sábado, julho 22, 2006

As minhas desventuras com o anterior executivo camarário

Reitero o meu desprezo pelos partidos políticos e por todos os oportunistas obcecados por poder que enxameiam essas desacreditadas instituições. Não obstante, ainda mantenho alguma admiração e respeito por algumas (raras) pessoas idealistas que conservam a fé nessas fantochadas e se empenham em exercícios de cidadania (mesmo que, na minha opinião, muito mal orientados).
Por forma a evitar agastar-me, já desisti de falar com mentes tacanhas que só conseguem ver a sociedade compartimentada em cores político-partidárias, como se não pudesse haver vida social e política a sério para além dos jogos de poder Orwellianos, numa hierarquia vertical que tem transformado as relações humanas essencialmente em acordos comerciais injustos. Entre essas pessoas pouco argutas (para usar um adjectivo impecavelmente polido…), há alpiarcenses que concluem que eu «só posso ser comunista» (sic). A Srª vereadora, como brilhante advogada que é (lá estou eu com as bocas foleiras…), concluiu que essa alegada filiação ou simpatia partidária é a única razão porque eu não ataquei (mesmo que retrospectivamente) o anterior executivo camarário. Pois bem, a resposta correcta e simples é que nessa época eu não estava em Alpiarça, ou era um garoto recém-chegado (e muito mal recebido) que não via a hora de desaparecer daqui.
Tenho pouco interesse em purgas as minhas mágoas e não me fica nada bem o papel de vítima inocente, mas provavelmente convém contextualizar essa realidade social que eu vivi na segunda metade dos anos 80, quando os meus pais me trouxeram para Alpiarça. Pode parecer incrível à “luz” da realidade actual, mas apenas por ser um forasteiro, adolescente de cabelos compridos e desgrenhados, brinco na orelha (mais tarde seguiram-se-lhe uns piercings no nariz…) e calças rotas, ao passar na rua, na minha rotina do liceu (primeiramente o de Santarém e depois o de Almeirim, povoações onde vivi anteriormente) para casa e vice-versa, era comum as donas de casa e os reformados que estivessem em via pública a falar da vida alheia, de forma perfeitamente gratuita e agressiva, chamavam-me «paneleiro» e «drogado» ! (logo eu que sempre tive excesso de testosterona e aversão a todo o tipo de drogas); «vejam a merda que para aqui veio», «deviam cortar o pescoço a esses pulhas!» e «vai p’rà tua terra!»… Era o prato do dia. Até o pessoal da minha idade evitava-me como se eu tivesse lepra (e até espalharam o boato que eu tinha SIDA, o que naqueles dias ia dar ao mesmo…). Quando estava à boleia, ou andava de bicicleta, os automobilistas alpiarcenses (sobretudo os que estavam visivelmente embriagados) chegaram a cuspir-me para cima e a atirar-me latas e garrafas de cerveja vazias…
Talvez estas atitudes lamentáveis se devessem ao facto de, para além da minha aparência algo “exótica” e da minha timidez quase autista, os meus interesses em nada passavam pelo futebol, pelos carros, pelas touradas, pelo serviço militar, pela caça, pelas brigas de rua, pelas competições de consumo excessivo de álcool, e outras actividades consideradas “viris” e “patrióticas”.
Por sorte, eu tampouco estava interessado em socializar com imbecis. Tinha amigos em Almeirim e era lá que eu passava a maior parte do tempo, embora continuasse à procura da minha “tribo”, pois nenhum dos meus amigos de então tinha o mínimo interesse pela ecologia. (Nunca se questionaram a razão de nesta região as ONG ambientalistas não terem qualquer representação e tradição?...)
Ironicamente, ou nem por isso, o ar de rebelde ensimesmado e algo intelectualizado (devia de ser dos óculos à John Lennon, pois eu de marrão não tinha nada…); as feições andróginas; o facto de que nada sabiam sobre o meu passado e de ninguém me ver em bares e discotecas (a minha aversão pelo barulho, pelo fumo do tabaco e pelas conversas parvas não fez mais do que fermentar desde então…), de alguma forma estimulava a humedecida gula de muitas garotas que se entretinham a fantasiar caprichos com o sabor a fruto proibido.*
Previsivelmente, isso enfurecia ainda mais os galifões locais que se julgavam donos de haréns, ou, pelo menos, policias sexuais de fêmeas que tinham que ser mantidas sob rédea curta… **
Não tinham razão para se preocuparem, pois eu preferia a companhia de bons livros e da bicharada, além de que sempre fiz questão de ter as minhas aventuras romântico-eróticas bem longe de Alpiarça e do círculo de conhecimentos dos meus familiares. O pior que esses tipos me poderiam fazer em nada se comparava com os problemas que eu tinha em casa…

