quinta-feira, dezembro 27, 2007



Pois, não são só as pessoas de Alpiarça e do casalinho que se empenham em vilipendiar o Paul dos Patudos. Em alguns dos numerosos monturos infectos que poluem com gravidade aquela que é provavelmente a última jóia ambiental do concelho, podemos facilmente encontrar pistas sobre a identidade de quem perpetra estes atentados com impunidade, ou a eles está associado. Tal é caso de uma tal

Ana Filipa Santos Simões, residente na Rua da Fonte Nova, nº46
2080-539 Fazendas de Almeirim
Claro que qualquer FDP poderia lá ter posto as cartas denunciadoras, mas existem por lá muitíssimos objectos que, se houvesse vontade da parte do SEPNA, conduziriam direitinhos à porta dos prevaricadores. Há regiões deste país deprimente em que constato que patrulhas do SEPNA suam as estopinhas e fazem um bom trabalho. Isso não é o que acontece por aqui…

segunda-feira, dezembro 03, 2007




E eu que pensava que andava a “pregar no deserto”, sendo incapaz de sensibilizar os corações ribatejanos – aparentemente empedernidos aos problemas ambientais e aos tesouros naturais do Paul dos Patudos. Agora constatei que não… talvez seja o espírito natalício… Pelo que vi no terreno, algumas pessoas daqui preocupam-se tanto com o “bem estar” dos animais silvestres que até lhes oferecem roupas e outra tralha sem dúvida destinada a mitigar o frio…

quinta-feira, novembro 29, 2007

No que se está a transformar o Paul dos Patudos...


A cada passeio pelo Paul dos Patudos constato que o civismo bem como a fiscalização em Alpiarça continuam “em alta”, como exemplo para o resto do país… Mas, segundo um energúmeno alcoólico casado com uma vereadora corrupta - que me roubou uma colecção de diapositivos! - , eu não tenho o direito de falar sobre o nosso paul (sic). Ele acrescenta ainda que, se eu não me calar, me irá perseguir e dar-me um tiro na cabeça – não antes de me sodomizar (sic)!... É curioso ele ter essa sanha (homofóbica ou homossexual?), uma vez que a principal difamação que consegue conjurar contra mim é a duma pretensa homossexualidade da minha parte (que só existe nos seus sonhos húmidos)… Não bastava a essa besta ter exibido os seus genitais à minha mãe - tb ameaçando-a de violação e de morte!Tenho que lidar com cada burgesso!!...

