quinta-feira, dezembro 25, 2008

VIII cont.)
O cristianismo é produto de tendências naturais de uma época; aproveitadas espertamente pelos líderes do cristianismo. O judeu pobre e oprimido não tendo para quem apelar, passou a esperar de Deus aquilo que o seu semelhante lhe negava. O sacerdote valendo-se do deplorável estado de espírito de uma população faminta, e sobretudo desesperançada, ressuscitou a um, dentre os velhos deuses, para restaurar a esperança do povo judeu. E assim, surgiu mais um mito solar, mais um deus com todos os atributos divinos, tal como os que antecederam. O novo deus solar em questão é Jesus Cristo.

Conforme temos dito repetidas vezes, o cristianismo tomou por empréstimo tudo quanto se fez necessário à sua formação Assim, todos os ensinamentos atribuídos a Cristo, foram copiados dos povos com os quais os judeus tiveram convivência. A sua moral, a moral que Cristo teria ensinado, aprendeu-a com os filósofos que o antecederam em muitos Séculos.

De sorte que não há inovações em nenhum setor ou aspecto do cristianismo. Antigos povos, milênios antes adoraram seus deuses semelhantemente.

Dentre as máximas adotadas pelo cristianismo, comentaremos a seguinte: 'Não faças aos outros o que não queres que a ti seja feito". Este ensinamento não teria partido de Jesus, conforme pretendem os cristãos, não sendo sequer uma máxima cristã, originariamente.

Encontrá-la-emos em Confúcio, e ainda no bhramanismo, no budismo e no mazdeismo, fundado por Zoroastro. Era uma orientação filosófica e religiosa, adotada pelos hindus.

A originalidade do cristianismo, consistiu apenas em criar as penas eternas, um absurdo desumano e irracional. Enquanto isso, o mazdeismo cria a possibilidade de regeneração do pior bandido, admitindo mesmo a sua plena reintegração no seio da sociedade.

O perdão aos inimigos, foi muito antes de Jesus, aconselhado por Pitágoras.

Os egípcios religiosos praticavam uma moral muito elevada. No "Livro dos Mortos" encontramos a confissão negativa, de acordo com a qual, a alma do morto comparecia ante o tribunal de Osiris e proferia em alta voz as suas más ações.

O sentimento de igualdade e fraternidade para com os homens, foi ensinado por Filon. O cristianismo adotou os seus ensinamentos, atribuindo-os a Jesus. São de Filon, as seguintes palavras: "Os que exaltam as grandezas do mundo como sendo um bem, devem ser reprimidos." "A distinção humana está na inteligência e na justiça, embora partam do nosso escravo, comprado com o nosso dinheiro." "Porque hás de ser sempre orgulhoso e te achares superior aos outros?" "Quem te trouxe ao mundo? Nu vieste nu morrerás, não recebendo de Deus senão o tempo entre o nascimento e a morte, para que o apliques na concórdia e na justiça repudiando todos os vícios e todas as qualidades que tornam o homem um animal". "A boa vontade e o amor entre os homens são a fonte de todos os bens que podem existir". Como vemos, não há nada de novo no cristianismo.

Platão salientou a felicidade que existe na prática da virtude. Ensinou a tolerância à injúria e aos maus tratos, e condenou o suicídio. Recomendou o humanismo, a castidade e o pudor, e condenou a volúpia, a vingança e o apego demasiado aos bens. Sua moral baseou-se na exaltação da alma, no desprezo dos sentidos e na vida contemplativa. O Padre Nosso foi copiado de Platão. Quem conhece bem a obra de Platão, percebe os traços comuns entre a mesma e o cristianismo. Filon inspirou-se em Platão, e a Igreja, na obra de Filon que helenizou o judaísmo.

Aristóteles afirmou que a comunidade repousa no amor e na justiça. Admitia a escravatura, mas libertou os seus escravos. Poderiam existir escravos, mas não a seu serviço. A comunidade deveria instruir a todos, independentemente da classe social, com o que ensinou o evangelho aos
Evangelhos.

A abolição do sacrifício sangrento não foi introduzida pelo cristianismo. Não lhe cabe tal mérito. Gélon, da Sicília, firmando a paz com os cartagineses, estipulou como condição a supressão do sacrifício de vidas animais aos seus deuses.

