sábado, setembro 23, 2006

Transgénicos

Nos anos 90 as indústrias de biotecnologia puseram em acção uma estratégia de conquista dos mercados alimentares de todo o mundo. O seu modus operandi e as consequências do mesmo passaram totalmente desapercebidos aos média(perdidos entre a ignorância e a censura corporativa), mas não a muitos agricultores, técnicos e membros de ONG que operam no terreno.
Em 1999, durante uma conferência sobre a indústria biotecnológica, um representante da empresa de consultoria Arthur Anderson tomou a palavra e, orgulhoso, explicou o brilhantismo da sai empresa ao criar o plano que levaria a Monsanto a controlar 91% do mercado de produtos agrícolas GM e a apoderar-se de 23% das empresas que comercializam sementes e desfazer-se da concorrência, nomeadamente através da eliminação das semente que eram – e são - a base da agricultura tradicional. A Monsanto explicou à Anderson a sua visão de um mundo "ideal" em que todas as sementes destinadas à agricultura fossem geneticamente modificadas no prazo de 15 anos, e os consultores elaboraram a estratégia que tornaria isso possível. (Jeffrey Smith, 05)Como admitiu um técnico de biotecnologia ligado a uma corporação quecomercializa OGM, «a esperança desta indústria é que, com o tempo, omercado fique tão inundado [com OGM] que será tarde demais para se fazer algo capaz de contrariar a situação, restando às pessoas renderem-se.» (The Toronto Star, 1/9/01)
O lóbi da Monsanto na Casa Branca e na FDA é extremamente poderoso, e os avultados investimentos que a empresa fez na área da biotecnologia deixá-la-ão numa precária posição se a aposta falhar. Os executivos da Monsanto estão extremamente nervosos pois funambulam entre uma fortuna e umpoder quase inimagináveis (caso possam dominar os estômagos de toda a população mundial) e, por outro lado, o descrédito e o colapso da suahegemonia corporativa. Por isso forçaram a administração Bush a mover uma acção contra a U E junto da OMC. (O que aconteceu a 13 de Maio de 2003)Na mesma altura, W Bush anunciou que a "sua" iniciativa para acabar com a fome em África basear-se-ia em alimentos GM, aproveitando para criticar a resistência da U E aos OGM, considerando essa atitude como «um temor sem fundamento científico» (sic)*Os média NA têm corroborado estas alegações, indo mais longe (do quepermitem as regras da diplomacia política) afirmando que se trata de puro anti-americanismo por parte dos europeus.


*Outra estratégia insidiosa para implementar os OGM em países que lhes manifestem alguma resistência, é a mistura de sementes mutantes com as convencionais nos lotes exportáveis. Outras vezes enviam-nas para países subdesenvolvidos como “ajuda humanitária”.
Calcula-se que mais de dois milhões de toneladas de alimentos GM são enviadas directamente pelos E.U.A. para os países em vias de desenvolvimento, sob a bandeira da ajuda humanitária. Este país consegue fazer distribuir mais 1,5 milhões de toneladas dos seus OGM através do Programa Mundial de Alimentos.




A biotecnologia parece ter um grande potencial para a medicina, mas o que não costumam divulgar é que os animais clonados são na sua maioria defeituosos e morrem em pouco tempo. Quando os investigadores Pusztai e Ewen, em 1999, demonstraram que os ratos alimentados com batatas transgénicas eram afectados por deficiências orgânicas e imunológicas, a restante comunidade científica comprometida com a indústria de mutações biotecnológicas, em vez de reflectirem com preocupação sobre estes dados, estigmatizaram os ousados investigadores, cumulando-os de ignomínias e colocando-os no desemprego.
O Dr. Philip James proibiu o Dr. Pusztai de prestar quaisquer declarações sobre as batatas transgénicas, como apressou-se a desmentir aos média as conclusões do seu colega proscrito.

