III cont.)
A interpretação da Bíblia e da mitologia comparada, não resiste a uma confrontação com a história.
Flávio Josefo, Justo de Tiberíades, Filon de Alexandria, Tácito, Suetônio e Plínio, o Jovem, teriam feito em seus escritos, referências a Jesus Cristo. Todavia, tais escritos após serem submetidos a exames grafotécnicos, revelaram-se adulterados no todo ou em parte, para não se falar dos que foram totalmente destruídos. Além disso, as referências feitas a Crestus, Cristo ou Jesus, não são feitas exatamente a respeito do Cristo dos Cristãos. Seria mesmo difícil estabelecer qual o Cristo seguido pelos cristãos, visto que esse era um nome comum na Galiléia e Judéia.
Segundo Tácito, judeus e egípcios foram expulsos de Roma por formarem uma só e mística superstição cristã. As expulsões ocorreram duas vezes no tempo de Augusto e a terceira vez no governo de Tibério, no ano 19 desta era. Tais expulsões desmentem a existência de Jesus, porquanto, ocorreram quando ainda o nome de cristão aplicava-se a superstição judáico-egípcia, a qual se confundiu com o cristianismo.
Filon de Alexandria, apesar de ter contribuído poderosamente para a formação do cristianismo, seu testemunho é totalmente contrário a existência de Cristo. Filon havia escrito um tratado sobre o Bom Deus - Serapis - tratado este que foi destruído. Os evangelhos cristãos a ele muito se assemelham, e os falsificadores não hesitaram em atribuir as referências como sendo feitas a Cristo.
Os historiadores mostram que essa religião nasceu em Alexandria, e não em Roma ou Jerusalém. Fazem ver que ela nasceu das idéias de Filon que platonizando e helenizando o judaísmo, escreveu boa parte do Apocalipse. A mesma transformação que o cristianismo dera ao judaísmo ao introduzir-lhe o paganismo e a idolatria, Filon imprimira a essa crença, até então apenas terapeuta, dando-lhe feição grega, de cunho platônico.
Embora, tenha sido de certo modo o precursor do cristianismo, não deixou a menor prova de ter tomado conhecimento da existência de Jesus Cristo, o mago rabi, e isto é lógico porque o cristianismo só iria ser elaborado muito depois de sua morte.
Bastaria o silêncio de Filon para provar estarmos diante de uma nova criação mitológica, de cunho metafísico. Entretanto, escrevendo como cristão, os lançadores do cristianismo louvaram-se nas suas idéias e escritos. Tivesse Jesus realmente existido, jamais Filon deixaria de falar em seu nome, descreveria certamente sua vida miraculosa. Filon relata os principais acontecimentos de seu tempo, do judaísmo e de outras crenças, não mencionando, porém, nada sobre Jesus. Cita Pôncio Pilatos e sua atuação como Procurador da Judéia, mas, não se refere ao julgamento de Jesus a que ele teria presidido.
Fala igualmente dos essênios e de sua doutrina comuna dizendo tratar-se de uma seita judia, com mosteiro à margem do Jordão, perto de Jerusalém.
Quando no reinado de Calígula esteve em Roma defendendo os judeus, relata diversos acontecimentos da Palestina, mas não menciona nada a respeito de Jesus, seus feitos ou sua sorte e destino.
Filon que foi um dos judeus mais ilustres de seu tempo, e sempre esteve em dia com os acontecimentos jamais omitiria qualquer notícia acerca de Jesus, cuja existência se fosse verdadeira, teria abalado o mundo de então. Impossível admitir-se tal hipótese, portanto.
Por isso é que M. Dide fez ver que, diante do silêncio de homens extraordinários como Filon, os acontecimentos narrados pelos evangelistas não passam de pura fantasia religiosa. Seu silêncio é a sentença de morte da existência de Jesus.
O mesmo silêncio se estende aos apóstolos, assinala Emílio Bossi. Evidencia que tudo quanto está contido nos Evangelhos refere-se a personalidades irreais, ideais, sobrenaturais de inexistentes taumaturgos.
O silêncio de Filon e de outros se estende não apenas a Jesus, mas, também aos seus pretensos apóstolos, a José, a Maria, seus filhos e toda a sua família.
Flávio Josefo tendo nascido no ano 37 e escrevendo até 93 sobre judaísmo, cristianismo terapeuta, messias e Cristos, nada disse a respeito de Jesus Cristo.
Justo de Tiberíades, igualmente não fala em Jesus Cristo, conquanto houvesse escrito uma história dos judeus, indo de Moisés ao ano 50.
Ernest Renan em sua obra "Vie de Jesus" apesar de ter tentado biografar Jesus, reconhece o pesado silêncio que fizeram cair sobre o pretenso herói do cristianismo.
Os Gregos, os romanos e os indús dos séculos I e II, jamais ouviram falar na existência física de Jesus Cristo. Nenhum dos historiadores ou escritores, judeus ou romanos, os quais viveram ao tempo em que pretensamente teria vivido Jesus, ocupou-se dele expressamente. Nenhum dedicou-lhe atenção. Todos foram omissos quanto a qualquer movimento religioso ocorrido na Judéia, chefiado por Jesus.
A história não só contesta a tudo o que vem nos Evangelhos, como prova que os documentos em que a Igreja se baseou para formar o cristianismo foram todos inventados ou falsificados no todo ou parte, para esse fim.
A Igreja sempre dispôs de uma equipe de falsários, os quais dedicaram-se afanosamente a adulterar e falsificar os documentos antigos com o fim de pô-los de acordo com os seus cânones.
O piedoso e culto bispo de Cesaréia, Eusébio, como muitos outros tonsurados, receberam ordens papais para realizar modificações em Importantes papéis da época, adulterando-os e emendando-os segundo suas conveniências.
Graças a esses criminosos arranjos, a Igreja terminaria autenticando impunemente, sua novela religiosa sobre Jesus Cristo, sua família, seus discípulos e o seu tempo.
Conan Doyle imortalizou o seu personagem, Sherlock Holmes, assim como Goethe ao seu Werther. Deram-lhes vida e movimento como se fossem pessoas reais, de carne e ossos. Muitos outros escritores, imortalizaram-se também através de suas obras, contudo, sempre ficou patente serem elas pura ficção, sem qualquer elo que as ligue com a vida real. Produzem um trabalho honesto e honrado aqueles que assim procedem, ao contrário daqueles que deturpam os trabalhos assinados por eminentes escritores, com o objetivo premeditado de iludir a boa fé do próximo. E procedimento que além de criminoso, revela a incapacidade intelectual daqueles que precisam de se valer de tais meios, para alcançar seus escusos objetivos.
Berson, citado por Jean Guitton em "Jesus", disse que a inigualável humildade de Jesus dispensaria a historicidade; entretanto, erigiu os Evangelhos como documento indiscutível como prova, o que a ciência histórica de hoje rejeita. Só depois de muito entrado em anos é que se tornaria indiferente para com a pirracenta crença religiosa dos seus antepassados, como aconteceu com mentes excepcionalmente cultas, tornadas ilustres pelo saber e pelo conhecimento e não apenas pelo dinheiro.
Diante da história, do conhecimento racional e científico que presidem aos atos da vida humana, muitos já se convenceram da primária e irreal origem do cristianismo, o qual nada mais é do que uma síntese do judaísmo com o paganismo e a idolatria greco-romana do século I.
Graças ao trabalho de notáveis mestre de Filosofia e Teologia da Escola de Tubíngen, na Alemanha, ficou provado que os Evangelhos e mesmo toda a Bíblia, não possuem valor histórico, pondo-se em dúvida consequentemente, tudo quanto a Igreja impôs como verdade sobre Jesus Cristo. Tudo o que consta dos Evangelhos e do Novo Testamento, São apenas arranjos, adaptações e ficções, como o próprio Jesus Cristo o foi.
Através da pesquisa histórica e de exames grafotécnicos ficou evidenciado que os escritos acima referidos são apócrifos. De sorte que não servindo como documentos autênticos devem ser rejeitados pela ciência.
