Agricultura & Peste
Tenho conhecido muitos agricultores convencionais que se recusam a comer e a alimentar as suas famílias com os mesmos produtos que vendem. Reservadas para consumo da casa, têm outras hortas onde aplicam menos caldas de venenos.
Assim como há muitos agricultores que, jogando com várias vertentes do mercado conforme determinam as melhores margens de lucro do comércio especulativo, destinam parcelas dos seus terrenos para a produção “biológica” e, mesmo ao lado destas, continuam a espalhar todo o tipo de agroquímicos perigosos sobre as culturas.
Os pesticidas são copiosamente aplicados não apenas nas culturas agrícolas, mas também em relvados de moradias, campos de golfe e de futebol. A Audubon Society (EUA) estima que cerca de 7 milhões aves morrem envenenadas em consequências de pesticidas de uso doméstico, assim como aumentou imenso a incidência de cancros em
cães que habitualmente frequentam relvados onde são aplicados pesticidas.
A National Coalition Against the Misuse of Pesticides
Recentemente foi publicado (pelo National Pesticide Information Center)um estudo que consistiu em analisar o sangue de 110 crianças habitantes de grandes cidades norte americanas, procurando vestígios de pesticidas destinados à manutenção dos relvados. Concluiu-se que 99% dessas crianças apresentavam esse tipo de contaminação.
Em 1999 a ONG EPA divulgou que, dos 103.9 milhões de estado-unidenses que possuem moradia, 74% utiliza pesticidas. E a quantidade destes venenos para uso domésticos que são libertos para o ambiente aumentou 50% nos últimos 20 anos. A U.S. Geological Survey analisou as águas dos vinte maiores rios e aquíferos do país e constatou que consideráveis vestígios de pesticidas utilizados nos relvados e nos jardins estavam presentes em todas as análises.
Eu já trabalhei num centro de recuperação de animais silvestres não distava muito de um dos mais concorridos campos de golfe de Portugal. De lá com frequência provinham aves com sintomas de envenenamento e até com uma elevada taxa de más formações.
Mais uma vez demonstrando estar uns cinco séculos à frente do seu tempo, Leonardo da Vinci foi pioneiro na percepção de que os venenos são bioacumuláveis e de que podem afectar gravemente o nosso organismo quando administrados (em elevadas quantidades) às culturas agrícolas.
Devido ao uso generalizado dos agroquímicos (que são geralmente aplicados com absoluto desrespeito pelas mais elementares regras de segurança) no intenso combate que mantemos com os animais, as plantas e os fungos que interferem com as culturas agrícolas, diminuindo-lhes a produção pretendida, neste momento estamos muito longe de um possível equilíbrio salutar entre as actividades humanas no meio rural e o mundo natural. As consequências nefastas dos agroquímicos não se manifestam só nos seres silvestres; a saúde do próprio Homem e o seu património genético estão em sério perigo!
Está provado que os pesticidas e certos aditivos alimentares estão na origem de doenças degenerativas, o que inclui vários tipos de cancros (ex.: da próstata, dos testículos, dos ovários e das mamas). Além dos efeitos cancerígenas e mutagénicos, têm a capacidade de danificar os sistemas endocrino, imunológico e reprodutor de muitos animais, incluindo o homem. Tais substâncias são susceptíveis de provocar alterações no sistema hormonal, pois muitas delas comportam-se no organismo humano como hormonas femininas. Esta é a causa mais provável pela diminuição da fertilidade masculina (até 50% desde 1938) nos países industrializados.(Ainda assim, mais de 80 milhões de pessoas nascem todos os anos…) Também são susceptíveis de provocarem gravidezes ectópicas, criptorquias, hipospadias e desequilíbrios nos nascimentos, em favor do sexo feminino.
Em França apurou-se que os agricultores franceses são nove vezes maisafectados por cancros no cérebro do que o resto dos seus compatriotas.
Os agricultores convencionais, ao se exporem com maior frequência e intensidade aos pesticidas incorrem num risco seis vezes superior de contraírem cancro do que os “agricultores biológicos”, sendo também estes últimos que sofrem menos de problemas de infertilidade, segundo a revista médica “The Lancet” (Vol. 343, 1994)
Na Califórnia a taxa de abortos espontâneos duplicou nos últimos trinta anos, e as más formações congénitas triplicaram. A OMS lança o alarme de que, pelo menos, 200 mil crianças morrem anualmente de cancro.
Dez anos antes já a Universidade de Córdoba tinha efectuado outro estudo que apontava o facto alarmante de o leite materno das espanholas estar de tal modo contaminado por pesticidas que, se tivesse que cumprir as normas estipuladas para a comercialização do leite de vaca, seria retirado do mercado!
