Paulo
Originalmente chamava-se Saulo, mas, para condizer melhor com o seu estatuto de novo cristão romanizado, adoptou o nome Paulo.
Este homem durante muito tempo divertiu-se a perseguir os cristãos, até que, devido ao "milagre da estrada de Damasco" (onde um raio de luz cegante o atirou do cavalo abaixo, a fim de lhe mostrar o verdadeiro caminho espiritual), se tornou um converso iluminado e andarilho pregador.
Paulo mostra-se um ser angustiado que enaltece as sublimes virtudes da continência, considerando que a espiritualidade é incompatível com a sensualidade e vice versa.*-+ Não indo tão longe quanto S. Agostinho, Paulo também defendia a submissão e a mortificação (chegou, inclusive, a descrever o seu próprio corpo como um execrável presídio da sua alma), aconselhando aos homens que abraçassem Cristo para que prescindissem
do sexo. (Quanto ao casamento, este andarilho pregador, considerava-o um mal menor, apropriado para os homens fracos de espírito que não conseguíam resistir às tentações da carne.)
A sua influência cresceu até se tornar o teólogo [autoridade eclesiástica] mais influente no Novo Testamento, marcando o divórcio fatídico entre o corpo e a alma, entre a natureza e a religião. Este divórcio veio a tornar-se a própria essência da fé.
(Aos Romanos 6:6-13; 7:8-25; 8:12-13; 12: 1,2. Aos Gálatas 5:16,17; 5: 24; 6:8. Aos Filipenses 3:3. Aos Coríntios 15: 36-47)
«Porque a carne cobiça contra o Espírito,e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quiserdes.» (Paulo – aos Gálatas 5:17)
«E os que são de Cristo, crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.» (Paulo – aos Gálatas 5:24)
«Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.» (Paulo – aos Gálatas 6:8)
Em sua defesa, devemos ter em conta que Paulo (obcecado com a importância do seu papel, o que o levou a reclamar insistentemente, mas em vão, o estatuto de apóstolo, apesar de nunca ter conhecido Cristo pessoalmente) julgava que o fim do mundo se aproximava a passos largos (com a 2ª vinda de Cristo, precedida do reinado do Anticristo), e daí que fosse indispensável aos homens consagrarem-se ao desenvolvimento dos valores espirituais.
*-+ Diverte-me imenso imaginar a perplexidade, o choque horripilante e a frustração exasperada de Paulo quando este foi pregar para a ilha
grega de Corintos - que, basicamente, era o maior bordel da antiga
Grécia, e onde a licenciosidade/liberdade sexual e a religião estavam
profundamente ligados. A deusa dos coríntios, como seria de esperar,
era Afrodite. A felicidade dos seus
devotos, que viviam para o prazer carnal, tornava infrutíferos os
esforços de Paulo que, durante 18 meses, tentou converte-los ao
cristianismo, incutindo-lhes o medo e a culpa. Paulo, num tom
imperativo (repetindo o apelo apaixonado do seu Messias) dizia-lhes:
«segue-me!», mas enfrentava uma competição impossível de vencer, pois
as cortesãs escreviam nas solas dos seus sapatos exactamente o mesmo
convite, que ficava impresso nas pegadas seguidas pelos
fogosos/arrebatados mancebos...
«A fim de ser preservada a castidade, é indispensável manter o estômago vazio e roncando e os pulmões febris.» - São Jerônimo (340?-420)
S. Agostinho (nascido em 364) estendeu e consolidou a misoginia e a fobia à natureza silvestre de que padecia S. Paulo, deixando um pesado legado à cristandade que ainda hoje faz misérias. S. Agostinho (que até teve uma vida marital aparentemente feliz, chegando até a gozar os prazeres de ser pai) acabou por renegar e condenar a sexualidade, torturado pela sua intelectualidade e espiritualidade em conflito permanente com os seus instintos animais. Esta infeliz dicotomia/dualidade é mais consentânea com as filosofias de tradição clássica que então vigoravam no decadente/moribundo império greco-romano, do que com a tradição hebraica. O helenismo, e não tanto o Antigo testamento, defende a separação (irreconciliável) entre o mundo da matéria (que incluía a natureza e, inevitavelmente, a sexualidade), cheio de imperfeições e impurezas, e o mundo espiritual, considerado como a única via para a sublimação dos humanos e um privilégio exclusivo da nossa espécie. O clérigo Agostinho adaptou esta filosofia e especulou sobre a origem da "impureza carnal" na sua religião, tendo-a encontrado no "pecado original" de Adão e Eva. Para Agostinho, o pecado original era de cariz sexual, e temia a vida sensual e beleza - fatalmente "demoníaca"! - das mulheres, defendendo-se das tentações da carne através da meditação solitária e da auto flagelação.
