«Planeta Azul»
Sempre embirrei com a designação/epíteto de “planeta azul” que atribuíram ao nosso planeta. (Nem sequer o nome “Terra” se me afigura correcto, uma vez que dois terços da terra está debaixo d´água.) A cor que eu vejo como dominante entre nós é o verde (por ter as melhores relações de produtividade com a luz solar), não o azul – só visto do espaço (fora da atmosfera terrestre) é que o nosso planeta parece ter essa cor, e essa perspectiva é um sinal de que os humanos cometeram um grande disparate ao tentarem conquistar o espaço, afastando-se do seu planeta-mãe e investindo imensos recursos que poderiam ser empregues na resolução dos problemas mais prementes e “terra-a-terra”.
No entanto, as fotografias da Terra que trouxeram os primeiros homens que visitaram a lua, em muito contribuíram para que tomássemos consciência da fragilidade da biosfera – vendo-a como uma pequena jóia viva gravitando num imenso “vazio”. Era a única coisa colorida e viva que viam no universo, sabendo que lá se encontrava tudo a que estavam ligados afectivamente. Até os astronautas, com todo o seu treino físico e psicológico quase supra-humano, ao verem a Terra do espaço sideral, comoveram-se até às lágrimas, não só pela beleza do planeta, mas também por uma incontida sensação de desamparo por se afastarem da sua casa. A angústia dessa orfandade espacial e desse simulacro tecnológico da morte (pelo brutal afastamento do único planeta conhecido com vida), deve ter despertado uma responsabilidade afectiva perante o facto de que a Terra é o nosso lar e uma mãe generosa que, por nossa causa, se encontra gravemente enferma; não podemos voltar-lhe as costas sob pena de nos extinguirmos como espécie.
Não fomos desterrados do paraíso nem este foi destruído há milénios por uma divindade, num colérico e vingativo excesso de zelo; nós vivemos no paraíso e somo nós que o destruímos diariamente. Nenhum planeta de universo pode oferecer-nos melhores condições de vida do que este onde evoluímos.
Em vez de investirmos em formas de exploração sustentável dos recursos naturais neste planeta ameaçado, desperdiçamo-los atrás de uma quimera espacial neocolonialista que não convence nem os seus actores mais mediáticos. Nas palavras do astronauta Scott Carpenter, «este planeta não é terra firma. É uma flor delicada e necessita de cuidados. É solitária, é pequena, é insubstituível, e estamos a maltratá-la.»
O piloto do módulo lunar Edwin «Buzz» Aldrin era igualmente titular de um cargo religioso/eclesiástico na Igreja Episcopal (de St. Thomas, Nassau Bay, Texas). A primeira alunagem da humanidade pareceu-lhe uma oportunidade imperdível para reafirmar, de forma espectacular, a sua fé e fazer propaganda religiosa através da celebração da Santa Eucaristia noutro planeta.
Os responsáveis da NASA concordaram, emocionados, com este plano, mas percebendo que se tratava de um assunto delicado que poderia despoletar demasiada celeuma, resolveram que seria melhor manter o assunto em segredo, embora os astronautas tenham citado passagens do Livro do Génesis nos seus primeiros momentos na Lua, que foram retransmitidas pela televisão e rádio aqui na Terra.
O simbolismo deste acto não poderia ser maior. O primeiro líquido derramado na superfície lunar foi o vinho que representa a sangue de Cristo. Os astronautas dessa missão também fizeram questão de não ingerirem outros alimentos antes das hóstias quando estavam na lua. A leitura de passagens da bíblia marcou a estreia das cerimónias religiosas extraterrestres.
Para gáudio dos cristãos mais retrógradas e fundamentalistas (desses que ainda hoje tentam impedir que se ensine a darwinista teoria da evolução nas escolas ), o coronel-pastor Aldrin era á altura o astronauta com as maiores qualificações académicas, exibindo um doutoramento em astrofísica pel prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). E não foi o único astronauta que usou os seus créditos académicos para dar uma dúbia credibilidade às teorias creacionistas.
Jim Erving ficou para a história como o 8º astronauta a pisar a Lua. Consta que, ao olhar para o nosso planeta desde o espaço, teve uma epifania que o levou a aferrar-se às convicções de que a nossa casa cósmica teria que ser obra de Jeová. Tornou-se num fervoroso caçador da Arca de Noé…
Temos que ter em conta que nenhum aspirante a astronauta conseguiria fazer uma brilhante carreira nos EUA, se tivesse ideais libertários e agnósticos…
Por isso, é bastante paradigmático e consensual a declaração de Edward Mitchell, astronauta (em 1971) da Apolo 14: «o universo é a verdadeira revelação da divindade; uma prova da existência de uma ordem universal fruto de uma inteligência que transcende tudo o que podemos compreender.»
(Tanto assombro religioso não trouxe quaisquer problemas de consciência aos exploradores da Lua por lá terem deixado todo o seu lixo…)
«Os movimentos ambientalistas não poderão prevalecer enquanto não convencerem as pessoas de que ar e água puros, energia solar, reciclagem e repovoamento florestal são as melhores soluções para as necessidades humanas – e não para futuros planetários impossíveis pela sua distância.» - Stephen Jay Gould
Muito mais do que um esquema de pirâmide para alguns escroques fazerem especulação imobiliária na superfície lunar, a conquista do espaço é, antes de mais, um negócio para as grandes corporações, um meio de dotar os militares de tecnologia poderosíssima e um instrumento de propaganda estatal. (Não estarão certamente preocupados com a remota possibilidade dos nossos
descendentes enfrentarem o problema de o sol esgotar as suas reservas de
hidrogénio - daqui a 5 mil milhões de anos - , desintegrando a Terra com
chamas vermelhas antes de se extinguir).