sábado, novembro 10, 2007



Uma das principais razões porque ninguém vê em Alpiarça (incluindo a área “florestal”) estas espécies de líquenes deve-se ao facto de o ar e a água - até a da chuva! – por aí estarem demasiado poluídos… Mas que importância tem isso comparado com o privilégio da “realeza” pavonear carros de luxo /topo de gama, enquanto a maralha sonha em fazer o mesmo? Afinal, estes seres fascinantes ( um casamento - não necessariamente igualitário - entre uma alga e um fungo) são "só" bioindicadores da qualidade do ar e da água...
Sociedade Automóvel - BioTerra de Luto por 5 dias úteis
Lisboa e Porto são as cidades do País que registam maior número de atropelamentos por ano. Aliás, a média conjunta alcançada até Outubro de 2007 já revela que diariamente são atropeladas quatro pessoas, precisamente 3,98. No caso de Lisboa, 2,2 e no do Porto 1,7. Uma média que faz com que Portugal continue entre os primeiros da União Europeia neste tipo de sinistralidade. Até Agosto, e segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), foram atropelados mais de quatro mil peões, 74 morreram. Mas dados oficiais revelam ainda que a capital já registou até agora quase 700 atropelamentos. Destes, 445 ocorreram fora da passadeira, 251 dentro desta. A maioria das vítimas tinha idades entre os 60 e os 94 anos, embora 2007 esteja a ser um ano um pouco atípico, já que regista sinistrados bem mais jovens, na faixa dos 30 e 40 anos (Fonte: DN 3 de Novembro).Em Portugal até final de Agosto, os registos de sinistralidade davam conta de um aumento de quase 50% do número de vítimas mortais em auto-estradas, relativamente ao período homólogo de 2006 - de 42 para 62 mortes. A ANSR não dispõe de dados mais actualizados, mas a dimensão do acidente da A 23 é suficiente para fazer disparar ainda mais esta estatística (Fonte: JN de 7 de Novembro ). Neste acidente há ainda algo a assinalar: há professores envolvidos no acidente.Há muitos professores que trabalham a mais de 50 km da Escola onde leccionam , fazem deslocações de carro e muitos sem transporte público para as escolas e nesta altura do ano obrigatóriamente têm que fazem Reuniões Intercalares após as 18.30. Muitas destas reuniões se prolongam até as 21.30 para retomar o trabalho no dia seguinte, tenha o horário que tiver. Quando racionalmente para bem de todos e de toda a sociedade era fazer uma pausa, como já se realizou há anos atrás e foi contestada.Este documentário,de 30 min., realizado por Branca Nunes e Thiago Benicchio, em 2005, na cidade de S.Paulo, expõe muitas mais incongruências.O documentário é sobre São Paulo, mas serve para a maioria das cidades e vilas. No lugar da praça ou Jardim Público, um shopping center; no lugar da calçada, a avenida; no lugar de um Parque Urbano, o estacionamento e novas casas e mais ruas, em vez de vozes, o som dos motores e buzinas.Trabalhar para dirigir, dirigir para trabalhar: compre um carro.Na ditadura do automóvel o que vemos :vidros escuros e fechados que evitam o contacto humano; viver para o parecer ter e tédio, raiva, angústia e solidão sem parar.Vários entrevistados neste documentário dizem que usam carro por segurança (é uma falácia comum). No entanto confessam que foram mais vezes assaltados com o carro do que a pé ou que roubaram os seus automóveis...Dá para pensar, não dá?Depois estamos a pagar com nossa saúde pela poluição de muitos.Além disso , com Emprego Descartável o que obriga? a trabalhos temporários longe de casa e ao mesmo tempo com os sucessivos cortes nas redes e horários de transportes públicos, obriga a migrações com diferentes velocidades individuais e colectivas , tudo gerando incerteza: longe da família, stress e poluição, horizonte longe de ter um emprego fixo, stress, adiar uma família, stress, adiar ter filhos, stress, filhos sozinhos em casa, stress, menos horas de descanso, stress.Filhos orfãos, luto.O prazo de 4 anos do carro está chegar ao fim, stress,insegurança financeira e poluição. A revisão do carro é precisa, stress,insegurança finaceira e poluição.Levar e trazer os filhos/netos à escola/ATL/ginásio/pedopsiquiatra/centro de estudos, stress, longe dos filhos, stress.Deslocação centro-subúrbios, stress e muita poluição.Filhos e netos desaparecidos por rapto através de automóvel, muita insegurança e muito stress.Comportamentos de risco (alcoól, drogas,contra-mão)......tudo isto somado só pode aumentar a probabilidade de mais atropelamentos, mais acidentes, mais mortes, mais dor, mais incapacitados em idade de trabalho, mais orfãos, mais luto, mais custos e menor qualidade de vida.Mais e as contas de Estradas de Portugal? (ler a notícia Estradas de Portugal, a maior marosca orçamental para 2008 onde nessa conferência de imprensa Francisco Louçã distribuiu uma nota sobre o relatório do Tribunal de Contas, onde salienta cinco questões no quadro devastador da gestão e estratégia da Estradas de Portugal, feito pelo TC: contas obscuras, ajustes directos sem controlo, privilégio ao BCP, abuso contra as pessoas e um novo imposto fora da lei.O uso do automóvel é um dos principais contribuintes directos para a aceleração da perda de biodiversidade através , dizimando-se animais e plantas que precisam do seu espaço, cumprir os seus ciclos de vida. Para a sua circulação e em nome da (in)segurança, constroiem-se mais estradas e apelos a novidades automobilísticas, mais carros por família,mais traçados rasgando areas de solos fértil, entubando ribeiras e assim mais desertificação e mais pobreza...Para recursos alternativos ao combustível do automóvel,actualmente o petróleo, existem várias propostas: biogás, bio-fuel,eléctrico, solar, hidrogénio e híbrido. Contudo o lobbie dos agro-combustíveis está a perpretar planos para soberania impedindo o crescimento de mercado das outras fontes (ler o artigo Biofuels could kill more people than the Iraq war de George Monbiot).Neste jogo de Titanic egoísta e individualista que milhares não querem ver....não podemos nem devemos meter a cabeça na areia ou olhar para o lado...posso ser eu ou tu o próximo...mesmo peão ou em transporte público. Estamos mesmo num grave desequilíbrio. Monocultura da Sociedade do Automóvel? Apocalipse Motorizado? Por tudo isto e porque há muitas opções para uma vida saudável e segura e direito e dever de conservar um planeta sustentável e no entanto não vendo esforço colectivo para mudar esta batalha campal nas estradas e crimes ambientais por causa da sociedade do automóvel, faço o luto por 5 dias úteis, esperando que os que por aqui passam se obriguem a reflectir em casa, nos empregos, nas autarquias, nas decisões antes de optar pelo automóvel e apelo ao uso racional do automóvel e ser mais amigo do Ambiente.
Paz às vítimas que não estão connosco, a minha solidariedade com as famílias em luto e a minha solidariedade com as espécies que estão vulneráveis ou em vias de extinção por causas humanas.E nós próprios somos uma espécie vulnerável por causas humanas.

João Soares ( que não tem nada a ver com o “príncipe maçon”!)
Bioterra

quinta-feira, novembro 08, 2007

Juma a beber numa fonte considerada "santa" algures no topo de uma serra galega. Temo que depois desta experiência fique como o cão do Fausto - o tal que «voava por impulso mictório»(sic)... Ou então, ainda lhe crescem asinhas... Duvido muito, pois o Juma é negro (que me dera sê-lo também!) e, em todos os cromos dos cristãos que eu vi, os anjinhos são sempre arianos “puro-sangue”… O Racismo espalha-se e assimila-se de muitas maneiras…

quarta-feira, novembro 07, 2007

Qualquer dia o Juma começa a receber e-mails (anónimos, pois claro) como os que eu recebo quando aqui divulgo alguma foto que me deixou particularmente satisfeito com os resultados do meu trabalho (sem recorrer a manipulações digitais) e incito os eventuais leitores deste blog a pegarem em câmaras fotográficas, calcorrearem os campos e me emularem – algo que me daria muita satisfação e me estimularia a aprimorar a minha técnica. Geralmente começam assim: «também deves ter a mania que és bom», ou então «julgas que és o único a conseguir tirar boas fotos?» e ainda «pode ser que alguém te enfie a máquina pela boca abaixo ou pelo cu acima!...»
Deve ser fodido não conseguir fazer algo de jeito para além de destilar a peçonha da inveja que consome esses tristes até ao tutano.
Lars von Trier poupou muito dinheiro a filmar o seu «Dogville» dentro de um pavilhão quase despido de adereços. Mas certamente que o conseguiria realizar poupando ainda os ordenados milionários dos actores envolvidos, se filmasse em Alpiarça, em estilo documentário…

Um ténue sinal de esperança para o felino mais ameaçado do mundo

O Lince Ibérico sai do coma


As autoridades espanholas estão a divulgar uma situação de recuperação do Lince-ibérico no estado selvagem. Foi confirmada em Castela-La Mancha uma colónia de Linces estável e a crescer


Em 2005 os números oficiais mostravam a população de Lince-ibérico na sua pior situação de sempre, com apenas 150 exemplares entre Doñana e a Sierra de Andújar. Os linces sobreviventes já tinham os seus "BI" e eram "humanizados" com nomes como Gloria e Óscar.