Para Agostinho o sexo era a confirmação da imperfeição humana, e apenas se justificava (desde que abençoado pelo santo matrimónio, está claro) devido à necessidade de procriação. Assim, opunha-se tanto à homossexualidade como até ao sexo entre idosos (ou seja, a menopausa tornou-se mais um estigma para as mulheres).
Antes de se converter (com a idade de 42 anos) ao cristianismo, Agostinho andou apaixonado com a filosofia (carregando para todo o lado livros de Cícero e de Hortesius), juntou-se aos maniqueístas (que afirmavam haver na alma humana uma dualidade interdependente entre o bem e o mal) e até simpatizava com a heresia e a astrologia. Uma vez "cristão, tornou-se intolerante e perseguidor em relação às filosofias que tinha seguido até então. Provavelmente as maiores controvérsias em que se envolveu e que necessitaram o empenho máximo das suas notáveis capacidades intelectuais e do conhecimento aprofundado que possuía da bíblia, foi rebater os argumentos dos donastistas e dos pelagianistas. Os donastistas advogavam uma total integridade entre as crenças e a disciplina litúrgica defendidas pelos bispos católicos, mas respeitadas por poucos deles. Se a Igreja tinha um carácter intrinsecamente sacrossanto, os sacerdotes do Clero tinham que agir em conformidade em todos os seus actos quotidianos, caso contrário estaria apenas e debitar hipocrisias destituídas de valor e de sentido. Para Agostinho o divino sacramento não podia ser posto em causa e transcendia a conduta dos homens de Deus.
A Agostinho deve-se também o dogma absurdo (que o Vaticano manteve até ao início do séc. XXI) de que os homens nascem impuros devido ao legado pecaminoso de Adão.
A bíblia diz-nos que nem mesmo Jeová consegue erradicar a maldade do (seu?) mundo (ex.: recorrendo a inundações e outros desastres naturais portentosos). Tal só é possível quando a humanidade for extirpada de tudo o que lhe é natural.
No vigésimo segundo capitulo do Evangelho Segundo Mateus, Jesus ensina aos seus seguidores sobre a ausência do desejo sexual – e, logo, fica anulada a necessidade do matrimónio – na sua visão do paraíso celestial.
Pelágio (350-425) e os seus
seguidores defendiam a ideia (bem mais sensata) de que a pureza é inata e que só a partir dos 7 anos (idade que consideravam estarem as crianças aptas a fazer julgamentos e opções de consciência) é que perdíamos essa pureza (sendo o mal transmitido por influência dos adultos) e, como ela, a vida eterna, tal como Adão perdeu o direito à eternidade por ter pecado. Agostinho não podia concordar com estas ideias porque elas desacreditavam o poder regenerador do baptismo e a influência da graça divina na salvação dos eleitos, sendo os homens os únicos responsáveis pela sua salvação através dos seus actos. As pessoas poderiam redimir os seus pecados cumprindo a lei de Deus, o que não tornava indispensável a intermediação da Igreja (os pelagianos tinham a ousadia de afirmar:«a Igreja somos nós!»)
Para os pelagianistas o livre arbítrio seria mais uma habilidade
moral concedida por Deus a fim de que os homens pudessem evitar o pecado (que para Agostinho era impossível) e, se estes obedecessem às escrituras sagradas e sobretudo à mensagem de Cristo, tornar-se-iam independentes e auto-suficientes espiritualmente, deixando a Igreja
de ser uma intermediária indispensável para os que pretendiam alcançar a salvação (pós Armagedom). O corajoso monge bretão que foi para Roma envolver-se em aguerridas batalhas morais e teológicas, pretendia uma renovação moral da Igreja para que esta se tornasse de acordo com a bíblia e com o que predicavam os sacerdotes, acreditando ainda que a justiça divina não nos imporia preceitos fora do nosso alcance moral, pois isso conduzir-nos-ia a uma condenação e a um sofrimento inevitável e inútil.
Pelágio sentia-se tão longe da decadência moral e espiritual da
Igreja que sucumbiu à tentação da vaidade, vangloriando-se das suas virtudes que, a seu ver, o tornaram num homem cheio de pureza beatífica.