Como tal, não admira que até as redações de revistas como a National Geographic se empenhe em convencer os ambientalistas urbanos de que :«o ser humano tem de encontrar outros locais para viver no sistema solar. Um regresso à Lua será tão importante como o êxodo dos nossos antigos antepassados para fora de África.» (Julho de 2004, versão portuguesa).
Querem convencer-nos de que na Lua há abundância de matérias primas essenciais aos “progresso” das nações mais industrializadas. Os adeptos da energia nuclear (tanto civil como militar) salivam com a perspectiva de terem acesso ao hélio3 lunar, como substituto do hidrogénio capaz de libertar muitos neutrões perigosos no processo de fusão. (O titânio também poderá servir de sucedâneo do hélio3.) Mas a maioria dos cientistas assevera que, mesmo que a Lua estivesse pavimentada a ouro, seria demasiado caro ir lá buscá-lo. A NASA lá vai deixando escapar que cada astronauta enviado à Lua custa 1 milhão de dólares por minuto! E há ainda que considerar os elavados riscos para a saúde pública sempre que uma dessas espaçonaves nos passa por cima das cabeças… De recordar que, ainda na década de 60, um engenho estadunidense destinado à exploração espacial, que continha plutónio 238 no seu mecanismo de propulsão, explodiu no ar, espalhando material radioactivo por todo o planeta. E não foi o único incidente deste género…
A chamada «guerra ao terrorismo» do Sr. Bush e CªLDª tem sido muito esclarecedora quanto às verdadeiras intenções do mega complexo militar-industrial… Provocando menos celeuma nos media do que o rompimento do que a Convenção de Genebra e o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (já para não falar da supressão de direitos civis fundamentais - que os estadunidenses consideravam adquiridos – com o Patriot Act…) , a administração Bush tampouco se importou com o tratado internacional no qual os EUA se tinham comprometido a usar o espaço apenas para fins pacíficos. Pretendendo dominar o mundo através do espaço e do seu programa «Guerra nas Estrelas». Continuando a sonegar informações cruciais à ONU, planeiam entulhar o espaço comum com armas anti-satélite; mísseis anti-balísticos; minas espaciais; canhões laser; impulsos electromagnéticos tão potentes que poderão interferir localmente no clima, quanto mais nas telecomunicações…
As empresas muito ligadas à Casa Branca que vendem material bélico de ponta, bem como as que querem controlar as telecomunicações globais estão exultantes com estas perspectivas.
Assumindo o ingrato papel de "velho do Restelo", se
é tão perigoso transportarmos (intencional ou inadvertidamente) organismos
vivos de um continente para outro, até se me arrepiam os cabelos dos pés
pensar nas consequências decorrentes da aventura espacial, se as nossas naves (espaciais) algum dia trouxerem no seu bojo microorganismos alienígenas, permitindo-lhes colonizar o nosso planeta sem passarem pela "desinfecção" calorífica (por atrito) a que são submetidos os pequenos corpos celestes que entram na atmosfera terrestre. Recordemos que já foram enviadas - com sucesso – sondas capazes de recolher pó da cauda dos cometas…
No entanto, talvez a vida na Terra provenha de corpos celestes que embateram neste planeta (a chamada teoria da transpermia ou panspermia). Durante milhões de anos a Terra foi bombardeada com grandes meteoritos, que deixou o nosso planeta cheio de crateras de impacto (surpreendentemente, estas só foram apresentadas ao mundo a partir da década de (19)60, graças ao trabalho do cientista Jim Shoemaker), assim como asteróides e cometas . No interior de alguns destes poderiam ter viajado microorganismos/vida microbial que sobreviveram à viagem espacial é ao embate.
Nas últimas 2 décadas um meteorito originário de Marte, a que os cientistas chamaram ALH84001, tem estado no centro de uma das maiores polémicas científicas de sempre. É que alguns cientistas defendem que essa rocha alienígena conte, vestígios químicos (óxidos de ferro decorrentes da deterioração das bactérias) e fossilizados de ancestral vida marciana.
Os cientistas estão convencidos que os organismos extremófilos estiveram no origem da explosão de
biodiversidade de que a nossa espécie veio a beneficiar. Foram encontrados fósseis de procariotas^^^^ com 3800 milhões de anos em géisers e em fontes termais oceânicas. Ainda hoje aí vivem (a temperaturas que chegam aos 120 Cº !) esses organismos unicelulares.
^^^^A designação de procariotas refere-se às bactérias e algas azul-verdes pertencentes ao Reino das Moneras. São células desprovidas de núcleo e de mitocôndrias e constituem a forma de vida mais simples que conhecemos.
Uma das descobertas científicas mais interessantes do novo milénio foram os organismos hipertermófilos que desafiam a antropocêntrica lógica das criaturas terrícolas que nós somos, pois os nossos parentes mais distantes e vetustos vivem sob a crosta terrestre, bem no interior das chaminés hidrotermais e das fendas vulcânicas no fundo dos oceanos. Acredita-se que a biomassa destes incríveis microrganismos equivale ou supera mesmo a que se verifica à superfície do planeta que erradamente chamamos Terra.
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