Sêneca aconselhava o domínio das paixões, a insensibilidade à dor e ao prazer. Recomendava igualmente a indulgência para com os escravos, dizendo que todos os homens são iguais. Referia-se ao céu como fazem os cristãos, afirmando que todos são filhos de um mesmo pai. Concebia como pátria, o universo. Os homens deveriam ajudarem-se e amarem-se mutuamente. Enquanto isso, o humanismo cristão limitou-se apenas aos irmãos de fé. O bem, visa somente a salvação da alma, o que é egoísmo, mas nunca humanismo. Sêneca manifestou-se contrário à pena de morte, o cristianismo ao contrario, é responsável por inúmera execuções. Admitia a tolerância mesmo em face da culpa. Ao invés de perseguir e punir, por que não persuadir, ensinar e converter?

Epícteto e Marco Aurélio foram bons professores dos cristãos. Os filósofos greco-romanos foram grandes mestres da moral cristã e da consolação, sem que para isto criassem empresas, negócios nem castas. O cristianismo existente antes de Jesus Cristo, já pregava a moral anterior ao martírio do Gôlgota. A moral cristã não veio de Jesus Cristo nem dos EvangeIhos, mas nasceu da tendência natural para o aperfeiçoamento do homem. Não fosse a destruição sistemática de antigas bibliotecas, determinada pelo clero no intuito de preservar os seus escusos interesses, hoje seria possível patentear com documentos à mão, que a moral anterior a cristã, era bem melhor do que esta, tendo-lhe servido de modelo. Assim, vê-se que a moral jamais foi patrimônio de castas ou de indivíduos, sendo uma lenta conquista da humanidade, com ou sem religião e mesmo contra ela. Por isso é que o mundo racionaliza-se continuamente; e avança sempre no sentido do seu aperfeiçoamento. A bondade humana independe da idéia religiosa. A razão ensina-nos o que devemos ao nosso meio social, independentemente da fé e da religião. Para justificar o aparecimento de Jesus, fez-se necessário recorrer a uma moral, que no entanto, já era um patrimônio da humanidade. Jesus nada mais foi do que a materialização de qualidades que já existiam. Por isso, mesmo em morai. Jesus foi ator e não autor. O cristianismo apenas sistematizou e industrializou essa velha moral, estabelecendo-a como um endoso comércio. A Igreja é responsável pela deturpação dessa moral. Havia a moral pela moral que foi substituída pela moral bíblica em que só se é bom para ganhar o céu.

Superpondo-se um grupo empresarialmente forte, extinguiu-se a moral individual.
Pesquisas recentes e estudos comparados, têm demonstrado que a mitologia judaico-cristã é bem anterior ao própriojudaísmo, quando se percebe que dogmas como o da imortalidade da alma, da ressurreição e do Verbo encarnado, são muito anteriores ao cristianismo.

A imortalidade da alma já era multimilenar quando os judeus foram levados cativos para a Babilônia.

Zoroastro ensinara, muito antes, ser a alma imortal, e que essa imortalidade seria produto de uma opção humana. O livre arbítrio levaria o homem a escolher uma vida que o levaria ou não à imortalidade. O erro e o mal produziriam a morte definitiva, a prática do bem, a imortalidade.

Do mesmo modo, na Ciropédia, bem anterior a Zoroastro, lê-se que Ciro, moribundo, disse: "Não creio que a alma que vive em um corpo mortal se extinga desde que saia dele, e que a capacidade de pensar desapareça apenas porque deixou o corpo que não tem como pensar por si
mesmo". Por outro lado, Einstein, pouco antes de morrer declarou não crer que algo sobrasse do ser vivo, após a morte.

Os egípcios, os hindus, os sumérios, os hititas e os fenícios criam na imortalidade da alma.

A ressurreição foi um dos fundamentos do Zend-Avesta. Zoroastro também ensinou que o fim do mundo seria precedido por um grande acontecimento a ser predito por profetas. Os persas tiveram os seus profetas que foram Ascedermani e Ascerdemat, os quais passaram à Bíblia sob os novos nomes de Enock e Elias, entidades míticas, como se vê. Desses mitos, surgiram o Talmud e os Evangelhos, o que mostra que em religião, a idéia original pertence à noite dos tempos.

A doutrina do Verbo já era antiquíssima no Egito. Deus teria gerado Kneph - a palavra, o Verbo - que é igual ao pai. Da união de Deus com o Verbo nasceu o fogo, a vida, Fta, a vida de todos os seres.

O monoteísmo e a Santíssima Trindade eram crenças muito antigas na Índia. Os deuses únicos e os deuses secundários são uma velha doutrina oriental. A religião greco-romana já possuía o seu Apoio e Zeus, acolitados por uma porção de deuses secundários. Essas velhas lendas deram origem ao Deus do cristianismo, com toda sua corte de santos e anjos. O politeísmo de há muito vinha caminhando para o monoteísmo. Os gregos já haviam concebido a idéia de um intermediário entre os homens e Júpiter, que era Apoio, tendo-se encarnado para redimir os homens.