De referir ainda que, segundo uma recente investigação realizada pela Universidade de Wisconsin (cujos resultados foram publicados na revista Toxical and Industrial Health) , os bebés expostos aos pesticidas durante a gestação, ou quando têm poucos anos de vida, sofrem alterações de comportamento e atrasos motores e intelectuais, que se manifestam, por exemplo, na pérdida da habilidade para desenhar, para desportos, bem como em comportamentos agressivos. O estudo indica ainda que os pesticidas alteram a produção de hormonas da tiróide, que controlam a maturidade cerebral na fase fetal.
Estudos combinados entre etólogos e tóxicologistas demonstraram a relação entre os pesticida e o comportamento animal. Por exemplo, andorinhas machos contaminadas com doses mínimas de DDT, optaram pela abstinência sexual. Outros machos de tritões já não reagem às feromonas das suas fêmeas. Além de aberrantes mutações fisiológicas
(ex.: caracóis das rias galegas, apesar de serem fêmeas, recentemente desenvolveram pénis) e doenças, as disfunções hormonais provocadas por químicos liberados pelo homem estão na origem de comportamentos insanos.
Arriscando abordar um tema extremamente delicado e polémico (quase tabu), cada vez há mais evidências que as substâncias químicas que se vão acumulando nos nossos corpos e interferindo negativamente na nossa saúde e no nosso legado genético, também contribuem para determinar as nossas orientações sexuais. No caso específico dos terríveis PCBs (policlorobencenos), um estudo recente levado a cabo na Holanda, deixou claro a correlação entre os elevados níveis desses químicos nos corpos de vários meninos e os seus comportamentos afeminados…
A orientação sexual é fortemente determinada por factores bioquímicos inscritos nos nossos códigos genéticos, e estes estão sob influência mutagénica de muitos factores ambientais, que poderão ser ingestão (pelas grávidas) de produtos de síntese química, incluindo alguns medicamentos. (Lee Ellis da Universidade de Minot State, EUA)
A Agência Federal de Protecção do Ambiente (EPA) sustenta que nos E.U.A. mais de um milhão de crianças ingerem diariamente quantidades de organo-fosfatos (pesticidas muito perigosos cujo principal efeito é impedir as transmissões nervosas, acabando por destruir o sistema nervoso central) dez vezes superiores aos que a Food and Drug Administration (FDA) estabeleceu como "fasquia de segurança". Embora nesse ponto o Prof. Frederick Vom Saal (biólogo docente na Universidade do Missouri, EUA) seja peremptório: "as informações de que já dispomos mostram claramente que não existe uma quantidade mínima abaixo da qual estes produtos não tenham efeitos nocivos (in Sciences et Avenir, Agosto de 1997)Ainda hoje estamos a ingerir organoclorados libertos no ambiente há três ou quatro décadas. «Na realidade, conhecemos mal o comportamento dos organoclorados no ecossistema. O Homem é um aprendiz de feiticeiro e estes produtos são como o Djinn, o espírito das “Mil e uma noites”: uma vez livre, ele escapa a todo o controlo. No entanto, uma coisa é certa: é a sua distribuição à escala planetária, desde os gelos polares até aos lagos africanos.» (Mohamed Bouguerra, 1997)
O Instituto Federal Suíço para as Ciências e a Tecnologia, ao analisar (no ano passado) a água da chuva na Europa Central, chegou à conclusão de que esta já não é potável por conter excesso de pesticidas e de partículas tóxicas provenientes do tráfego rodoviário!...
Quase tudo o que hoje comemos e bebemos está contaminado com pesticidas. Ao mesmo tempo que muitos insectos tidos como pragas agrícolas vão ganhando mais resistências aos pesticidas, a saúde e o património genético humanos vão se degradando de modo preocupante. Nos últimos 40 anos, o número de casos de cancros infantis aumentou dez vezes e a fertilidade masculina baixou uns 50%. De resto, os pesticidas de síntese química nem sequer resolveram o problema das pragas agrícolas – antes pelo contrário. Segundo dados da FAO, em 1965, vinte anos após o início do actual modelo de agricultura intensiva, estavam registadas 182 pragas agrícolas; em 1977 esse número já era de 364; e actualmente o número de insectos resistentes aos biocidas ultrapassam as 500 espécies. Em 1945, as perdas causadas pelas pragas atingiam 7% das colheitas; em 1989 já afectavam 13%.
A fome sempre acompanhou a história da humanidade; mas decorria de tragédias pontuais (guerras, reveses climatéricos, exaustação de recursos naturais, pragas agrícolas). No século XX tornou-se crónica. Esta situação aviltante e vergonhosa deve-se sobretudo ao gravíssimo desequilíbrio existente na distribuição e usufruto das riquezas. A minoritária população do chamado “Primeiro Mundo” não só consome em demasia os recursos naturais, hipotecando o futuro, como sustém artifícios económicos que mantêm a maioria da população mundial numa situação de eternos endividados às instituições bancárias e de indigentes.