Originalmente chamava-se Saulo, mas, para condizer melhor com o seu estatuto de novo cristão romanizado, adoptou o nome Paulo.
Este homem durante muito tempo divertiu-se a perseguir os cristãos, até que, devido ao "milagre da estrada de Damasco" (onde um raio de luz cegante o atirou do cavalo abaixo, a fim de lhe mostrar o verdadeiro caminho espiritual), se tornou um converso iluminado e andarilho pregador.
Paulo mostra-se um ser angustiado que enaltece as sublimes virtudes da continência, considerando que a espiritualidade é incompatível com a sensualidade e vice versa.*-+ Não indo tão longe quanto S. Agostinho, Paulo também defendia a submissão e a mortificação (chegou, inclusive, a descrever o seu próprio corpo como um execrável presídio da sua alma), aconselhando aos homens que abraçassem Cristo para que prescindissem
do sexo. (Quanto ao casamento, este andarilho pregador, considerava-o um mal menor, apropriado para os homens fracos de espírito que não conseguíam resistir às tentações da carne.)
A sua influência cresceu até se tornar o teólogo [autoridade eclesiástica] mais influente no Novo Testamento, marcando o divórcio fatídico entre o corpo e a alma, entre a natureza e a religião. Este divórcio veio a tornar-se a própria essência da fé.
(Aos Romanos 6:6-13; 7:8-25; 8:12-13; 12: 1,2. Aos Gálatas 5:16,17; 5: 24; 6:8. Aos Filipenses 3:3. Aos Coríntios 15: 36-47)
«Porque a carne cobiça contra o Espírito,e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quiserdes.» (Paulo – aos Gálatas 5:17)
«E os que são de Cristo, crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.» (Paulo – aos Gálatas 5:24)
«Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.» (Paulo – aos Gálatas 6:8)
Em sua defesa, devemos ter em conta que Paulo (obcecado com a importância do seu papel, o que o levou a reclamar insistentemente, mas em vão, o estatuto de apóstolo, apesar de nunca ter conhecido Cristo pessoalmente) julgava que o fim do mundo se aproximava a passos largos (com a 2ª vinda de Cristo, precedida do reinado do Anticristo), e daí que fosse indispensável aos homens consagrarem-se ao desenvolvimento dos valores espirituais.
*-+ Diverte-me imenso imaginar a perplexidade, o choque horripilante e a frustração exasperada de Paulo quando este foi pregar para a ilha
grega de Corintos - que, basicamente, era o maior bordel da antiga
Grécia, e onde a licenciosidade/liberdade sexual e a religião estavam
profundamente ligados. A deusa dos coríntios, como seria de esperar,
era Afrodite. A felicidade dos seus
devotos, que viviam para o prazer carnal, tornava infrutíferos os
esforços de Paulo que, durante 18 meses, tentou converte-los ao
cristianismo, incutindo-lhes o medo e a culpa. Paulo, num tom
imperativo (repetindo o apelo apaixonado do seu Messias) dizia-lhes:
«segue-me!», mas enfrentava uma competição impossível de vencer, pois
as cortesãs escreviam nas solas dos seus sapatos exactamente o mesmo
convite, que ficava impresso nas pegadas seguidas pelos
fogosos/arrebatados mancebos...
«A fim de ser preservada a castidade, é indispensável manter o estômago vazio e roncando e os pulmões febris.» - São Jerônimo (340?-420)
S. Agostinho (nascido em 364) estendeu e consolidou a misoginia e a fobia à natureza silvestre de que padecia S. Paulo, deixando um pesado legado à cristandade que ainda hoje faz misérias. S. Agostinho (que até teve uma vida marital aparentemente feliz, chegando até a gozar os prazeres de ser pai) acabou por renegar e condenar a sexualidade, torturado pela sua intelectualidade e espiritualidade em conflito permanente com os seus instintos animais. Esta infeliz dicotomia/dualidade é mais consentânea com as filosofias de tradição clássica que então vigoravam no decadente/moribundo império greco-romano, do que com a tradição hebraica. O helenismo, e não tanto o Antigo testamento, defende a separação (irreconciliável) entre o mundo da matéria (que incluía a natureza e, inevitavelmente, a sexualidade), cheio de imperfeições e impurezas, e o mundo espiritual, considerado como a única via para a sublimação dos humanos e um privilégio exclusivo da nossa espécie. O clérigo Agostinho adaptou esta filosofia e especulou sobre a origem da "impureza carnal" na sua religião, tendo-a encontrado no "pecado original" de Adão e Eva. Para Agostinho, o pecado original era de cariz sexual, e temia a vida sensual e beleza - fatalmente "demoníaca"! - das mulheres, defendendo-se das tentações da carne através da meditação solitária e da auto flagelação.