No entanto, esta visão negativa para o lince foi travada devido ao facto de pela primeira vez ter ocorrido o crescimento da população na Andaluzia associado à confirmação da presença de uma colónia de Lince-ibérico estável em Castela-La Mancha e do sucesso do programa de criação do Lince em cativeiro. Apesar do seu número ser ainda pequeno e desta espécie continuar em perigo de extinção, o seu prognóstico é optimista, e segundo anunciou a Ministra de Meio Ambiente de Espanha, Cristina Narbona, "será fixado um prazo para tirar o lince deste clima comatoso."

A actual população presente em Castela- La Mancha (de 15 exemplares, entre os quais 6 são crias) foi avistada pela primeira vez em 2002 e desde essa data foi localizada em 45 ocasiões diferentes. Não obstante, a sua presença foi confirmada há um mês, altura em que foram divulgados vídeos da colónia.

Um dado a ter em conta é o facto de se saber que para além da recuperação em liberdade existe o plano de recuperação da espécie em cativeiro, em Doñana. Dos 60 animais reprodutores que se prevê criar até 2010, alguns irão ser enviados para Portugal para os seus próprios programas de recuperação do Lince. O Governo português já começou construir um centro no Algarve com o intuito de reintroduzir o lince em habitats que já ocupou. "O apoio é absolutamente indispensável para que o nosso projecto possa ser desenvolvido", admitiu ontem em Sevilha o ministro português do Ambiente, Francisco Nunes. Contando com a cooperação espanhola, Portugal apresentou ontem uma data para a libertação de linces no Algarve: 2019.

Fonte: Naturlink (06-11-2007)

terça-feira, novembro 06, 2007

O Juma é de índole pacífica.

«Chegará o dia em que o Homem conhecerá o íntimo de um animal. E, nesse dia, todo o crime contra um animal será um crime contra a humanidade.» - Leonardo Da Vinci

segunda-feira, novembro 05, 2007

http://www.hi5.com/friend/video/displayViewVideo.do?videoId=5528998&ownerId=17860189

Já agora, enviaram-me estas mensagens. Não custa divulgá-las…

A divulgação de 1 situação mtº grave e mtº urgente: O Cantinho dos Animais de Viseu está a passar por 1 situação angustiante, neste momento tem a seu cargo 600 animais num espaço com alojamento p/ apenas 300. Ainda por cima a noite passada deixaram-lhe amarrados à porta do albergue + 57 CÃES, IMAGINE-SE!!! A D. Ana Maria, responsável pelo canil está desesperada, chora baba e ranho e p/ a semana, 3ª feira irão ser abatidos algumas dezenas de animais (incluindo bebés) porque a situação é insustentável e ela já n tem + condições físicas nem humanas p/ comportar a sobrelotação de que tem neste momento e como tal n lhe resta outra alternativa senão a eutanásia. É 1 corrida contra o tempo e precisamos de 1 milagre. Precisa-se urgentemente de BONS DONOS ou FATS p/ q se possam ajudar a salvar a vida destas pobres almas, já n lhes bastava o abandono, a fome, a sede e maus tratos e ainda por cima qdº pensavam q poderiam ter novamente 1 oportunidade de serem felizes e terem 1 lar q lhes dessem mtº amor e carinho e a vida volta a pregar-lhes outra rasteira... POR FAVOR, AJUDEM ESTES CÃEZINHOS A TER 1 OPORTUNIDADE DE SEREM FELIZES! BONS DONOS OU FATS PRECISAM-SE COM MUITA, MUITA URGÊNCIA!!! (Eu sei q é difícil...) O contacto da Srª D. Ana Maria é o 91 840 75 36 ou 232 44 99 34, ou através dos sites:
http://www.alexandra-guerra.com/cantinho/
e http://cantinhodeviseu.blogspot.com/
Obrigado e caso nao possam ajudar POR FAVOR PASSEM AOS VOSSOS CONTACTOS.
APAREÇAM!!! tragam amigos! é ja dia 10 de Novembro!!! Juntem-se a nós! A união faz a força! Visita as bandas do III Animal Benefit Fest em : SickSyco http://www.myspace.com/sicksyco Switchtense http://www.myspace.com/switchtenseportugal Triboo http://tribooband.blogspot.com/


«Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles matar-se-ão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode escolher a alegria e o Amor.»- Pitágoras

«The greatest thing you'll ever know is just to love and be loved in return»
«Non-violence leads to the highest ethics, which is the goal of all evolution. Until we stop harming all other living beings, we are still savages.» - THOMAS EDISON

«A questão não é se eles [os animais ditos irracionais] pensam ?, ou eles falam ? A questão é que eles sofrem.» - JEREMY BENTHAM

«Viver sem causar sofrimento ou morte a outros significa não matar um ser humano nem qualquer animal, por desporto ou para sustento.»- KRISHNAMURTI

«Acho o pensamento de meter fragmentos de corpos pela garganta abaixo muito repugnante, e espanta-me que muita gente faça isso todos os dias.» - J. M. COETZEE (Nobel)