Tempos houve em que a alimentação humana era constituída por mais de sete mil espécies de plantas – sem contar as variedades agrícolas locais, das quais, segundo a FAO, todos os anos desaparecem umas 50 mil. Só no século XX perdemos 75% da diversidade genética das culturas agrícolas mais importantes; o número destas reduziu-se drasticamente a vinte. Cereais são apenas oito.
Deste modo, a uniformização genética das culturas agrícolas (e não só destas), imposta pelas empresas multinacionais, tende a pôr a humanidade numa situação de perigosa vulnerabilidade.
Já Charles Darwin, na sua obra revolucionária “ A Origem das Espécies”, referia que os campos de trigo que incluíam diferentes variedades de grãos eram menos sujeitos a pragas, e, logo, mais produtivos do que os campos plantados com uma única variedade.
A agricultura tradicional baseia-se num mosaico de culturas; é um eficiente e sustentável sistema biológico de usos múltiplos, assim como possui um carácter vernacular pluricultural.
Quando em 1845 a produção agrícola da Irlanda praticamente se resumia à monocultura da batatas, o surgimento de uma praga provocou a morte por desnutrição de milhões de pessoas. Muitas, para escaparem à terrível fome, foram forçadas a emigrar. Em tempos mais recentes, mais concretamente em 1972, a mãe-natureza admoestou-nos com uma epidemia que devastou grande parte da produção de milho nos E.U.A. .
Na corrida contra o tempo, nalguns países- nos quais se inclui Portugal -foram criados bancos de germoplasma vegetal (um género de bancos de sementes) que procuram justamente preservar a diversidade das estirpes agrícolastradicionais.A Península Ibérica há muito que granjeou a fama de ser uma região extremamente rica em cucurbitáceas (família da qual fazem parte as melancias, os melões, ospepinos, as abóboras,...). Não obstante a sua grande importância económica e cultural, desde a adesão à União Europeia por parte dos irmãos ibéricos,perderam-se mais de 40% das variedades de melão.
Uma vez que são os grandes consórcios empresariais que controlam os monopólios dos alimentos transgénicos, não é difícil prever que irá aumentar o jugo exercido sobre os países pobres pelos países industrializados. Nesses países tenderá a aumentar a dependência de tecnologias que não dominam, a desvalorização das suas matérias-primas e a diminuição da sua biodiversidade.
Entre 1945 e 1989, a potência biocida dos agroquímicos foi multiplicada por 30. Actualmente, espera-se que as novas variedades de organismos transgénicos tenham a capacidade de suportar agroquímicos tóxicos até 300% mais que as variedades tradicionais. Obviamente, isso implicará um aumento proporcional na dose diária de químicos tóxicos que ingerimos. (Estudos levados a cabo por universidades e que visaram mais de 8200 campos de cultura de soja gm mostrou que os agricultores implicados usam de duas a cinco vezes mais pesticidas do que é aplicado nas variedades convencionais. Na realidade, pelo menos 70% das culturas gm utilizadas em 1999 foram concebidas a fim de necessitarem de altas doses de pesticidas.)
Não nos podemos esquecer que 75% dos agroprodutos GM foram desenvolvidos parasuportarem doses elevadíssimas de pesticidas (da mesma marca que as sementesGM); 17% são capazes de produzir as suas próprias toxinas insecticidas e 8%possuem ambas as capacidades (Jeffrey Smith, 05)
Significará também uma prática agrícola ainda mais intensiva, com a consequente exaustão e inquinamento dos solos e da água[1]. Mais, e pior: ninguém pode prever que consequências terão os alimentos transgénicos para a saúde pública (A molécula de ADN é simplesmente demasiado complexa para os conhecimentos etecnologias actualmente disponíveis.) e para a natureza selvagem (possibilidade real de polinização cruzada com os cultivos convencionais), nem ninguém nos perguntou se estamos interessados em servir de cobaias nesta mega-experiência à escala planetária, em que mais uma vez o prosaísmo mercantilista, transvestido de altruísta, se sobrepõe ao princípio da precaução sanitária e ambiental. Para já, sabemos que o número de pessoas alérgicas aos alimentos transgénicos (a soja, entre outros) aumenta vertiginosamente…
Nos EUA, desde que, em 1994, os alimentos transgénicos foram colocados nas prateleiras dos supermercados (estando, uma década depois, presente em pelo menos 70% dos alimentos), multiplicaram-se por 10 os disturbios alimentares, tais como as alergias… Será uma coincidência inocente?
