergiloso) e parasitoses. As aves afectadas manifestam graves problemas neurológicos (oque se traduz por disfunções motoras), ficando demasiado vulneráveis àpredação; como tal, são esses exemplares enfermos os mais caçados econsumidos. Alguns espécimes de aves podem não ficar tão intoxicados, mas, ainda assim, padecerem de deficiências imunológicas e de diminuição da fecundidade dos ovos.Vários países europeus, assim como os E.U.A., o Canadá, o México e aAustrália, já proibiram a utilização de munições de chumbo na caça àsaves aquáticas praticada em zonas húmidas. A Dinamarca e a Holanda chegaram mesmo a banir o chumbo de todas as actividades cinegéticas e desportivas. Como materiais alternativos ao chumbo poderão ser utilizados o aço, obismuto, a cerâmica, o estanho e uma liga de tungsteno e ferro. ( Mas é preciso Ter em consideração que o aço e o ferro são mais susceptíveis de provocar septicemias letais às aves ligeiramente feridas por este tipo de munição, do que o chumbo.)Na vizinha Espanha esta proibição foi decretada no ano de 2001, mas éaplicável somente às zonas húmidas que gozam de alguma figura de protecçãolegal. É um começo modesto e tardio, mas é melhor do que por cá sucede. OICN e a DGF tem-se manifestado no sentido de se tomarem medidas análogas naszonas húmidas e nos sítios da Rede Natura 2000, mas até agora não passou deconversa fiada.


A PEDAGOGIA APLICADA, rumo a uma Paideia alternativa e libertária
As actividades de recreio e lazer quando praticadas ao ar livre estimulam a imaginação, o salutar desenvolvimento físico e o convívio social – incluindo a aproximação das gerações -, sendo a natureza potencialmente “uma fonte inesgotável de afecto que desperta de forma espontânea a curiosidade inata e o interesse pelo sujeito” (Fernando Bernáldez, 1988). No caso específico das crianças e dos jovens, o comportamento exploratório e inventivo que lhes é característico pode e deve ser potencializado e orientado no sentido de estes desenvolverem uma responsabilidade afectiva para com o meio natural envolvente, e uma aproximação paulatina à metodologia científica. Para isso é indispensável que sejam tutorados por pessoas que nutram amor e respeito pelos mais novos e pela natureza, e que, ademais, sejam conscientes das suas responsabilidades como exemplos a seguir, tentando primar por uma conduta ambientalmente correcta em cada gesto do quotidiano (de acordo com compromissos possíveis, não professando o radicalismo das utopias inalcançáveis), devido apenas a imperativos de consciência, e não encenações auto-impostas, reféns de uma farsa “politicamente correcta”. Os educadores deverão sentir-se gratos pela oportunidade privilegiada que a interacção com os jovens contribui igualmente para o seu crescimento pessoal, através de estímulos da sensibilidade e da criatividade.
«Do contacto purificador com a natureza (...) surgem a expansão da fantasia, o enobrecimento das emoções, a dilatação do horizonte intelectual, a dignidade dos nossos gostos e o amor às coisas morais.»– Fernando Giner de los Ríos.

Os professores realmente comprometidos com a EA deverão ajudar a descobrir e a desenvolver as vocações naturais de cada aluno, numa atmosfera de protecção emocional e de felicidade. Para isso deverá prestar especial atenção e respeito às maneiras idiossincráticas de comunicação, organização de trabalho e assimilação dos conhecimentos dos seus educandos. . Quando as escolhas (livres e em conformidade com as suas apetências naturais) das crianças são respeitadas e encorajadas, a facilidade que demonstram na aprendizagem é surpreendente.

Desta forma, a par de uma atitude pessoal coerente com as teorias que ministradas, estará a dar bases sólidas para que os mais jovens aprendam também a amarem e respeitarem a diversidade étnico-cultural da “aldeia global”. As aulas de ética são tão importantes como as das artes, das ciências e de desporto. Convivência pluralista, solidária, pacífica e criativa é tanto uma fonte de inspiração como um prémio em si à generosidade sincera e à abnegação
(...)« Uma educação que ignore as dimensões ético-sociais e ambientaiscarece de fundamento e de legitimidade moral (...); é neste princípios evalores que qualquer processo formativo mostra as suas potencialidades para arealização pessoal , para o desenvolvimento integral das comunidades ou paraa obtenção de condições mais universais e duradoiras de bem-estar. Aindaque na sua determinação não se possa passar por alto pelas limitaçõesestruturais que impõem as circunstâncias económicas, geopolíticas,mediáticas, etc., que protegem, e inclusivamente aumentam, as desigualdadessociais instaladas na era da globalização, com os seus particulares processosde fragmentação, exploração, produção irresponsável e consumo exacerbado.» (Caride & Meira, 2001) Precisamos redescobrir o prazer inato da generosidade. Cientistas confirmaram que quando somos generosos o nosso cérebro inunda-se com um cocktail de químicos (normalmente a dopamina) destinados a fazer-nos sentir bem.

«Ninguém parece ter percebido ainda a riqueza da simpatia, da bondade e da generosidade alojadas na alma das crianças. O esforço de qualquer educação válida deveria ser o de libertar esse tesouro.» – Emma Goldman

Sem comentários: