sábado, março 20, 2010



Seguindo a carneirada, fui ver o filme “Avatar”. Aqui ficam umas breves considerações sobre esse “block buster”.
O filme é uma óbvia alegoria à situação que ainda enfrentam os povos tribais. Parece uma versão alienígena (pouco imaginativa para uma obra de ficção científica) e digitalmente engalanada do “Danças com Lobos”, onde o herói, como não poderia deixar de ser, provém do mundo civilizado/industrializado e é branco (apesar de se azular num híbrido fruto da engenharia genética). Desta feita, o cowboy espacial é menos fundamentalista e mais jovial (para além de ter a voz mais sexy) do que o Rambo (namorando com os mujahedin), mas igualmente estúpido e mortífero. Aparentemente, isso torna-o muito especial... (porque a sua inquestionável coragem também a possuía de sobra o povo tribal que o acolheu)
Sempre a mesma fórmula. Impressiona a quantidade de clichés que o director juntou. É ainda a consumação da fantasia tecnófila (cheia de inconsistências) de Timothy Leary e quejandos, contribuindo para que uma crescente horda de alienados e infantilizados acredite que os mundos desenhados pelos computadores são mais interessantes do que a realidade da qual se divorciaram para se entregar ao consumismo egoísta, fútil, irresponsável, parasitário... Posso apostar que os fãs passarão anos (claro que tamanho êxito de bilheteiras terá sequências) a discutir minudências (ex.: porque os humanóides azuis têm 4 dedos nas mãos e 5 nos pés); tentando dominar a língua inventada por James Cameron (sem dominarem minimante as línguas maternas); e até discutindo sobre a “biologia” das criaturas silvestres do planeta Pandora, assim como sobre o modo de vida dos Na`vi , pouco se importando sobre as espécies e os povos - reais e em sérios apuros! - que lhes serviram de inspiração.
O ponto de partida da trama é o mais absurdo axioma capitalista-imperialista que sustenta que, mesmo tendo sido exauridos os recursos naturais (é bem triste ver a natureza só nestes moldes) da Terra (“todo o verde foi destruído”, informam-nos), a elite detentora do dinheiro e da mais poderosa tecnologia pode prosperar e até levar a cabo a empreitada de ir saquear outros planetas longínquos. A velha ambição da Europa a cavalo das religiões abraâmicas, extrapolando a expansão ultramarina para o espaço sideral...
Pelo menos o papel dos nativos foi melhorado desde os pretos que o Tarzan desancava...
Cameron provavelmente até é bem intencionado quanto à mensagem principal que quis transmitir com este filme, mas daí a se ter tornado uma estrela (ao lado de Al Gore) de ventos mediáticos subordinados à ecologia, é demais! Não dá para engolir essa pastilha.
Enfim, trata-se de bom entretenimento, e eu não passo de um chato do cacete. Devo até admitir que, se a principal garota alienígena do filme existisse, deixar-me-ia preso pelo beicinho... hehehe

Sem comentários: