Os alpiarcenses deveriam esforçar-se para evitar que a Drª Ursulina (Lina) nos deixe. Ela faz toda a diferença na merda de centro de saúde que temos cá no burgo. Obviamente que não me estou a referir à qualidade do edifício em causa, mas sim da maioria dos seus profissionais de “saúde”.
Para que eu recorra aos serviços destes, é preciso estar mesmo nas últimas. Assim, raramente pus os pés no centro de saúde de Alpiarça - onde sempre fui tratado abaixo de cão vadio!
Há uns 3 ou 4 anos apareci lá com uma adenopatia dos gânglios linfáticos na virilha. Como eu não consegui identificar a origem da infecção, suspeitei que tinha arranjado uma hérnia. Depois de muito esperar, lá acabei por ser atendido pela médica que estava disponível (uma vez que eu não tenho médico de família). Se a memória não me trai, chamava-se (e creio continuar a chamar-se) Emanuela. Foi extremamente antipática e arrogante, como se estivesse a fazer um frete demasiado sofrível por cumprir com o mínimo exigido pela sua profissão. Apesar de eu já ter descontado muito (e em vão…) para a “segurança social”, naquela altura estava desempregado (e, como tal, não descontava para a “segurança social”, pois não tinha rendimentos suficientes). Perguntei à Drª Emanuela se tal traria custos acrescidos àquela consulta. Ela, olhando-me com a expressão de quem se depara com uma escarreta ou ou cagalhoto de cão no passeio público, rispidamente respondeu-me que isso era um problema meu e, pasmem, ameaçou com cobrar-me 75€ por aquela consulta! Pior, concluiu, de forma mais ou menos velada, que, se eu queria ser bem tratado por ela, deveria ir ao seu consultório privado!! (Depois vim a saber que essa é uma prática corriqueira daquela mercenária cabrona!) teve sorte, pois eu fiquei demasiado chocado como para a levantar pelo pescoço (tampouco acho que isso resolve alguma coisa, mas um homem tb tem o direito de perder as estribeiras com estes abusos) e fui parvo em não fazer uma queixa formal contra ela.
Noutra vez, há pouco mais de 1 ano, tive uma infecção pulmunar muito grave, em que estive muito perto de bater as botas. Depois de passar o pior da crise sozinho em casa, de alguma forma consegui conduzir até ao referido centro de saúde. Estive na sala de espera 6 horas, lutando penosamente por cada lufada de ar que respirei! Estava rodeado por velhotas muito tagarelas. De vez em quando olhavam para mim e diziam «coitadinho, está mesmo mal», mas, quando começaram as consultas, nenhuma foi capaz de dizer para eu avançar à sua frente. Muito pior foi o facto da enfermeira (?) que regista os pacientes não ter feito esse trabalho de triagem como lhe compete. Finalmente encaminharam-me para o consultório da Drª Ema. Ela olhou para mim e quis de imediato chamar o INEM a fim de me levarem para o hospital. (Mostrou-se levemente indignada por eu não ter sido enviado para o seu consultório horas antes. Quanto às velhotas que quase vão para ali acampar antes das galinhas acordarem referiu-se a elas nestes termos: «não passam de carcaças à caça de receitas!»…)
Estou careca de saber que lá limitar-se-iam a radiografar-me o peito e a entupir-me de antibióticos. Em último caso, estaria disposto aceitar esse procedimento agressivo da medicina sintomática (focada mais no disfarce dos sintomas do que propriamente na eliminação dos factores que causam doença), mas, dentro do pouco que eu conseguia falar e com a humildade educada que os médicos esperam dos seus pacientes, pedi-lhe que me auscultasse devidamente e que ouvisse o meu peculiar historial clínico de afecções pulmonares. Ela carregou o sobrolho e limitou-se a mandar chamar uma enfermeira, que me levou para uma sala a fim de receber oxigénio engarrafado. Ali fiquei semi-abandonado por mais de 3 horas. Quando já estavam a arrumar tudo para fechar o estaminé, fui chamado de novo ao consultório da Drª Ema, ela, que batalhava para conseguir escrever um par de frases no computador, nem olhou para mim; apenas me perguntando se eu já queria ir ao Hospital. Eu respondi-lhe o mesmo que umas horas antes, e ela retorquiu de forma agressiva, como se eu a tivesse ofendido com gravidade: «se não vai fazer exactamente o que eu lhe mando, desampare-me o consultório e vá para casa!»... E foi isso que aconteceu. Mas tenho a certeza de que se me tivesse dirigido ao seu consultório privado teria sido tratado de forma bem distinta…
É fodido ser pobre num país com um serviço de saúde publica perfeitamente terceiro-mundista!
Depois há o director do centro de saúde. Não me lembro de alguma vez o Dr. Hélder me ter atendido, mas já foi o médico de familiares meus. Pereceu-me que se esforça pouco, sendo até um pouco “panconas” (para usar uma expressão que eu acho odiosa, mas que é muito popular e relativamente inócua em Alpiarça). Até aí nada de muito grave, mas tenho consistentes razões para desconfiar (e gostaria de estar errado) que há muitos anos que a sua principal motivação para continuar a exercer medicina é, para além dos honorários oficiais, receber prendas dos laboratórios farmacêuticos… assim, não admira que ele ache pouca piada a que os médicos sob a sua alçada receitem genéricos…
No ano passado, quando trabalhava no norte do país e na Galiza, andei uns 3 meses com umas dores excruciantes na coluna vertebral. Tornou-se mesmo incapacitante. Amigos aconselhavam-me a ir a um centro de saúde ou directamente a um osteopata ou coisa do género. Mas, devido ao trauma que eu tinha com as médicas merdosas de Alpiarça, eu continuava a arrostar as dores em silencioso isolamento. Acabei por me render e fui consultado por uma médica brasileira muito nova, mas muito competente e de uma simpatia inexcedível. Não fez pose de pertencer a uma casta superior ou até mesmo de condescender em sair do Olimpo para dar uma ajudinha nos reles mortais. E eu, que nem um cãozinho bem mandado, fiz tudo o que ela me pediu – até os procedimentos que são muito agressivos para a minha saúde, e que ela concordou em discutir comigo (sem abusar do jargão técnico, para o qual eu até me tinha preparado ) como adultos inteligentes e que se respeitam mutuamente. No final, o tratamento prescrito não me ajudou quase nada, mas fiquei muito contente pelo facto de ter sido a primeira vez que um médico se portou, não apenas à altura do juramento de Hipócrates, mas tb como um cidadão decente, sem complexos de superioridade e ambições mercenárias, preocupando-se verdadeiramente com os outros.
Venham mais médicos estrangeiros!!!
A nossa mui querida Drª Lina (originária de cabo Verde) é dessa cepa – bem haja! Mas tem sido pressionada em demasia por fazer a diferença que deveria ser a regra…