Jean Guitton diz que o problema de Jesus. varia e acordo com o ângulo sob o qual seja examinado: histórico, filosófico ou teológico.
A história exige provas reais, segundo as quais se evidenciem os movimentos da pessoa ou do herói no palco da vida humana, praticando todos os atos a ela concernentes, em todos os seus altos e baixos.
Pierre Couchoud, igualmente citado por Guitton, sendo médico e filósofo, considerou Jesus como tendo sido "a maior existência que já houve, o maior habitante da terra", entretanto. acrescentou: "não existiu no sentido histórico da palavra: não nasceu. não sofreu sob Pôncio Pilatos, sendo tudo uma fabulação mítica".
A passagem de Jesus pela terra, seria o milagre dos milagres: "o continente, embora fosse o menor, contivera o conteúdo, que era o maior!"
A Filosofia quer fatos para examinar e explicar à luz da razão, generalízando-o. No que se refere à existência de Jesus, é patente a impossibilidade de generalização, porquanto, na qualidade de mito, como os milhares que o antecederam, sua personalidade é apenas fictícia, por conseguinte, nenhum material pode oferecer à Filosofia para ser sistematizado, aprofundado ou explicado.
No tocante à Teologia cabe-lhe apenas a parte doutrinária acerca das coisas divinas A ela, interessa apenas incutir nas mentes os seus princípios, sem contudo, procurar neles o que possa existir de concreto, o que inclusive seria contrário aos interesses materiais, daqueles aos quais aproveita a religião.
Os Enciclopedistas mostraram como eram tolos e irracionais os dogmas da Igreja, lembrando ainda que ela era um dos mais fortes pilares do feudalismo escravocrata.
Voltaire mostrou as coincidências entre o Evangelho de João e os escritos de Filon, lembrando ter sido ele um filósofo grego de ascendência judia, cujo pai, um outro judeu culto, teria sido contemporâneo de Jesus, se ele tivesse realmente existido. A filosofia religiosa de Filon era a mesma do cristianismo, tanto que inicialmente foi cogitada sua inclusão entre os fundadores da nova crença. Contudo, após exame rigoroso de sua obra, foram encontradas idéias opostas aos interesses materiais dos lideres cristãos da época.
Devemos aos Enciclopedistas, bem como a Voltaire, o incentivo para que muitos pensadores futuros, pudessem desenvolver um trabalho livre, na pesquisa da verdade. As convicções de Voltaire, são o fruto de profundo estudo das obras de Filon.
Os racionalistas, posteriormente, servindo-se de seus escritos, concluíram que a Igreja criou seus dogmas de acordo com a lenda e o mito, impondo-os a ferro e fogo.
Bauer, aplicando os princípios hegelianos na Universidade de Tubingen. concluiu que os Evangelhos haviam sido escritos sob a influência judia, de acordo com seu gosto. Posteriormente, interesses materiais e políticos motivaram alterações nos mesmos. Em vista de tais interesses é que Pedro, o pregador do cristianismo nascente, que era pró judeu, teve de ser substituído por Paulo, favorável aos romanos. E Marcião teria sido o autor dos escritos atribuídos ao inexistente Paulo.
O mérito da Escola de Tubingen, consiste em haver provado que os Evangelhos são apócrifos, e assim não servem como documento aceitável pela história. Levando ao conhecimento do mundo livre que os fundamentos do cristianismo são mistificações pura, os mestres da referida Escola abalaram os alicerces de uma empresa, que há séculos explora a humanidade crente, vendendo o nome de Deus a grosso e a varejo.
Tudo nos leva a crer que no futuro, o conhecimento científico exigirá bases sólidas para todas as coisas, quando então as religiões não mais prevalecerão, porquanto, não poderão contribuir para a ciência ou para a história, com qualquer argumento sólido e fiel.
Ademais, não nos parece lógico que o homem atual, o qual já atingiu um tão elevado nível de desenvolvimento, o que se verifica em todos os setores do conhecimento, tais como científico, tecnológico e filosófico, permaneça preso a crenças em deuses inexistentes, em mitos e tabus.
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