Porfírio citou o seguinte oráculo de Serapis: "Deus é antes e depois e ao mesmo tempo, é o Verbo e o Espírito, como um e outro".

O mundo antigo cria em um Deus único, pai de todas as coisas, afirmou Máximo de Tiro. O povo então já dizia: Deus o sabe! Deus o quer! Deus o abençoe! Os oráculos só se referiam a Deus e não aos deuses.

Os apologistas do cristianismo, tais como Eusébio, Agostinho, Lactâncio, Justino, Atanásio e muitos outros, ensinavam que unidade de Deus era conhecida desde a mais remota antigüidade. Os órficos, inclusive, admitiam-na.

Na Bíblia, ao ser traduzida para o grego e para o latim, o nome de Deus passou a ser muitas vezes Senhor, Dominus, para ficar conforme o nome do Deus-sol do mitraísmo.

O amor a Deus foi a base de todas as religiões copiadas pelo judaísmo. Isaías falava de Deus como Pai Celestial. Ezequiel dizia que Deus não queria a morte do pecador, preferindo antes a sua conversão. O justo viverá eternamente pela fé. São palavras de Habacuc, repetidas por Paulo em Gálatas, 3.2.

Como vimos, a doutrina do Verbo vem de Platão, tendo sido este o intermediário entre os metafísicos e os cristãos. Foi ele quem concebeu a idéia de separação do corpo da alma, e pôs aquele na dependência desta. Na sua opinião, a terra era o desterro da alma. Foi o criador do sistema filosófico da decadência moral do homem, fazendo dos sentidos uma ameaça, do mundo um mal, e da eternidade o delírio, o sonho.

Cícero e Sêneca tinham idéias cristãs, mas não conheceram a Jesus Cristo nem ao cristianismo. Agostinho leu as obras de Cícero e trocou o maniqueísmo pelo cristianismo. A Igreja procurou destruir as principais obras de Cícero e de Sêneca para que a posteridade não percebesse que eles não tinham sido cristãos, seguidores de Cristo, mas, apenas as suas idéias coincidiam com as que o cristianismo esposou.

O cristianismo nasceu da helenização do judaísmo. Os cristãos terapeutas abandonaram o judaísmo ortodoxo, porque este tinha posto de lado o culto nacional do templo e o sacrifício Pascal, retirando-se para uma vida contemplativa nos montes, longe dos homens e dos negócios. Estabeleceram uma sociedade comunal, considerando o casamento um apego à carne, um empecilho à salvação da alma, com o que proscreveram os principais prazeres da vida, exaltando o celibato e a pobreza, como os essênios, além de aconselhar a caridade.

Eusébio chamou aos terapeutas de cristãos sem Cristo. Para ele, um terapeuta era um autêntico cristão. Isto levou Strauss a escrever: "Os terapeutas, os essênios e os cristãos dão sempre muito o que pensar

A doutrina dos essênios, a moral dos terapeutas, a encarnação do Verbo, vinda do judaísmo helenizado, é o cristianismo de Filon. Desse modo, Filon foi criador do cristianismo, sem o saber. Ele refere-se ao Verbo nos termos da mitologia egípcia, sem contudo, mencionar a crença em Jesus Cristo.

Salomão fez da sabedoria divina a criação. O Livro da Sabedoria define a natureza desse principio intermediário, transformando o pensamento vago do rei judeu sobre a sabedoria da doutrina do Verbo.

Sirac, em "Eclesiástico", faz a doutrina do Verbo ser mais precisa: "A sabedoria vem de Deus, estando sempre com ele. Foi criada antes de todas as coisas. A voz da inteligência existe desde o principio. O Verbo de Deus no mais alto do céu, é a fonte da sabedora"! Filon disse que o Verbo se fizera humano. Segundo ele, Deus era infalível e inacessível a inteligência humana, não nos alcançando senão pela graça divina. Para ele ainda, o Verbo não era apenas a palavra, mas a imagem visível de Deus. O Verbo seria o Ungido do Senhor, o ideal da natureza, o Adão Celeste. É a doutrina da encarnação do Verbo, tomando a forma humana. O Verbo é o intermediário entre Deus e os homens. Diz ainda que o Verbo é o pão da vida. Por ai vemos que não foi o Cristo o criador do cristianismo, mas este é que o criou.

Clemente de Alexandria, Origenes ou Paulo, assim como os primeiros padres do cristianismo, jamais se referiram a Jesus Cristo como tendo sido um homem que tivesse caminhado do Horto ao Gólgota, mas tiveram-no apenas como o Verbo, conforme a doutrina de Platão e de Filon.

La Sagesse

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