segunda-feira, julho 23, 2007


Gary Snyder:

«Coyote and Ground Squirrel do not break the compact they have with each other that one must play predator and the other play game.» (The Practice of the Wild, 1990. )
«We . . . must try to live without causing unnecessary harm, not just to fellow humans but to all beings. We must try not to be stingy, or to exploit others. There will be enough pain in the world as it is. » ;
«Creatures who have traveled with us through the ages are now apparently doomed, as their habitat - and the old, old habitat of humans - falls before the slow-motion explosion of expanding world economies. » ;
«We need a civilization that can live fully and creatively together with wildness. We must start growing it right here, in the New World.» ;
«Some tiny but critical tracts are held by private nonprofit groups like The Nature Conservancy or the Trust for Public Land. These are the shrines saved from all the land that was once known and lived on by the original people, the little bits left as they were, the last little places where intrinsic nature totally wails, blooms, nests, glints away. They make up only 2 percent of the land of the United States.»;
«The world is our consciousness and it surrounds us.»;
The depths of mind, the unconscious, are our inner wilderness areas, and that is where a bobcat is right now . . . the bobcat that roams from dream to dream. »;
«The pathless world of wild nature is a surpassing school and those who have lived through her can be tough and funny teachers.» ;
«Why should the peculiarities of human consciousness be the narrow standard by which other creatures are judged? »;
«The lessons we learn from the wild become the etiquette of freedom.»;
«Greed exposes the foolish person or the foolish chicken alike to the ever-watchful hawk of the food-web and to early impermanence. »;
«Nature is orderly. That which appears to be chaotic in nature is only a more complex kind of order.» ;
«It is clear that the forests must be managed in a way that makes them permanently sustainable.»;
«We ask for slower rotations, genuine streamside protection, fewer roads, no cuts on steep slopes, only occasional shelterwood cuts, and only the most prudent application of the appropriate smaller clear-cut.» ;
«We call for a return to selective logging, and to all-age trees, and to serious heart and mind for the protection of endangered species.»;
«Forests in the tropics are cut to make pasture to raise beef for the American market. Our distance from the source of our food enables us to be superficially more comfortable, and distinctly more ignorant. »;
«Our art is full of animal and plant motifs. All art is full of it. And all story telling and song is full of animals and plants.» (Talking on the Water, 1994.) ;
«Nature literacy is being tuned to the weather and to birds and animals. It's having a sense of what your particular climatic type is. It's knowing what river you're living on and where your drinking water comes from.»;
«You see things differently by actively studying plants , flowers, weather , birds , over a long period.»;
«There's a big, old live oak down in one end of the meadow I have walked by hundreds of times. I knew what it was&emdash;an interior live oak. I've crawled under it on several occasions. It was no mystery to me. But one day last spring, I stopped and took a look at it, and I really saw it. In a sense, it showed itself to me. No woo-woo about it . . . In India, this is called darshan. »;
«The natural world is a community I want to be a part of, because I have more respect for myself when I'm engaged with it.»;
«It's good to understand that the range of the world itself has made things happen, that there would be no orcas without seals, no seals without salmon, and no salmon without little pink plankton.»

sexta-feira, julho 20, 2007

A propensão para experiências místicas e os privilégios (em termos de equilíbrio psíquico e físico*) que acarretam é, tanto quanto sabemos, uma singularidade exclusiva da nossa espécie. Os circuitos neurológicos e toda a sua complexa química cerebral estão adaptados/aptos à espiritualidade.
Uma nova ciência, chamada neuroteologia, assumiu a difícil tarefa de perceber como e porquê. Essas investigações pioneiras, iniciadas em 1970 pelo psiquiatra e antropólogo Eugene d´Aquili,estão essencialmente a ser conduzidas pelo Dr. Persinger e pelo Dr. Newberg. Ao que apuraram, o transe místico e a consequente epifania processa-se com a hiperestimulação dos lóbulos temporais, ao mesmo tempo que os lóbos parietais (onde se situa a autoconsciência e a orientação tempo-espacial) quase cessam a sua actividade. (Claro que várias outras partes do cérebro estão envolvidas neste processo, mas têm um papel menos preponderante que as anteriormente citadas.) Quando o ego deixa de se comportar como um monólito obcecado com o sucesso da sua sobrevivência física, e a percepção da realidade deixa de estar centrada na análise das informações transmitidas pelos nossos sentidos, os indivíduos sentem o poder da mente expansiva e uma comunicação ao mesmo tempo una e transcendental com o universo (aquilo a que os devotos católicos chamam de "união mística").
Existem suficientes registos científicos que demonstram que a epilepsia dos lobos temporais, quando se manifesta em ataques agudos, pode levar os pacientes a experimentarem alucinações temporais.Sabemos agora que as actividades geomagnéticas extraordinariamente intensas (como acontece com as auroras boriais/austrais com todas as tempestades geomagnéticas e correntes eléctricas a que estão associados estes fenómenos) originam um aumento significativo de experiências místicas. É possível induzir artificialmente essas experiências "místicas" / transcendentais através da exposição a campos electromagnéticos. A maioria dos voluntários testados deste modo tiveram visões sobrenaturais e sobretudo sentiram a presença de entidades invisíveis.

*Os indivíduos religiosos geralmente são mais felizes, saudáveis, serenos e, logo, menos sujeitos aos efeitos nefastos do stress, o que lhes permite terem vidas mais longas .A médica pedagoga Maria Montessori observou que as crianças às quais é dada a oportunidade de exercitarem (num ambiente tranquilo e sem interrupções) a mente através de longos períodos de contemplação e de concentração, após estes exercícios introspectivos, geralmente experimentam um bem estar extraordinário e demonstram um desejo de ajudar os outros. No final do dia seria bom que os seus encarregados de educação lhes incutissem o hábito de reflectirem sobre os acontecimentos mais marcantes, perquirindo-oscom uma lupa moral (válida apenas para as relações humanas) que realce a importância de cultivar a amizade e os seus ritos e de agirmos de acordo com os nossos melhores valores e de consciência tranquila/apaziguada, mesmo que uma sociedade enferma premeie (com poder) quem faz exactamente o contrário.Os adultos deverão estar sempre disponíveis para discutirem estes assuntos quando solicitados pelas crianças.


PB

quinta-feira, julho 19, 2007

Aprender en libertad

Carlos Fresneda

Suena la sirena en el patio carcelario de un colegio público de Madrid. Corren los niños a ponerse a fila como en un disciplinado ejército, bajo la vara invisible de la instrucción. Quedan por delante siete u ocho horas de confinamiento y sumisión, en aras del rigor académico y bajo la guillotina del fracaso escolar.
Cantan ahora los pájaros en los árboles de la Sudbury Valley School, a tiro de piedra de Boston. Niños de todas las edades campan a sus anchas por los prados. No hay prisa para entrar en clase, porque no hay "clases" propiamente dichas, sino "habitaciones" donde los 160 chavales podrán adentrarse cuando y como quieran en el mundo de la música, del arte, de la ciencia o de la informática.
El tiempo fluye mágicamente en el caserón de la escuela. No hay horarios rígidos, ni programas estrictos, pero da la impresión de que todos saben qué hacer. Los diez "tutores" están siempre disponibles, aunque dejan que sean los niños quienes marquen la pauta. Unos ensayan una obra, otros se encierran en el laboratorio de fotografía, otros se sientan ante el ordenador, otros se ponen el delantal y cocinan spaghetti para la gran familia. Una vez por semana, grandes y pequeños se ven las caras y votan a mano alzada en la Reunión Escolar, donde se decide hasta el último detalle de la vida en Sudbury. Los padres pueden participar también en la Asamblea, el máximo órgano legislativo. Todos los días, el comité judicial examina las pequeñas incidencias y trata de mediar en los conflictos que van surgiendo. Los niños aprenden sobre la marcha que libertad y responsabilidad son dos caras de la misma moneda.
Y el entretiempo, sin presiones, sin notas, sin exámenes, los estudiantes pueden elegir entre los cientos de libros que forran las paredes de la escuela. En todos ellos está escrito con tinta invisible: "Conócete a ti mismo".
"Cuando empezamos, en 1968, hubo gente que nos decía que esto era un idea utópica, que los niños se estrellarían contra la realidad", recuerda Mimsy Sadofsky, una de las "pioneras" de Sudbury Valley. "Pero la verdad es que la vida aquí se parece mucho más a la realidad exterior que en la mayoría de las escuelas, donde se habla de democracia pero casi nunca se practica".
"Nosotros confiamos en los niños, les permitimos que tomen decisiones y asuman la responsabilidad de su propia educación", añade Mimsy, madre de tres hijos, crecidos a la sombra de Sudbury Valley. "Si a los niños le das confianza, ellos mismo buscan, prosiguen con el aprendizaje todos los días de una manera muy natural, sin necesidad de controlarles hasta el último minuto y exigirles constantemente resultados".
Los intentos de "liberar" las escuelas, de convertirlas en centros de aprendizaje y convivencia —y no en fábricas de ensamblaje o en instrumentos de control social— se remontan a hace más de un siglo. El propio Leon Tolstoi, en "Educación y Cultura", abogaba por "conceder a los estudiantes total libertad" y se preguntaba si la escuela de sus sueños sería realidad en cien años.
La experiencia de Summerhill, iniciada en 1921 por A.S. Neill en Inglaterra, ha sido tradicionalmente el punto de referencia. Los años sesenta trajeron a Estados Unidos el viento refrescante de las escuelas "libres", y desde entonces el epicentro se ha trasladado a Sudbury Valley, ese bucólico rincón de Massahussetts a donde siguen acudiendo educadores de todo el mundo a la busca de inspiración
Hoy por hoy existen ya 184 escuelas "democráticas" en 31 países, y muchas otras guiándose por los principios del aprendizaje en libertad. Estados Unidos, Holanda e Israel van a la proa, pero el movimiento se está extendiendo por todo el globo. El próximo verano, en Sydney, se celebra la 13 Conferencia Internacional de Educación Democrática (IDEC), con una pregunta lanzada al aire: "¿Cuál es el siguiente paso?".
Daniel Greenberg, autor de "Por fin libres" y uno de los fundadores de la Sudbury Valley School, tiene una visión muy clara: "Estamos en pleno tránsito de una sociedad industrial a una post-industrial. No podemos desmantelar de un día para otro las instituciones de la sociedad industrial, pero sí crear escuelas de transición, libres y democráticas".
Greenberg vaticina que las escuelas acabarán "abriéndose al mundo más allá de sus fronteras" y que los estudiantes se beneficiarán de "las innovaciones y de la libertad de elección" para ir dibujando su destino en la vida, y respondiendo sobre la marcha al modelo de sociedad que están ayudando a crear.
Pascal, Zaack e Ilona, tres de los alumnos más jóvenes de Sudbury Valley, se conforman de momento con modelar la arcilla y pintar dragones ante los ojos ávidos de Mark Bell, 52 años, el tutor de música, con una querencia especial por los más pequeños. Mark se pone a su altura y procura no interferir en lo que se traen entre manos. En vez de proponer actividades o de pedir resultados, espera el momento mágico en que los niños le digan: "¡Mira lo que he hecho!". Mark Bell fue alumno antes que tutor, y aún recuerda como si fuera ayer la "tremenda liberación" que sintió al abandonar el sistema escolar tradicional y recalar en Sudbury… "Yo fui uno de los pioneros, en 1968. Tenía 15 años, y hasta entonces mi vida se limitaba a obedecer órdenes. Sentí como si de pronto me quitaran unos correajes. Aquí me escucharon por primera vez, aquí encontré la confianza en mí mismo y aprendí a ser adulto".
En esta atmósfera de impagable libertad, Mark acabó descubriendo que lo suyo era la guitarra, y terminó creando su propia banda "Mach Five", con la que toca después de cumplir con la escuela. "Pero no creas que todos salimos por la cosa artística y creativa", precisa Mark. "A mi hermana Cathy, que llegó aquí con trece años, le dio por la carrera militar y acabó ingresando en las Fuerzas Aéreas".
Profesores, abogados, empresarios, físicos, granjeros, músicos, bailarinas… La lista de profesiones de los ex alumnos de Sudbury es tan variada como la de cualquier otra escuela. El 82% de los estudiantes que han pasado por aquí en los últimos 38 años han acabado en la universidad y la gran mayoría afirma haber sido fiel al lema que da título al libro colectivo con sus experiencias: "The Pursuit of happiness" ("La busca de la felicidad").
"Hemos probado que esta escuela crea una atmósfera que permite que los niños piensen por sí mismos y lleven una vida plena, jubilosa y satisfactoria", afirma Mimsy Sadofsky, que hizo el estudio de campo. "El aspecto emocional cuenta tanto como el cognitivo, y eso es algo que es muy difícil de medir pero de alguna manera está presente en todos los que pasaron por Sudbury".
"Aunque es posible que este modelo no sea válido para todos los niños", admite Sadofsky. "Hay padres que vienen con una idea y se arrepienten al poco tiempo porque piensan que sus hijos necesitan menos libertad y más "estructura". Otros tienen miedo de que sus hijos tengan "lagunas" y les preocupa que puedan sufrir un choque cultural cuando tengan que foguearse en una sociedad competitiva".
Pero la experiencia nos dice lo contrario", corrige la pionera de Sudbury Valley. "Otra de las grandes ventajas es que aquí los niños no están segmentados por edades. La interacción se produce a todas las horas: los pequeños aprenden de los grandes, y viceversa. A todos se les trata con el mismo respeto y todos asumen las mismas responsabilidades".
Dan las once de la mañana en Sudbury Valley. A esa hora se reúne el comité judicial en una pequeña habitación contigua al salón principal del caserón. Chelsea, de 14 años, y Jason, de 17, se estrenan tal que hoy como "jueces" después de haber sido elegidos democráticamente.
Todo el que quiera está invitado a participar, aunque sólo están obligados a dar la cara quienes se han visto envueltos en incidentes, como Pascal, "acusado" de insultar a Austin, o Sarah, que no cumplió con las normas internas de limpieza.
Bajo la supervisión de un tutor, Chelsea y Jason interrogan a los chavales, pero sin llegar a intimidarles, como si fuera un juego. Al cabo de una hora dictan las sentencias que acto seguido serán hechas públicas en el tablón de anuncios.
Pese a la mezcla de edades y a la atmósfera de libertad, los conflictos son menos habituales que los de cualquier escuela. "Cuando a la gente le cuentas cómo funcionamos, se piensan que esto es la anarquía", cuenta Chelsea. "Pero la verdad es que cada uno asume su responsabilidad, y si te pasas de la raya tienes que rendir cuentas". Chelsea siente curiosidad por las leyes, por eso se presentó para el comité judicial, aunque lo que más le tira de momento es el arte. Jason llegó a Sudbury de rebote, después de haber perdido el interés por los libros, y aquí ha descorchado como un cerebro de la informática, profesor insustituible de los más pequeños.
El día discurre plácidamente en Sudbury Valley, como el agua del lago en los confines de la escuela. Un grupo de chavales hace tiempo al aire libre mientras llega la hora del almuerzo; otros deciden quemar energías en la cancha de baloncesto.
Al mediodía, por gentileza de Mark, Jedi y Paul llega el plato especial de spaghetti, que servirá de paso para recabar fondos para la escuela. Los estudiantes están siempre ingeniándoselas para recaudar dinero y mejorar los equipamientos.
Aunque también hay tiempo, mucho tiempo, para la reflexión y el juego. Para muchos ex alumnos, el principal recuerdo de Sudbury es la experiencia impagable de contemplar el cambio de estación desde la rama de un árbol o desde lo alto de una roca. O la persecución tenaz de un sueño, una pasión o una idea más allá de las imposiciones que han convertido la infancia en una carrera de obstáculos.
¿Y quién nos garantiza que los niños aprenden las nociones básicas? Preguntan los padres escépticos. "En primer lugar, tendríamos que cuestionarnos quién decide lo que deben saber nuestros hijos", replica Laura Stephan, una de las madres que ha impulsado el proyecto de la Escuela Libre de Brooklyn, siguiendo los senda de Sudbury Valley y de la también legendaria Free School de Albany.
"Cada niño tiene sus propios intereses y su ritmo de aprendizaje, y ni siquiera sus padres somos quiénes para imponerles lo que deben saber en los próximos cinco o diez años", añade Laura. "El mundo en que vivimos cambia cada vez más rápido, los conocimientos circulan con más y más fluidez, y los niños necesitan ante todo confianza y flexibilidad para desarrollarse como pensadores independientes".
Laura educó a su hija Macy en casa hasta los siete años, hasta que se unió a un grupo de padres de Brooklyn y se decidió apuntarla a la Escuela Libre. "Para la niña no hay sido un cambio muy grande", admite. "La única diferencia es que ahora tiene un lugar de encuentro y que está en contacto con niños de todas las edades, pero es ella la que sigue marcando el camino. El aprendizaje es una cualidad innata: lo único que necesita un niño es un ambiente propicio para la automotivación".
Cada cual es muy dueño de ofrecer una clase a los alumnos de la Escuela Libre de Brooklyn, siempre y cuando no sea obligatoria. La exploración y el contacto con el entorno urbano de Nueva York es la única asignatura común para los estudiantes, cuya voz y voto pesa tanto como la del personal docente.
La escuela se compromete a "eliminar completamente, si es posible, la influencia directa, la presión y el estrés derivado de las expectativas para que los niños adquieran una visión determinada de la sociedad o respondan a criterios arbitrarios de aptitud". La carta fundacional de la Brooklyn Free Scchool, la última de las 80 escuelas "democráticas" que funcionan en Estados Unidos, puede leerse casi como si fuera una declaración de derechos: "Creemos que los niños son autodidactas por naturaleza y que están capacitados para perseguir sus propios intereses, del modo que ellos elijan, a su propio ritmo y por el tiempo que quieran, siempre y cuando no restrinjan el derecho de otra persona a hacer lo mismo".
Más información:
. Conferencia Internacional de Educación Democrátrica

Sudbury Valley School: www.sudval.org Brooklyn Free School
Por fin Libres, de Daniel Greenberg (Asociación de Familias para el Desarrollo del Autodidactismo: autodidacto arroba wanadoo punto es)
Artículo publicado originalmente en la revista Integral en su edición en papel, en el número de junio del 2006

terça-feira, julho 17, 2007

Os Cátaros

«Entende-se por fanatismo uma loucura religiosa, sinistra e cruel; é uma enfermidade que se contrai como com a varíola.» - Voltaire


Mesmo que a Igreja CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA não tivesse banido pelo menos 30 evangelhos que, no séc. II, circulavam por dezenas de congregações cristãs, tudo indica que a cristandade teria igualmente conduzido a humanidade numa guerra contra a natureza que actualmente atingiu o seu ponto mais crítico.
No século XII toda a região do Languedoc e comarcas adjacentes eram um reduto cátaro. A Igreja Católica chamava a esse fenómeno religioso «a louca lepra do sul».
Mesmo entre a população local (que habitava no sul de França e norte de Itália) que não queria abdicar dos seus cultos católicos ou judaicos, os cátaros eram tidos em alta consideração, tendo granjeado a simpatia unânime devido à sua índole geralmente pacífica e daimosa. Até podiam ser sectários (ex.: alguns jejuavam até à morte e tinham horror à animalidade basilar e intrínseca ao homem), mas transmitiam uma imagem de probidade e de compaixão, de integridade entre o discurso e a acção.
Os cátaros praticavam um género de socialismo humanista muito mais próximo da mensagem de Cristo, do que o rumo que o Vaticano seguia e impunha à sociedade. A sua ética exemplar incluía obras de acção social, tais como a assistência médica (independentemente do credo e da condição social dos enfermos) e o ensino gratuitos. Ademais, os seus líderes (onde se incluíam alguns nobres) eram tidos como pessoas muito cultas, amantes da poesia e da literatura. (Há investigadores que estão convencidos de que se a acrisolada cultura cátara não tivesse sido prematura e brutalmente extinta, poderia ter assumido o brilhantismo que veio a conhecer a Itália renascentista a partir da cidade de Florença.)
Não é, pois, de admirar que haja tantas referências sobre o facto de que, durante a Cruzada (anti)Albigense, nas cidades sob ataque, quase todas as pessoas capazes de pegar em armas e lutar, fizeram-no ao lado dos cátaros. Sob o prisma da verdade pragmática, é preciso notar que estavam todos a lutar pelas suas vidas (pouco importando qual o seu credo, ou se tinham parentes e amigos entre os cátaros), pois os cruzados não se molestavam em fazer distinções quanto ao credo, etnia, sexo ou idade, empenhados que estavam em consumar um genocídio. Vítimas da política de totalitarismo baseada na limpeza étnica promovida pelo Vaticano, muitos católicos foram igualmente submetidos a indescritíveis tormentos que sempre acabaram em massacres.
A propósito, ficou célebre uma frase geralmente atribuída a Inocêncio III, mas que, na realidade , é da autoria de um representante seu chamado Arnaud Amaury, Arcebispo de Narbonne. Na cidade de Beziers , onde ocorreu uma das referidas chacinas purgatórias, tendo escapado com vida poucos habitantes, houve quem tivesse reparado que muitos católicos fiéis ao Papa também foram mortos nessa orgia de sangue. Perguntaram então ao Arcebispo Amaury como poderiam distinguir, na confusão do morticínio, os católicos dos heréticos, pois que tinham a mesma aparência física. Ante esta confrangedora evidência, para tranquilizar a consciência dos matadores/carrascos, ele respondeu : « matem-nos a todos! Deus encarregar-se-á de distinguir os seus»… (A seguir foi escrever relatórios para o Papa, pejados de pormenores sórdidos sobre o bem sucedido projecto de luxúria homicida que conduzia…)*
*Durante toda a história da cristandade o ódio racista foi instigado pelos clérigos. Os que tinham a pele mais escura que os caucasianos, deveriam ser considerados como obra do demónio, e o facto de professarem religiões pagãs/heráticas assim o comprovava. Mas, nem sempre era fácil distinguir a natureza das confissões pela cor da pele. Então, em 1215, no quarto Concílio de Latrão ( (para o qual foram convidados de honra os Templários; o mesmo acontecendo no Concílio de Lyon, em 1277) , a Igreja estabeleceu um código identificativo para os muçulmanos e para os judeus, obrigando-os a usar uma roseta (que seria o sistema percursor da estrela amarela com que os alemães nazis identificavam os judeus).
Impõe-se outro axioma de Voltaire: «aqueles que nos conseguem convencer dos maiores absurdos, conseguem induzir-nos a cometer as maiores atrocidades.»

