sábado, março 27, 2010


"Je me crois en enfer, donc j`y suis" - Rimbaud

O fenótipo (e a cabeleira que desce até ao fundo das costas)de um colega de trabalho denuncia que é um índio equatoriano. Nós os dois temos ideais bem parecidos (pena que só nos vejamos um par de vezes por ano).
Ao cabo de uns meses à procura de trabalho, foi bater à porta de uma agência de viagens dirigida por um evangélico. Este último, olhou-se com gravidade e declarou que, como ele é índio, estava impuro pelo paganismo e a feitiçaria. Pediu-lhe que entrasse com ele num quartinho que tinha nas traseiras do escritório. Obviamente que o meu amigo pensou que poderia ser um sórdido esquema para o crente lhe comer o cu. Por isso, agarrou numa caneta disposto a fura-lhe um olho (sem trocadilhos brejeiros e infantis, por favor), caso ele avançasse nesse sentido. Tudo o que é genuíno nele gritava para fugir imediatamente dali, mas o desespero do desemprego fê-lo anuir ao absurdo. E não é que o crente sujeitou-o mesmo a uma breve cerimónia de exorcismo?! Quando achou que já tinha purificado o índio, aceitou os seus contactos com a promessa (não cumprida) de que em breve lhe arranjaria trabalho.
Isto passou-se há 3 anos, em Cuiabá, capital do mato Grosso. Tais situações aberrantes são consideradas “normais” neste Brasil que se orgulha de estar entre as potências económicas emergentes...

Com freqüência os inquéritos das empresas privadas para quem se candidata a empregos por elas providenciados inclui a pergunta “qual a sua religião?” Todos sabem que não têm a menor hipótese de serem empregues se não seguirem a mesma doutrina supersticiosa dos administradores/donos dessas empresas. Que eu saiba, isto é ilegal, mas quase impossível provar este tipo de descriminação pois jamais é assumida (então deveria ser proibido fazer a maldita pergunta).

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