terça-feira, outubro 23, 2007

Este fosso que se agrava, é considerado um dos factores de risco para a saúde física e mental das populações de um determinado país.
Pobreza ameaça a classe média
Helena Norte
As famílias atingidas pelo desemprego e endividamento são os novos rostos dos dois milhões de pobres que existem em Portugal. A chamada classe média, esganada pelos créditos ou apanhada nas malhas do desemprego crescente, constitui uma nova forma de pobreza, que desafio os estereótipos associados a esse fenómeno. Hoje, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, milhares de pessoas levantam-se para lembrarAs estatísticas do Eurostat revelam que 20% da população portuguesa vive na pobreza. Dois milhões de pessoas, portanto. Na União Europeia, a taxa de pobreza situa-se nos 16%, o que coloca Portugal no top 10 dos estados-membros mais pobres.Os números não são novos. O padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal, diz mesmo que há décadas anos que se fala nessa percentagem. "Com tantos milhões de euros em programas contra a pobreza, porque é que o número de pobres não diminuiu?", questiona.Para perceber, comecemos pela definição técnica de pobre. É considerado pobre quem ganha menos de 60% da mediana dos salários do seu país. Isto é, quem tem rendimentos inferiores a 60% do vencimento auferido por metade da população. No caso de Portugal, corresponde a 360 euros por mês, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística referentes a 2004. O conceito de pobre varia, portanto, de país para país. O que significa que os 68 milhões de pobres que existem na União Europeia têm níveis de vida muito diversos. Um pobre na Suécia viveria confortavelmente em Portugal ou na Lituânia.Ter emprego não significa estar acima do limiar de pobreza. O mito de que só quem não trabalha cai nas malhas da miséria é desmentido pelos números 14% dos portugueses que trabalham estão em risco de pobreza, de acordo com dados da Rede Europeia.Novos pobresO problema é que não ganham o suficiente para pagar as contas. Isabel Jonet, directora do Banco Alimentar (BA), diz mesmo que os novos pobres são aqueles que contraíram créditos ou assumiram responsabilidades financeiras que já não conseguem honrar, seja porque perderam o emprego ou porque o custo de vida está cada vez mais elevado. O BA recebe um número crescente de solicitações , que encaminha para instituições com quem tem protocolos, de pessoas que, vencendo o pudor, pedem ajuda.Estes novos fenómenos desafiam também as classificações tradicionais de classe média. "Se 20% dos portugueses concentram 80% da riqueza, já não há a chamada classe média", explica o padre Jardim Moreira. As desigualdades sociais, em Portugal, são ainda mais chocantes do que no resto da Europa. Segundo dados da Eurostat, referentes a 2004, o grupo com mais rendimentos ganha sete vezes mais do que a franja mais desfavorecida."O que tem sido feito é gerir a pobreza, não resolvê-la", critica o padre Jardim Moreira. Uma das formas de camuflar a real dimensão do problema é aumentar as transferências sociais (subsídios e outras prestações). Se fossem cancelados todos esses apoios, a taxa de pobreza, em Portugal, aumentaria para 38% e na Europa 40%, o que é revelador da "subsidiodependência".Os idosos que vivem sós e as famílias com dois ou mais dependentes apresentam um risco de pobreza substancialmente mais elevado (42%) do que a restante população, de acordo com dados do INE.Para quebrar o ciclo da pobreza, os especialistas são unânimes na necessidade de investir na educação. Neste parâmetro, o nosso país apresenta também indicadores desoladores a taxa de abandono escolar é de 39% (quando na Europa não ultrapassa os 15%).

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