Esta atitude reflecte bem o despotismo católico e seu fundamentalismo sanguinolento que não dava qualquer valor à vida dos que se lhes opunham, não lhes bastando o anátema da excomunhão – necessitavam de exterminar os dissidentes!
Adiante analisaremos sucintamente esta tragédia, mas, por ora, voltemos a debruçar-nos sobre as crenças dos cátaros.
A palavra cátaro tem uma raiz etimológica grega, catharos, que significa «puro».
A história oficial tem sido sempre uma compilação das versões propagandísticas escritas pelos vencedores facciosos. Assim, a maioria das informações que possuímos sobre os cátaros são de índole injuriosa, forjadas pelos seus inimigos que conseguiram aniquilá-los, destruindo igualmente grande parte dos textos sagrados dos gnósticos mais célebres.
Mesmo assim, sabemos que os cátaros albigenses aceitavam as mulheres como seus pares na hierarquia confessional – isto numa época em que as maiores sumidades (varões católicos que julgavam ter o monopólio do conhecimento, para além de serem os pilares da moral e da fé) tinham relutância em aceitar que as mulheres fossem seres humanos completos!... (Ainda no séc. XIX, muitos dos homens mais insignes, tanto da ciência como da teologia, debatiam acerca das probabilidades de as mulheres terem, ou não, alma…)
Os líderes religiosos cátaros eram ascetas pios, permanentemente atormentados pelo temor aos instintos, sobretudo em relação às demandas da sensualidade. Não reconheciam virtudes noutra forma de os sexos se relacionarem que não fosse o amor platónico. (A exaltação desse género de romantismo tem um papel de destaque na poesia e na literatura cátara.) Para os puristas cátaros, o sexo – até para fins de procriação - era uma actividade bestialmente nojenta, que diminuía o ser humano. Por isso, até desprezavam o matrimónio.
Mais do que a concepção sem sexo, o seu ideal era um plano espiritual em que fosse possível nascer sem passar pelo ventre de uma mulher. (Ex.: Evangelho gnóstico Segundo Tomé o Dídimo, dito 15 e 79)
Acreditavam que, se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, então o Ser Supremo tem que possuir uma essência hermafrodita (que transcende as particularidades e limitações dos géneros humanos). Os nossos sexos tratar-se-iam de polaridades complementarias, não antagónicas. Por isso, na ordenação dos mestres da doutrina cátara, os Perfeitos, não havia descriminação de género.
Como todos os movimentos religiosos de grande expressão (que agremiaram um elevado número de fiéis oriundos de vários estratos sociais e proveniências geopolíticas), longe de viverem numa harmonia consensual, entre as fileiras dos cátaros havia diversas correntes filosófico-doutrinárias; cada uma delas, por sua vez, ia beber as suas influências a um leque de movimentos ideológicos orientados para a teologia, das quais podemos destacar o bogomilismo, o neoplatonismo, o paulianismo, o maniqueísmo e o marcionismo. No seio dos mais sectários medravam contradições sincréticas. (Ex.: em 1178 alguns bispos cátaros de Toulouse ousaram contestar os dogmas instituídos pelos seus homólogos de Bizâncio.)

A pobreza asceta praticada por muitos cátaros e predicada por todos, não impedia que muitos dos seus líderes (tanto nobres como eclesiásticos) fossem muitos ricos…
O dualismo maniqueísta da sua doutrina fazia-os desprezar de tudo o que fosse terreno, ao ponto de crerem que o mundo natural era obra de uma falsa divindade, senão mesmo do próprio Lúcifer. ( Talvez essa acepção se baseasse no Evangelho segundo S. Mateus, de onde se deduz que o mundo físico, material, em que vivemos é propriedade de Satanás, pois este, ao tentar Jesus Cristo, como parte da barganha, afirma poder oferecer-lhe os reinos deste mundo sob o seu controlo.)



Apenas consideravam digno de adoração um deus de bondade celestial, que se relacionava exclusivamente com uma dimensão espiritual, onde tudo deveria ser verdadeiro, puro e perene; estando para além da compreensão racional(ista). A gnose dos gnósticos estava divorciada do conhecimento escolástico, sendo de origem mística e intuitiva. Mas a transmissão dos conhecimentos que consideravam fundamentais obedecia a um elitismo esotérico, pois era da exclusividade confiado aos iniciados de acordo com os interesses de grémio.
O caminho para a transcendência tinha como farol o amor sublime que a sua religião/o seu deus lhes proporcionava..


Tal como (S.) Paulo, também eles mal podiam esperar a hora para abandonarem a vida mundana, libertando o espírito da sua prisão carnal (mas parece que acreditavam na reencarnação).

Apesar da sua aversão ao mundo material, eram vegetarianos, opondo-se à morte violenta tanto de pessoas como de bestas. (A propósito, ficou-nos um relato paradigmático que seria apenas anedótico se o seu desfecho não tivesse sido trágico. Em 1051, camponeses da Lorena que professavam a religião cátara foram denunciados por um bispo local ao imperador. Na presença deste último, aos acusados foi-lhes dado um teste: ou matavam uns pintainhos, ou iam para a forca… eles mantiveram-se fiéis às suas crenças pacifistas…)


Consta que o Evangelho Segundo S. João era o mais utilizado pelos cátaros, mas há muita divergência quanto a esta suposição. Sabemos que utilizavam os evangelhos gnósticos, em particular os de Filipe e o de Judas (os mais detestados pela Igreja de Roma). Também davam preferência a um texto teológico a que chamavam «o Evangelho do Amor», sobre o qual sobraram pouco mais do que obscuras suposições.
No Evangelho de Judas este apóstolo maldito é ilibado como o derradeiro e mais vil dos traidores (tal como é apresentado no Evangelho Segundo S. João, que demoniza Judas como um símbolo dos judeus, aos quais, na época m que foi escrito, as novas comunidades de cristãos gentios queriam distanciar-se – até para tentarem escapar á implacável perseguição do imperador Nero). O evangelho de Judas é bastante enigmático. Nele Judas é apresentado como o principal confidente de Cristo, assim como o único entre os apóstolos que compreendeu o seu papel no plano concebido pelo Messias com a finalidade de se libertar da sua forma carnal e dar o exemplo aos seus seguidores. O relato termina abruptamente com a traição de Judas, omitindo propositadamente a crucificação – o que sublinha a crença gnóstica de que Jesus tinha uma dupla natureza (animal versus espiritual) e que apenas o seu espírito poderia ter saído – pleno e livre - do túmulo onde sepultaram o (descartável) corpo mortal. Talvez por isso haja tantas referências de observadores exteriores ao culto que asseveraram que os cátaros negavam Cristo.
Para os gnósticos, o ritual de iniciação mais sagrado não era o baptismo, mas sim um rito esotérico (segundo as indicações do evangelho de Filipe) que culminava num beijo místico, símbolo de um renascimento purificado.
Enquanto penassem na Terra, os gnósticos sentiam-se fiéis depositários de uma parcela do poder e graça divinos consubstanciados nos seus espíritos, que necessitava ser conhecida e cultivada como a única forma de o ser humano assumir a sua riqueza interior e ser feliz. (Evangelho gnóstico segundo Tomé o Dídimo. Dito 3, biblioteca Nag Hammadi)
Enquanto que os católicos estão limitados por uma mitologia morta, nas celebrações litúrgicas dos cátaros, os seus participantes entravam num estado de transe que identificavam como um tipo de possessão divina (superior a qualquer credo ou dogma) que assegurava uma ligação directa com o que para eles era de mais sacrossanto. (Esses rituais de comunhão divina, na sua essência, podem ainda ser observados em religiões como o candomblé, o vudu, o xamanismo e entre milhões de indígenas que, embora subjugados à Igreja católica, optaram pelo sincretismo com as suas antigas crenças e práticas religiosas.) por isso, rejeitavam a intermediação (imposta) de sacerdotes católicos e toda a hierarquia clerical.
À semelhança do que actualmente acontece com as testemunhas de Jeová, também se recusavam a adorar ídolos e outros símbolos do poder secular e temporal (incluindo a "cruz de Cristo"), para além de considerarem a Igreja Católica com decadente e corrupta; uma autêntica personificação do mal.
A Igreja católica é como um polvo de vastos tentáculos
E com uma gula insaciável por almas e territórios geopolíticos; sempre reagindo com irado zelo a qualquer ameaça . Continuando com a metáfora, os polvos têm 9 cérebros: o principal está na cabeça, mas cada tentáculo seu o seu próprio cérebro rudimentar. Estes animais não poderiam sobreviver se todos os tentáculos, separados radialmente, insistissem em tentar seguir direcções diferentes… O Vaticano será, portanto, a cabeça desse cefalópode, e cada tentáculo as suas Ordens. Se Algumas destas dá sinais de sedição herética, o comando central está disposto a extirpar esse tentáculo, regenerando outro em pouco tempo.

Em 1165, na cidade de albigense de Albi, a Igreja condena de forma oficial e desafiante a heresia cátara.
Dois anos depois, os cátaros (através do seu patriarca de Constantinopla) organiza o Concílio Cátaro de de Saint Feliz de Caramon, mas não conseguem apaziguar as relações com o Vaticano.
Em 1178, no Concílio de Lombers, a Igreja reforça a sua posição antagónica em relação aos cátaros. No ano seguinte, durante o III Concílio de Latrão, a Igreja convoca as forças seculares para que, através da lei e da espada, reprimirem com dureza a heresia cátara, exigindo total submissão à autoridade eclesiástica.
Editou-se, então, a bula Ad-Abolenda que declarava o direito e o dever de o Rei expropriar as terras aos nobres que protegessem os cátaros e quaisquer outros hereges. «É necessário que os heréticos sejam esmagados pelo Vosso poder e que as misérias da guerra os tragam de volta à verdade» (sic)

Quando, em 1198, Inocêncio III é eleito Papa, este toma como a sua principal missão erradicar a ameaça herege, pois considerava que uma rebelião nas hostes cristãs era muito mais grave e premente do que ir combater sarracenos para o vespeiro do Médio Oriente.
Para tal, o Papa sabia que necessitaria de manter em sintonia os interesses do poder monárquico com os do papado. Nesse sentido, pressionou o Rei de França, Filipe Augusto, mas este preferiu lidar com a Igreja pela via da tergiversação.
Entretanto, um incidente diplomático alvo de acesa polémica (que persiste até hoje) precipitou os acontecimentos que culminaram num banho de sangue.
Com o aparente propósito de fazer um último esforço diplomático para a conversão dos cátaros, em 1208 o Papa enviou ao Languedoc um representante seu chamado Pedro de Casteunau. Aparentemente, este foi assassinado por um escudeiro do conde Raimundo VI, que se tornou o principal suspeito de estar por detrás deste crime (embora se considere como plausível a possibilidade de ter sido uma armação do Vaticano…).
Inocêncio III logo excomungou Raimundo VI. A seguir, em 1209, organizou uma cruzada contra os cátaros.
A todos os que se juntassem a esta expedição de punição, o Papa prometeu as benesses habituais: remissão total dos pecados (desde que se empenhassem na matança pelo menos durante 40 dias) e a possibilidade de conseguirem substanciais melhorias financeiras, devido à legitimação do saque.
Os poderes instituídos do resto de França não se identificavam com a cultura albigense (que até tinha uma língua diferente) e invejavam-lhe a riqueza e a prosperidade, bem como a sua privilegiada posição geoestratégica que gozava de uma independência político-administrativa em relação ao rei de França . Antigas rivalidades regionais estavam em ebulição…tanto pior porque nos conflitos medievais imperava a noção de que o recurso à força bruta era um recurso primordial e legítimo para os fortes atingirem/conquistarem os seus objectivos expansionistas.
Em Lyon foi onde se juntaram mais voluntários para esta cruzada que ganhou contornos de guerra civil. A horda/turba de sicários era constituída por senhores eclesiásticos, nobres, vassalos, mercenários, vilões, camponeses, vagabundos, desordeiros e criminosos de toda a índole. Foi eleito como o seu líder militar o conde Simon de Montfort, que se revelou um dos mais cruentos genocidas da história europeia (absolvido pela Igreja e recenado pelos livros de história…). Desta forma, conseguiu usurpar uma imensidão de terras e de castelos (que petenciam aos cátaros). De pouco lhe valeu a ambição desmedida e inescrupulosa, pois morreu em combate na cidade de Toulouse, em 1213.
Entre as dezenas de milhares de pessoas que foram assassinadas no Languedoc durante a referida cruzada, contou-se até um regicídio: foi o de Pedro, Rei de Aragão, que se deslocara até ao sul de França em auxílio do seu cunhado Raimundo VI, apenas para encontrar a morte na batalha de Muret (1213), quando enfrentou o exército liderado por Simon de Montfort. A vitória deste último permitiu-lhe apoderar-se de Toulouse.

Raimundo VI também não sobreviveu ao conflito, passando a liderança da resistência herética para Raimundo e Rogério de Trencavel.

A nobreza e sobretudo a monarquia francesa que cobiçavam a região cátara, saíram fortalecidos por esta cruzada. O tratado de Meaux, em 1229, acabou por selar a anexação do Languedoc à França dos Capetíngios, ficando assim com o livre acesso ao Mar Mediterrâneo, com todas as enormes vantagens comerciais que daí decorrentes, para além do controlo da exploração dos vinhos mais afamados.
A Cruzada Albigense oficialmente durou uma década, mas sobreviveram alguns focos de resistência cátara, que continuaram bastante activos pelo menos até 1250. Posteriormente há relatos esporádicos dessa actividade herética até 1320. (Note-se que Filipe o Belo, antes de se empenhar na destruição dos Templários, ainda perseguiu os cátaros remanescentes.)
Ironicamente, existe uma óbvia correlação entre primeiros cristãos submetidos aos piores tormentos a mando do imperador (romano) Nero, e o que os Cátaros arrostaram às mãos dos cruzados católicos.
«Como nos primeiros tempos do cristianismo, os cátaros continuavam a pregar suas ideias pelos campos, nos bosques, em esconderijos e em casas de um ou outro mais corajoso simpatizante, e até nas cavernas, numa trágica simetria com as catacumbas frequentadas pelos cristãos primitivos. Não se entregavam, não renegavam suas ideias, nem mesmo quando se lhes oferecia a escolha final entre a vida e a fogueira, ou seja, entre a fé e a morte. A opção de todos - com ínfimas excepções, uma unanimidade - era pelo sacrifício supremo, sem um gemido, temor ou angústia» - Hermínio Miranda (2002).
A célebre beatitude estóica era sustentada em situação extremas. Há relatos fidedignos que referem o facto de alguns cátaros manterem um sorriso enigmático (provavelmente tinha tanto de beatífico como de sardónico) mesmo quando atearam as fogueiras da Inquisição que os consumiram num sofrimento atroz…
Com o extermínio dos Cátaros, «toda a Europa caiu numa espécie de modorra e barbárie, e a Igreja se impôs, pelo espectáculo desumano que cometera, como a única legítima representante de Deus, exercendo poder até mesmo em assuntos civis e de Estado» - Carlos Guimarães (2004)
Na Idade Média, finda a Guerra dos Cem Anos (séc.s XIV-XV), milhares de "cães de guerra" ficaram desempregados e, como não sabiam fazer mais nada e nem estavam interessados em regressar à pobreza explorada da vida civil, organizaram-se em/por muitos bandos que percorriam a Europa martirizando as populações e deixando um rasto de hediondadevastação à sua passagem. Por três séculos ganharam o seu sustento cometendo as maiores atrocidades (que incluíam esquemas de extorsão "mafiosa", vendendo "protecção ou aniquilando quem a recusava) as populações rurais e até das pequenas cidades desprotegidas viviam aterrorizadas por estes bandoleiros-guerreiros , que não hesitavam emas atacar, saquear, assassinar, violar e destruir os bens imóveis (incluindo as culturas agrícolas), sempre a oportunidade se proporcionava.

A Cruzada Albigense serviu igualmente de mote para a Igreja (através do Papa Gregório IX) instituir o Tribunal da Santa Inquisição, funcionando como uma profilaxia de terror capaz de eliminar qualquer nova ameaça (por mais embrionária ou fantasmal) à Igreja.

Xando

segunda-feira, julho 16, 2007

«Andar é uma aventura maior; a meditação primeva; a prática da cordialidade e do entusiasmo vital que acompanha a origem da humanidade. Andar é o equilíbrio certo entre a espiritualidade e a humildade.»
(…)«A etiqueta do mundo silvestre requer não apenas generosidade, mas uma bem-humorada estoicidade que alegremente tolera o desconforto, a consciência da fragilidade inerente a todos e uma certa modéstia.» - Gary Snyder

O poeta Robert Bringhurst, aludindo a um princípio Zen, diz que andar é a verdadeira poesia para quem sabe respirar pelos pés.

«Uma paisagem conquista-se com as solas do sapato, não com as rodas do automóvel» - William Faulkner.

