sábado, julho 22, 2006

«Os pequenos actos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que se planeiam.» - George Marshall

Vamos deixar-nos de impante retórica ideológica, arregaçar mangas e experimentar projectos de democracia participativa, nomeadamente actuando anível municipal, mas com destaque para o associativismo local,desburocratizado, informado e bem articulado por redes de informação independente! Precisamos resgatar os espaços públicos às privatizações cooperativistas e desenvolver uma responsabilidade cívica multilateral que se recuse a compactuar com as inadmissíveis disparidades económicas e com a suicida degradação ambiental! Precisamos cooperar com a administração pública, mas nunca baixando a guarda.
A privatização dos serviços públicos relacionados com a energia, os transportes, a água, a saúde e a educação, além de provocarem uma sobrecarga nas despesas dos cidadãos, arruína o Estado de direito. Se o Estado se demarca de assegurar aos cidadãos serviços que consideramos fundamentais, não podemos deixar de nos indagarmos para quê, então, pagamos impostos? E para que precisamos de políticos? Quem está interessado em ter um país governado por lóbis corporativos e pelos partidos que os representam ?
Estou cansado de ouvir a seguinte afirmação: «a democracia está longe de ser perfeita, mas não existem alternativas…» Esta é uma falsa questão; uma rasteira retórica em que é fácil cair. Cada Estado, cada governo faz a sua própria interpretação de “democracia”. O poder centralizado em Estados é uma organização política recente na história da humanidade e, para os mais brilhantes pensadores políticos e filósofos da actualidade, é uma aberração demente. Todos os Estados são instituições violentas pois recorrem a forças militares para garantirem primeiramente os direitos dos mais poderosos/privilegiados, coarctando as liberdades individuais. A democracia que se pratica na Finlândia e/ou na Suécia é substancialmente diferente da que se pratica nos EUA. Em que Estado democrático é que o poder está efectivamente nas mãos do povo? Em nenhum. No entanto, conhecem-se mais de 15 mil formas de organização social (politico-económica) que ainda subsistem à margem das democracias parlamentares de raiz europeia. Se acham (erradamente) que é demasiado estapafúrdio e exótico procurarmos os melhores exemplos nas comunidades tribais que resistem à industrialização; não querem saber das comunidades alternativas “neohippies” e nem sequer das últimas aldeias tipicamente portugueses em que se pratica uma verdadeira democracia comunitária, então mirem-se no exemplo das ONGs. Os média há muito que deixaram de ser um contra poder, para se tornarem o chamado «4º poder». Bem, então o «5º poder» - e o único que realmente interessa – são as associações de cidadãos independentes do poder político-partidário e do Estado. Contam tanto as ONG de carácter nacional e internacional, como as associações de pais e de moradores de um determinado bairro. É preciso é que as pessoas com preocupações semelhantes se juntem, informem-se e partilhem informações, e unam esforços na defesa do que consideram ser fundamental à sua qualidade de vida. As pequenas ONGs geralmente têm menos poder político e financeiro do que as grandes ONGs, mas estas últimas frequentemente acabam por acumular demasiados podres debaixo do tapete, para além de evoluírem para uma estrutura orgânica e para uma atitude semelhante aos poderes que dizem combater. O que interessa é o empenho, a dignidade e o civismo com que defendemos as nossas convicções, bem como a forma honesta e apaixonada com que inspiramos os nossos pares.
Não se iludam: os políticos respondem a interesses muito diferentes do que as reais necessidades dos “cidadãos comuns”. Assim, se queremos ver assegurados os nossos direitos mínimos, temos que lutar por eles e pressionar ao máximo esses políticos da treta.
Mais do que animais gregários, somos seres tribais. A democracia é um impulso instintivo a todos os homens destinado a garantir o bem estar e a justiça social na vida comunitária, mas não funciona em sociedades de massas, industrializadas e com o poder centralizado, onde o espírito comunitário é facilmente substituído pelo egoísmo oportunista, predatório e desresponsabilizante.
Podemos ser tão livres quanto ousarmos sê-lo.
PB

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