«If anyone wants to save the planet, all they have to do is just stop eating meat. That’s the single most important thing you could do. It’s staggering when you think about it. Vegetarianism takes care of so many things in one shot: ecology, famine, cruelty." - PAUL McCARTNEY

«Thousands of people who say they 'love' animals sit down once or twice a day to enjoy the flesh of creatures who have been utterly deprived of everything that could make their lives worth living and who endured the awful suffering and the terror of the abattoirs.»- JANE GOODALL

«As pessoas sensíveis não matam galinhas, mas comem galinhas…» - Sophia de Mello Breyner

«You must be the change you wish to see in the world.» - MAHATMA GANDHI

«O bem que fizermos na véspera e o que nos traz a felicidade pela manhã» - Provérbio hindu

«É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja» - Honoré de Balzac

«A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de carácter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom Homem.» - Arthur Schopenhauer
Se ele só vê a preto e branco, perde imenso…pelo menos tanto quanto eu falho em compreender o seu universo olfactivo.

Apesar de só estar comigo há menos de uma semana, já tem um port-folio melhor do que muitos modelos profissionais. Felizmente o cão não é estúpido ao ponto de se deixar dominar por vaidades fúteis.
Quem o abandonou perdeu um bom amigo, mas duvido que os filhos-da-puta que abandonam animais saibam apreciar a verdadeira amizade.

se não tiverem nada mais interessante para fazer, dêem uma olhadela nestes vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=b-hYW-Ernkg
http://www.youtube.com/watch?v=_w4qsEtm1jc
http://www.youtube.com/watch?v=4Mf_PTB8juc
http://www.youtube.com/watch?v=iQtIfLBr8JQ
http://www.youtube.com/watch?v=D1Mnq54CNxY
http://www.youtube.com/watch?v=uVYAlG3-2yE
Juma em voo livre.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Leonardo Boff
Pregação pelas matas

Genézio Darci Boff, catarinense de 56 anos, está afastado da Igreja. Seus livros, contrários aos dogmas da Igreja Católica por tratarem de temas polémicos, lhe renderam o afastamento da Igreja Católica. O ex-frei Leonardo Boff pediu seu próprio desligamento da Ordem dos Franciscanos. Não foi punido e jamais deixou de viver de acordo com sua ideologia



Boff é contrário à hegemonia da Igreja Católica Apostólica Romana e aposta na teoria do multicatolicismo, como a quebra da "hierarquia da Igreja" e a libertação dos povos. Para o polémico frei Leonardo Boff, a Igreja não exerce o verdadeiro sentido intimista do cristianismo, por não permitir a reformulação de seus conceitos a partir de experiências populares. Isso seria evidenciado pela abertura às religiões africanas e indígenas, muito discriminadas no actual contexto. A sociedade entende que a umbanda esteja ligada à feitiçaria e seja semelhante à macumba e que igrejas "tribais", como Santo Daime, utilizam práticas não-ortodoxas, como cantilenas indígenas e ingestão de alucinógenos.

O principal ponto de choque entre Boff e a Igreja se resume no celibato clerical. Em várias entrevistas à imprensa nacional, Leonardo Boff admitiu ter sido fiel à castidade. Actualmente casado, Boff se dedica à pregação ecológica. Um de seus livros, o "Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres", tenta unir a religião com o ambientalismo, defende dogmas do budismo e ataca os papas que "teriam contribuído" com um genocídio dos índios.

Polémico, sensato e ao mesmo tempo agressivo, Boff participa da Conferência Continental das Américas, onde está sendo colocada em discussão a Carta da Terra. O evento acontece em Cuiabá e reúne ambientalistas, ecologistas e jornalistas de vários países da América do Sul. Entenda o posicionamento de Leonardo Boff diante da religião e da preservação ambiental.

Perfil/ Leonardo Boff




Consciência ecológica

"A nova consciência ecológica e a noção da Terra como grande mãe e Gaia passa por um processo pedagógico pelo qual as pessoas se sensibilizam para esta realidade. Não bastam conceitos. Precisamos de emoções, porque são elas que mobilizam as ações. Gaia é o nome da mitologia grega para expressar a terra como um ser vivo. Ela foi assumida por James Lovelock, cientista da Nasa, que escreveu dois belos livros - «Gaia - Uma nova visão da Terra» e «Biografia de Gaia». Ele mostra o equilíbrio subtil de todos os elementos que compõem a terra, equilíbrio este que só um ser vivo pode mostrar. Leia e mude sua cabeça em relação à Terra"

Modelo económico

"O modelo vigente sacrifica a natureza para criar riqueza. Alguns homens se enriquecem às custas do empobrecimento das maioria. O novo modelo económico visaria produzir o suficiente para todos, preservando a capital natural da terra para nós e para gerações futuras. Este propósito exige um outro modelo económico, que pode incorporar a tecnologia em benefício de todos nós e não só das empresas"









Teologia da Libertação

"Os pobres são 80% da humanidade. A Teologia da Libertação parte dos pobres, sem ficar só nos pobres, pois se abre a todos. Ela convida a todos a serem aliados dos pobres, contra a pobreza e a favor da vida e da liberdade"




Biopirataria

"Para acabar com a biopirataria, basta se deter em um simples ponto: ouvir os povos que lá habitam, seja os indígenas ou os caboclos. Eles conhecem minuciosamente o ecossistema onde vivem e têm sábias lições da dar aos nossos académicos"





Deus

"Minha visão de Deus não é panteísta. A visão panteísta observa que todas as coisas são Deus, que Ele está em tudo. Para mim, entre Deus e as criaturas há uma relação de mútua presença, a que chamamos de panenteísmo"