«Desfrutar a natureza – mas de carro, de jipe ou de mota: expressão lúdica do humano reduzido à condição de deficiente motor, sem pernas, sem energia própria, dependente de próteses mecânicas para tudo. E ainda por cima chamar a essas coisas de aventura.» - Júlio Henriques
«Se eu fosse rei de França não permitiria que nenhuma criança menor de doze anos entrasse em cidade alguma. Até essa idade, as crianças teriam que viver no campo, sob o sol, nos bosques, em quintas, na companhia de cães e cavalos, cara a cara com a natureza, que vigora o corpo, fortalece a inteligência, inspira a poesia na alma humana e desperta a curiosidade mais valiosa que todos os livros do mundo.»
«Dessa forma, as crianças aprenderiam a interpretar os ruídos e o silêncio da noite, e adquiririam a melhor de todas as religiões: a que Deus mesmo põe de manifesto em todas as suas gloriosas maravilhas. E ao completarem doze anos, fortes, com a mente despoluída e compreensiva, teriam já a capacidade para receberem instrução metódica que fosse adequado proporcionar-lhes, e que poderia então incutir-se-lhes com facilidade em poucos anos.»
«(…) A minha opinião é que a educação física deve ser o primeiro passo no desenvolvimento das crianças.» - Alexandre Dumas

«(…)Para compreender que o desaparecimento de uma espécie implica o descalabro de todo um ecossistema, é necessário um profundo conhecimento da natureza. Por isso penso que grande parte dos nossos problemas seriam superados se organizássemos a educação dos nossos filhos no campo, rodeados de animais e de plantas; a biologia deveria aprender-se a partir dos cinco anos de idade.» — Konrad Lorenz
«A meu ver, a finalidade da educação é revelar e desenvolver globalmente o que há de melhor na criança e no homem, quer se trate do corpo, da inteligência ou do espírito.» - Gandhi

« Normalmente considera-se que a universidade presta serviços à sociedade, ou que a sua actividade deva ser "relevante" para os problemas sociais. Essa ideia é justificável. Todavia, quando colocada na prática isso usualmente significa que a universidade presta serviços às instituições sociais existentes, que estão na posição de articular as suas necessidades e subsidiar os esforços para equacioná-las (...) O Pentágono e as grandes corporações podem formular as suas necessidades e subsidiar a maneira pela qual elas podem ser implementadas. Mas os camponeses na Guatemala ou os desempregados no Harlem não estão em posição de fazer o mesmo.» - Noam Chomsky (1973)
«A democracia e a liberdade, mais do que valores que devemos estimar, são essenciais para a nossa sobrevivência.» - Noam Chomsky «A instrução [formal] é ignorância imposta.» – Noam Chomsky«É um milagre que a curiosidade sobreviva ao que entendemos por educação formal.» (...) « Eu nunca ensino os meus pupilos; eu apenas tento criar as condições mais propícias para que possam aprender.» - Albert Einstein «Aprende-se mais e vive-se melhor sem educação formal.» – Bill Wetzel«A escola tornou-se antidemocrática. Tem por finalidade formar consumidores disciplinados para uma tecnocracia cada vez mais devoradora.» – Ivan Illich «A verdade é que as escolas não ensinam mais do que a obedecer ordens. (…)A educação deve estar ao serviço das famílias e das comunidades.» – John T. Gatto«Creio, sinceramente, que a única maneira válida de aprendizagem é o auto-didactismo.» – Isaac Asimov «Nunca permiti que a escola interferisse na minha educação.» (…)«Primeiro Deus fez os idiotas. Isso foi só para praticar. Depois fez os conselhos escolares.» – Mark Twain«Se ensinássemos as crianças a falar e a caminhar da mesma maneira como são instruídos nas escolas, provavelmente nunca aprenderiam.» – John Holt «O professor medíocre despeja informações. O bom professor explica. O professor excepcional demonstra. Mas os maiores professores inspiram.» – William Ward«É impossível ensinar seja o que for a alguém; os educadores apenas poderão ajudar outrem a encontrar dentro de si mesmos esse conhecimento.» - Galileo Gallilei «O feito mais importante da educação é ajudar os estudantes a tornarem-se independentes da educação formal.» – Paul Gray«Que melhor maneira para os jovens aprenderem a viver do que, sem mais delongas, experimentarem a vida real?» – Henry Thoreau


«Afinal o segredo da aprendizagem é simples: concentrem-se somente naquilo que amam, sigam esse objectivo, pratiquem-no, idealizem-no. E então compreenderão que a aprendizagem sempre esteve com vocês, consumando-se na prática.» – Grace Lliwellyn

domingo, julho 15, 2007

«As crianças são uns anjinhos que todos protegemos…»

Quando eu andava no antigo 8º ano, já estava acostumado a limitar-me a assinar os testes de matemática, podendo bazar essa hora para algum jardim, enquanto os meus “colegas” (ou seja, uma cambada de garotos unidos por um aleatório desfurtúnio comum, não pela sintonia de interesses ou de carácteres) ficavam encafuados na sala de aulas a queimar os neurónios com parvoíces inúteis.
Mal sabia eu que o sistema tinha a faca e o queijo na mão para consumar a sua implacável vingança disciplinadora –, para além da falta de dinheiro e do idealismo ainda por consolidar, a merda da matemática acabou por boicotar-me as vestigiais aspirações a tirar um curso “superior” de artes plásticas ou de ciências da natureza. Aprendi muito mais e melhor como autodidacta em cerca de 20 anos de estudo diário - por gosto e sede de conhecimentos, não para mera acumulação de créditos académicos, aumentos de ordenado e outros símbolos de poder e prestígio social que sempre mereceram o meu desprezo – , tanto acumulando informações científicas minimamente independentes dos poderes político-corporativos, como andando no campo (algo que, por mais absurdo que pareça, poucos biólogos fazem), labutando com muitas ONG e viajando fazendo curtos estágios (que geralmente resultavam em frutíferas amizades) com verdadeiros mestres à escala mundial das matérias que mais me interessavam, tornaram-me bastante competente em actividades como a ornitologia, a herpetologia, a mastologia; o eco-turismo; a educação ambiental; e a fotografia de natureza.
Nos últimos 3 ou 4 anos, através de uma auto imposta uma severa disciplina de leitura e escrita, creio ter quase mantido sob controlo o problema da dislexia (algo que nenhum professor se molestou em tentar diagnosticar, preferindo as frequentes humilhações à frente dos “colegas”, porque eu dava demasiados erros ortográficos…FDP!).
Mas nada disto vale um chavo no «País dos Doutores», onde oscilamos entre o analfabetismo funcional, cuja boçalidade servil e deslumbrada é sobretudo uma herança do Estado Novo; e a ignorância pedante dos que acham que um canudo é um posto numa casta superior, só porque tiveram o privilégio de andar uns anos a decorar definições ~ estéreis que despejam nos testes para esquecer no dia seguinte.
A verdade é que, mesmo tendo sido entregue ao Estado para ser instruído (não educado, o que é algo bastante diferente) na incubadora do trabalho arregimentado, se, por um “milagre” burocrático, tivesse beneficiado dos serviços de bons professores, tê-los-ia seguido como se fosse um cachorrinho, até porque devido à idade conturbada e à situação familiar deplorável, ainda andava à procura de figuras paternais (independentemente do género) que me pudessem dar alguma orientação salutar e admiráveis exemplos de conduta. Mas a mediocridade uniformizante e castrante do ensino formal só me fazia arrostar tédio e humilhações; e, quando me sentia minimamente vivo, também alguma indignação. Da longa lista de professores facilmente olvidáveis, nunca ouvi quaisquer palavras de encorajamento para prosseguir pelo caminho que considerava o mais correcto, muito menos me deram indicações nesse sentido. Tampouco algum tentou averiguar quais eram as minhas apetências e talentos, a fim de me ajudar a tentar fazer algo de bom (para mim e para a sociedade) com a matéria prima que me tinha calhado na lotaria dos genes. Só conta a obediências às hierarquias e a competição entre os putos tratados como gado.
Por então a maioria dos licenciados abraçava a profissão de professor, não por vocação ou competência, mas apenas porque era a maneira mais fácil de conseguir um emprego seguro, aceitavelmente remunerado e com períodos de férias maiores do que oferecem as empresas privadas. Ademais, como desde tenra idade que estavam metidos no ensino formal, a maioria dos docentes teme não saber o que fazer fora da redoma académica. Actualmente, devido às imposições corporativas baseadas em medidas macroeconómicas neoliberais, essas benesses para muitos empregados da função pública deixaram de existir, o que, certamente, não se traduzirá no aumento da qualidade do ensino.


Voltando à estória inicail, no começo do último período a professora (de matemática) foi substituída, e a nova mulherzinha quis obrigar-me a ficar sentado, quieto e calado durante todo tempo destinado aos testes. Entrou a matar, assemelhando-se àqueles cães minúsculos e hiper irritantes que necessitam de fazer muito barulho para se afirmarem. Resolvi jogar com a sua insegurança…
Fingi estar a desenhá-la na folha de teste, enquanto me ria com um ar bem sacaninha. Ela logo ficou incomodada ao ponto de, passados uns 10 ou 15 minutos, ter revogado a sua decisão (proferida como se fosse um sargento-chichiuaua ), pedindo para que eu lhe entregasse o teste e saísse. Era mais fraquinha do que eu inicialmente avaliara. Assim, sentindo-me na mó de cima em relação à força opressora, percebi que o melhor seria levar a brincadeira até ao fim. Retorqui-lhe que ainda tinha muito para trabalhar na folha de teste. E comecei mesmo a desenhar o seu focinho antipático e arrogante – só que com a cabeça decepada num charco de sangue e muitas ratazanas a de volta dela num festim macabro… e entreguei-lhe a obra contestatária.
No dia seguinte fui chamado ao conselho directivo (onde, aliás, me tornaria cliente habitual daí a 2 anos…). A directora viu à sua frente um garoto franzino (com a aparência de uns 11 anos), bastante andrógino e obviamente deslocado, mas, apesar de, como sempre, me ter subestimado, também percebeu algum talento revolucionário. Senti-me intimidado pela sua severa tranquilidade, típica dos que sabem que os miúdos à sua guarda estão nessa situação contrariados, mas desconhecem as (escassas e bloqueadas) vias alternativas para poderem medrar e realizar-se fora da instituição destinada principalmente a adestrá-los na obediência servil e bajuladora, bem como na competição injusta e desapiedada pela definição e consolidação de hierarquias no frenesim alimentar ( que em biologia tem a designação de Pecking order), tendo o capital como deus e, consequentemente, o capitalismo como religião – atitude que é indispensável à Megamáquina para lhes consumir as vidas através do trabalho forçado.
Sem conseguir disfarçar uma expressão divertida, de sobrolho franzido, a directora disse-me que eu não deveria ter feito aquilo, mas que também não era justo a professora ter-me dado apenas o costumeiro «0» no teste alvo de polémica, porque a qualidade do desenho merecia mais uns valorzitos (sic)… em breve viria a arrepender-se de me ter dado essa abébia, pois
tal serviu-me de inspiração para testar os limites da sua tolerância, acabando por ir longe demais com a brincadeira.
Na semana seguinte, estava eu sentado sob uma das carteiras lá do fundo (as que, logo na primeira aula, qualquer professor sabe que são ocupadas pelos cábulas…) a mamar cerveja* em lata e a desenhar (com giz) no soalho a caricatura da tal professora com um corpo de vaca. Desta feita deram-me cá um responso! (Só me arrependo do trabalho que dei às senhoras da limpeza.) Ora gaita !, foi a única altura da minha vida que eu achei alguma utilidade ao meu talento para o desenho. Tive que adoptar outras tácticas de guerrilha – pois não restam dúvidas que me tinham empurrado para um ambiente de guerra que consumiu o que restava de melhor em mim, até me tornar num espectro abúlico e de olhar distante – mas nunca uma mascote pela trela ou um autómato pronto para o desumanizante mercado de trabalho e para o consumismo acéfalo como eles queriam!
O meu processo de recuperação intelectual e espiritual demorou alguns anos e só pôde iniciar-se quando deixei o ensino formal. Tive que (re?)aprender tanto a ser útil aos meus ideais como a gargalhar com prazer (sozinho ou entre amigos), consciente desse privilégio mas com a tranquilidade de quem sabe apreciar esses momentos confiante de que se sucederão sem ser à custa da desgraça de terceiros nem da sanidade do planeta.

* Desde os 19 anos que não toco numa gota de álcool. Essa decisão radical foi tomada cerca de 2 anos após me ter tornado vegetariano.

Xando
drogas

As drogas que mais matam em Portugal - o álcool e o tabaco - são legais. Aliás, em todo o mundo o tabaco mais mata mais pessoas do que todas as outras drogas combinadas.
Em Inglaterra as restrições (severas, se comparadas com Portugal) ao consumo de álcool nos pubs (ex.: não servem bebidas alcoólicas depois das 23h) não foram decretadas pelos efeitos do álcool contra a estabilidade e harmonia familiar e social, mas sim por ter sido considerado um mal para a indústria militar durante a Segunda Guerra Mundial.
Todos sabemos que a criminalização do comércio e consumo de álcool nos EUA (a "Lei Seca" da década de 30) fez com que aumentasse o seu consumo(clandestino) e, principalmente, o preço do "fruto proibido", enriquecendomafias e corrompendo o governo (ex.: os políticos que mais lucravam com ocomércio ilícito de álcool eram os maiores defensores da manutenção dessaproibição). A situação mantém-se hoje em dia; apenas mudou o nome e a constituição química das drogas estigmatizadas e das socialmente aceites.
Dólares p´rà veia!...
Um relatório elaborado pela Agência das Nações Unidas para o Controlo da Droga e Prevenção do Crime (ONUDC) e publicado em 2005, refere que o mercado das drogas ilícitas rende 320 mil milhões de euros anuais (mas algumas ONG especializadas no assunto afirmam que o montante real ascendo aos 400 mil milhões de dólares), valor que supera a riqueza produzida em cerca de 90% dos actuais países. Dentro do volume de negócios dos bens de primeira necessidade, o multibilionário sector dos têxteis mobiliza verbas inferiores às do narcotráfico que representa 8% de todo o comércio.
De forma branqueada ou não, este dinheiro entra nocircuito financeiro em que esta sociedade se apoia. Se esses capitais fossemsuprimidos de um dia para o outro, a nossa economia entraria em colapso, ecertamente que veríamos muitas respeitadas instituições e figuras públicas"insuspeitas" entrar em pânico enfrentando a ruína.Quando no anos 80 rebentou o escândalo de que o Banco do Vaticano estavaenvolvido na lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas noMediterrâneo, o que mais surpreendeu e embaraçou (pela celeuma que causou na opinião pública) os poderes políticos que assediam os votos dos católicos,foi a sinceridade cínica de um bispo de Roma chamado Marcincus (que é o principal suspeito na plausível teoria do assassinato de João Paulo I) que, ao ser confrontado com estasacusações, retorquiu : «a Igreja não se sustenta com Avé-Marias...»
O supracitado relatório da ONUDC adianta que existem pelo menos 200 milhões de consumidores de drogas ilícitas, o que corresponde aproximadamente a 5% da população mundial com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos.

A OCDE calcula que metade do dinheiro proveniente do narco-tráfico passa pelos bancos norte-americanos. Quando Reagan era Presidente dos EUA, os promotores de justiça federal e os tribunais, intrigados pelo enorme afluxo de capitais (às instituições financeiras de Miami) de origem obscura e pelos crescentes rumores que apontavam para o tráfico ilícito de drogas, iniciaram uma investigação com o objectivo de apurarem as origens desse dinheiro (que até tem servido para custear acções da CIA…). Mas o governo (na pessoa do Vice Presidente George Bush sénior), cedendo ao lóbi dos banqueiros, ordenou a interrupção dessas investigações, boicotando ainda a aprovação de leis (no Congresso) contra a lavagem de dinheiro.
Aquando da queda do Bloco Soviético, os EUA também enfrentavam problemas económicos graves (nomeadamente um galopante défice comercial e fiscal bem como uma crise do sector agrícola que só tinha paralelo com o período da “grande depressão”), enquanto que o capitalismo japonês se revelava mais eficiente e ameaçador. Em 1989, Bush sénior, dando continuação à estratégia de Ronald Reagan e fazendo um agrado à direita cristã, lançou uma campanha mediática destinada a desviar a atenção da economia para o problema das drogas (ilegais)++++. Com esse pretexto, as autoridades policiais puderam espezinhar os direitos civis dos contestatários às políticas governamentais, enquanto que no estrangeiro as agências secretas ligadas ao Pentágono e o exército aniquilavam qualquer oposição aos interesses corporativos e geoestratégicos do império. As forças rebeldes passaram a ser vistas pela opinião pública como meros traficantes de droga (anos antes eram “comunistas” e actualmente são “terroristas”…).
++++ - Vale a pena mencionar uma ironia tragicómica da cruzada anti-drogas (ilegais) liderada pelo casal Reagan. A primeira dama, Nancy, escolheu para representar o papel de soldado-estrela nessa guerra de fantochada uma adolescente chamada Drew Barrymore, que já tinha conquistado em Hollywood o estatuto de actriz prodígio. Esta miúda representava bem demais (e nesse tempo a opinião pública ainda o desconhecia) a hipocrisia histérica da América conservadora, incapaz de olhar com profundidade para a raiz dos seus males. Enquanto a menina Drew Barrymore era chamada à Casa Branca, a fim de fazer declarações aos média apelando aos jovens para se absterem das drogas, ela era consumidora de marijuana desde os 10 anos de idade; com apenas 12 anos já estava viciada em cocaína e aos 14 tentou suicidar-se, cortando os pulsos, tendo sido salva in extremis…


Nesse tempo já os técnicos de saúde estado-unidenses calculavam que o tabaco cobrava anualmente umas 300 mil vidas, enquanto que as vítimas mortais do álcool poderiam ser umas 100 mil. Mas “apenas” eram atribuídas 3500 mortes anuais às drogas duras. A histeria que as sucessivas administrações republicanas criaram à volta da marijuana parecia de todo injustificada, pois, dos 60 milhões de consumidores estimados para aquele país, nem uma morte foi registada. Aliás, vários estudos revelaram que um número considerável de fumadores de “erva” (pot) tornaram-se consumidores de cocaína e de crack, porque, com a guerra às drogas, tornou-se muito mais fácil ter acesso às drogas ditas duras.
A hipocrisia era evidente, pois o governo protegia a indústria tabaqueira (e continua a fazê-lo) – que já comercializava cigarros com um aditivo muito tóxico destinado a acentuar a dependência da nicotina. Chegaram mesmo a criar uma comissão para estudar a possibilidade de impor sanções económicas à Tailândia, por o seu governo ter tentado restringir as importações e a publicidade ao tabaco NA. Em nome do “mercado livre”, os EUA tornaram-se nos maiores traficantes de drogas (legais e ilegais) do mundo.
O consumo do tabaco diminuiu drasticamente na América do norte exclusivamente por iniciativa popular; as fortes campanhas anti-tabágicas e de mudanças de atitudes e de hábitos culturais associadas a esse vício agressivo para toda a gente, foram feitas à revelia do governo (mais interessado em defender a multimilionária indústria do tabaco do que a saúde pública).

A legalidade ou ilegalidade das drogas é uma arbitrariedade cultural. As drogas sempre foram utilizadas pelos humanos em todas as suas culturas. Na verdade, existem numerosas espécies de animais que, para alterarem os estados emocionais e a percepção sensorial, recorrem intencionalmente às drogas que encontram nos seus habitats naturais.Nas comunidades tribais (o modus vivendi natural ao homem) o papel das drogas psicotrópicas é o de auxiliarem as pessoas a alcançarem e exploraremregiões obscuras e místicas da psique. A ingestão dessas substânciasgeralmente obedece a rituais imbuídos de profunda espiritualidade quereforçam a sua comunhão com o universo, acrescentando dimensões eperspectivas à cosmologia tribal. Podem ainda tratar-se de estimulantesdestinados a aguçar alguns sentidos (ex.: os mais importantes para a caça),ou a servirem de lenitivo à fadiga e à fome.Ao contrário do que acontece na nossa civilização, os povos tribais que vivemem harmonia com a natureza e com o seu ambiente social, não recorrem àsdrogas procurando meras alienações embrutecedoras e degradantes, nem o fazem por hedonismo fútil, irresponsável e auto-destrutivo. Eles conhecem ospesarosos efeitos das inevitáveis ressacas tão bem quanto as suasresponsabilidades perante as respectivas comunidades. Para comprovarmos averacidade destas afirmações, basta compararmos os efeitos sociais eclínicos que a planta da coca tem nas culturas andinas por oposição à nossasociedade...Sabendo-se hoje que os psicotrópicos (como, por ex., a cocaína) estimulampontos do nosso cérebro e respectivas reacções bioquímicas análogas ao queexperimentamos no estado psicológico que conhecemos por amor, não admira que haja tantos toxicodependentes.(É curioso que tantos toxidependentes tenham grandes dificuldades em atingir orgasmos, mesmo que não sofram de disfunções que os impeçam de consumar as relações sexuais.) As pessoas estão demasiado carentes efrustradas. Entre nós, as drogas são, pois, mais um sintoma da enfermidadesocial, não a sua causa principal. Este grave problema deve ser abordado, nãoatravés da repressão jurídica e policial (que só agrava o problema,patrocinando os cartéis de criminosos milionários e estigmatizando quemnecessita de ajuda), mas sim através de uma perspectiva sociológica eclínica.


Plano Colômbia (PC)
Desde que o início do “Plano Colômbia” que a produção e o comércio de drogas mais do que duplicou. A intensificação da produção de narcóticos tem sido proporcional à intensificação das fumigações com desfolhantes, assim como o aumento da produção de petróleo colombiano é proporcional à presença militar NA.