Em 1996, o Dr. Pusztai por ser uma das maiores autoridades científicas na áreada microbiologia e da genética, com uma experiência e uma reputação bemconsolidada ao longo de várias décadas, foi eleito para chefiar um grupo decientistas que deveriam criar um modelo para testar a segurança dos alimentosGM na Grã Bretanha e, eventualmente, em toda a U E.Tratava-se de uma mera formalidade, pois, concomitantemente e à revelia dePusztai, da sua equipa e da opinião pública, estavam a ser aprovados elançados (com incrível celeridade) para o mercado OGM.O principal responsável pelo respaldo "científico" para acomercialização dos referidos produtos era o Dr. Philip James, Director do Instituto Rowett - o mesmo que em 1998 entregou ao Dr. Pusztai um monte de documentos contendo os resultados da pesquisa científica sobre a salubridade de alguns agroprodutos GM (ex.:soja, milho e tomates). Esses estudos tinham sido elaborados pelas empresas que pretendiam comercializar a comida "Frangenestein", e deixaram o Dr. Pusztai boquiaberto. Os volumes (que perfaziam 700 páginas que ninguém esperava que fossem lidas na totalidade, quanto mais que pudessem testar a sua veracidade....) apenas denegriam a metodologia científica mais básica e honesta.
«Como cientista, fiquei realmente chocado!» - afirmou. «Foi a primeira vez que me apercebi de que estavam a apresentar ao comité evidências inconsistentes. Havia falta de dados, uma paupérrima metodologia científica e todos os testes tinham sido conduzidos de forma demasiado superficial.» tal não tinha impedido a referida autoridade sanitária de aprovar alimentos GM, sem que nenhum dos 58 milhões de consumidores britânicos tivesse sido informado de que estava a consumir tomates, milho e soja transgénicos.Isto passou-se na véspera de uma reunião de ministros e de euro deputados destinada a discutir a aprovação ou a moratória aos OGM.
O Ministério da Agricultura, Florestas e Pescas (MAFF) britânico precisava do parecer positivo do Dr. Pusztai para defender a aprovação dos OGM que já circulavam no mercado, bem como de novos produtos que as empresas de biotecnologia estavam ansiosas por comercializar.Tentando desenvolver batatas GM concorrentes às comercializadas nos EUA *-+*-+ Todas as células dessa batatas estão habilitadas a produzir uma potente toxina insecticida devido à introdução de um gene proveniente de uma bactéria do solo que é aparentada com o bacilo do Antraz.
A equipa do Dr. Pusztai concentrou-se em fazer as suas batatas GM serem capazes de produzir lactina, um insecticida natural presente em algumas espécies de plantas (que não as batatas). Durante 7 anos este renomado cientista estudou as propriedades da lactina tendo concluído que não era tóxica para os humanos, como tampouco se revelara para os seus ratos de laboratório. Mas a engenharia genética está muito longe de ser capaz de predizer e de controlar todos os efeitos anómalos encontrados nos OGM.Se fosse nos EUA, as batatas com genes (introduzidos) de lactina teriam sido comercializadas num ápice ( baseado na assumpção de que sãonutricionalmente equivalentes às convencionais), mas o Dr. Pusztai levamuito a sério o seu trabalho e as suas responsabilidades quanto a ameaçar levianamente a saúde pública.Usando uma metodologia semelhante à que é praticada pelas empresas que comercializam alimentos GM, para sua surpresa, percebeu que ogénero de batatas que perfilhara tinham uma composição nutricional consideravelmente diferente das convencionais (algumas eram 20% mais pobres em proteínas). Pior ainda, ao cabo de apenas 11 semanas tornou-se evidente que os ratos que delas foram forçados a se alimentar apresentavam sérios problemas de saúde, tais como: fraco desenvolvimento físico - com destaque para atrofiamentos dos testículos, do fígado e do cérebro - e o sistema imunológico danificado. Algumas cobaias apresentavam ainda o pâncreas e os intestinos inchados. Células com a estrutura modificadas e potencialmente cancerígenas proliferavam nos seus estômagos e intestinos. Então como explicar que os laboratórios das corporações tenham resultados tão díspares? O Dr. Pusztai topou-lhes a marosca: os estudos deles baseiam-se apenas em animais adultos. Como nos jovens as proteínas são fundamentalmente utilizadas para a construção de tecidos, músculos e órgãos, problemas como os supracitados tornar-se-iam evidentes. Tal é muito mais difícil de acontecer com os indivíduos maduros, pois estes utilizam as proteínas fundamentalmente para a produção de energia e para a renovação de tecidos. O ardil dos laboratórios corporativos vai ao ponto de, ao invés de pesarem e medirem com acuidade os órgãos das cobaias, limitam-se a utilizar o "olhómetro", como se fosse uma metodologia cientifica precisa (algo completamente refutado pelo Dr. Pusztai).