*A maioria dos autores que se têm debruçado sobre este tema corroboram a minha experiência pessoal quanto ao facto de que as mulheres, devido aos instintos e às responsabilidades maternais, tendem a preferir “machos alfa” (que, na nossa sociedade, são os que podem garantir segurança monetária) para relações minimamente duradouras, mas tendem a apaixonar-se (o que não implica um projecto de futuro, apenas uma inigualável e quase acrítica intensidade de sentimentos romântico-eróticos ) pelos mais “selvagens”, capazes de quebrar a rotina de forma excitante. A ironia é que, mal cravam as unhas nestes últimos, começam logo a tentar domesticá-los (na esperança de os transformar em “machos alfa”, a fim de terem o “pacote” completo?)…
Visto à distância e com alguma frieza analítica que a maturidade permite, estes comportamentos têm piada, mas não são substancialmente mais interessantes do que observar os comportamentos sexuais de outros animais.

** Essa mentalidade de macho latino no seu pior é actualmente um pálido e anacrónico reflexo desses dias. Para o bem e para o mal, por todo o país as identidades regionais entre os jovens têm-se diluído, convergindo para um padrão comportamental uniformizado que imitam dos ídolos produzidos pela TV.


O acumular destas más experiências desgastou a vontade e a paciência de procurar as pessoas certas em Alpiarça. O bom senso de prescindir de julgar o todo pela parte, levou a que hoje tenha boas relações com quantiosas pessoas por cá, mas não esqueço o quão difíceis foram aqueles primeiros tempos entre vocês...
Em breve percebi que pouco ou nada adiantava cumprimentar as pessoas na rua e ajudar as velhinhas a carregar os sacos das compras e outras boas acções deste género que eu sempre gostei de fazer espontaneamente. O troco era quase sempre desconfiança, o fel e a maledicência, não a simpatia educada e o respeito que eu merecia, independentemente da minha aparência. Alpiarça era então um meio muito fechado que sufocava nos seus preconceitos xenófobos. Eu questionava-me como é que esta gente poderia estar à altura da fama de valentia insubmissa que tinham granjeado durante o domínio fascista, bem como dos ideais comunistas que a maioria dos eleitores dizia cultivar. Certamente que se eu me pavoneasse num BMW topo de gama e envergando fato e gravata, poderia ser o pior dos escroques que essas pessoas de língua viperina curvar-se-iam à minha passagem… Nesse aspecto, pensando bem, as coisas mudaram pouco.

Para um garoto inteligente e idealista, com paixão pela ecologia, pelas montanhas e pela cultura libertária, à procura de uma utopia telúrico-comunalista (que nada tem a ver com o comunismo e muito menos com partidos políticos!), é compreensível que me sentisse completamente deslocado no Ribatejo…