Dos seus 40 milhões de habitantes, 30 milhões vivem na penúria, barbaramente oprimidos. O racismo mancha todo o tecido social, sendo osafro-americanos os menos respeitados.
A ONU afirma que a Colômbia tem a 3ª maior população de refugiados do mundo


A população está subjugada pelo medo e, com razão, não tem qualquer confiança nas instituições estatais.
Os massacres e o desalojamento de campesinos é uma estratégia dos militares e dos paramilitares que querem o livre acesso e controlo das zonas com os recursos naturais mais apetecíveis (ex.: madeiras e petróleo)para as corporações multinacionais. Que a Colômbia seja um dos países onde os órgãos estatais são mais corruptos, só facilita essas negociatas.
As populações locais, bem como todas as ONGs no terreno, asseveram que os paramilitares e os miltares são a mesma merda. Se por um lado a Casa Branca fornece mercenários (via empresas privadas) para fazerem o trabalho sujo, sem incriminarem demasiado os políticos e o exército, por outro lado o governo colombiano serve-se dos paramilitares para os mesmos propósitos.
Basta taxar de “narcotraficantes” os campesinos pobres e os guerrilheiros (que, ainda por cima, são “esquerdistas”), para que Washington e Bogotá se sintam com “legitimidade moral” (aos olhos das minorias que detêm o poder no mundo) para lhes fazerem as maiores atrocidades. Quaisquer opositores políticos (ex.: sindicatos, ONG humanitárias e ambientalistas, líderes estudantis e religiosos, etc…) são considerados membros ou simpatizantes da guerrilha e, como tal, têm que ser eleminados.
Os raptos e as extorsões também se tornaram um negócio para as várias facções da guerrilha.

Entre 1978 e 2001, forampulverizadas (regularmente) 200 mil ha de plantações de coca e 60 mil ha depapoilas do ópio.A Monsanto tem sido a principal empresa fornecedora de agroquímicos para o PC, tal como o tinha feito com o seu “agente laranja” intensamente/maciçamente fumicado sobre o Vietname e sobre o Laos. Estima-se que esse pesticida esteja na origen de 50 mil casos de más formações de crianças nascidas nesses países do sudeste asiático, além de uns 100 mil casos de cancros entre residentes e soldados NA que por lá combateram. Actualmente o Vietname é considerado o país mais contaminado com dioxinas de todo o mundo.Um dos químicos mortíferos mais utilizados é uma versão mais agressiva(cuja fórmula é mantida em segredo) do Round up (além de 4 milhões delitros de Glifosato, Paraquat, Tebuthiuron, Imazapyr e Garlon-4). Assim, aMonsanto enriquece utilizando a Colômbia como um gigantesco campo deexperiências (tão bom como qualquer zona de guerra), sem quaisquerrestrições e com total impunidade quanto ao atentado ambiental e àsviolações dos direitos humanos. Os muitos milhares de toneladas de venenosque têm sido despejados sobre a selva tropical (bem como sobre as culturasagrícolas de subsistência e sobre os pobres agricultores que nada têm a vercom as drogas) são naturalmente escoados para a bacia do amazonas, como senão bastasse a poluição provocada pelos laboratórios de campanha utilizadospelos narcotraficantes na produção de cocaína e que despejam nas linhasd´água gasolina, éter, acetona e ácido sulfúrico.No meio de toda esta devastação, os traficantes são deixados em paz...Osobjectivos dos governos de Washington e de Bogotá são outros, como adianteveremos.O PC foi implementado sem sequer ter sido discutido no Parlamento colombiano. E No Senado NA o debate centrou-se sobre quais as empresas que iriam receber osmelhores contratos. Os milhares de milhões de dólares gastos com o PC servemfundamentalmente para subsidiar a indústria militar estado-unidense.Também a U E contribuiu (com uns 500 milhões de dólares) para esta "guerraao narcotráfico". Mas quase toda esta "ajuda" monetária passa porcréditos bancários, o que contribui para o aumento da enorme dívida externada Colômbia - país onde 30 (dos 40) milhões de habitantes vive napenúria. A ONG Transparência Internacional considera a Colômbia como osétimo país mais corrupto do mundo, tanto no que se refere aos organismopúblicos como ao sector privado. Por ouro lado, a Colômbia aparece em terceiro lugar (a seguir a Israel e aoEgipto) na lista dos países mais apoiados militarmente por Washington.Falta um dado essencial nesta equação: a Colômbia é o 7º maior fornecedor de petróleo dos EUA, e, fora do Médio Oriente, neste aspecto só perde para a Venezuela (país que, apesar de estar com relações conflituosas com o império, continua a fornecer-lhes o precioso combustível.
As empresa yankees(apoiadas pelo exército e pela NAFTA***) controlam essa exploração e arrecadam 75% dos lucros do petróleo colombiano.(O acordo inicial era de 50% para as corporações petrolíferas yankees e outro tanto para o governo de Bogotá, mas este último perdeu força negocial.)
***O Acordo de Livre Comércio das Américas é o culminar de uma política NA que peretende o monopólio do comércio e dos recursos naturais da América Central e do Sul através do estupro de quaisquer inconveniências político-legais de soberania nacional. O Tio Sam sempre disponibilizou os serviços mafiosos do seu exército para garantir às suas corporações o saque e exploração dos seus “vizinhos de baixo”. A OMC vem, assim, consolidar legalmente o que as armas, o FMI e o BM iniciaram.

Em 2002, a administração Bush deixou (parcialmente) cair a máscara da sua"luta contra o narcotráfico" e contra as forças insurrectas (comunistas!)na Colômbia, assumindo a operação militar como sendo parte da sua "lutacontra o terrorismo".*-+ Entretanto, os paramilitares colombianos, em estreitaassociação com o exército, gozam de carta branca para intimidar e massacrara sociedade civil (em especial as comunidades que vivem em zonas que cobiçadas pelas indústrias madeireiras e petrolíferas...). Os EUA até lhes fornecem mercenários (via empresas privadas subcontratadas pelo Pentágono) para esta guerra secreta. (Convém termos em mente que ogeneral que comanda o exército colombiano bem como muitos dos seus subordinados foram formados na Escola dasAméricas...) O Presidente Andrés Pastana mantinha negociações com os rebeldes no sentido de por fim ao conflito que devasta o país há vários anos, mas, quando em 2002, recebeu de Washington mais uma choruda verba destinada à “luta contra a insurreição e o terrorismo”, abandonou o diálogo com rebeldes. O investimento dos narcodólares na Colômbia baseia-se muito no latifúndioassociado às explorações agropecuárias, que destroem a selva e expulsam opequeno campesinato.
*-+ A linguagem dos políticos é cuidadosamente estudada e polida para iludir a opinião pública. Por exemplo, a administração de W. Bush baniu as expressões "guerra ao Iraque" e "aquecimento global" – substituindo-as por "guerra ao terror" e "alterações climáticas", respectivamente – por sugestão do "mago" da publicidade política Frank Luntz. Este jovem yuppy ajudou Giuliani (ex-Presidente da autarquia de Nova Iorque), Berlusconi (..Itália) e W. Bush a conseguirem importantes vitórias políticas, apenas pela sua habilidade em manipular eufemismos e os média. Mas é claro eu Luntz, como um (muito bem sucedido) profissional amoral (?) é considerado inimputável das consequências para a comunidade dos enganos que engendra. Provavelmente ele também trabalharia para causas em favor do bem comum se as forças de contra-poder pudessem pagar os seus honorários principescos, aceitando lutar com as mesmas armas do sistema. Há muitas formas de prostituição, e a que opera nas esquinas não é a mais degradante nem a mais ameaçadora para a sociedade…

Como é óbvio, os que dirigem o império americano estão pouco preocupados com a expansão do narcotráfico. Muito pelo contrário. A CIA tem, aliás, um longo historial de fomento da produção de drogas ilegais, de protecção aonarcotráfico e de utilização dos narcodólares para financiar as suasguerras que, supostamente, têm um fundamento ideológico, mas que, naprática, apenas servem os interesses do seu complexo militar-industrial.- French Conection , assim denominada porque a CIA deu continuidade às ligaçõesperigosas que os serviços secretos franceses mantinham com as tribos que lutavam contra os comunistas e que eram simultaneamente produtoras de ópio e de heroína. Os serviços secretos ajudaram-nas a exportar a droga para a Europa.

A heroína (muitas vezes era oculta em sacos mortuáriosdestinados ao transporte de soldados falecidos em combate no Vietname) era traficada pela CIA em aviões do governo.
Enquanto escalava a tensão da Guerra Fria, a Europa, relutantemente, ia perdendo as suas colónias, que se transformaram em campos de guerra. A França contava com o auxílio dos EUA para manter o “seu” Vietname. Mas internamente a opinião pública francesa opunha-se àquela luta armada imperialista. Essas vozes opositoras faziam-se ouvir sobretudo através do Movimento Trabalhista, que fazia uso do finca-pé grevista/das greves e tinha o apoio dos intelectuais e dos estudantes. A CIA em conluio com alguns respeitados sindicalistas (em “missão patriótica contra os comunistas europeus”) e com a máfia, puseram em prática um plano destinado a enfraquecer e a desacreditar os trabalhistas franceses. Em troca, a Máfia exigiu o restabelecimento do comércio de heroína que tinha sido reprimido com sucesso pelos governos fascistas. (Noam Chomsky, 02)
- No Laos (durante toda a década de 60 e início dos anos 70) juntaram-se aoschefes tribais na produção de heroína , cujas receitas reverterammaioritariamente para financiar as forças anti-comunistas do Vietname do Sul.
(Um relatório da CIA elaborado em 1971 concluiu que 34% dos soldados NA destacados no Vietname do sul eram consumidores de cocaína…)
- No Afeganistão (durante a década de 80), apoiaram aqueles que agora consideram terroristas e combatentes inimigos, na produção de ópio, actividade que custeou asactividades de guerrilha contra a ex-URSS.
Quando os Talibãs apoderaram-se do governo, porque desejavam o reconhecimento internacional e apoios finaceiros que lhes permitissem sobreviver ao embargo económico, erradicaram (em 2001) a cultura das papoilas. (Como recompensa, a Grã Bretanha entragaram-lhes um milhão de libras e os EUA contribuiram com uma quantia semelhante.) nesse ano a produção de ópio baixou drasticamente para 185 toneladas.
Com a invasão do Afeganistão pelas tropas ao serviço da administração Bush, em 2001 a CIA ajudou a Aliança do Norte a voltar à cultura e tráfico da heroína para financiar aluta contra os talibãs e a Al Qaeda.
Os ingleses estavam então a liderar um programa de erradicação das papoilas, seguindo uma política de não confrontação. Como consequência, em 2002, a produção de ópoio subiu para 3200 tl e a área agrícula ocupada pelas papoilas multiplicou-se por 10. Em 2004, o Afeganistão estava a exportar 4 mil tl de ópio. Enquanto isso, o governo NA gastou 200 mil euros por hectare no seu programa de “erradicação” das papiolas, que apenas funcionou em 200 hectares.
O novo Presidente do Afeganistão, Karsay, apelou a uma jihad contra o ópio e a heroína, mas nesta luta perdida mandam os interesses escondidos da opinião pública. A corrupção é total (incluindo as autoridades provinciais afegãs e oficiais do exércit dos EUA), mas os menos culpa têm são os próprios agricultores. É preciso Ter em conta que o exército soviético destruiu a economia rural daquele país; os solos são muito pobres e os acessos (que poderiam facilitar o escoamento de produtos hortícolas legais) são quase inexistentes; os agricultores passam fome (situação que se agravou com o embargo internacional contra o governo dos talibãs) e muitos estão presos a um sistema de dívidas contraídas com os traficantes de droga. Quem lhes propociona alternativas economicamente viáveis ao ópio?
Os narcodólares também financiaram os Contras nicaraguenses
desde a década de (19)60 que algumas agências governamentais NA têm inundado com drogas duras (que foram inicialmente distribuídas apreços muito atraentes) os guetos onde vivem maioritariamente negros pobres e outros desfavorecidos sociais, como estratégia para enfraquecer a oposição política das classes mais desfavorecidas e contestatárias.

Nem tudo o que se refere às actividades humanas nas selvas colombianas são más notícias.
A comunidade indígena, liderada pela tribo Ingano e contando com o apoio de várias ONG ambientalistas e da comunidade científica internacional, conseguiu finalmente que as autoridades governamentais assinassem com eles um tratado que lhes permite fazer a gestão do Parque Nacional do Alto Fragua-Indiwasi.
Este é umprecedente muito importante em que a comunidade não indígena e/ou urbana reconhece aos povos da selva o direito de decidirem o destino das terras que habitam – em harmonia – Há muitas gerações em áreas consideradas protegidas pela sua espantosa biodiversidade (que não incluía os humanos). Ainda por cima este parque poderá transformar-se num santuário pacífico dentro de um país devastado por conflitos armados. Para além dos nossos tratados legais e dos complexos de superioridade típicos da sociedade urbano-industrial, este reconhecimento dos direitos dos indígenas deveria simplesmente tratar-se de os deixarmos em paz para viverem da maneira que consideram melhor para si, como, aliás, sempre o fizeram até serem invadidos pelos ocidentais. Mas nos tempos que correm a sociedade globalizada pretende que os seus maiores desafios civilzacionais sejam compartilhados por todos, e assim vê como um “projecto-piloto” com a obrigatoriedade de mostrar mais valias sócio-económicas baseadas na produtividade capitalista, não tanto na felicidade (não contabilizável nem comercializável) dos indígenas. As cidades condescendem em conceder esta benece aos indígenas desde que vejam benefícios para si mesmas (ex: turismo, investigação científica, comércio de produtos da selva,…).

Xando
CRECER SIN ESCUELA
PÉTER SZIL (Artículo publicado en La Revista Integral, diciembre 2000)
Educación no es lo mismo que escolarización. Varias familias en España han optado por que sus hijos se eduquen en casa según sus motivaciones y su ritmo. Todos están satisfechos.
¿Aprender sin escuela? ¿Es posible? Hace 13 años, cuando mi hijo Lomi se acercaba a la así llamada edad escolar, mi respuesta hubiera sido un "no" rotundo. Y no es que su madre y yo no fuéramos críticos con el sistema escolar. Cuando Lomi comenzó el colegio, nos implicábamos en el APA, el Consejo Escolar y en actividades que requerían la colaboración de los padres para mejorar el colegio. Estábamos dispuestos a seguir muchos años con esa tarea de Sísifo, pero nuestro hijo tuvo otra idea.
Tras una corta fase de entusiasmo por la novedad, vinieron las quejas. Las tareas impersonales del cole contrastaban con la creatividad a que él estaba acostumbrado tanto en casa como en un jardín de infancia Waldorf con mucho espacio para el juego y la fantasía. El horario le cortaba sus propios "proyectos" (que, por cierto, no encontraban ningún eco en el curriculum escolar). Los grupos grandes en la clase y en los recreos, con cientos de niños en un triste patio asfaltado, le asustaban. Las situaciones que requerían de él una competitividad (que no iba ni con su carácter ni con los valores que él traía consigo) y el constante bullicio le causaban dolor de barriga y de cabeza. Dejó el comedor escolar diciendo: "Yo no puedo comer en medio de una guerra." Una vez volvió al colegio tras dos semanas de "descanso" y, al recuperar la materia de ese período en una hora, expresó por primera vez su idea: "¿Y por qué no puedo yo estudiar en casa?"
El intento de solucionar el problema con un cambio de colegio le llevó sólo a formular que su malestar se debía a la institución misma, "porque es imposible que a 20-30 chavales les interese la misma cosa en el mismo momento".
Escuchar a los hijos Su madre y yo estábamos de acuerdo en que no valía la pena criar hijos sin escucharles, tomarles en serio y confiar en su criterio para sus propias vivencias. Yo soy además psicoterapeuta. Mis pacientes adultos me han enseñado las profundas consecuencias de la coerción ejercida sobre su infancia, en gran parte por el colegio (algo que en mi formación apenas se mencionaba), así que yo les aconsejaba que como padres hicieran por lo menos de su hogar un espacio donde los niños podían vivir su ritmo y regularse por sus propias necesidades.
También me estaba dando cuenta de que los procesos que contribuían al desarrollo de trastornos alimentarios (la bulimia o la anorexia) se aplicaban también a los problemas de aprendizaje. Obligar a niños a acabar platos que no les apetecen impide que se autorregulen y más tarde puedan evaluar sus propias necesidades alimentarias. Algo parecido ocurre al tener que tragar conocimientos sin curiosidad e interés. Muchas investigaciones corroboran que una educación formalizada en edades tempranas puede causar problemas cognitivos en la adolescencia y que las duras exigencias de la competitividad escolar constituyen un fenómeno parecido a la presión ejercida sobre los jóvenes en cuanto a su apariencia física.
Pruebas de laboratorio muestran que el cuerpo no absorbe por completo los nutrientes de los alimentos ingeridos sin apetito (con comentarios del tipo "¡cómete eso, es bueno para ti, tiene muchas vitaminas!"). De la misma manera, se nos queda poca cosa tras los exámenes de una trayectoria académica.
Encuentro de familias Así que Lomi se quedó en casa (su madre y yo nos alternamos para estar con él y su hermana pequeña) y comenzó a abrirnos una perspectiva inesperada. Lomi recuperó sus ganas de leer, emprendió proyectos creativos impulsados por su curiosidad y estaba aprendiendo sin que le enseñaran. Al cabo de un año así ya no podíamos negar que estábamos incurriendo en "objeción escolar".
Contactamos con familias que habían optado por esta alternativa y asociaciones que las agrupan en Estados Unidos, Inglaterra y Francia y en 1993 pusimos un anuncio en Integral para organizar el primer encuentro de familias con niños no escolarizados en España. Nos llevamos una sorpresa por la cantidad de familias (50 personas, casi la mitad niños) y también por la diversidad tanto en los motivos que podían llevar a una familia a educar los hijos en casa, como en las maneras de llevarlo a cabo.
A ese encuentro siguieron muchos otros en varios puntos de España, en los que los padres intercambiamos experiencias, los niños de estas familias pioneras notan que no son los bichos raros que pueden parecer en un país donde esa opción educativa todavía no está extendida. Así, muchas familias sin niños o con niños pequeños llegan a conocer esta alternativa de cerca y a tiempo. En 1997 nació el boletín semestral Crecer Sin Escuela, un punto de contacto fijo en una red de apoyo por lo demás muy informal.
Arce, Luna y Hada Una de las familias que conocimos en uno de los primeros encuentros vive en Cantabria. Sus tres hijos nunca han pisado un aula. Para ellos la no escolarización era una continuación de su crítica al sistema social y la búsqueda de otras alternativas.
"Los materiales con los que contamos", nos cuenta Isabel, la madre de Arce, 13 años, Luna, 10 y Hada, 4, "son nuestras propias inquietudes e intereses, tiempo juntos, mucho hablar de todo, libros de todo tipo, biblioteca, trato con gente que presenta 'otras cosas', incluso material escolar que a veces nos pasan, actividades apetecibles... Procuramos evitar demasiada estimulación de lo que consideramos pernicioso: televisión, radio, publicidad, noticias macabras o vacías, comics...".
Los niños están en casa por la mañana con la madre, mientras el padre trabaja como funcionario. Por las tardes la familia suele participar en talleres, va al teatro, conciertos o bibliotecas o colabora en grupos y asociaciones.
"Una de las ventajas que últimamente he descubierto", nos explica Isabel "es que los niños se liberan de mucho del estrés que nos impone la forma habitual de vida: horarios, exigencias, competición, exámenes..."
Los que llevamos muchos años educando a nuestros hijos en casa podríamos quejarnos de que la prensa sume en el silencio a esta alternativa. A una familia de Almería le pasó justo le contrario. En septiembre de 1999 el delegado de educación de Almería armó un escándalo creyendo haber descubierto "el primer caso de un niño no escolarizado en España". Su cruzada por "agotar todas las medidas legales a su alcance para liberar al menor de un daño que considera evidente" acabó bruscamente en el juzgado donde se le impidió incoar diligencias al no haber nada delictivo. Sin embargo los medios se hicieron eco de toda una serie de falsedades sobre "el niño que estudia por internet".
Lola y Gabriel En realidad no se trataba de un niño que pasaba su tiempo delante de un ordenador, sino de una pareja, Lola y Gabriel, cuyo objetivo en la educación de sus hijos es potenciar su espíritu independiente y crítico, la confianza en sí mismos y en su creatividad para resolver los problemas según su propio criterio y capacidades para encontrar recursos. "Consideramos", dice Lola, "que lo primordial en la educación es el respeto al niño y son las asignaturas las que deben adaptarse a su personalidad, talento y preferencias y no al contrario. Cuando nuestro hijo mayor, que ahora tiene 8 años, llegó a la edad escolar, buscamos un colegio en el que al menos una parte de estos requisitos los pusieran en práctica. Pero no encontrarnos ninguno. Como creemos que somos los padres los primeros responsables y después los profesionales de la educación, optamos por educarle en casa".
Su formación se realiza al estilo de la de un adulto autodidacta, que abarca tanto el dibujar, pintar, cocinar, leer y jugar al fútbol con sus amigos como proyectos específicos o escribir sus propias historias, primero a mano y luego al ordenador para que parezca un libro.
Al mismo tiempo le matricularon en una escuela por correspondencia en Estados Unidos, una institución que da mucha libertad a cada niño para desarrollarse a su propio ritmo y basándose en sus propios intereses. En primaria son los padres los que están en contacto con la escuela (por carta o, si lo tienen, por correo electrónico, siendo esto último la base de todo el malentendido que se ocasionó por "estudiar por internet"). En secundaria el niño entra en contacto directo con un equipo de profesores que le asesoran sobre sus opciones personales.
Lola y Gabriel tomaron también decisiones que a lo mejor eran más importantes que las que conciernen la forma de aprender del niño. "Nos mudamos a un lugar tranquilo donde los niños pudieran jugar en la calle y explorar los alrededores por ellos mismos. Mi marido cambió a jornada de trabajo continua en el taller de electrónica que dirige para estar en casa a partir del mediodía. Al elegir este tipo de educación hicimos un acto de fe en nosotros mismos, aunque teníamos dudas. Hoy ya no las tenemos».
Una opción consciente En mi familia también íbamos disipando las dudas conforme crecíamos juntos en la experiencia. Si sacar a Lomi del colegio fue un acto nacido de la desesperación, no escolarizar a nuestra hija, hoy de 14 años, ya fue una decisión consciente y positiva.
Éstas y muchas otras experiencias demuestran que educarse sin acudir a la escuela es posible y presenta una serie de ventajas sobre la educación convencional. El reconocimiento del mérito histórico de la escolarización generalizada (que ha cumplido una función vital en este siglo y ha contribuido precisamente a que hoy tengamos una sociedad tan matizada que precisa diferentes formas de educación) no debe confundirnos a la hora de ver su papel actual. No es el primer logro social que se vuelve contraproducente por su uso masivo e indiscriminado. La resistencia de las bacterias al tratamiento con antibióticos está aumentando de forma alarmante, al igual que el fracaso escolar o la delincuencia juvenil. Recurrir a medicinas o a maneras de aprender que son respetuosas con lo particular del individuo no puede sino contribuir a la auténtica pluralidad de una sociedad.
Lomi, de 20 años "Para mí lo positivo de no ir al colegio ha sido poder dedicarme a mis propios proyectos mientras me interesaban y el tiempo que me hacía falta para acabarlos. He tenido varios períodos, que podían durar años, en los que me he interesado por cosas como la cocina (haciendo de aprendiz en un comedor vegetariano) o imagen y sonido (tengo incluso un título sin utilizar de locutor de radio y TV) hasta que di con lo que estoy haciendo ahora: artes escénicas y circo."
"En muchos momentos me he sentido raro por no ir al colegio (aunque no más que cuando almorzaba una zanahoria en el recreo en el cole), pero para mí ha sido y es más importante poder elegir que ser 'normal'."
"Yo he oído mucho por ahí que al que no va al colegio y no tiene título le va a ser difícil en este mundo. Actualmente tengo casi veinte años, llevo dos años viviendo por mi cuenta, gano mi propio dinero y sigo formándome al mismo tiempo. Desde septiembre estoy estudiando con una beca en una escuela de teatro en Inglaterra."
El dilema de la 'socialización' Muchos expertos, psicólogos y educadores pregonan sus dogmas no sólo sobre los supuestos beneficios de la escolarización, sino también sobre los daños irreversibles de la no escolarización sin haber conocido personalmente a algún niño que haya crecido sin ir al colegio. Su argumento preferido es el de la socialización, al estilo de los que esgrimen que para hacerse hombre hay que ir a la mili y no mencionan que también existe una socialización negativa. De esto habla por ejemplo Vicente Garrido, profesor de psicología criminal. Él relaciona la escalada de la delincuencia juvenil con el hecho de que "la estructura familiar perdió su capacidad de socializar, de establecer patrones de comportamiento en los niños" y añade: "...la familia es el agente socializador por excelencia". Muchos pedagogos acusan al aumento de la edad de escolarización de disparar la agresividad en los colegios.
La diferencia entre la socialización de niños escolarizados y no escolarizados es que los primeros pasan muchas horas al día con muchos niños de la misma edad, mientras que los últimos se socializan a través de contactos más individuales con niños y jóvenes de edades diferentes y con adultos. Estudios realizados en países donde ya existen varias generaciones de personas no escolarizadas muestran más bien que los niños no escolarizados son más cooperadores y que ven a los adultos como aliados y no como enemigos.
El vacío legal en España La Constitución española dice: "La enseñanza básica es obligatoria y gratuita" (Art. 27.4), pero precedida por la frase: "Los poderes públicos garantizan el derecho que asiste a los padres para que sus hijos reciban la formación religiosa y moral que esté de acuerdo con sus propias convicciones" (Art. 27.3). La administración, basándose en la LOGSE sigue, de momento, sin prever la posibilidad de educar a los hijos en casa. Por eso la toma de posición de los jueces ha sido decisiva para llenar el vacío legal.
En palabras de Luis Columna, juez que en 1994 condenó en Almería a 150 padres por absentismo escolar derivado del abandono, en la desescolarización consciente no hay "responsabilidad penal ante un caso de este tipo, ya que los padres no hace dejadez de sus obligaciones con los hijos sino todo lo contrario". Otras sentencias han sentado precedente jurídico: "La formación educativa efectuada al margen de la enseñanza oficial es perfectamente aceptable en el marco de libertades diseñado por la Constitución".
Ninguno de los jóvenes educados sin escuela en España ha tenido problemas a la hora de incorporarse a la enseñanza superior o al mundo laboral, a pesar de que aquí todavía no se han formalizado mecanismos como los que hay en otros países (Estados Unidos, Canadá, Australia, Francia, Inglaterra) donde la educación en el hogar es completamente legal desde hace varias generaciones.
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quarta-feira, maio 30, 2007