Nenhum governo está a conduzir testes de salubridade sobre os OGM em larga escala. Isso nem sequer é feito em relação aos pesticidas que, desde pelo menos há 50 anos, se sabe serem causadores de gravíssimos problemas para a saúde pública e para todo o ambiente.
(milho) Aliás, é possível conseguir a aprovação para a comercialização doOGM sem que a FDA proceda a quaisquer testes, confiando nos dados fornecidospelas empresas.
No caso da variedade de milho GM (que produz o seu própriopesticida a partir da bactéria Bacillus thuringiensis Bt), comercializado pelaAventis com a designação de StarLink, e que provocou muitos casos dereacções alérgicas graves pelos menos entre os estado-unidenses, nem sequerera suposto ser utilizado para a alimentação humana, tendo sido autorizadaapenas para rações de alimárias e para a produção de biocombustíveis. As autoridades confiaram que, quaisquer que fossem as eventuais substâncias potencialmenteprejudiciais para o homem, estas não passariam para os nossos organismosmigrando ao longo da cadeia trófica (que acaba no nosso prato), e também queos agricultores zelariam por não misturar o milho StarLink com as variedadesconvencionais (tendo até sido obrigados a assinar contratos deresponsabilização nesse sentido). Como era previsível a qualquer um com omínimo de bom senso, não foi isso o que aconteceu.
Os Amigos da Terra foram a primeira ONG a denunciar a contaminaçãogeneralizada com o milho StarLink, os problemas sanitários que tal ocasionarae o modo como a Aventis em conluio com a FDA falharam em proteger a saúdepública e boicotaram as respectivas investigações. A FDA/CDC primeiro foicúmplice por negligência neste escandaloso atentado, mas depois, ao ser alvode acusações, fabricou um estudo fraudulento em que atropelou quase todos osprocedimentos protocolares da investigação científica.Os técnicos da Agência de Protecção Ambiental (um órgão governamental)juntaram-se à generalidade dos cientistas independentes (incluindo os maioresespecialistas em alergias alimentares) na publicação de duras críticas aosreferidos testes da FDA destinados a ilibar a Aventis e o seu milho StarLink(e, consequentemente, a eles mesmos).No centro da polémica estava a nova proteína Cry9C que era produzida pelomilho StarLink e que se sabia ter um elevado potencialalergénico. Foi a Aventis que determinou qual a percentagem daproteína Cry9C presente nos alimentos que deveria ser considerada segura. AFDA aceitou essas conclusões sem as questionar. Pior ainda, a FDA nãoanalisou essa proteína a partir de amostras do polémico milho (acabado decolher e/ou encontrado em imensos produtos alimentaresconfeccionados),limitando-se a pedir à Aventis que lhe proporcionasse amostrasda Cry9C. A Aventis anuiu, mas, estrategicamente, não retirou essa proteína domilho StarLink, mas sim de uma colibactéria, sabendo que o comportamento dasproteínas varia muito de espécie para espécie (ex.: podendo divergir emcomposições moleculares e/ou na forma como estão dispostas). Este"pormenor" é suficiente para invalidar as conclusões da FDA acerca doStarLink, nem que mais não seja porque a essa variedade de milho foiacrescentada uma cadeia de açucares que é reconhecidamente potenciadora dacapacidade alergénicas das proteínas. Mais tarde a Aventis recusou-se a revelara composição dessa cadeia de açucares, limitando-se a produzir uma série de"estudos", cujas imprecisões tendenciosas deixaram a comunidade científica indignada.O cientista japonês Masaharu Kawata comentou a propósito: «é frequenteencontramos dados comparativos deste género que, apesar de pareceremcientíficos, na verdade são falsos. Tratam-se das tácticas dissimuladasusadas pela Monsanto na sua proposta para a aprovação da soja (GM) RoundupReady no Japão.»