No segundo verão que por aqui passei, inscrevi-me no OTL com o intuito de ir trabalhar umas semanas para a reserva zoológica (actualmente, e por fortuna, funciona como um centro de actividades equestres, tendo como “estrela” o cavalo Sorraia). Foi outra enorme desilusão.
Aquilo era um projecto (concebido pelo “africanista” Eng.º Piscalho) que não tinha ponta por onde se lhe pegasse e não tardou muito a converter-se num embaraçoso elefante branco para a autarquia.
Já expus neste blog as razões porque considero este género de exploração faunística uma abominação contra natura e que apenas arruína os poucos esforços que têm sido feitos em Portugal na construção de uma ética ambiental correcta.
Desde que por cá começou a moda parva dos parques zoológicos, já vi muitas situações capazes de deixar qualquer ecologista com um ataque apopléctico, mas o que se passava em Alpiarça não lembraria ao diabo!...
Nenhum dos funcionários da maldita reserva tinha a menor qualificação para as exigências desse trabalho, sendo tudo resolvido à força bruta. Um grunho praticamente deficiente mental (que só vi durante uma das semanas em que lá trabalhei) que era guarda florestal e, estranhamente, fazia igualmente biscates para a autarquia (talvez porque era um projecto feito em parceria com a DGF). Esse tipo, quando lhe coube zelar pelos animais enquanto todos os outros funcionários afectos á reserva gozavam as férias, resolveu deixar morrer à sede e à fome a maioria dos animais silvestres engaiolados – apenas para mostrar aos seus superiores hierárquicos (da autarquia) que era um elemento imprescindível e que o seu trabalho tinha que ser mais valorizado! Quando andava em trabalhos de limpeza de matos nas encostas que dão para a barragem, chegava a fazer uso da pistola (que pertencia à DGF) para matar – apenas por divertimento e de forma completamente ilegal – os mamíferos silvestres (sobretudo os sacarrabos) que lá se acoitavam! E gabava-se destas atrocidades aos quatro ventos…
No curto período que por lá andei vi vários animais recém capturados morrer de tristeza, outros estavam apáticos numa depressão profunda, sem salvação dentro de jaulas sem as menores condições para eles. Os responsáveis e os funcionários pouco se ralavam com isso, pois era-lhes muito fácil colocar mais armadilhas…
O jardim zoológico de Lisboa viu neste projecto uma boa maneira de se livrar dos seus animais-refugo (os enfermos, os velhos e os que tinham especial mau feitio e não atraiam multidões). Logo apareceu um falcoeiro que se faz passar um grande protector das aves de rapina, mas que entre os ecologistas/ornitólogos é visto como um espoliador de ninhos e um negociante de aves “protegidas”, tendo feito da reserva em causa uma das suas sedes de operações sem que nenhuma autoridade oficial se molestasse em verificar a legalidade das suas actividades “ornitófilas”.
Como se isso fosse pouco, o “visionário” Eng.º Piscalho resolveu que para o seu projecto imbecil (mesmo que ele fosse motivado pelo que julgava serem as suas melhores intenções, como deve ter sido o caso) ´deveria vingar se capturassem umas lontras e colocá-las em jaulas para exibição pública. Pelo menos em relação a essa espécie teve em consideração (ou foi aconselhado nesse sentido) que havia leis que a protegiam (assim como as outras que capturavam para o mesmo fim, mas que os amigos da DGF faziam o favor de dar o aval…) e que seria melhor contactar com o ICN (Instituto de Conservação da Natureza). Desse órgão do Ministério do Ambiente, veio cá um técnico reunir-se com o Eng.º Piscalho, tendo-o não só desaconselhado de tentar tamanha parvoíce, como ainda (e talvez pela primeira vez no contexto autárquico) falou-lhe da riqueza do paul dos Patudos e que deveria, pois, redefinir e reorientar os seus projectos e energias “ambientalistas” na salvaguarda do paul. Foi um conselho que caiu em saco roto… (Sei disso porque sou amigo desse biólogo do ICN)
Farto dessa situação intolerável, apesar de a reserva estar guardada por dobermans treinados para atacar (que eram pertença do principal funcionário da reserva – um sujeito que até consegue ser simpático e voluntarioso, mas que, provavelmente por não ter conseguido seguir a carreira militar, tem o grande defeito de se afirmar através do poder das suas armas de fogo e da ferocidade dos animais- tanto doméstcos como selvagens – que tem em casa; das poses de Rambo marialva; de se dar com doutores e de se achar muito mais esperto do que realmente é, estando sempre a tentar fazer passar por estúpidos os que têm ideias diferentes das suas, sem mostrar que é capaz de ter ideias valiosas e originais …), decidi optar pelas tácticas solitárias de eco-sabotagem. Indo lá uma noite, consegui (com ajuda de um alicate de corte) libertar uns poucos animais silvestres – os que eu sabia estarem a passar mesmo muito mal. Não houve tempo para mais, com os cães no meu encalço… (Não era necessário contratarem os serviços de um brilhante detective para se deduzir que tinha feito a proeza… Logo no dia seguinte, o tal funcionário da reserva disse-me que, se eu a repetisse, dar-me-ia um tiro… Uuuu, que medo!....)