Destino dos dinossauros

"A seguir o tipo de desenvolvimento que temos, vamos ao encontro possivelmente do pior, quem sabe ao destino dos dinossauros. A capacidade de criação e aprendizado do ser humano pode mudar suas atitudes para com a terra, para assim salvá-la da histórica agressão a que a submetemos"





Amor em tempos de AIDS

"O amor em tempos de AIDS deve ser muito responsável, para não contrair e nem transmitir essa doença. Não pode ser um amor sem história ou simplesmente promíscuo. Deve ser um amor entre pessoas que se conhecem e que tenham sentimentos de amorosidade e de responsabilidade"





Biodiversidade

"O Brasil detém a maior biodiversidade e a maior rede hídrica do Planeta. Cabe ao Brasil a imensa responsabilidade de preservar esta riqueza natural para toda a Terra e não só para nós. Somos chamados a ser solidários, como todos os seres humanos"

Franciscanos

"Os franciscanos devem actualizar o amor de São Francisco para com todos os seres, incorporando os novos conhecimentos da ciência da terra e da ecologia. Assim, eles tornam São Francisco contemporâneo ao nosso tempo"

Estados Unidos

"Eles são os maiores poluidores da Terra. Por isso, não assinam nenhum documento internacional. Eles são bárbaros e inimigos da mãe Terra"



Igreja x terras

"A Igreja praticamente doou todas as suas terras para fins de utilização de cooperativas dos trabalhadores. Só ficou com terras de cemitérios e dos edifícios religiosos. A igreja poderia ajudar muito mais em uma atitude ecológica, ensinando a mensagem de São Francisco, que via todos os seres - desde a formiga até as estrelas - como irmãos e irmãs. Aquilo que amamos como irmãos, nós não maltratamos, apenas convivemos"

Tecnologia

"Nós assumimos a tecnologia porque ela pode debelar velhos problemas da humanidade e pode nos ajudar a preservar a Terra. Ela pode ser o veneno, mas também o remédio. Praticamente há um consenso de que todo o Universo está em expansão e em evolução. Ele é auto-criativo e nós também. Estamos ainda nascendo"

Anarquismo

"O anarquismo tem muitos elementos positivos, mas funcionaria só em comunidades de tamanho menor. Nelas, seria possível viver uma plena democracia com a máxima liberdade individual. Em grandes sociedades, como instituições, só é possível viver num espírito de flexibilidade que o anarquismo pode sempre nos legar"

Urbanismo

"Preservar a cidade para os cidadãos e não para os carros é a opção que muitas cidades europeias e norte-americanas já tomaram há vários anos. Isto fez com que estas cidades se tornassem exemplos de ecologia social, que Curitiba deveria imitar"

Padre Marcelo Rossi

"Ele conseguiu unir alegria e leveza à fé cristã. Mas isto é muito pouco. Há o risco de ele se transformar na Xuxa da Igreja Carismática: só entretêm as crianças, como a Xuxa ou as pessoas infantilizadas. Ele mostra paixão pelo Pai do Céu, mas nenhuma preocupação pelo pão nosso. Jesus nos manda unir o Pai Nosso com o Pão Nosso, senão não estaremos dentro do Evangelho, mas dentro do mercado religioso, de puro consumo, de sentimentos fáceis, e sem compromisso com a justiça e com a melhoria do mundo"

A Carta da Terra pode ser melhor compreendida no site http://www.cartadaterra.org.br/




Ecologia Mundialização e Espiritualidade, de Leonardo Boff, Editora Ática. 1996, Capítulo II, IV, V.



Leonardo Boff, um dos expressivos teólogos da libertação censurado pela Cúria Romana, por se posicionar em defesa dos direitos humanos e eclesiásticos. Vários de seus livros foram editados nos principais idiomas e receberam muitos prêmios e títulos. Seu tema atual é Ecologia Mundialização e Espiritualidade, visando construir uma democracia onde há integração global.O autor no capitulo II, enfatiza sobre a volta do Fenômeno Religioso e Místico apesar da racionalidade decorrente do processo tecnológico. Boff cita, Comte, K. Marx, S. Freud, M. Weber para mostrar como a modernidade viu a religião. O saber como modelo da modernidade, entrou em crise, o que explica a volta vigorosa do religioso e místico, diz Boff. A religião faz parte do ser humano desde os primórdios é inseparável da raça humana, afirma o autor.Leonardo Boff mostra que as religiões se encontram em dois aspectos básicos: A valorização da vida em si, e a compaixão para com os oprimidos. Exortando as igrejas cristãs a apoiarem os movimentos de liberdade dos pobres em questão de justiça societária sendo um desafio lutar contra a desumanização da qualidade de vida no mundo em que vivemos.As religiões cooperam com as culturas a tomarem a reta posição. A religião é algo eterno nunca desaparece; e o século XXI será o religioso prevê Boff.Em seus capítulos III e IV, o autor sugere uma democracia ecológico-social argumentando que a sociedade não é uma coisa, mas uma rede de relações entre pessoas, suas funções, suas coisas e instituições. O autor destaca que o capitalismo não venceu com a queda do socialismo, citando que há um lado positivo do socialismo; o da revolução da fome, e da sociedade igualitária, o do socialismo. No socialismo, o social possui a centralidade, o que não e encontrado na área capitalista.Afirma Boff que a Teologia da Libertação, desde o início, não coloca no centro de sua prática e de suas reflexões o socialismo, mas os pobres coletivos e conflitivos, tendo em seu nascimento duas experiências, uma Política e outra Teológica.Ainda no capitulo IV, Boff explica que a Teologia da Libertação busca uma modernidade alternativa e integrada, importa construir uma convergência através de uma nova revolução mundial, que postule uma modernidade alternativa e integral que incorpore o imenso cabedal de ciências e de técnicas mas para isso é importante a solidariedade.No capitulo IV, o autor diz que a libertação só é real quando se criam as condições políticas para a realização da justiça societária. A teologia da libertação, vê a ciência, a tecnologia e o poder como parte do projecto de resgate, construção, consolidação e expansão da vida e da liberdade humana finaliza Boff.Através de seus textos Leonardo Boff assim como Fernando Campelo Gaivota, Edgar Alain Poe e G. Write busca um lugar melhor para a humanidade, onde haverá mais igualdade social. O autor idealiza através do seu livro uma solução, que a primeira análise, pode parecer utópica levando em conta as atuais circunstâncias do mundo em que vivemos, principalmente no que diz respeito ao emergente neo-liberalismo fulminante na individualização do homem. Nos resta esperar o que propõe o autor no seu livro, uma justiça societária, um futuro que parece distante.
Teólogo Leonardo Boff


