Sociedade Automóvel - BioTerra de Luto por 5 dias úteis
Lisboa e Porto são as cidades do País que registam maior número de atropelamentos por ano. Aliás, a média conjunta alcançada até Outubro de 2007 já revela que diariamente são atropeladas quatro pessoas, precisamente 3,98. No caso de Lisboa, 2,2 e no do Porto 1,7. Uma média que faz com que Portugal continue entre os primeiros da União Europeia neste tipo de sinistralidade. Até Agosto, e segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), foram atropelados mais de quatro mil peões, 74 morreram. Mas dados oficiais revelam ainda que a capital já registou até agora quase 700 atropelamentos. Destes, 445 ocorreram fora da passadeira, 251 dentro desta. A maioria das vítimas tinha idades entre os 60 e os 94 anos, embora 2007 esteja a ser um ano um pouco atípico, já que regista sinistrados bem mais jovens, na faixa dos 30 e 40 anos (Fonte: DN 3 de Novembro).Em Portugal até final de Agosto, os registos de sinistralidade davam conta de um aumento de quase 50% do número de vítimas mortais em auto-estradas, relativamente ao período homólogo de 2006 - de 42 para 62 mortes. A ANSR não dispõe de dados mais actualizados, mas a dimensão do acidente da A 23 é suficiente para fazer disparar ainda mais esta estatística (Fonte: JN de 7 de Novembro ). Neste acidente há ainda algo a assinalar: há professores envolvidos no acidente.Há muitos professores que trabalham a mais de 50 km da Escola onde leccionam , fazem deslocações de carro e muitos sem transporte público para as escolas e nesta altura do ano obrigatóriamente têm que fazem Reuniões Intercalares após as 18.30. Muitas destas reuniões se prolongam até as 21.30 para retomar o trabalho no dia seguinte, tenha o horário que tiver. Quando racionalmente para bem de todos e de toda a sociedade era fazer uma pausa, como já se realizou há anos atrás e foi contestada.Este documentário,de 30 min., realizado por Branca Nunes e Thiago Benicchio, em 2005, na cidade de S.Paulo, expõe muitas mais incongruências.O documentário é sobre São Paulo, mas serve para a maioria das cidades e vilas. No lugar da praça ou Jardim Público, um shopping center; no lugar da calçada, a avenida; no lugar de um Parque Urbano, o estacionamento e novas casas e mais ruas, em vez de vozes, o som dos motores e buzinas.Trabalhar para dirigir, dirigir para trabalhar: compre um carro.Na ditadura do automóvel o que vemos :vidros escuros e fechados que evitam o contacto humano; viver para o parecer ter e tédio, raiva, angústia e solidão sem parar.Vários entrevistados neste documentário dizem que usam carro por segurança (é uma falácia comum). No entanto confessam que foram mais vezes assaltados com o carro do que a pé ou que roubaram os seus automóveis...Dá para pensar, não dá?Depois estamos a pagar com nossa saúde pela poluição de muitos.Além disso , com Emprego Descartável o que obriga? a trabalhos temporários longe de casa e ao mesmo tempo com os sucessivos cortes nas redes e horários de transportes públicos, obriga a migrações com diferentes velocidades individuais e colectivas , tudo gerando incerteza: longe da família, stress e poluição, horizonte longe de ter um emprego fixo, stress, adiar uma família, stress, adiar ter filhos, stress, filhos sozinhos em casa, stress, menos horas de descanso, stress.Filhos orfãos, luto.O prazo de 4 anos do carro está chegar ao fim, stress,insegurança financeira e poluição. A revisão do carro é precisa, stress,insegurança finaceira e poluição.Levar e trazer os filhos/netos à escola/ATL/ginásio/pedopsiquiatra/centro de estudos, stress, longe dos filhos, stress.Deslocação centro-subúrbios, stress e muita poluição.Filhos e netos desaparecidos por rapto através de automóvel, muita insegurança e muito stress.Comportamentos de risco (alcoól, drogas,contra-mão)......tudo isto somado só pode aumentar a probabilidade de mais atropelamentos, mais acidentes, mais mortes, mais dor, mais incapacitados em idade de trabalho, mais orfãos, mais luto, mais custos e menor qualidade de vida.Mais e as contas de Estradas de Portugal? (ler a notícia Estradas de Portugal, a maior marosca orçamental para 2008 onde nessa conferência de imprensa Francisco Louçã distribuiu uma nota sobre o relatório do Tribunal de Contas, onde salienta cinco questões no quadro devastador da gestão e estratégia da Estradas de Portugal, feito pelo TC: contas obscuras, ajustes directos sem controlo, privilégio ao BCP, abuso contra as pessoas e um novo imposto fora da lei.O uso do automóvel é um dos principais contribuintes directos para a aceleração da perda de biodiversidade através , dizimando-se animais e plantas que precisam do seu espaço, cumprir os seus ciclos de vida. Para a sua circulação e em nome da (in)segurança, constroiem-se mais estradas e apelos a novidades automobilísticas, mais carros por família,mais traçados rasgando areas de solos fértil, entubando ribeiras e assim mais desertificação e mais pobreza...Para recursos alternativos ao combustível do automóvel,actualmente o petróleo, existem várias propostas: biogás, bio-fuel,eléctrico, solar, hidrogénio e híbrido. Contudo o lobbie dos agro-combustíveis está a perpretar planos para soberania impedindo o crescimento de mercado das outras fontes (ler o artigo Biofuels could kill more people than the Iraq war de George Monbiot).Neste jogo de Titanic egoísta e individualista que milhares não querem ver....não podemos nem devemos meter a cabeça na areia ou olhar para o lado...posso ser eu ou tu o próximo...mesmo peão ou em transporte público. Estamos mesmo num grave desequilíbrio. Monocultura da Sociedade do Automóvel? Apocalipse Motorizado? Por tudo isto e porque há muitas opções para uma vida saudável e segura e direito e dever de conservar um planeta sustentável e no entanto não vendo esforço colectivo para mudar esta batalha campal nas estradas e crimes ambientais por causa da sociedade do automóvel, faço o luto por 5 dias úteis, esperando que os que por aqui passam se obriguem a reflectir em casa, nos empregos, nas autarquias, nas decisões antes de optar pelo automóvel e apelo ao uso racional do automóvel e ser mais amigo do Ambiente.
Paz às vítimas que não estão connosco, a minha solidariedade com as famílias em luto e a minha solidariedade com as espécies que estão vulneráveis ou em vias de extinção por causas humanas.E nós próprios somos uma espécie vulnerável por causas humanas.
João Soares ( que não tem nada a ver com o “príncipe maçon”!)
Bioterra
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