Ao finalizar o liceu, comecei a trabalhar numa quinta de produção biológica (a primeira em Alpiarça, cujo dono se converteu a essa pratica louvável graças aos meus conselhos) situada no Casalinho, pertença de um italiano. Este, aproveitando-se do meu espírito voluntariosos, chulou-me à força toda por mais de 2 anos (porque eu deixei, está claro). A principal vantagem dessa experiência foi que a quinta em causa confinava com o paul dos Patudos (numa área luxuriante que foi recentemente convertida em pastagem). Foi quando eu o descobri – num esplendor ecológico como já não acontecia há muitas décadas. Tornou-se no meu oásis, apesar dos muitos e graves problemas que conspiravam para dar cabo desse valioso tesouro natural.
Eu já tinha idade suficiente para reconhecer o seu valor ecológico, mas ainda estava longe de adquirir os conhecimentos técnico-científicos, a auto-confiança e os tintins rijos que me permitissem ter uma intervenção pública em conformidade com o que acreditava tendo como prioridade salvar o nosso paul, mesmo lutando sozinho contra todos os interesses estabelecidos. Mesmo assim, fiz alguns tímidos contactos com a autarquia nesse sentido. Foi o suficiente para perceber que ninguém tinha o menor interesse em sintonizar comigo. Tanto a lixeira municipal (sempre a arder…), como a pedreira, a caça desregrada, a suinicultura e a fábrica de paus do Casalinho, a vacaria de Vale da Lama, diariamente atropelavam um monte de leis com total impunidade e conivência da autarquia e de todas as “autoridades competentes” (ora aqui está uma contradição em termos).
Dirigindo-me pessoalmente a uma delegação do Ministério do Ambiente bem como à sede da Direcção Geral das Florestas, ambas sedeadas em Santarém, cheguei a denunciar estas situações inadmissíveis. Os técnicos/funcionários que me atenderam literalmente riram-se na minha cara, retorquindo que aqueles não eram assuntos que me dissessem respeito e que eles «tinham a situação sob controlo» (sic)…
Sem melhores resultados, tentei ainda falar com os donos da pedreira (que, entretanto destruiu grande parte do paul; incluindo o abate ilegal de imensos sobreiros, tendo inclusive vendido a madeira à vista de todos; e nem sequer foram obrigados a fazer a “recuperação paisagística” da área esventrada, como a Lei “obrigava” já então…). Pai e filho eram ambos intratáveis, assumidamente fascistas e, como não podia deixar de ser, ultra racistas-colonialistas. (O filho era um destacado membro dos mórmons, o que coincidia plenamente com a sua execrável ideologia política…) Está claro que tampouco quiseram ouvir o meu ponto de vista.
Interpelei directamente alguns caçadores locais (que disparavam para tudo o que se mexia - incluindo aves de rapina – durante todo o ano) numa perspectiva pedagógica e diplomática. Foi em vão. Valeu-me apenas um monte de ameaças de morte. Passei então a acções de sabotagem pacificas. Como resposta, fui alvejado de propósito um par de vezes (numa delas o chumbo chegou a provar o gosto da minha carne…).
Com isto tudo, não admira que, mesmo tendo sempre os bolsos vazios, arranjasse maneira de me afastar daqui, indo fazer trabalho voluntário para regiões com uma grande riqueza de vida silvestre.
Não tardou a surgir a oportunidade de ir estudar e trabalhar para Coimbra, onde finalmente comecei a ter uma vida que valesse a pena viver, sobretudo porque me tornei num membro muito activo da Quercus, conquistei a minha independência e deixei de ser um puto. Assim, envolvi-me intensamente na luta pela salvaguarda de uma região que representava um dos maiores valores do património natural português – O Tejo Internacional -, mas que estava completamente a saque. Naquele tempo ainda não tinha o estatuto de “área protegida”, o que viria acontecer por mérito da Quercus, apesar do constante boicote do governo de Cavaco Silva que ignorava até as deliberações de Bruxelas para fazer a vontade aos lóbis das celuloses e da banca (os barões de altas finanças exploravam herdades de caça turística de uma forma desastrosa para toda a vida selvagem) que não viam com bons olhos a criação de um parque num ermo onde sempre puderam cometer todo o tipo de atentados contra natura.
Acabei por ir viver para aquela zona, onde trabalhei com pessoas que partilhavam interesses e ideais semelhantes aos meus.
Ainda em Coimbra, corria o ano de 1993, resolvi organizar um campo de estudos para naturalistas (mesmo que se tratassem de leigos; para participarem bastava nutrir amor pela natureza e a vontade de aprender e de conviver em actividades de campo) no Paul dos Patudos. Era ponto assente que deveria envolver a autarquia de Alpiarça a fim de que o paul fosse dado a conhecer à população local (algo que até hoje ainda não aconteceu…) e também para que os políticos locais soubessem que até o pessoal da Quercus (quando esta associação estava no auge da sua popularidade) considerava o nosso paul importante para a conservação e para a educação ambiental no contexto nacional. (Infelizmente, isso estava longe de ser verdade, pois o único membro da direcção nacional da Quercus que, posteriormente, consegui cá trazer não mostrou qualquer interesse em mobilizar essa associação numa campanha de protecção ao paul, essencialmente porque tinam outras prioridades que já se viam à rasca para lidar com demasiados problemas e solicitações. Anos mais tarde, esse “grande líder” revelou-se uma fraude e, devido a uma birra pela sua autoridade despótica ter sido internamente questionada, bem como por puro oportunismo carreirista, acabou por lixar a referida ONG, bandear-se para o governo, onde conseguiu um grande tacho e reformulou as suas “convicções”…)