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LEONARDO BOFF: É professor de teologia, filosofia, espiritualidade e de ecologia, na Universidade do Rio de Janeiro. Trabalhou mais de vinte anos como franciscano em Petrópolis com um pé na academia e outro no meio dos pobres. Dessa combinação nasceu a Teologia da Libertação, que, junto com outros, ajudou a formular. Assessora comunidades de base, dá cursos em universidades brasileiras e estrangeiras e escreve com assiduidade. Dos mais de 60 livros que escreveu destacam-se Jesus Cristo Libertador, Como fazer Teologia da Libertação, o Rosto Materno de Deus, Igreja Carisma e Poder, A Águia e a galinha, O Despertar da Águia e o recém lançado "Saber Cuidar", onde procura detalhar o cuidado em suas várias concretizações: com a Terra, com a sociedade sustentável, com o corpo, com o espírito, com a grande travessia da morte.

É considerado um dos pilares da Teologia da Libertação.


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ENTREVISTA GRAVADA EM BRASÍLIA, DIA 27/07/96, POR FELIX FILHO DURANTE A REALIZAÇÃO DO IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE PADRES CATÓLICOS CASADOS E SUAS FAMÍLIAS, PARA O JORNAL IGREJA NOVA.

IN - Qual o papel do leigo católico actualmente dentro da Igreja ?

BOFF - Eu creio que o papel principal é o de resgatar o fato de ele ser sujeito, porque o leigo não é sujeito. Ele não decide na igreja e tem que pedir licença para tudo. Eu acho que o leigo, iluminado pelo Evangelho e em solidariedade, deve abrir caminho, iniciativas pastorais. Somente um leigo adulto livre pode ajudar outras pessoas livres. Este é o grande desafio: superar a menoridade histórica a que fomos condenados e recuperar, por nós mesmos e não esperar nunca de cima , o carácter autónomo, independente e solidário.

IN - Como você está vendo este papel conservador da hierarquia católica ?

BOFF - Eu creio que é uma reacção às inovações que os próprios leigos criaram na igreja , especialmente as mulheres e comunidades de base . Todos estes movimentos questionam, a luz do Evangelho, a centralização do poder e a clericalização da igreja . Quando os leigos começam a estudar Teologia, eles querem ser ouvidos e ajudar a decidir. Toda negação a essa exigência é sentida como uma pressão . Roma faz valer a sua força e o direito canônico para reprimir e reduzir novamente ao estado imaturo, infantil, os leigos engajados.

IN - Até que ponto seria uma atitude profética a denúncia da hierarquia mais conservadora da igreja ?

BOFF - Eu acho que a denúncia não faz sentido. Desde Lutero ela é violenta e verdadeira. O que nós temos que fazer é abrir caminhos , sem perder muito tempo em cobrar da hierarquia, porque ela já tem poder e inventou critérios definindo o que é falso e verdadeiro, e os aplica. E por aí nós não temos muita esperança. A única coisa que move a hierarquia é quando vê leigos activos, por conta deles, fundando iniciativas, centros de defesa, comunidades de base, círculos bíblicos. É mostrar que a igreja é mais que este aparato enorme. A igreja é o movimento de Jesus na historia e ganha muitas formas. Hoje é urgente que ganhe a forma laica, autónoma. Cristãos que estão no mundo deixam filtrar as experiências todas do trabalho , da vida, do enfrentamento dos conflitos, pela luz do Evangelho. E ai nasce um comportamento de cristãos que se deixam orientar por aquilo que de herança , de generosidade e de divindade Jesus deixou dentro da humanidade.

IN - Neste final de milénio, com dois mil anos de Cristianismo, para que lado aponta a Teologia ?

BOFF - A Teologia aponta em duas direcções: uma para frente e outra para trás . Para trás é recuperar o sonho de Jesus, que é de grande generosidade e de descobrir Deus como amor e misericórdia . Isto é o que trás o Cristianismo como boa nova à humanidade e que liberta por dentro. E para frente é descobrir que Deus chegou antes dos missionários. Que Ele está fermentando em todas as culturas, o Espírito trabalhando no coração das pessoas. Que há um fogo divino na história que não depende dos seres humanos. A função dos cristãos é ser profetas, intérpretes desta realidade de que eles também são visitados por Deus. Seus caminhos espirituais também são caminhos que conduzem a Deus. Nós queremos somar a eles e renunciar à arrogância de termos o monopólio da salvação e dos caminhos da salvação.

IN - Como a ecologia entra na historia da salvação do homem ?