Petróleo, o sangue envenenado da nossa civilização.

A indústria petroquímica tem sido fecunda/pródiga/generosa em provocar doenças laborais gravíssimas. Estão lembrados do caso de Porto Marghera (Veneza, Itália)? Nos anos (1970) e 80 foi provado judicialmente a razia de cancros e tumores vários (sobretudo provocados pelo cloreto de vinilo) entre os empregados dessa empresa petroqúimica.

Dificilmente poderiam poluir mais os três complexos petroquímicos portugueses herança do estado Novo. A saber: o de Lisboa (que encerrou aquando da «Expo 98», para que os estrangeiros não vissem como se poluía desbragada e despreocupadamente - em Portugal…), o de Leixões e o de Sines.

Olhando para montante do problema, a extracção do petróleo tem implicações muito mais graves do que a maioria julga saber. Com frequência processa-se em territórios indígenas e em áreas ditas "protegidas". A desflorestação é apenas o início das hostilidades. De seguida abrem-se, de forma rectilínea, centenas de km de brechas sísmicas que, de forma periódica, são sujeitas a explosões de considerável magnitude (muitos animais, com destaque para os peixes, perecem deste modo). Através da análise das ondas sísmicas, poder-se-á determinar a ocorrências de jazidas de petróleo.

Uma vez encontradas ressonâncias promissoras, a selva não deixará de tremer, pois logo chegará uma horda de maquinaria pesada para arrasar com a vegetação (devido à construção de estradas, acampamentos, heliportos e aeroportos, poços de extracção, …).

Na extracção do crude são utilizadas substâncias químicas extremamente perigosas (tais como: coagulantes, dispersantes, biocidas, fungicidas, agentes de controlo de parafinas, sulfatos, cianeto, metais pesados, além do petróleo em si) e até materiais radioactivos que vão logo água abaixo, ou ficam precariamente armazenados em charcos sem qualquer protecção impermeabilizante. (As constantes infiltrações nos solos por vezes tem contacto directo com os aquíferos que abastecem de água "potável" algumas cidades, como é o caso de Diyarbakir na Turquia, devido às explorações da Shell.) O resultado é o mesmo, uma vez que as chuvas em pouco tempo se encarregam de libertar estes tóxicos.

Por falar na chuva, nesses locais esta costuma ser negra de tão inquinada com as partículas em suspensão resultantes da combustão de substâncias tóxicas (que, ainda por cima, frequentemente provocam incêndios nas áreas circundantes). Outras partes não comercializáveis do crude são utilizadas para asfaltarem estradas utilizadas exclusivamente pelos camiões das companhias petrolíferas e pelos madeireiros, e contribuem igualmente para a grave contaminação do solo e da água.

Geralmente as populações que habitam as áreas alvo dessa desmesurada degradação ambiental, não merecem um tratamento melhor do que a recebida pelos outros seres silvestres. As doenças fazem imensas baixas entre os indígenas e o seu gado. Se se opõem, o exército, às ordens das multinacionais do petróleo, encarrega-se de silenciar essas vozes molestas (veja-se o caso da Shell, da Chevron e da Exxon/Mobil na Nigéria e em Cabinda, e da BP na Colômbia, da Elf no Congo, da Total em Myanmar, da Texaco na Indonésia e do governo australiano a celebrar acordos de exploração do petróleo de Timor Leste com o regime ditatorial de Suharto, entre muitos outros exemplos deploráveis). A corrupção pelo dinheiro é outra táctica comum utilizada pelas empresas petrolíferas para enfraquecer os opositores.

Em breve, as comunidades autóctones não têm outro remédio senão partir para engordarem os bairros de lata das cidades, ou integrar os numerosos prostíbulos que vão surgindo expressamente para satisfação dos trabalhadores das companhias petrolíferas. Para a maioria das vítimas, o álcool passa a ser a única miragem lenitiva nesta realidade soturna e desesperada.

www.ecuanex.apc.org/oilwatch/espanol/index.html

www.moles.org/ProjectUnderground/drillbits.html

www.tierra.org/index.asp

Um processo de descolonização mal feito, líderes errados e o domínio comercial e financeiro das corporações e bancas ocidentais (com a protecção que recebem dos seus governos)fez com que, para a maioria dos países africanos possuir os recusrsos naturais mais cobiçados internacionalmente (e que se possam saquear e transportar)se tenha tornado numa terrível maldição para as populações locais. A poluição causada pela industria extractiva, embora costume ter graves consequências para os ecossistemas – incluindo as pessoas e o seu gado - , é de somenos importância comparado com as acções homicidas dos exércitos (governamentais, rebeldes e milícias paramilitares). Vejamos alguns exemplos.

O assassinato de 2 milhões de sudaneses em consequência de uma guerra civil, também está ligado com o petróleo nacional. O exército do governo tem atacado sistematicamente (até com aviões bombardeiros) os aldeões que vivam em terras onde foi encontrado petróleo, ou que fiquem no caminho das vias de acesso aos poços de petróleo.

No Congo, nos últimos 10 anos, foram mortas 4,5 milhões de pessoas. Os conflitos étnicos e políticos não escondem o facto de que a luta fratricida se centra igualmente no controlo minas de ouro, de urânio, de diamantes e de outros metais que até há poucas décadas eram desprezados mas que agora são muito procurados pelos fabricantes de telemóveis e de videojogos (que pouco se importam com o que as suas actividades tem custado às populações locais)

Actualmente as províncias diamantíferas do nordeste de Angola assemelham-se ao velho oeste Norte americano durante a corrida do ouro.

Angola depende da Província de Cabinda para manter o volume de exportações de petróleo. Mas os habitantes de Cabinda reivindicam a sua soberania política, independente do governo angolano. A sua luta é antiga e muito têm sofrido pelo seu desejo de autodeterminação. Portugal é em grande parte culpado por este conflito, pois ofereceu Cabinda a Angola quando reconheceu a independência dessa ex-colónia, desapontando tremendamente os cabindenses, que ansiavam pela sua própria independência, e lavando daí as maõs.

A guerra civil Angolana deixou claro que a avidez pelo petróleo e a força dospetrodólares em muito transcende as ideologias políticas. 60% do petróleo que Angola eporta destina-se aos EUA. Este país que apoiou terrorismo, golpes de Estado, ditaduras e guerras por todo o mundo em nome da sua luta incondicional ao comunismo, não teve problemas de consciência em colocar-se do lado do Presidente "socialista" José Eduardo dos Santos e do seu movimento para a Libertação de Angola (MPLA) contra a Unita (União nacional para a Libertação otal de Angola) do capitalista rebelde Jonas Sabimbi. A estes últimos, Washington dava "apoio moral" e ajudava em algumas transacções de pedras preciosas e até lhes vendiam algumas armas, mas como o governo controlava às áreas petrolíferas (e aí têm operado corporações como a Chevron-Texaco, a Exxon, a Shell e a Elf) era principalmente ao MPLA que os EUA favoreceram, não ligando às cores das bandeiras e com as quase inacreditáveis atrocidades cometidas por ambos os lados contra a população civil. (A guerra saldou-se em mais de 1,5 milhões de pessoas mortas e na maior população mundial de amputados e estropiados.) Houve até episódios politicamente caricatos em que mercenários sul-africanos conotados com a extrema-direita defenderam instalações petrolíferas cubanas contra ataques da Unita…

EUA

Os norte-americanos constituem 5% da população mundial, mas consomem mais de 25% de todo o petróleo (numa média de 20 milhões de barris por dia.). O seu país detém 3% das reservas de petróleo conhecidas e importam 61% do petróleo que consomem. São os maiores poluidores do mundo.

Com evidente simbolismo, nos EUA os cidadãos têm como principal documento de identificação a carta de condução – que é o suficiente para adquirirem legalmente uma arma de fogo, invocando o direito garantido pela 2ª emenda à Constituição; este é um perigoso anacronismo do tempo em que o governo incentivava e contava com as milícias populares para se tornarem livres do jugo britânico pela via armada.

Algumas curiosidades tragicómicas do centro do império: No estado do Utah é ilegal um homem ser surpreendido em público com uma erecção visível sob as roupas, mas o volume de uma arma de fogo combinada com os trajes para atender aos serviços religiosos, é socialmente aceite…;

Aos 18 anos de idade os cidadãos ganham o direito legal de votar na liça político-partidária; 3 anos depois podem beber álcool em locais públicos; mas com apenas 16 anos de vida já podem tirar a carta de condução de automóveis…;

Los Angeles (Califórnia) é provavelmente a cidade mais moldada ao automóvel e onde o seu culto é mais forte. Por isso, não é de estranhar que aí se tenha tornado uma prática comum os assassinatos ao estilo «drive-by shooting», em que alguns energúmenos ajustam contas disparando de carros em movimento.

Não é à toa que o país em causa é onde existem mais pessoas automobilizadas e armadas. O poder da tecnologia de destruição inebria. Não devemos olvidar que grande parte da tecnologia que o mundo rico utiliza corriqueiramente são as sobras de desenvolvimentos militares.

Só em meados de 2005 é que o líder da nação mais poluidora do mundo admitiu publicamente a existência do fenómeno das alterações climáticas associadas às actividades humanas. No entanto, manteve a sua posição de não alterar asregras do sistema industrial e de todo o modo de vida estado-unidense baseado no petróleo barato, na hegemonia dos petrodólares e no consumismo-desperdício irresponsável, insistindo que há demasiadas incertezas quanto às causas-efeitos dos fenómenos climatéricos desastrosos e que o melhor é continuar a estudar o assunto porque «quanto mais soubermos, melhor poderemos agir» (sic). Pois claro, todos nós, e sobretudo os iraquianos, sabemos que W. Bush só intervém de forma drástica quando em posse de provas irrefutáveis...
(As "armas de destruição maciça" que a administração Bush Jr. e a
escumalha que p acompanha temem é a escassez do petróleo e o fim da hegemonia dos petrodólares.)



O petróleo e a guerra

Nas últimas décadas têm sido óbvias as intenções de Estados imperialistas que movem guerras sobretudo por causa do petróleo (se não para o roubarem, pelo menos para garantirem a fluidez do "ouro negro" em direcção à suas indústrias) e apoiam governos corruptos e tirânicos de modo a que possam explorar o "ouro negro" sem os entraves das considerações sociais e ecológicos. De formas mais subtis (por não serem mediáticas), as multinacionais que comercializam o petróleo têm influências vinculativas nas legislações ambientais, patrocinam a corrupção e a violência organizada e arbitrária.

A guerra contra o Iraque (protagonizada por Bush II) tem custado, desde o seu começo, aos contribuintes norte-americanos 137 milhões de dólares por dia! Mas que importância tem isso, quando as empresas petrolíferas norte-americanas estão a ganhar rios de dinheiro com o petróleo iraquiano? E a comercialização desse petróleo também está associada ao negócio das armas (com Israel, por exemplo).

Isto tudo em nome da "democracia" e da "liberdade"…. Insistem no bloqueio a Cuba, mas isso não os impede as empresas norte-americanas de fazerem negócios com a Coreia do Norte… Quando se trata dos poderosos encherem os bolsos, torna-se irrelevante a coerência política.

Se Cuba assentasse sobre jazidas de petróleo tão ricas como as do Iraque, há várias décadas que tinha sido ocupada pelo exército norte-americano.

Em relação ao petróleo que obtém do Médio Oriente, o governo dos EUA despende mais recursos a assegurar a protecção militar (incluindo as empresas militares privadas) desse combustível, do que as receitas que dele obtém. (Nos anos 90, o governo estadunidense subtraio ao erário público 60 mil milhões de dólares para assegurar que esse petróleo chegava em segurança às suas costas, mas os lucros totais da sua venda foi de 10 mil milhões de dólares anuais.)

A Arábia Saudita é o principal cliente da industria de armamento estadunidense, para além de ter nas suas mãos alguns dos políticos e lobistas de Washington.

O combustível barato é considerado praticamente um direito constitucional nos EUA. Quando Bush II avançou para a 2ª Guerra no Golfo Pérsico, para muitos dos seus compatriotas anónimos que apoiaram esta aventura imperialista era-lhes quase indiferente se o governo lhes mentira sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque, desde que o fluxo de petróleo continuasse abundante e barato no seu país. Como sabemos, enganaram-se redondamente, pois as corporações que mandam em Washington (DC) tiveram lucros inusitadamente obscenos com a guerra e com a venda de petróleo importado, mas os preços do combustível vendido aos estadunidenses disparou em flecha.

Como secretário adjunto de Rumsfeld, Paul Wolfowitz foi um dos principais arquitectos da guerra mais impopular para os NA desde o final do seu envolvimento no conflito vietnamita.
Ao Congresso afirmou que essa sua guerra não iria custar quase nada aos contribuintes NA porque esperava que o petróleo iraquiano rendesse uns 50 a 100 mil milhões de dólares em dois anos, o que deveria ser suficiente para
auto financiar a reconstrução do país.
À revista «Vanity Fair» este homem declarou que as pretensas armas de destruição maciça iraquianas foram um reles pretexto para a invasão do Iraque. «Por razões burocráticas centrámo-nos nessa questão, as armas de destruição maciça, visto ser este o único motivo que granjearia a concordância de todo o mundo» (sic) para uma guerra ilegal. Centenas de milhar de mortos, opressão e tortura de iraquianos, o país à beira de uma guerra civil, bem como o roubo do seu petróleo – tudo por «razões burocráticas»?!

A seguir, Paul Wolfowitz foi promovido a presidente do Banco Mundial, onde não tardou a envolver-se num escândalo por ter atribuído, de forma altamente irregular, um ordenado principesco à sua namorada que também trabalha nessa instituição. Por alguma razão, os média acharam que isso era mais grave do o facto de Wolfowitz não ter qualquer experiência como economista nem nunca ter cultivado valores solidários, o que até condiz com o longo historial de patrocínio de desastres sociais e ambientais; de pura extorsão através das dívidas externas e das taxas de juros; e de constantes atropelos aos ideais de democracia que muitos ocidentais julgam ser um bem adquirido.