Para Agostinho o sexo era a confirmação da imperfeição humana, e apenas se justificava (desde que abençoado pelo santo matrimónio, está claro) devido à necessidade de procriação. Assim, opunha-se tanto à homossexualidade como até ao sexo entre idosos (ou seja, a menopausa tornou-se mais um estigma para as mulheres).
Antes de se converter (com a idade de 42 anos) ao cristianismo, Agostinho andou apaixonado com a filosofia (carregando para todo o lado livros de Cícero e de Hortesius), juntou-se aos maniqueístas (que afirmavam haver na alma humana uma dualidade interdependente entre o bem e o mal) e até simpatizava com a heresia e a astrologia. Uma vez "cristão, tornou-se intolerante e perseguidor em relação às filosofias que tinha seguido até então. Provavelmente as maiores controvérsias em que se envolveu e que necessitaram o empenho máximo das suas notáveis capacidades intelectuais e do conhecimento aprofundado que possuía da bíblia, foi rebater os argumentos dos donastistas e dos pelagianistas. Os donastistas advogavam uma total integridade entre as crenças e a disciplina litúrgica defendidas pelos bispos católicos, mas respeitadas por poucos deles. Se a Igreja tinha um carácter intrinsecamente sacrossanto, os sacerdotes do Clero tinham que agir em conformidade em todos os seus actos quotidianos, caso contrário estaria apenas e debitar hipocrisias destituídas de valor e de sentido. Para Agostinho o divino sacramento não podia ser posto em causa e transcendia a conduta dos homens de Deus.
A Agostinho deve-se também o dogma absurdo (que o Vaticano manteve até ao início do séc. XXI) de que os homens nascem impuros devido ao legado pecaminoso de Adão.
A bíblia diz-nos que nem mesmo Jeová consegue erradicar a maldade do (seu?) mundo (ex.: recorrendo a inundações e outros desastres naturais portentosos). Tal só é possível quando a humanidade for extirpada de tudo o que lhe é natural.
No vigésimo segundo capitulo do Evangelho Segundo Mateus, Jesus ensina aos seus seguidores sobre a ausência do desejo sexual – e, logo, fica anulada a necessidade do matrimónio – na sua visão do paraíso celestial.
Pelágio (350-425) e os seus
seguidores defendiam a ideia (bem mais sensata) de que a pureza é inata e que só a partir dos 7 anos (idade que consideravam estarem as crianças aptas a fazer julgamentos e opções de consciência) é que perdíamos essa pureza (sendo o mal transmitido por influência dos adultos) e, como ela, a vida eterna, tal como Adão perdeu o direito à eternidade por ter pecado. Agostinho não podia concordar com estas ideias porque elas desacreditavam o poder regenerador do baptismo e a influência da graça divina na salvação dos eleitos, sendo os homens os únicos responsáveis pela sua salvação através dos seus actos. As pessoas poderiam redimir os seus pecados cumprindo a lei de Deus, o que não tornava indispensável a intermediação da Igreja (os pelagianos tinham a ousadia de afirmar:«a Igreja somos nós!»)
Para os pelagianistas o livre arbítrio seria mais uma habilidade
moral concedida por Deus a fim de que os homens pudessem evitar o pecado (que para Agostinho era impossível) e, se estes obedecessem às escrituras sagradas e sobretudo à mensagem de Cristo, tornar-se-iam independentes e auto-suficientes espiritualmente, deixando a Igreja
de ser uma intermediária indispensável para os que pretendiam alcançar a salvação (pós Armagedom). O corajoso monge bretão que foi para Roma envolver-se em aguerridas batalhas morais e teológicas, pretendia uma renovação moral da Igreja para que esta se tornasse de acordo com a bíblia e com o que predicavam os sacerdotes, acreditando ainda que a justiça divina não nos imporia preceitos fora do nosso alcance moral, pois isso conduzir-nos-ia a uma condenação e a um sofrimento inevitável e inútil.
Pelágio sentia-se tão longe da decadência moral e espiritual da
Igreja que sucumbiu à tentação da vaidade, vangloriando-se das suas virtudes que, a seu ver, o tornaram num homem cheio de pureza beatífica.
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