O Dr. Pusztai foi encarregue de desenvolver um teste padrão para os OGM porque não existem testes fiáveis que determinem o potencial alérgénico e de outros problemas para a nossa saúde. Não é apenas um problema de falta de consenso entre a comunidade científica e entre esta e o pode político que deixa a sociedade tão vulnerável. Muito mais perigosos para todos nós é o facto da investigação científica e os órgãos ditos “democráticos” estarem reféns das corporações.
Apenas são conhecidos (ou seja, puderam ser publicados em revistas científicas) uma dezena de Estudos sobre os efeitos para a saúde dos OGM presentes na alimentação animal; sendo que unicamente 2 destes estudos foram efectuados por laboratórios (considerados) independentes. Cientistas de todo o mundo (que não têm interesses directos na comercialização dos OGM), ao analisarem os estudos em causa, concluíram que 7 deles foram concebidos por forma a mascarar quaisquer informações que pudessem indicar perigos para a saúde pública. Os estudos independentes não deixam grande margem para dúvidas quanto ao potencial cancerígena dos OGM analisados e que continuam a ser comercializados. Esta conclusão foi, ousadamente, corroborada por um estudo não independente, mas o cientistas que teve a integridade de fazer soar o alarme, foi despedido, publicamente caluniado e amordaçado com a ameaça de processos judiciais milionários.




Atendendo a que 90% das importações de OGM para a U.E. são destinadas àalimentação pecuária (só a Inglaterra anualmente importa para esse fim um milhão de toneladas de soja, enquanto que na Argentina continuam a serdestruídas selvas milenares para plantações de soja gm), à produção deóleos e vários subprodutos, é de importância capital o facto de essesprodutos passarem a ser identificados como OGM. Mas esta nova regulamentação (supervisionada pela recém formada Autoridade Europeia para a sanidade Alimentar) dá uma no cravo outra na ferradura, pois os produtos (como, por ex., a carne, o leite, os iogurtes, a manteiga e os ovos) provenientes de animais que são alimentados com OGM não são obrigados a ser rotulados como OGM. Para cativar a confiança dosconsumidores (ninguém está interessado noutra crise económica como a dasvacas locas), alguns dos maiores produtores europeus de carne, leite e ovossuplantaram os políticos e tecnocratas de Bruxelas, desenvolvendo meiospróprios para darem algumas garantias de rejeição das rações OGM nas suasexplorações pecuárias. Assim, todas as partes envolvidas nas cadeias deprodução, distribuição ( e comercialização) de alimentos gm sãoobrigadas a informar os seus operadores e receptores sobre a presença de OGM.
Ainda estamos à espera do Decreto-lei que fará a transposição para o direito interno da directivacomunitária concernente aos OGM. Muito mais curioso estou sobre como é que estas regras serão implementadas e se afiscalização funcionará em Portugal...

Ainda há muitospodres por revelar e por apurar sobre os transgénicos, mas, por ora, fiquem com a curiosidade (mórbida…) de Alpiarça ter estado entre as primeiras localidades do país que produziram culturas transgénicas. Agora estamos rodeados dessa merda, cuja coexistência com as culturas tradicionais é verdadeiramente impossível e que invalida todos os esforços da agricultura biológica.
A autarquia tem o poder (e a obrigação) de actuar no sentido e alertar os agricultores para estes perigos ocultos pelas empresas de biotecnologia e pelo próprio governo (que, como não podia deixar de ser, “dança à música” das corporações). Existem mecanismos legais para criarmos zonas livres de transgénicos, mas as autarquias só se mexerão nesse sentido se forem pressionadas a tal. O que fará o “rebanho cego”?...

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