Ao executivo camarário (através de cartas formais) pedi um apoio mínimo, que se cingia à divulgação local da iniciativa e, eventualmente, a cedência de um autocarro para transporte apenas de participantes alpiarcenses (preferencialmente os estudantes). (A inscrição era gratuita e o alojamento dos que vieram de fora foi assegurado por mim com a ajuda de familiares, sem ninguém tivesse pago um chavo por isso.)
Enquanto esperava pela resposta, reuni-me um par de vezes com professores da escola secundária de Almeirim (onde tinha uma amiga professora), tendo recebido a “garantia” de que um par de turmas e os respectivos professores iriam aderir à iniciativa. (O que nunca chegou a acontecer, sem que eu alguma vez tivesse recebido quaisquer explicações e pedidos de desculpas por essa falta de respeito…)
Quando a Câmara Municipal de Alpiarça resolveu responder-me (volvidas várias semanas…), mandaram-me falar com um vereador “encarregado dos assuntos do ambiente” (ainda não haviam criado esse pelouro) – que nunca estava disponível!... Cheguei a vir de Coimbra de propósito para atender a reuniões marcadas pela autarquia, apenas para dar com os burros na água, pois o Sr. “político do ambiente” tinha mais do que fazer (?) como para cumprir os compromissos comigo.
Na semana anterior à data do início do campo de estudos, vim para Alpiarça com o intuito de ultimar todos os preparativos. No meio de um monte (ou melhor, monturo) de diligências oficiais, uma das secretárias da autarquia apiedou-se de mim e, por fim, confidenciou-me que, se eu tinha mesmo urgência em me reunir com o tipo do ambiente, deveria dirigir-me ao parque de campismo, onde o encontraria na esplanada (recém inaugurada?). Foi o que eu fiz. E lá estava ele refastelado, a beber imperiais e a comer camarões junto com os amigos – em pleno horário de expediente! que maravilha. A vida é bela quando se tem tachos deste calibre... Ao me ver (já nos tínhamos encontrado uma vez, de fugida), mostrou algum embaraço, mas logo recompôs o à vontade de quem está seguro no seu feudo. Anuiu em responder vagamente e com indiferença a umas questões que lhe coloquei. Nos restantes dias, sempre que tive que falar com esse vereador, dirigi-me à tal esplanada e, invariavelmente, encontrava-o a encher o bucho com bejecas quando, supostamente, o relógio dizia que ele deveria estar a trabalhar para o Estado, mas deixou de mostrar qualquer resquício de constrangimento por isso.. Desta forma, impunha a minha presença em reuniões-relâmpago informais que foram apenas uma perda de tempo.
Não me lembro do seu nome (seria Henrique?), mas era um tipo muito jovem, de olhos e cabelos claros. Recentemente ouvi que ele tentou candidatar-se à presidência da autarquia – foda-se!!! Como diziam os velhotes, esgueira-te assombração!!! Provavelmente já teve tempo de amadurecer e tornar-se mais responsável, mas estas atitudes denunciam o perfil de alguém que não devemos querer à frente da autarquia.
Meses depois, calhei a falar com alguém do executivo camarário, tendo aproveitado para me queixar do modo como me trataram (falharam totalmente com o pouco que se tinham comprometido). A resposta que o meu interlocutor me deu nessa ocasião foi que o tal vereador não fazia a ponta dum corno e que só tinha aquele cargo porque o seu pai era um dos que mais abria os cordões à bolsa em doações para o partido (PCP/CDU). Sem me importar em apurar o que havia de verdade nessas afirmações, considerei-as um sinal bastante claro das disfunções internas do executivo camarário o facto que me terem sido reveladas por alguém que eu mal conhecia. De resto, estava bastante ciente do poder dos caciques locais (que geralmente eram uns broncos de primeira apanha) e das suas estreitas ligações ao poder político. (Pelo menos, ainda não tinha visto autarcas alpiarcenses delapidarem o erário público para comprarem carros de luxo; exibirem relógios de ouro provenientes do que é, para todos os efeitos, corrupção passiva e compadrio/clientelismo; alterarem o PDM a fim de tornarem a especulação imobiliária um negócio familiar, etc…)
As minhas lutas de então (que me ocupavam a tempo inteiro) situavam-me muito longe daqui.
(A propósito e recapitulando, a tal actividade de campo aberta a toda a população e supervisionada por técnicos competentes que eu organizei no nosso paul, correu lindamente, tendo aparecido naturalistas de vários pontos do país – menos desta região…)
Ainda cheguei a elaborar um projecto para a recuperação do paul, e apresentei-o à autarquia , embora nunca tenha chegado a conhecer o Presidente. Não estava a pedir emprego, nem honorários, nem sequer me ralava que me pudessem roubar as ideias, desde que estas fossem postas em práctica de forma competente, mas ninguém lhe ligou a menor importância…
Depois de ter viajado e vivido em muitos sítios por esse mundo fora, para desgraça dos poderes instituídos (e igualmente para minha infelicidade…), estou de volta a Alpiarça ao fim de mais de uma década ausente. Desta feita, venho disposto a dar o meu melhor para salvar o nosso paul e não temo nenhum obstáculo ou ameaças!... O tempo da impunidade total acabou!
Uma pessoa pode fazer a diferença, mas ninguém consegue realizar grande coisa em causas/desideratos sociais estando só. Eu não estou desamparado nesta demanda/luta e espero poder criar sinergias telúricas com as melhores pessoas de Alpiarça – começando pelos mais jovens, porque são eles que mais perdem com os nossos disparates e porque ando sempre tentar proporcionar aos garotos as experiências que eu gostaria de ter usufruido quando tinha a idade deles. Termino com um provérbio ameríndio de sabedoria intemporal: «nós não herdámos a Terra, pedimo-la emprestada aos nossos filhos.»