BOFF - Escrevi ultimamente um livro intitulado " ECOLOGIA. GRITO DA TERRA , GRITO DOS POBRES " . É o intento de trazer a Teologia da Libertação para os anos 90 . Não só os pobres são oprimidos , mas também a terra grita , porque está sendo exaurida pelo tipo de desenvolvimento que temos. Então, a libertação tem que incluir também a libertação da terra . A perspectiva é de dizer : ou nós mudamos de comportamento com relação à terra, recuperando sua sacralidade e nos sentirmos filhos e filhas da terra, ou então corremos o risco de um cataclismo ecológico . A terra não aguenta este tipo de exploração que se faz a ela e pode quebrar. E tem prazos para isso.

IN - Podemos dizer que o ser humano é um ser ameaçado ?

BOFF - O processo mundial de acumulação capitalista sacrifica muito a natureza e as pessoas humanas. Por isso o ser pobre, não incluído no sistema , é marginalizado, passa fome e morre . E esse então é o desafio ecológico porque o ser humano deve ser entendido dentro da natureza. Toda injustiça, agressão ao ser humano, é uma injustiça ao ser mais complexo da natureza. Então, eu creio que uma tarefa nova da opção pelos pobres é incluir a terra como grande pobre que está sendo explorado e reduzido na sua riqueza interna, e que isso poderá afetar toda a biosfera e os seres humanos. Por isso, a questão básica não é que futuro tem a igreja , mas que futuro tem a terra. E como a igreja , o cristianismo ajuda a salvaguardar o futuro bom da terra.

IN - Qual seria , então, o papel de um leigo católico de classe média nesse processo em favor dos pobres?

BOFF - A classe média sempre tem um privilégio. É uma classe laboriosa e que se dota dos meios de comunicação e uma formação acadêmica melhor. Então é uma classe que acompanha o fio da história . O desafio que vem para os cristãos de classe média é socializar o poder que têm, profissional, econômico e intelectual. Normalmente a classe média é convocada a imitar os que estão de cima , a querer ser mais rica ainda . Acho que o cristão deve fazer uma opção para baixo, como Deus fez. Não é transcendência, é transcedecência , é descer na direção daqueles que menos tem, associar-se a causa deles e emprestar tempo, inteligência e capacidade para reforçar a luta do povo, e assim , o povo mesmo possa ter mais força de lutar e conquistar seu direito e sua justiça

IN - Qual sua mensagem para os cristãos leigos que estão na arquidiocese de Olinda e Recife?

BOFF - Eu creio que eles devem olhar para frente, não perder muito tempo com a discussão interna da Igreja . O grande problema não é a Igreja, é a pobreza, injustiça, exclusão, miséria que está na sociedade. É fazer da fé cristã , do seu capital de generosidade e solidariedade uma força transformadora da sociedade, comprometida em mudar a realidade. Essa mudança começa com a gente mesmo, não da barriga prà frente, mas das costas prá frente, nos incluindo nessas mudanças. Então, já em casa, viver uma nova relação homem /mulher, família / filhos. Ter uma atitude mais benevolente com a natureza, não viver só atolado pelo trabalho, mas reservar espaço de gratuidade, de conversa com a família, e ver a dimensão sabática, a dimensão de descanso que a pessoa se refaz da sua humanidade e depois volta ao seu trabalho na perspectiva não obsessiva, mas como forma de colaborar e conseguir o seu sustento. Os leigos tm uma tarefa enorme de inaugurar um cristianismo não clerical, evangélico, mais simples, sem muitas doutrinas e dogmas , fundamentalmente iluminado pelo exemplo de Jesus. Os cristãos têm que dar seu testemunho por conta deles , sem perguntar a ninguém a não ser ao evangelho e aqueles que estão à sua volta.

terça-feira, outubro 23, 2007

Este fosso que se agrava, é considerado um dos factores de risco para a saúde física e mental das populações de um determinado país.
Pobreza ameaça a classe média
Helena Norte
As famílias atingidas pelo desemprego e endividamento são os novos rostos dos dois milhões de pobres que existem em Portugal. A chamada classe média, esganada pelos créditos ou apanhada nas malhas do desemprego crescente, constitui uma nova forma de pobreza, que desafio os estereótipos associados a esse fenómeno. Hoje, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, milhares de pessoas levantam-se para lembrarAs estatísticas do Eurostat revelam que 20% da população portuguesa vive na pobreza. Dois milhões de pessoas, portanto. Na União Europeia, a taxa de pobreza situa-se nos 16%, o que coloca Portugal no top 10 dos estados-membros mais pobres.Os números não são novos. O padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal, diz mesmo que há décadas anos que se fala nessa percentagem. "Com tantos milhões de euros em programas contra a pobreza, porque é que o número de pobres não diminuiu?", questiona.Para perceber, comecemos pela definição técnica de pobre. É considerado pobre quem ganha menos de 60% da mediana dos salários do seu país. Isto é, quem tem rendimentos inferiores a 60% do vencimento auferido por metade da população. No caso de Portugal, corresponde a 360 euros por mês, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística referentes a 2004. O conceito de pobre varia, portanto, de país para país. O que significa que os 68 milhões de pobres que existem na União Europeia têm níveis de vida muito diversos. Um pobre na Suécia viveria confortavelmente em Portugal ou na Lituânia.Ter emprego não significa estar acima do limiar de pobreza. O mito de que só quem não trabalha cai nas malhas da miséria é desmentido pelos números 14% dos portugueses que trabalham estão em risco de pobreza, de acordo com dados da Rede Europeia.Novos pobresO problema é que não ganham o suficiente para pagar as contas. Isabel Jonet, directora do Banco Alimentar (BA), diz mesmo que os novos pobres são aqueles que contraíram créditos ou assumiram responsabilidades financeiras que já não conseguem honrar, seja porque perderam o emprego ou porque o custo de vida está cada vez mais elevado. O BA recebe um número crescente de solicitações , que encaminha para instituições com quem tem protocolos, de pessoas que, vencendo o pudor, pedem ajuda.Estes novos fenómenos desafiam também as classificações tradicionais de classe média. "Se 20% dos portugueses concentram 80% da riqueza, já não há a chamada classe média", explica o padre Jardim Moreira. As desigualdades sociais, em Portugal, são ainda mais chocantes do que no resto da Europa. Segundo dados da Eurostat, referentes a 2004, o grupo com mais rendimentos ganha sete vezes mais do que a franja mais desfavorecida."O que tem sido feito é gerir a pobreza, não resolvê-la", critica o padre Jardim Moreira. Uma das formas de camuflar a real dimensão do problema é aumentar as transferências sociais (subsídios e outras prestações). Se fossem cancelados todos esses apoios, a taxa de pobreza, em Portugal, aumentaria para 38% e na Europa 40%, o que é revelador da "subsidiodependência".Os idosos que vivem sós e as famílias com dois ou mais dependentes apresentam um risco de pobreza substancialmente mais elevado (42%) do que a restante população, de acordo com dados do INE.Para quebrar o ciclo da pobreza, os especialistas são unânimes na necessidade de investir na educação. Neste parâmetro, o nosso país apresenta também indicadores desoladores a taxa de abandono escolar é de 39% (quando na Europa não ultrapassa os 15%).