Convém não esquecer que Paul Wolfowitz é co-presidente da empresa de armamento «Munitions Industrial Base Task Force» que beneficia de chorudos contratos com o Pentágono. Também foi (e continua a ser extra oficialmente, tal como o sinistro Richard Pearl)

conselheiro de Bush para a política externa em relação a Israel, o que lhe tem dado a oportunidade de lucrar com a venda de armas e programas de treino militar. Mesmo assim, os seus dividendos com as actividades beligerantes do império estão muito aquém dos que tem amealhado (através da empresa Halliburton) o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney.

Se a administração Bush, sob o pretexto da “guerra ao terrorismo”, não se tivesse empenhado muito mais em enriquecer obscenamente as empresas que mais poder exercem sobre a Casa Branca (ex.: Halliburton, Bechtel, Lockheed Martin) com uma guerra absurda e ilegal, poderia, com relativa facilidade, ter travado a multinacional de tecnologia nuclear – estritamemnte para fins militares e terroristas - que o Dr. Khan dirigia a partir do Dubai.

O Tio Sam, após o atentado ao WTC, apostou no reforço coercivo da aliança com o Paquistão ao ponto de, nesciamente, subestimar o Dr. Khan.

A cultura do automóvel sérvio inteiramente os objectivos do complexo industrial-militar. A aliança entre os industrias mais poderosos dos EUA – Henry Ford, Rockfeller e Harvey Firestone foi essencial para aimplementação da cultura do automóvel, que , serviu inteiramente os objectivos do complexo industrial-militar. Os referidos grão-capitães da indústria controlavam, respectivamente, a produção de automóveis, combustíveis fósseis e pneus. Não foi apenas a expansão dos transportes públicos que boicotaram, Mas os próprios esforços de guerra dos EUA (nos anos 40), já que forneciam aos nazis petróleo & diesel, borracha sintética, alumínio e veículos militares que escasseavam no seu país, para além de terem financiado a ascenção política de Hitler.

Como é que a dinastia dos Bush conseguiu tanto poder na cena política e corporativa norte-americana? O avô (Prescott Bush) e o bisavô (George Walker)
do actual presidente George Walker Bush foram ambos capitalistas que apoiaram (ideológica e financeiramente) a escalada política de Hitler, desde os anos 20 até ao controlo da Alemanha nazi. Os Bush amealharam uma fortuna à custa do trabalho escravo proveniente dos campos de concentração (incluindo Auschwitz). Mesmo após o termino da guerra, a dupla Walker&Bush estiveram envolvidos na lavagem de dinheiro proveniente de saques aos tesouros nazis
(“ladrão que rouba a ladrão...").

Transcendendo os interesses na indústria petrolífera, a guerra continua a ser um negócio de família para os Bush. William Bush é tio do actual presidente (sendo o irmão mais novo daquele que foi presidente dos EUA entre 1989 e 1993) que, uns meses antes do seu sobrinho tomar de assalto a Casa Branca, aceitou o convite para pertencer ao conselho administrativo da empresa
Engineered Support Systems Inc. (ESSI). Esta fornece uma panóplia de materiais
para o exército (ex.: radares, geradores, blindagens, abrigos para ataques químicos e biológicos, etc...). O "tio Bucky" (como é conhecido pela
família) é um homem de negócios astuto. Com a aproximação da invasão do Iraque, aproveitou para adquirir o máximo de acções da sua empresa, sabendo que isso o faria milionário em pouco tempo. Assim foi. A ESSI tem ganho vários contratos (de dezenas de milhões de dólares) com o exército, não se coibindo de apimentar/fermentar os seus preços (é que, à semelhança do que tem sucedido com a Halliburton, alguns desses contratos foram-lhes entregues
de bandeja, sem passarem por concursos públicos; mais, no Pentágono, a supervisão e aprovação dos mesmos ficou a cargo de alguém que acabou por ser condenada a uma pena de prisão efectiva por ter favorecido fraudulentamente a Boeing. Oficiais do departamento de defesa assinalaram
irregularidades nesses contratos, mas não as consideraram dignas de uma investigação mais aprofundada)
Entretanto, a ESSI expandiu os seus negócios, aliando-se aos governos da Arábia Saudita, de Israel e até da China.
O "tio Bucky" deve dar graças aos céus (e aos seus) por, na lotaria cósmica, não lhe ter calhado um Mahatma Gandhi como sobrinho...


Essa riqueza foi depois investida em negócios do petróleo e finalmente no impulsionar das carreiras políticas dos seus descendentes.
Nos anos (19)30, a América dos ricos estava assumidamente seduzida pela ideologia e metodologia fascista (que foi o laboratório corporativo da pilhagem imoral que estamos a viver à escala global). O presidente Franklin Roosevelt tentou, com o seu programa político denominado "New Deal Administration", tirar o país do buraco financeiro da recessão, fazendo com que os barões corporativos pagassem somas minimamente justas de impostos, apoiou empresas públicas para que estas assegurassem o fornecimento de bens essenciais, aprovou algumas leis de protecção social, nomeadamente aos trabalhadores. Por este motivo, os capitalistas norte-americanos queriam vê-lo fora da casa branca - vivo ou morto! - , não estando dispostos a esperar por novas eleições presidenciais, até porque se arriscavam a que fosse reeleito. Assim, em 1933 (no mesmo ano em que Hitler chegou ao topo do poder estatal, um grupo de conspiradores endinheirados contactou/tentou cooptar o general Smedley Butler, pedindo-lhe que encabeçasse um golpe de Estado que o levaria a ocupar o célebre gabinete oval. (Além de alguma argumentação fascista, entregaram-lhe uma avultada maquia para que reunisse um pequeno exército de mercenários/terroristas.) Mas qual a razão de terem eleito este general para se tornar um ditador-marionete? É que, mais do que ser na altura o "herói de guerra" mais condecorado, o velho Marine tinha um impressionante currículo , utilizando o exército dos EUA com o intuito de, no estrangeiro, preparar o terreno para o controlo financeiro por parte das empresas do seu país. Vale a pena ler a declaração que Butler proferiu numa convenção da Americam Legion, em Connecticut, 1931.
«Passei 33 anos a desempenhar o papel de homem de força de alta roda/classe
ao serviço do Big Business (grande capital), para a Wall Street e para os banqueiros. Em suma, fui um ganster do capitalismo... «(...) Ajudei a limpar a Nicarágua para a International Banking House of Brown Brothers, entre 1909 e 1912. ajudei a tornar o México (...) seguro para os interesses da indústria petrolífera [norte-]americana, em 1916. no mesmo ano, subjuguei a resistência da República Dominicana ao monopólio das empresas de açúcar [norte-]americanas. Ajudei a tornar o Haiti e Cuba sítios decentes para que os rapazes do National City [Bank] aí pudessem sacar dividendos. Ajudei a violar meia dúzia de republicas da América Central para benefício de Wall Street... Na China, em 1927, eu tornei possível que a Standard Oil pudesse fazer as suas conquistas comerciais ser ser molestada... Tinha ao meu dispor óptimos meios de intimidação. Por isso fui recompensado com honras, medalhas, promoções... Poderia até ter dado algumas dicas ao Al Capone. Afinal, o melhor que ele conseguiu foi operar extorsões em três cidades; os Marines operaram em três continentes.»
Felizmente o general Butler não estava interessado em continuar a ajudar os capitalistas mais ambiciosos, e muito menos em derrubar ilicitamente o presidente Roosevelt. Mas, a fim de reconhecer todos os implicados na conspiração, fingiu alinhar com eles, e, uns meses mais tarde, denunciou-os a todos ante a MacCormack-Dickstein House Committee. O golpe de Estado foi, deste modo, frustrado, mas nenhum dos conspiradores multi-milionários e extremamente influentes na vida política (incluindo os responsáveis pela General Motors, pela Du Pont, pelo Morgan bank, pela Good Year e pela JP Millan) foram chamados a depor;
nenhuma sansão legal pesou sobre eles, continuando descaradamente/impunemente a boicotar as políticas sociais de Roosevelt.
Ainda hoje há pelo menos 57 grandes corporações estado-unidenses que fazem negócios (impunemente) com os governos oficialmente declarados inimigos e com todo o género de déspotas.




Quando, em 1908, se descobriu petróleo/crude no Irão, os homens que dirigiam o império britânico exigiram que se intensificasse a sua presença militar no médio Oriente, a fim de se apossarem desse precioso recurso. Poucos como Churchil foram capazes de perceber a importância (num futuro próximo) do petróleo para a economia do império, dando um segundo impulso à industrialização, como o combustível que iria substituir o carvão. Não tardou a que a frota naval britânica abandonasse a tecnologia a vapor, convertendo-se ao petróleo. No final da I Guerra Mundial, um proeminente político Inglês declarou que «os Aliados flutuaram para a vitória numa onda de petróleo!»…

No séc. XIX os recursos naturais e toda a soberania económica do Irão (que ainda se chamava Pérsia) foram vendidos aos ingleses pelo Xá Nasir-al-Din que, mesmo assim, estava permanentemente endividado devido ao seu obsceno hedonismo perdulário, pouco ou nada se importando com as necessidades do “seu povo”. Os iranianos viviam então numa miséria cada vez mais escravizada pelas corporações inglesas.

O Xá acabou por ser assassinado em 1896. Foi substituído pelo seu filho que deu continuidade às políticas desastrosas. (É provável que a história acabe por reconhecer que o feito mais significativo do novo monarca foi, em 1901, ter vendido o direito exclusivo de prospecção e exploração do petróleo iraniano ao britânico William Knox. )

Numa sucessão de governantes ineptos e corruptos, que se transformaram em meros títeres das potências europeias, das quais se destacava a Grã-Bretanha e a Rússia. Os maiores representantes políticos destes dois últimos países, no decurso de uma reunião em S. Petersburgo celebrada em 1907, acordaram dividir entre si o Irão, sem sequer consultarem as autoridades iranianas.

Doze anos depois, Grã-bretanha consumou plenamente as suas pretensões imperialistas no Irão, ao impor o ignóbil/deplorável “acordo” Anglo-Persa, em que se auto atribuíam o direito exclusivo de controlar o exército, o tesouro e as redes de transporte e comunicações iranianas. (Andrew Patrick, 2005)

Tais abusos insustentáveis fomentaram um crescente nacionalismo entre a população oprimida e explorada que começou a organizar a contestação ao controlo do seu país por parte de estrangeiros gananciosos e sem escrúpulos. Inevitavelmente, acabaram por encontrar um “campeão libertador”. Chamava-se Reza Khan e, através de um golpe de Estado militar, tornou-se no exterminador da dinastia dos Xás que leiloaram ao desbarato o Irão. Khan (cuja formação militar tinha sido adquirida nas brigadas cossacas) instituiu um regime de terror, não tolerando quaisquer vozes opositoras. Mas foi também responsável por uma revolução laica e pela modernização (ao estilo ocidental) das infra-estruturas urbano-industriais e ainda pela recuperação de sectores fundamentais à economia nacional que estavam em mãos estrangeiras. A khan deve-se igualmente a mudança de nome do país (de Pérsia para Irão).

Entretanto, eclodiu a II Guerra Mundial e os Aliados encontraram a desculpa perfeita para usurparem o poder a Reza Khan, pois ele tinha-se assumido como simpatizante de Hitler e tinha contas a ajustar com Estaline e os seus sequazes, podendo o Irão servir de base para ataques militares nazis contra a União Soviética.

Em 1941, os ocidentais conseguiram substituir Khan por um dos seus filhos que tinha sido educado em Londres e nem sequer sabia falar a língua oficial do seu país natal. Este iraniano muito british permitiu aos seus amos britânicos continuarem, praticamente sem resistência, com o saque corporativo. Tal levou a um drástico agudizar da pobreza no Irão. O povo definhava com fome e doenças; sem direito a assistência social e ao saneamento básico. Os que estavam empregados na indústria petrolífera não tinham melhor sorte, arrostando um ambiente demasiado insalubre e a rotina exaustiva por salários miseráveis. Para piorar a situação, eram confrontados com as chocantes disparidades socio-económicas da comunidade inglesa que os explorava vivendo em grande luxo.

Os protestos populares eclodiram nas ruas e chegaram ao parlamento iraniano, que, por ser controlado pela força ocupante, falhou em implementar as reformas reivindicadas pelo povo que deveria servir.

Nas eleições de 1951, foi eleito (com quase 100% dos votos!) primeiro-ministro Mohamed Mossadegh. Este homem ferozmente nacionalista tinha ideais socialistas que julgava harmonizar com os verdadeiros desideratos do seu país. Uma das medidas mais impactantes que promulgou quase de imediato foi a nacionalização do petróleo que lhes estava a ser roubado por flibusteiros corporativos.

A Grã-Bretanha moveu diligências traiçoeiras para substituir Mossadegh por outro dos seus vassalos, mas o novo homem forte do Irão respondeu à altura, expulsando do seu país os representantes de Sua majestade a Rainha Isabel, tendo igualmente cortado relações diplomáticas com o império britânico.

Nos EUA, o presidente Harry Truman não pareceu muito perturbado com a revolução iraniana, mas a abordagem do seu sucessor, o general Eisenhower, seria muito diferente…

Vivia-se o início da Guerra-fria. Os espiões ingleses e estadunidenses entregavam aos seus chefes relatórios alarmistas, em que afirmavam que Teerão se estava a submeter completamente aos ditames de Moscovo.

Dwight Eisenhower ficou convencido de que tinha que actuar em conformidade com os apelos de Londres (que já mantinha um sério embargo económico ao Irão). As duas nações que se julgavam os maiores baluartes da “democracia capitalista” uniram esforços contra a expansão do “comunismo” (onde se incluía todos os governos que tomassem medidas proteccionistas contra a predação colonialista das corporações apoiadas pelos governos e exércitos dominantes no Ocidente) . A CIA dirigiu a «Operação Ájax» que dispôs de uma verba quase ilimitada para subornar militares iranianos, intrigar, conspirar, contratar guerrilheiros urbanos, sabotadores, vândalos e agitadores. (A título de curiosidade refira-se que um dos agentes da CIA que teve mais relevância nesta operação foi Kermit Roosevelt, neto do presidente Theodore Roosevelt, que, em 1980, publicou um livro com revelações bombásticas sobre a até aí secreta «Operação Ájax», que poderá ter estabelecido as linhas mestras da política externa estadunidense no que toca ao arranjo de governos ditatoriais submissos às conveniências do seu complexo militar-industrial.)

A 19 de Agosto de 1953 Mossadegh é deposto. Como substituto provisório, foi nomeado (por imposição da Grã-Bretanha) o general Zahedi. Logo regressou ao Irão o Xá Pahlevi (que estava exilado em Roma) a fim de assumir poderes ditatoriais, tornando-se no maior cliente de armas do Tio Sam. Pahlevi instituiu a polícia secreta Savak (inspirada na Mossad israelita) que perseguiu impiedosamente toda a oposição. Devido a pressões ocidentais bem como ao gosto por um estilo de vida que tinha adquirido no estrangeiro, o novo Xá, em 1962, conduziu umas políticas destinadas à laicização muito forçada da sociedade. A par da sua «revolução branca» (destinada a favorecer a elite urbana em detrimento da maioria pobre que habitava as zonas rurais, tendo como resultado a ruínas da agricultura, o êxodo rural, os bairros da lata e a pobreza mais pungente), tirou poderes aos líderes religiosos e proibiu o uso do véu nas mulheres. Uma escola islâmica tentou resistir a estas medidas, mas foi tomada de assalto pelas forças armadas - que mataram 70 estudantes. (Stephen Kinzer, 2004)

Até á deposição de Mossadegh, a generalidade dos iranianos admiravam e simpatizavam profundamente com os estadunidenes, mas a situação inverteu-se por culpa de Washington.

Estavam criadas as condições para uma revolução de cariz nacionalista e islamita. E foi o que aconteceu em 1979.


Iraque

Voltando atrás, a descoberta do petróleo iraniano no início do séc. XX levou à intensificação das prospecções no Iraque, e todos estavam convencidos de que era só uma questão de tempo até as jazidas do "ouro negro" iraquiano fossem alcançadas.

Em 1909, a corporação «Anglo Persian Oil» passou a controlar a

exploração dos poços de petróleo naquela região, sempre com os seus
interessem bem defendidos pelo exército britânico. Antes da I Guerra mundial
oficialmente ser iniciada, Londres já tinha elaborado um plano para conquistar
o sul do Iraque, por ser aí que tinham encontrado petróleo em abundância e
facilmente acessível.
Em 1914 as tropas britânicas (que dispunham de tecnologia de destruição
inigualável) ocuparam Bassorá. Dois anos depois conquistaram Bagdá, e
passados outros dois anos foi a vez de Mosul capitular também. Os otomanos
turcos foram os mais castigados por esta invasão e usurpação dos seus
recursos naturais. As mais altas hierarquias do exército invasor insistiram em
afirmar-se como "libertadores", e justificaram o seu domínio imperialista
como condição sine qua non para que as nações muçulmanas se tornassem
civilizadas... A história repete-se com a dinastia Bush.

O movimento árabe, subjugado pelos turcos, ansiava pela libertação e os seus líderes sentiam-se preparados para formar nações independentes.

O célebre lawrence da Arábia,como agente especial do exército britânico, ajudou a coligação de tribos árabes a derrotar o império otomano. Por mais que admirasse os seus companheiros de guerrilha no deserto. Lawrence sabia que os estava a trair, pois os seus superiores hierárquicos na longínqua Inglaterra não tinham a menor intenção de cumprir as promessas (de reconhecimento da autodeterminação) feitas aos árabes.
Na Conferência de Paz de Paris, a França e a Inglaterra dividem entre si o
Médio Oriente e parte de África. O Iraque e a Palestina fizeram parte do
saque britânico, o que levou a revoltas um pouco por todo o mundo árabe,
sobretudo por parte dos iraquianos que estavam saturados dos abusos
colonialistas. O exército britânico conseguiu esmagar essas revoltas, mas a
situação tornara-se insustentável (e militarmente controlável) por muito
mais tempo. Então o império resolveu colocar à frente do Iraque o Rei
Feisal, que era um árabe pró-britânico e com maiores ambições de riqueza
pessoal do que inflamado por um nacionalismo árabe.
Em 1932 o Iraque é reconhecido como um Estado independente. A fortuna pessoal do Rei Feisal crescia à conta das negociatas do petróleo com os seus senhores do Reino Unido, e de uma forma proporcional às clivagens/assimetrias sociais
que enfraqueciam a sociedade iraquiana.
Sucedeu-o no trono o seu filho Feisal II. Mas este reinou por pouco tempo. Em 1958 um golpe militar, liderado pelo general Kassin, toma conta do governo e
executa o rei deposto. Para surpresa tanto da maioria dos iraquianos como da
comunidade internacional, Kassin tenta implementar reformas radicais, com
destaque para a distribuição mais equitativa da riqueza (contemplando uma
reforma agrária) e para a emancipação das mulheres. Tal pareceu demasiado
liberal e socialista para as alas mais conservadoras que se juntaram no partido
Bahas (onde já militava Saddam Hussein).
Os EUA secretamente apoiaram este partido, temendo que o Iraque se convertesse
na Cuba do Médio Oriente e lhes atrapalhasse os negócios do petróleo e das
armas. Deu-se então outro golpe militar, que fez rolar a cabeça de Kassin.
Foram estes eventos que , em 1979, possibilitaram a ascensão até à cúpula
do poder iraquiano e à consequente implantação de um regime totalitarista
sangrento protagonizado por Saddam Hussein. Como este serviu os interesses de
Washington durante muitos anos, teve todo o apoio dos que recentemente o
depuseram. Saddam vendeu-lhes todo o petróleo que a Casa branca desejou, além de se ter tornado um óptimo cliente da indústria de armamento e da
implementação de grandes infra-estruturas em projectos de construção em grande escala...

.

Durante a década de 80 o Iraque de Saddam Hussein envolveu-se numa longa guerra como Irão do Ayathola Komeini. Estas nações ficaram devastadas. A perda de vidas e de recursos materiais foi imensa. Os EUA apoiaram Saddam Hussein (tendo, inclusive, lhe facilitado armas de destruição maciça e informações que os serviços de espionagem militar do Tio Sam obtinham sobre o Irão). Mas o ditador iraquiano estava desesperado por mais dinheiro para vencer a guerra e concluiu que a melhor maneira de o obter seria invadindo o Kweit para poder apropriar-se e negociar o petróleo que esse pequeno país possui. Foi um erro estratégico grave, pois nem os EUA aprovaram essa invasão militar. Liderando uma coligação internacional, os EUA de Bush I derrotaram o exército iraquiano, mas deixaram Saddam no poder.