Soja vertiginosamente))A soja GM proveniente dos EUA conquistou o mercado britânico em 1998. (A sojanatural foi misturada com a variedade GM denominada Roundup Ready, sem que arespectiva rotulagem desse conta disso.) em 1999 os cientistas afectos ao YorkLaboratory concluíram que as alergias à soja tinham aumentado em 50% desde oano anterior. Algumas dessas reacções alérgicas tornaram-se crónicascausando grandes transtornos aos afectados.Logo, a Associação Médica Inglesa pediu ao governo para banir os alimentos GMaté que fossem efectuados estudos mais aprofundados sobre a sua salubridade.Ainda não há certezas quanto aos motivos que levam muitos organismos (nãoapenas humanos ) a reagir mal quando ingerem soja GM. Uma das possíveisexplicações relaciona-se com a acção da substância inibidora Trypsin. Estatambém se encontra presente na soja natural e está identificada comosusceptível de causar reacções alérgicas. Ora, a soja GM tem quantidadeselevadíssimas de Trypsin. Estamos apenas a dar os primeiros passos no desvendar dasconsequências perniciosas dos OGM, mas o pouco que sabemos é suficientementealarmante como para banirmos de imediato estes perigosos embustes contra-natura!
Desde 2002 que, até nos mercados de aldeias, praticamente deixei de encontrar alhos convencionais. Os vendedores alertam para que essa nova variedade de alhos não germinará, caso a tentem plantar. É obviamente transgénico. Já comi dessas porcarias algumas vezes e sempre me provocou problemas de digestão; uma má disposição que dura várias horas e, por vezes, resulta em vómitos. A longo prazo, mal faço ideia do que me pode provocar…Nunca fui a um centro de saúde queixar-me disso e suponho que não sou uma caso único. É quase certo que a maioria das pessoas que sofre deste género de distúrbios não os associa aos transgénicos. Nem os médicos indicariam para aí o seu diagnóstico. Já falei com alguns e todos me responderam que era impossível provar as minhas desconfianças, não me levando minimamente a sério. Assim, os estudos que pretendem provar que os transgénicos são seguros só porque não há registo nos hospitais e centros de saúde portugueses de pacientes identificados com intoxicações alimentares devido aos OGM, são uma fraude.
Os supermercados são o reflexo do nosso estado de infantilidade e de domesticação embrutecedora. Deixamo-nos deslumbrar pelas cores e formas da futilidade comercial. O marketing até nos proporciona os serviços de aconselhamento especializado, sem o qual, aparentemente, não poderíamos ser adultos funcionais. Nem Darwin poderia prever que, por alguma "compensação evolutiva", o surgimento do Estado, do capital, da indústria, das corporações, do marketing e dos seus "especialistas" privar-nos-ia de bom senso, do sentido de responsabilidade social e ambiental e do gosto pela independência e pela autenticidade. A propósito, Konrad Lorenz disse que «os consumidores actuais são os piores imbecis, porque não procuram a qualidade». Preferimos ser bem enganados pelo aspecto.
A multiplicidade dos produtos alimentares expostos é pura ilusão. A maioria desses produtos baseiam-se nos mesmo ingredientes e são produzidos de forma insalubre. Essa aparente abundância não é nada comparada com as variedades agrorregionais que a agricultura industrial e as grandes superfícies comerciais estão (propositadamente) a extinguir.Portamo-nos como putos desorientados que nada querem saber sobre a composição dos bolos desde que estes apresentem uma ampla variedade de decorações e lhes hiper estimulem da mesma maneira as pupilas gustativas (edulcorantes e outros intensificadores de sabor alastraram-se por todos os alimentos industriais, estando presentes até na água engarrafada!). E compramos uma ingente quantidade de lixo - algum dele é considerado comestível, o resto, mais cedo ou mais tarde, acumular-se-á nos nossos corpos, por terem contaminado a água, o ar, o solo e os outros seres de que os alimentamos. A lista dos ingredientes nada nos diz sobre os pesticidas que utilizam e quais os seus efeitos para a nossa saúde. Recorrem a códigos e a eufemismos pseudo técnicos indecifráveis para a minoria que se dá ao trabalho de os ler. (Ex.: nunca encontrei nas listas de ingredientes do pão alguma referência sobre o químico que utilizam para branquear a farinha, nem aos níveis de acrilamida, nem ao fungicida que aplicado sobre o centeio, e não posso deixar de me indignar por as "autoridades competentes" e a própria DECO deixar que as panificadoras englobem/mascarem uma série de substâncias potencialmente cancerígenas com/sob a designação vaga de "melhorantes", como se fosse genuinamente um termo técnico digno de uma lista de ingredientes! E já agora, em relação aos aromas artificiais, designá-los de “idênticos aos naturais” é gozar com os consumidores?!)
Para mais informações, contactem a Agrobio
ou ainda,
www.pangea.org/unescopav
www.vidasana.org
http://www.aepla/
Paulo Barreiros
Sem comentários:
Enviar um comentário