sábado, outubro 20, 2007

Lamento só ter conhecido a biografia de Alan Rabinowitz quando já tinha os cabelos grisalhos (ou seja, há apenas um par de anos), pois ter-me-ia servido de inspiração – e há poucas coisas mais importantes na formação de uma pessoa. Talvez até me pudesse ter ajudado a atenuar a perene sensação de estar deslocado nos ambientes sociais pelos quais me tenho arrastado.
Alan Rabinowitz é um biólogo estadunidense que conquistou bastante prestígio e notoriedade lutando incansavelmente pela preservação do jaguar. A sua carreira como investigador profissional desta espécie (associado à Universidade de Massachusetts) iniciou-se na floresta de Belize (Mesoamérica). Afortunadamente, logo se tornou um dos protegidos do insigne Dr. Schaller, pioneiro da biologia conservacionista.
O labor de Rabinowitz (marcado por uma determinação férrea, idealismo e ética impoluta) assumiu um carácter messiânico. Porém, a sua obsessão (tecnocientífica) pelos jaguares toldou a sua percepção holística da selva (por ele encarada como um mero habitat, um suporte físico, da sua espécie fetiche/favorita), tendo adoptado uma atitude de estoicismo algo beligerante em relação ao meio ambiente, que parecia conspirar para o ver fracassar e onde se sentia um alienígena. Entretanto, a experiência traumática de um desastre de avioneta na selva confrontou-o com a sua fragilidade e com a aleatoriedade da morte. Isso deu-lhe uma visão mais espiritual da vida, do seu trabalho e da selva – que passou a encarar como uma amante difícil que exige um profundo respeito e admiração, que impõe os seus ritmos.
A infância deste homem extraordinário foi muito difícil principalmente devido a padecer de uma gaguez extremamente aguda que lhe inviabilizava o discurso oral e o tornou vítima de preconceitos, chacota e de exclusão no sistema de normalização forçada do ensino formal – que o tratou como a um deficiente mental, apesar de ser muito inteligente e sensível.
Mesmo no ambiente urbano e hostil (o Brooklin, Nova Iorque) em que vivia, o seu amor pelos animais (cuja proximidade então se limitava às espécies domésticas e algumas exóticas que adquiria em lojas de animais, desconhecendo ainda que estava assim a contribuir para o desenvolvimento de uma das actividades actualmente mais lesivas para a vida selvagem) foi para a criança solitária um consolo maior, podendo interagir com eles de forma mutuamente afectuosa e humorosa, sem riscos de discriminações. O jovem Alan descobriu que a gaguez incapacitante que o exilava do convívio social prazenteiro
Poderia ser mitigada de duas maneiras: cantando e falando com os seus amigos não humanos.
Mas o seu ostracismo consolidou-se em misantropia, à medida em que crescia a sua paixão pela vida selvagem. E foi a combinação destas características predominantes no seu carácter que levaram os responsáveis pela universidade onde se formou, bem como todos os seus colegas aos quais ajudou em pesquisas de campo no seu país natal, a lhe confiarem o projecto de estudo do jaguar em Belize, que exigia trabalhar em solitário na selva tropical. Em relação aos animais, ele identifica-se com a vulnerabilidade à crueldade gratuita ( que tem por base a ignorância, a mesquinhez e a ganância) dos homens. Reconhecendo a sua responsabilidade moral e até o poder social que estava ao seu alcance, resolveu tornar-se num campeão da defesa dos parentes silvestres que se estão a extinguir com angustiante celeridade.

A perseverança que Rabinowitz imprime aos seus objectivos prioritários é também um reflexo da bem sucedida luta contra a gaguez e pela recuperação da sua auto-estima. E forma surpreendente, acabou por se tornar um brilhante orador (fazendo palestras por todo o mundo para chamar a atenção dos seus projectos conservacionistas e angariar preciosos apoios), não vacilando perante os enormes obstáculos que se depara na defesa do jaguar e dos ecossistemas ainda favoráveis a este felino emblemático. Ironicamente, apesar de o colocarem no topo da pirâmide (na verdade, é mais uma cadeia) trófica, este é um dos animais mais vulneráveis aos avanços de uma civilização contra natura.