«Desde 1973, a todo o choque petrolífero tem correspondido ou tem-se seguido uma guerra.» - Stan Goff (2003)


Os estadunmidenses vêm o petróleo como um recurso fundamental para a sua economia e para a
manutenção da sua política imperialista assente num poderoso complexo industrial-militar. O facto da maior parte do petróleo se encontrar noutros países é visto como um mero acidente. De forma semelhante, embora num plano mais espiritual, era assim que os cristãos da Europa medieval viam Jerusalém.

Os EUA detestam os sauditas porque estes têm o petróleo que os primeiros querem e que, no fundo, julgam ter o direito imperialista de se apossarem desse
preciosos recursos porque estão convencidos que são uma civilização superior (assim como a família real saudita acredita que Alá lhes deu o petróleo para dominarem financeiramente o mundo.)


Mas como os EUA ainda não tiveram pretextos suficientes (aos olhos da opinião pública mundial - incluindo grande parte da população do seu país ) para invadirem e controlarem militarmente aquele país (pese embora a presença
militar NA junto dos poços de petróleo do Médio Oriente seja fortíssima), têm sido obrigados a fazer acordos secretos. O mais
importante dos quais foi a jogada dos petrodólares. Também vendem muito armamento aos sauditas (que, um dia, poderá vir a ser utilizado contra as tropas do Tio Sam...) e para eles arranjaram uma clausula (única no mundo)
imposta ao Conselho de Segurança da ONU que isenta a Arábia Saudita de qualquer inspecção às suas unidades de produção (para fins militares e/ou civis) de energia nuclear e consequente combustível e resíduos radioactivos.
Washington não tem poupado esforços para, na cena internacional e nos média NA, proteger os xeiques das acusações de violações dos direitos humanos.

A maioria dos figurões – incluindo os presidentes – que ocuparam a Casa Branca nos últimos 25 anos, estão a trabalhar para os sauditas…

É paradigmático que o primeiro acordo comercial de vulto (celebrado em finais dos anos 50) assinado entre Cuba e a União Soviética (e que, previsivelmente, provocou a corte de ralações diplomáticas e comerciais entre Fidel Castro e o Tio Sam) foi precisamente a troca de açúcar por petróleo.

Na entrada da década de 90, a Somália vivia um conflito armado que tinha transformado esse país num imenso campo de batalha onde imperava o ensandecido caos dos assassinatos perpetrados pelos senhores da guerra - que se tinham multiplicado numa miríade de milícias e clãs rivais, e aprendido a fazer das mortes arbitrárias um negócio “familiar” e um “desporto”. As organizações internacionais somaram um milhão de mortes violentas –a violência das armas aniquilava os somalis também de forma indirecta, empurrando 4 milhões para o abismo da fome. Todos sentiam que a situação era inadmissível, e as NU decidiram abrir um precedente no Direito Internacional, invocando o direito de ingerência na soberania de um Estado, para salvar a sua população de morte certa.

A experiência não correu bem para as NU, mas foi cumprida a principal missão dos Marines: a de proteger os interesses das companhias petrolíferas norte americanas (ex.: Chevron, Amoco, Conoco e Philips) na Somália.


O petróleo é muito mais que um simples combustível. É sabido que as nações
que controlam o petróleo têm também a supremacia sobre a economia global.
Quando em 1972 os EUA (na altura liderados por Richard Nixon) desvincularam o dólar do ouro bem como as suas taxas de câmbio fixas, mudaram radicalmente as regras da economia global. (Esse é ainda hoje um plano bastardo, mas cuja paternidade, não assumida, se atribui principalmente a Henry Kissinger.) As outras
moedas estrangeiras passaram a ter como principal referência a divisa
norte-americana.

Seguidamente (em 1973) o governo NA desvalorizou o dólar, o que foi igualmente fundamental para consolidar a sua influência no economia internacional como o fulcro das políticas neoliberais que actualmente dominam o mundo.

Em pouco tempo os EUA liquidaram as suas dívidas (maioritariamente contraídas com a guerra do Vietname) junto dos credores europeus e asiáticos – que são também os seus principais rivais comerciais, mas que foram subjugados e ultrapassados pelos petrodólares numa altura em que ainda não se tinham refeito do choque petrolífero do início dos anos 70.

Isso tornou o jogo especulativo e extorcionista da gestão das
dívidas externas um pesadelo ainda maior para os países pobres (para tal concorreram as imposições do FMI e do BM, o aumento do preço do petróleo, e a ambição e estupidez de ditadores corruptos do Hemisfério Sul), mas deixou os EUA numa posição muito confortável em relação à sua própria dívida
externa. O império acabaria por ser vítima do excesso de confiança e das suas ambições imperialistas, pois desde 1985 que as várias administrações em Washington deixaram que o défice comercial do seu país crescesse exponencialmente até ultrapassar os 3 triliões de dólares, enquanto que a sua dívida pública ascende aos 6 triliões.

A emissão de divisas pelo Tesouro dos EUA tornou-se um negócio em
si. E muito rentável, tendo em conta que os seus parceiros comerciais lhes
dão garantias de que só negoceiam em dólares. O governo dos EUA tem , assim, o poder de emitir as suas notas verdes à medida das suas necessidades que há sempre quem as compre.

Os EUA deverão absorver até 80% da poupança mundial

Desde os anos 70 que os petrodólares têm sido a divisa obrigatória para as nações dependentes do petróleo pagarem as suas contas energéticas – a taxas mais elevadas do que as que cabem aos EUA. Por mais dólares que imprimam, há sempre clientes que os compram. E nem sequer se têm que preocupar com a sua circulação, pois esses dólares «retornam a casa (via Arábia Saudita et al) para serem investidos em títulos de Tesouro e em imobiliária.» (Stan Goff, 2003)

Washington tinha-se precavido, fazendo um acordo decisivo com a Arábia Saudita. O Departamento do Tesouro e a Reserva Federal de Nova Iorque facultaram à Arábia saudita a aquisição de obrigações do Tesouro e outros instrumentos financeiros nos EUA com a condição de
que essas transacções fossem efectuadas com dólares provenientes da venda do petróleo. Esta manobra financeira conseguiu abortar quaisquer tentativas por parte dos emires de procurarem outros acordos comerciais mais vantajosos que pudessem ser prejudiciais para a economia dos EUA, pois isso significaria deitariam a perder os seus próprios activos investidos em terras do Tio Sam.

Pouco depois, a OPEP subscreveu esse acordo. Assim, os EUA
conseguiram instaurar a ditadura financeira dos petrodólares. Nas palavras do jornalista Alejandro Nadal: «qualquer tentativa por parte dos países
exportadores de petróleo de saírem dessa camisa de forças, é vista pelos
EUA como uma declaração de guerra.» (La Jornada, 2004)
Como parte do acordo, o regime saudita beneficia da protecção militar dos EUA, sendo permeável às ingerências políticas dos "amigos americanos"(cujo
governo apoia a sua plutocracia despótica, fomenta a corrupção e, em grande
medida, assegura que os média norte americanos não se pronunciem sobre os
abusos de poder e as desigualdades sociais/injustiças sociais que se cometem no país do ouro negro).

As guerras contra o Afganistão e contra o Iraque foram também (ou mais do que tudo) um claro aviso (particularmente ao Irão e ao governo saudita, mas também à Síria, ao Egipto e à UE) de que qualquer tentativa de insubmissão a Washington será punida de igual forma.

Entretanto, de forma algo sub-reptícia, têm mobilizado a sua enorme

máquina militar (cujo orçamento triplica o da U E, superando o das outras 15 economias mais fortes) para cercar a Rússia, montando bases em antigas repúblicas da extinta URSS – onde quer que haja petróleo e/ou gás natural, ou onde seja necessário fazer passar oleodutos e gasodutos explorados por corporações estadunidenses. Os russos estão a sentir-se acuados… E têm um longo historial de reagir com violência sempre que tal acontece… As bases para mísseis de longo alcance que os EUA, através da NATO, estão a implantar na Polónia são encaradas pelos russos como uma provocação e uma ameaça insuportável…

«A perda do domínio económico e ideológico e a sua substituição por uma hegemonia exclusivamente militar, é uma situação característica das potências em declínio.» - Immanuel Wallerstein


A II Guerra no Golfo Pérsico pode ser encarada como uma advertência à OPEP, mas também à U E para que esta não tente arruinar-lhes o esquema dos petrodólares com o Euro.

Um dos países vizinhos que melhor compreendeu esse recado e agiu em conformidade com a vontade do senhores do mundo, foi a Líbia.

Apesar de ainda estar incluída na lista de países que Washington (DC) considera como financiadores de actividades terroristas, há muito que Mohammar Kadhafi deixou de ser o mau da fita para os ocidentais, delegando as maiores responsabilidades de governação ao seu filho. Este aceitou os termos das negociações “propostas” pelos governos do Sr. Bush Jr. E do Sr. Blair: em troca do levantamento das sanções contra o seu país e do “apoio tecnológico e militar” (os sauditas conhecem bem o verdadeiro teor destes acordos de cooperação...), Khadafi Jr. entregou às companhias norte-americanas a quase totalidade das licenças de exploração do petróleo líbio, para além de também renunciar ao um programa de armas de destruição maciça que se baseava em tecnologia nuclear com fins militares adquirida (por 100 milhões de dólares) à empresa do paquistanês Dr. Khan.

Sabendo que as economias dos seus países não poderão suster mais guerras pelo petróleo no Médio Oriente, mesmo reafirmando uma postura intimidatória, Bush & Blair tiveram que acertar agulhas , defendendo/encetando uma estratégia conjunta sobre as políticas de energia e de negócios estrangeiros que melhor sirvam os interesses dos que detêm o poder nos seus países. (Como é hábito, dessas reuniões participaram altos representantes das companhias petrolíferas suas compatriotas.) Uma das principais conclusões a que chegaram é que ainda há muito petróleo para explorar em África. O “continente negro”, apesar da instabilidade político-militar crónica irá, pois, ser alvo do intensificar de movimentações político-diplomáticas e militares por parte da aliança predatória mais poderosa do mundo.

Calcula-se que o orçamento militar dos EUA seja entre 380 e 400 mil milhões de dólares (mmd), 60 mmd dos quais são destinados a operações no Golfo.

Mantêm bases militares (com um poder bélico tão sofisticado quanto devastador) por todo o Médio Oriente, sendo que as mais importantes estão sediadas em Riyadh/Riade e no Qatar. O exército NA tem pleno controlo (terrestre, marítimo e aéreo) sobre sobre as maiores jazidas de petróleo.

O clima de guerra fria mantido ente quase todos os Estados do Médio Oriente é, pelo menos desde a década de (19)70 estrategicamente dirigido pelos EUA, que assim puderam vender todo o armamento que quiseram e ao mesmo tempo levar para casa o precioso petróleo, que também é partilhando com Israel - o seu principal aliado político-militar e um dos maiores clientes de armas e de serviços fornecidos pelo Pentágono e pelas empresas militares privadas estadunidenses (que têm ao seu serviço assassinos que serviram nas mais sangrentas ditaduras que Washington ajudou a implantar e manter…) .

Quando , na década de 70, as tropas estadunidenses foram mobilizadas em força para aquela região problemática, os sauditas provavelmente acreditaram que os americanos, mais do que bons clientes, estavam ali para os proteger (dos seus vizinhos, do seu povo descontente e oprimido, e das acusações de autocracia e de corrupção por parte da comunidade internacional) – até forneceram aos árabes o material bélico que eles pediram (ex.: mísseis Stinger, caças F-16, etc…)

É esta situação que causa tantos pruridos e ataques
coléricos (capazes de lhe desfigurar o ar cândido e professoral) a Bin Laden, acusando Rihad de ser cúmplice de Washington e de trair a "causa
islâmica" . (Por alguma razão a
maioria dos terroristas que alegadamente atacaram o WTC a 11 de
Setembro de 2001 eram sauditas…)


Os EUA conhecem bem o calcanhar de Aquiles do seu sistema monetário e
financeiro. Por exemplo, se a OPEP e a China decidissem amanhã efectuar a
totalidade das suas transacções comerciais em euros, a economia NA aluiria
num instante. Os Yankees têm andado assustados com alguns sinais de
rebelião.

Em 2000 o banco central do Iraque converteu grande parte das suas reservas em dólares por euros.
Depois foi o programa das Nações Unidas denominado «Alimentos por Petróleo», que se destinava a aliviar o povo iraquiano das agruras de 11
anos de embargo internacional, que os estava a matar lenta e silenciosamente.
Contra a vontade dos governo dos EUA, em 2002 o Comité de Sanções das NU em conjunto com banqueiros franceses conseguiram que fosse desbloqueada um conta
bancária (no valor de 10 mil milhões de dólares) que o governo de Saddan
Hussein tinha aberto no banco BNP Paribas, com a condição de que fosse
convertida em euros. A operação financeira saldou-se num sucesso para todas
as partes implicadas, até porque a jovem moeda europeia nesse ano cresceu 17%
em relação ao dólar. Por seu turno, a China e a Rússia começaram a fazer
jogo duplo entre o euro e o dólar nos seus negócios de divisas (convém não
esquecer que a China comprou uma parte considerável da dívida pública norte americana)
Os economistas de todo o mundo estavam atentos e perceberam a mensagem. Nesse mesmo ano, a Coreia do Norte (cujo tresloucado ditador se delicia a gozar perigosamente com os governantes de Washington) anunciou que passaria a efectuar todas as suas
transacções comerciais com o estrangeiro tendo como referência o Euro. O
presidente da Venezuela, Hugo Chávez, seguiu-lhe o exemplo, mas como, ao
contrário do que King Jong Il se vangloria, não tem à sua disposição um arsenal nuclear,
viu-se a braços com um golpe de Estado (que, felizmente, não vingou por
vontade popular) patrocinado pelos EUA.

Venezuela (que é membro da OPEP) desanexou-se parcialmente do sistema
de petrodólares, ao efectuar transacções comerciais de troca directa entre o
seu petróleo e outras mercadorias importadas.
A Rússia, a China, o Canadá, a Formosa, a Coreia do Norte e a Malásia
procuraram um lugar ao sol na zona euro, convertendo parte das suas reservas de divisas estrangeiras em euros. No caso da Malásia, este país resolveu
substituir o dólar pelo dinar islâmico, e apela às outras nações
muçulmanas para que façam o mesmo. Isto pode perturbar os mercados
financeiros sobretudo porque os bancos centrais do ocidente têm deixado esvair
para a Ásia as suas reservas de ouro.

Logo no início da II Guerra do Golfo Pérsico, os países exportadores de petróleo membros da OPEP não acharam a menor graça a terem perdido 100 mil milhões de dólares devido à desvalorização do dólar. As perdas foram ainda maiores, se considerarmos que 45% das
importações desses países provém da U E. Nunca Washington se viu obrigado a
mobilizar tantos diplomatas e militares para o Médio Oriente, defendendo a
todo o custo a supremacia dos seus petrodólares, o apropriamento e o afluxo do
petróleo. De outra forma, a administração de W. Bush enfrentar-se-ia a uma
recessão económica muito maior do que lhe custa suportar uma guerra e todo a aparato militar que estabelecem
onde quer que haja petróleo em abundância para as suas corporações
explorarem.

Nem a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) nem a China "morrem de amores" pelos EUA, e vice-versa. Não é,
de todo, improvável que a OPEP na próxima década passe a cotar o seu crude
em euros. A E U tem uma economia mais estável que os EUA, nomeadamente no que
se refere às contas externas (os Norte americanos perderam o controle ao seu
galopante défice de contas correntes) e ao volume de negócios no panorama
mundial. Com o alargamento da E U esta tornou-se no mercado mais aliciante para a OPEP.

Nas próximas décadas, a China poderá tornar-se o principal competidor dos
EUA pelo petróleo no Médio Oriente, sendo de salientar que qualquer país
asiático neste momento está em melhor posição de fazer alianças com o
Irão e com o Iraque. Mas as pretensões de hegemonia económica da China não prevalecerão a longo prazo, pois optou por um desenvolvimento não sustentado, ao desprezar as capacidades reais (renováveis) dos recursos naturais; ao estarem excessiva e exponencialmente dependentes de fontes energéticas extremamente poluentes e não renováveis; ao não respeitarem os direitos humanos e quererem manter os salários muito baixos; e por não perceberem que a superprodução atinge o seu pico rapidamente e que, a partir daí, as taxas de lucro entram em queda livre, segue-se o desemprego,a perda de receitas fiscais, etc….



A U E não tem sabido aproveitar esta vulnerabilidade do império americano, temendo o velho adágio metafórico que diz que «se os EUA espirram, o resto do mundo
constipa-se.» Para os economistas do "resto mundo", esta advertência
continua tão horripilante como o "bicho-papão" que vivia nos seus
guarda-fatos quando eram crianças.

O dólar continua a constituir o grosso das reservas financeiras e de pagamento de muitos países – e isso faz com que tenhamos tantos temores e desvelos pela saúde do dólar; ninguém que ver-se forçado a vender ao desbarato as suas reservas no mercado internacional de divisas. Ademais, a desvalorização do dólar (em relação ao euro) prejudica imenso as exportações da U E.

«O Banco de Portugal disponibilizou (relatório de 2001) 433 toneladas, ou seja
70% das suas reservas de ouro para transacções de empréstimo ou troca,
contribuindo, segundo as orientações do FMI, para defenderem o dólar face
ao anterior padrão monetário internacional (a cotação do ouro também não
foge à denominação em dólares!).» (Rui Namorado Rosa, 2004)
Para a U E e a OPEP acabarem com a hegemonia dos petrodólares, seria
indispensável que o Reino Unido e a Noruega (os maiores produtores europeus de crude, no Mar do Norte) aderissem ao euro. (Disso deu conta o director do
Departamento de Análise de Mercado Petrolífero, Javad Yarjani, no discurso
proferido aquando da reunião de Madrid em Abril de 2002.)
A queda do império americano é inevitável e muitos economistas e estadistas
julgam que está para breve. Assim, o eixo Paris-Berlim-Moscovo tem estado
agitado em manobras de bastidores para não deixar os EUA tomarem de assalto a OPEP. (Rui Rosa, 2004)


Deveríamos questionarmo-nos se a U E não quer vencer financeiramente os EUA
para fazer as mesmas asneiras (nomeadamente reger-se por políticas
absolutistas, ou mesmo imperialistas). O melhor seria mesmo procurarmos e investirmos em energias
renováveis e em tecnologias muito menos poluentes - esse é um mercado com
maiores perspectivas de lucros simplesmente porque é já a maior preocupação de sobrevivência para toda a população mundial.


Os EUA Já não olham com tanto desdém o euro (que logo apelidaram de "dólar europeu") Desde que o petróleo continue a jorrar em abundância e desde que mantenham a soberania dos petrodólares, a desvalorização da sua moeda em relação ao euro não os preocupa em demasia. Isso até favorece as suas exportações e dificulta as da U E, que é a sua principal concorrente comercial. Bush & C(I)A Lda. estão confiantes de que quem paga o défice é a classe média (os trabalhadores por conta doutrém) do seu país, não as corporações e os
milionários que mandam na Casa Branca. Se for necessário, corta-se na despesa
pública e sobem-se as taxas de juros, mas reduz-se a contribuição
fiscal dos ricos...

Durante o primeiro mandato de W. Bush, o preço do barril de petróleo passou de 20 para 50 dólares. Pouco tempo depois de Bush ter sido reeleito, o preço desse cobiçado produto alcançou os exorbitantes 70 dólares por barril.

A crise petrolífera vivida em 2004 (o light sweet crude atingiu a cifra recorde de 55 dólares por barril e o Brent subiu 34%) deveu-se a crises político-corporativas na Rússia, na Nigéria, à guerra no Iraque e às demamandas energéticas da China. Em 2004 este país aumentou as suas importações de petróleo superou as 100 milhões de toneladas (em relação ao ano anterior). As empresas petrolíferas chinesas estão a lutar pela exploração do petróleo com tanta ou mais agressividade do que as corporações ocidentais.

Nos EUA, não é só a indústria e os transportes que dependem do petróleo barato e da soberania dos petrodólares; é todo o «american way of life»; é toda a economia baseada na relação entre o capital industrial e o capital financeiro (especulativo) que está em causa. O petróleo é o sangue de um super organismo decrépito e gangrenado que recusa ser amputado e nem sequer procura a “medicina” das energias alternativas compatíveis por incompatibilidade com o seu sistema económico , industrial e político com vocação imperialista.

Nas entranhas do Iraque encontra-se um décimo das reservas mundiais de
petróleo, apenas superado pela Arábia Saudita . Como afirmou Henry Kissinger « o petróleo é um bem demasiado precioso para ser deixado nas mãos dos árabes». (The Guardian, 29 Nov. De 2001).

Estas são as verdadeiras razões das guerras no Golfo Arábico-pérsico protagonizadas pelos EUA. A caça a Bin laden e aos núcleos da Al Qaeda é um mero pretexto há muito aguardado, e nada tem a ver com o desmantelamento das imaginárias armas de destruição maciça e muito menos com a libertação dos povos oprimidos.

Em 1973 Rumsfeld tornou-se o representante máximo dos EUA na NATO. Um ano depois, durante o conturbado período em que Richard Nixon, devido ao escândalo «Water Gate», foi obrigado a passar o “ceptro” a Gerald Ford, Rumsfeld é tido como o homem que verdadeiramente dirigiu o país, assumindo a chefia do Estado Maior da Casa Branca, para logo se tornar o Secretário de Estado mais jovem da historia daquele país (com uma democracia muito sui generis…).

Donald Rumsfeld (Secretário da Defesa da Administração W.Bush e acérrimo defensor das guerras contra o Iraque) em 1983 deslocou-se a esse país para se reunir pessoalmente com Saddam Hussein. Ao ditador iraquiano vendeu armas biológicas e químicas (as mesmas que foram usadas maciçamente contra os curdos e contra os iranianos ) e até lhe concedeu um empréstimo para as poder adquirir.

Esta é uma prática comum para o governo norte-americano desde a segunda Guerra Mundial e independentemente do partido que ocupa a Casa Branca. A venda de armas a regimes perigosos e a terroristas é uma importante fonte de lucros para o complexo industrial-militar, e os juros que cobram aos empréstimos que concedem aos seus clientes de armas são igualmente lucrativos. O pavor de um ataque biológico aos EUA, após o 11 de Setembro, que se apoderou da sua população, é justificado na medida em que,segundo apuraram comissões de inquérito (para apurar a responsabilidade do governo nos atentados às torres gémeas) baseadas em documentos do Congresso e do Centro para a Prevenção e controlo de Doenças (CDC), os EUA forneceram ao Iraque e a Bin Laden armas biológicas e a capacidade de produzir em larga escala micro organismos patogénicos como a bactéria do antrax e o bacilo da peste bubónica.«+«+«+«+

«+«+«+«+ A queda das torres gémeas teve um efeito psicológico muito maior do que a tragédia das milhares de vidas humanas perdidas nesse ataque terrorista. Em seguida o pânico de um ataque biológico apoderou-se de toda a sociedade norte-americana, bastando para tal o envio de umas poucas cartas contendo antraz.( Muito provavelmente quem perpetrou este atentado terrorista – o primeiro conhecido que recorreu a armas biológicas nos EUA – é alguém ligado ao Pentágono…O principal suspeito é o Dr. James Hatfield,) . "Apenas" morreram três pessoas das dezenas que foram contagiadas. As autoridades sanitárias não dispunham de medicamentos em quantidade suficiente para fazer frente à procura. Foi nessa altura que o governo provou do seu próprio veneno. Tanta pressão (junto da OMC) a Casa Branca tem feito para proteger os "direitos de propriedade intelectual" (TRIPS) da sua indústria farmacêutica (que, entre muitos outros crimes contra a humanidade, tem deixado morrer milhões de seropositivos só para especular os preços – demasiado elevados - dos seus medicamentos anti retrovirais, chantageando os governos dos países mais afectados) que certamente que jamais passou pela cabeça daqueles políticos perversamente gananciosos verem-se confrontados com os problemas que tem fomentado nos países pobres. É que a Bayer vendia cada comprimido contra o antrax/z (medicamento conhecido como Cipro) a 7 dólares, e, graças a Bin Laden, preparava-se para arrecadar lucros astronómicos na América do Norte apenas com esse medicamento que milhões procuravam. Mas, como os EUA não são Moçambique, o governo encurralou a Bayer com a ameaça de que iriam produzir genéricos do Cipro se aquela empresa não baixasse drasticamente o seu preço. A Bayer passou a cobrar 1
dólar por cada unidade do medicamento (não deixando de ter elevados lucros)...

Se estas informações são capazes de provocar indignação a qualquer pessoa decente, imagine-se o que foi obliterado dos documentos facultados aos outros representantes do Conselho de Segurança (das NU) e dos governos dos países aliados dos EUA. É que, durante o período preparatório para a guerra, o governo dos EUA juntamente com as NU intimaram o Iraque a elaborar um declaração com o inventário rigoroso de todas as suas armas e dos processos relativos à sua aquisição. Uma vez concluído, o relatório foi directamente para os serviços de “inteligência” norte-americanos. O documento entregue pelas autoridades iraquianas continha originalmente 12 mil páginas, mas quando os serviços secretos do Tio Sam o puseram a disposição dos seus aliados políticos, a dieta de censura tinha-o emagrecido para 3500 páginas.

Em sintonia com os mais altos inspectores para as armas das NU, a Própria CIA (Central Intelligence Agency) declarou oficialmente que o Iraque não constituía uma ameaça para o Ocidente, advertindo ainda que «um ataque das forças armadas norte-americanas ao Iraque traduzir-se-á numa maior fonte de ameaça para a segurança nacional»(sic). Mas havia outros intreresses com maiores prioridades do que a segurança dos EUA. Como declarou ao Washington Post (15 Set. 2002) o antigo director da CIA, James Woolsey, em relação à oposição à guerra por parte da maioria dos países que têm assento permanente no Conselho de Segurança das NU, «é muito claro: a França e a Rússia também têm companhias petrolíferas e outros interesses [comerciais] no Iraque. Deveríamos esclarecê-los de que, se nos ajudarem a derrubar Saddam, faremos o nosso melhor para assegurar que o novo governo e as corporações americanas trabalhem com eles» (sic). Mas os governos que não alinharam nessa guerra – contra o Direito Internacional – estão cientes que os yankees tudo farão para afastar do Médio Oriente a concorrência das empresas petrolíferas (que já lá actuam ) francesas, italianas, russas, chinesas, entre outras.

Colin Powell, perante a Comissão de Relações Externas do Senado (6 de Fev. de 2003) não esteve com rodeios sobre quais os reais motivos da guerra: «O sucesso da guerra no Iraque poderia fundamentalmente redesenhar a região de uma forma poderosa e positiva que fortalecerá os interesses dos EUA.»
Num documento intitulado «The Geopolitics of Energy Into the 21st Century» («A Geopolítica da Energia Rumo ao Séc. XXI») pode ler-se: « o petróleo alimenta o poderio militar, os tesouros nacionais e a política internacional. Já não é uma matéria prima, objecto de venda e de compra nos limites tradicionais da balança da oferta e da procura. Pelo contrário, transformou-se em factor essencial do bem-estar, da segurança nacional e do poder internacional.» É elucidativo. Mas o que é que faz este documento tão relevante? É que foi redigido (em 2001) por um grupo de trabalho que integrava membros do Congresso e do Instituto Americano do Petróleo, assim com directores-executivos das maiores corporações petrolíferas, nomeadamente a ExxonMobil, a Shell, a Texaco, a BP e a Arco. E quem é que convocou esses senhores? O próprio Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), onde Henry Kissinger tem lugar cativo na qualidade de membro-fundador e que muitos analistas supõem ter concebido o plano dos petrodólares e do respectivo domínio militar, económico e político dos países com as maiores quotas “produtoras” e exportadoras de petróleo.(Não há nenhum país que produza petróleo, pois este é um combustível fóssil que demora milhões de anos a ser formado; limitam-se a extraí-lo e a vendê-lo.)

Lóbi do petróleo na administração de W. Bush
Começando pelo Presidente, entre as várias empresas que o seu papá e os seus amigos industriais lhe entregaram para ele brincar aos executivos, acabando por levar a maioria delas à falência, estava a companhia petrolíferas Arbustos Oil – que tem a particularidade de ter sido fundada por Bush sénior e, pasmem! , pelo irmão mais velho de Bin Laden!... A Arbustos Oil foi depois rebaptizada como Bush Exploration, e, em 1984, acabou por se fundir à Spectrum. Posteriormente, após a venda da Spectrum à Harken
Corporation, foi-lhe oferecido o cargo de director nesta última empresa.

Bush II ainda nem tinha tido tempo de aquecer a sua poltrona na sala oval e já tinha ordenado a redução (para metade) da verba do orçamento de Estado destinada a apoiar a investigação das energias renováveis.


A Secretário de Estado, Gale Norton, como advogada, representou várias empresas petrolíferas (ex.: Delta Petroleum) bem como a ONGA fajuta de advogados republicanos”ambientalistas” ( a Mountain Stages Legal Foundation), que tem como sócios fundadores a Ford Motor Company e a BP Amoco.

Quando em 1996 se candidatou (com sucesso) ao cargo de senadora do estado de Colorado, uma coligação de indústrias energéticas apoiou-a com 500 mil dólares (e não deram o seu dinheiro por mal empregue).

Como membro do governo Bush, usou ainda os seus conhecimentos casuísticos e a sua influência política para declarar inconstitucional a Lei das Espécie Ameaçadas++++ e deu pareceres legais negativos em relação à Lei Nacional de Protecção Ambiental .

++++ De referir que a Endangered Species Act (que data de 1973) serve de base para toda a legislação ambiental nos EUA.

Bush filho foi o Presidente que menos espécies deixou que fossem incluídas na lista de espécies ameaçadas mais carentes de medidas de protecção (25 nos seus primeiros 3 anos de mandato, e estas foram todas por imposição do tribunal), começando pelos respectivos habitats.

Bennet Raley foi um dos políticos do Senado que mais se insurgiu contra a Lei das Espécie Ameaçadas, e por isso foi nomeado Secretário-adjunto do Interior para as Águas e a Ciência.

Gale Norton já tinha assumido funções semelhantes durante a administração de Ronald reagan.

O Secretário do Comércio, Don Evans, foi presidente e COE da Tom Browm Inc. e director/Presidente do Conselho Administrativo
da TMBR/Sharp Drilling. Foi ainda o responsável pela “fatia de leão” dos fundos de apoio à candidatura de W. Bush (aquando do seu primeiro mandato)

Um dos mais conhecidos lobistas ao serviço das indústrias do petróleo e do carvão, Steven Griles, foi nomeado por Bush II para vice-secretário do Interior.

Há muitos anos que Griles representa, como chefe dos lobistas, várias indústrias de petróleo, do gás e do carvão. Ao transitar oficialmente , continuou areceber um pagamento anual de 284 mil dólares atribuído pela sua anterior empresa de lóbi, a National Environmental Strategies (que representa a National Mining Association, a Energy Corporations of América e a Dominion Resources). Convenhamos que este homem se tem esforçado por merecer os honorários que lhe chegam por debaixo da mesa: contribuiu para enfraquecer a “Clean Water Act” (Lei da Água Limpa) e, bem vistas as coisas, todas as leis de protecção ambiental; conseguiu que fossem baixados os limites de emissões poluentes das fábricas; apoiou a exploração mineira na parte superior das montanhas e atribuiu numerosas conceções de exploração de gás nas emblemáticas Rocky Mountains.

Em meados de 2005, W. Bush anunciou aos seus compatriotas ter compreendido a gravidade para a economia (norte) americana da sua dependência de fontes energéticas situadas no estrangeiro. Pediu ao Congresso que aprovasse um plano (de 2 mil milhões de dólares em 10 anos) destinado ao incremento da exploração de carvão. Como se isso fosse pouco, quer retomar o programa nuclear qu foi suspenso na década de 70 devido ao acidente de Three Mile Island. Sinceramente, este filho-da-puta no poder foi o que pior aconteceu à humanidade desde Hitler e Staline!

À semelhança de gale Norton, Griles tinha ocupado um cargo menor no governo de Reagan, como servo de luxo das indústrias.

O Chefe dos Funcionários da Casa Branca, Andrew Card Jr., pertenceu à General Motors e foi CEO da American Automobile Manufacturers Association (antes de se extinguir, este grupo de pressão/lóbi opôs-se ferozmente às medidas de controlo das emissões dos automóveis, atribuindo-lhes grandemente as responsabilidades pela perda de competitividade com a ind´sutria automóvel japonesa.


Karl Rove, o agraciado estratega-conselheiro de Bush, quando entrou para o governo detinha acções no valor de centenas de milhares de dólares nas empresas BP Amoco, Royal Dutch Shell e Enron. (Esta última, dentro das empresas relacionadas com o petróleo e o gás, foi a que mais contribuiu para a campanha que elegeu Bush em 1999-2000, com um valor de 2,3 milhões de dólares. Mais tarde, abusando dos favorecimentos do governo, osou o seu poder para, através de manipulações de mercado, provocar graves cortes nergéticos na Califórnia)


Subsecretária para os Assuntos Económicos, Kathleen Cooper, ocupou um cargo executivo (como economista) na Exxon-Mobil.


Apurou-se ainda que a maioria dos cem oficiais/militares norte-americanos mais graduados afectos à Administração W.Bush têm obtido rendimentos superiores aos dos seus vencimentos do exército estando vinculados às indústrias
energéticas e extractivas tradicionais.

O grande patrão da indúsrial automóvel dos EUA, Andrew Card, foi também um dos maiores contribuintes tanto para a campanha eleitoral de George Bush como de Bill Clinton (o presidente que, após 25 anos de progressivo incremento das medidas de controlo de emissões do parque automóvel, prescindiu de exigir automóveis menos poluentes e energeticamente mais eficientes, além de ter começado a boicotar o Protocolo de Quioto).

Condoleezza Rice
pertenceu, durante uma década, aos quadros administrativos da Chevron Corporation (que actualmente se chama Chevron Texaco). E tem servido(antes e durante o seu mandato governamental) com tanta excelência essa empresa que a Chevron quis homenageá-la baptizando com o seu nome um petroleiro de 136 mil toneladas. O lisonjeio decompôs-se em embaraço para a Casa Branca. Não que a Administração de George W. Bush se moleste/rale em disfarçar as suas fortes ligações à indústria petrolífera, mas a imprensa começava a fazer perguntas inconvenientes que ligavam a Chevron Texaco à violação dos direitos humanos em vários países, com destaque para a
Nigéria. Além do mais, não seria nada agradável se o petroleiro em questão provocasse uma maré negra e os média explorassem o seu nome com insinuaçõesde mau gosto e metáforas rebuscadas. A Chevron foi aconselhada a rebaptizar o petroleiro, que agora ostenta o nome de Altair Voyager.





Vice Presidente Dick Cheney está ligado à Halliburton
Tem dado que falar (mais um escândalo passageiro e inconsequente) o caso do conglomerado Halliburton. Mesmo violando as deliberações das NU, do Congresso dos EUA e das leis da concorrência (num claro processo de
favoritismo e compadrio), a Haliburton conseguiu (sem passar por concurso
público) um contrato multi-bilionário para ajudar a reconstruir o
Iraque e para explorar o
petróleo que pertence por direito ao povo iraquiano. Esta empresa, antes da
tomada de poder da administração de George W. Bush, tinha como chefe
executivo e como chairman o vice-presidente (dos EUA) Dick Cheney. Quando este homem (que, apar de Donald Rumsfeld, é considerado o verdadeiro cérebro malévolo por detrás do patético presidente Bush»»»»»»»») assumiu funções no governo, foi obrigado por lei a vender as suas acções na Halliburton, no valor de 5 milhões de dólares (tal ocorreu em Maio de 2000). Pois é, mas como prémio de "reforma antecipada"
a sua empresa ofereceu-lhe 20 milhões de dólares . Se oficialmente Dick Cheney está desvinculado dessa empresa, então
porque continuou a receber desta um cheque de mais de 200 mil dólares anuais até ao termino de 2005 (que junta ao seu salário pago pelos contribuintes)? Quase que estes interesses pessoais do Sr.
Cheney davam para explicar a invasão do Iraque... Pouco importa que a
Securities and Exchange Commission (dos EUA) esteja a investigar os casos de
subornos e de sobrefacturamento da Halliburton naquele país ocupado e no
Kuwait. Actos semelhantes foram perpetrados na Nigéria pela empresa TSKJ (que é um dos tentáculos do conglomerado Halliburton e até está sedeada no
offshore da Madeira do Sr. Jardim).
A Halliburton está tão confiante dos seus privilégios comerciais com o
governo que tem o desplante de cobrar quase o dobro pela gasolina importada do que a concorrência e, mesmo assim, não perde os contratos chorudos.
A associação do nome Cheney à Halliburton tem um longo e sórdido historial.
Essa empresa , através de múltiplas subsidiárias, nunca deixou de fazer
negócios com Saddam Hussein, mesmo estando o Iraque sob embargo. Quando as N.U., por razões humanitárias, concordaram em permitir o comércio com aquele país, estabelecendo o programa "petróleo-por-alimentos", logo se tornou
claro que o ditador iraquiano estava a desviar (estima-se que até 10%) esses
fundos para a sua fortuna pessoal, não se coibindo de ostentar riqueza e de
adquirir mais armas, sem que o governo dos EUA fizesse o suficiente para o impedir.
Mais, há fortes suspeitas que algumas empresas norte-americanas lucraram
imenso a vender esses artigos (os luxuosos e os mortíferos) a Saddam.
Dos muitos produtos que o conglomerado Halliburton negoceia, o petróleo é o
mais apetecido, e por ele cometem qualquer acto ilícito. A partir do offshore/ paraíso fiscal das Ilhas Caimão, e independentemente/à revelia da política externa (oficial…) do governo dos EUA, a Halliburton tem mantido contratos comerciais com a Líbia, o Irão, a Birmânia (actual Myanmar) e a Coreia do Norte.

A Halliburton está sob escrutínio de várias comissões de inquérito e até enfrenta vários processos judiciais, acusada de repetidamente ter violado o Regulamento Federal para as Aquisições; pelo sobrefacturamento de petróleo do Kuwait (a fraude inclui episódios rocambolescos de auto-tanques vazios que cobravam pelo combustível inexistente e pelas suas missões fantasmas); por refeições aos soldados, no valor de milhões de dólares eu nunca foram servidas; subornos a oficiais nigerianos e violação dos direitos humanos (incluindo o homicídio de civis desarmados) na Nigéria; negócios com o Irão, etc...

Apesar destes escândalos, Bush deu-lhes um Contrato no valor de biliões de
dólares - sem necessitarem de o licitar em concurso público - para a
reconstrução do Iraque, a ser levada a cabo maioritariamente pela empresa
Kellogg Brown & Root , que está sediada na Europa mas pertencente ao
conglomerado Halliburton




Desde que o início do «Plano Colômbia» que a produção e o comércio de drogas mais do que duplicou. A intensificação da produção de narcóticos tem sido proporcional à intensificação das fumigações com desfolhantes, assim como o aumento da produção de petróleo colombiano é proporcional à presença militar estadunidense.

A Colômbia é um país onde 30 (dos 40) milhões dos seus habitantes vive na penúria. A ONG Transparência Internacional considera a Colômbia como o sétimo país mais corrupto do mundo, tanto no que se refere aos organismo públicos como ao sector privado.

Por ouro lado, a Colômbia aparece em terceiro lugar (a seguir a Israel e ao Egipto) na lista dos países mais apoiados militarmente por Washington.
Falta um dado essencial nesta equação: a Colômbia é o 7º maior fornecedor de petróleo dos EUA, e, fora do Médio Oriente, neste aspecto só perde para a Venezuela (país que, apesar de estar com relações conflituosas com o império, continua a fornecer-lhes o precioso combustível.

As empresa yankees (apoiadas pelo exército e pela NAFTA***) controlam essa exploração e arrecadam 75% dos lucros do petróleo colombiano.(O acordo inicial era de 50% para as corporações petrolíferas yankees e outro tanto para o governo de Bogotá, mas este último perdeu força negocial.)

***O Acordo de Livre Comércio das Américas é o culminar de uma política NA que peretende o monopólio do comércio e dos recursos naturais da América Central e do Sul através do estupro de quaisquer inconveniências político-legais de soberania nacional. O Tio Sam sempre disponibilizou os serviços mafiosos do seu exército para garantir às suas corporações o saque e exploração dos seus “vizinhos de baixo”. A OMC vem, assim, consolidar legalmente o que as armas, o FMI e o BM iniciaram.

PB