PB

7 comentários:

Anónimo disse...

Sinto muito pela maneira como o recebemos quando era adolescente. Talvez isso explique porque às vezes utiliza uma linguagem excessivamente agressiva... Metaforicamente falano, parace que o cachorro mal tratado regressou na forma de um admirável lobo...
Parabéns pelo blog!

Anónimo disse...

Parabéns. Adorei ler um pouco da história da sua vida na sua ligação e desventuras com Alpiarça. Não desanime! É de homens da sua estirpe que ainda reside a esperança de se acabar de vez com a mesquinhez das facções politiqueiras comunistas e socialistas que graçam e minam esta adoravel vila.

Anónimo disse...

Paulo não duvido nem um bocadinho daquilo que você diz sobre a maneira como o trataram quando chegou a Alpiarça. Pessoal de brinco na orelha, rabo de cavalo, piercings e outras coisas do género se agora já se vai tolerando, há uns aninhos atrás era realmente sinónimo de drogados e paneleiros. Tal como disse o anónimo anterior, talvez isso explique porque utiliza às vezes termos demasiado agressivos ou contundentes nos seus artigos. Confesso que tive de dividir a leitura deste seu texto por duas vezes, tal a sua extensão e já tenho feito o mesmo com outros artigos seus. Acho admirável como consegue escrever tanto.
Devo confessar-lhe que embora viva nesta terra há 47 anos, nunca me interessei pelo nosso Paúl, agora depois de admirar as fotos lindas dos animais que por ali vivem, começo a ficar curioso de conhecer o Paúl. Não me aventurarei por lá sózinho,(amigo meu confessou-me que só lá entra munido de catana) já lá fiz uns treinos de BTT há uns anos mas apenas na zona da pista de motocross e cá pela estrada que ia das pedreiras do Lena aos Moinhos Velhos e que atravessava a Ribeira do Vale da Lama.
Já lhe dei pessoalmente os parabéns pelo seu blog (quando você saía da Caixa Geral de Depósitos) e espero um dia poder visitar o Paúl na sua companhia.
Um amigo meu que é dono da Javsport que pode visitar em http://www.javsport.pt/, empresa dedicada à realização de actividades radicais no Gerês: BTT, canyoning, marchas pedestres, nocturnas e orientação, rappel, slide, ficou deliciado com os seus primeiros textos e fotos quando lhe dei o endereço do seu blog, não sei se ele o voltou a visitar porque não tenho falado com ele ultimamente.
Admiro a maneira dura e agressiva como você trata os nossos governantes locais, acredite que por vezes também sinto vontade de o fazer, por enquanto evito ao máximo fazê-lo.
Ás vezes dou comigo a sonhar que estou a enrolar, enrolar, enrolar... um arame à volta do pescoço de uma certa personagem e ela a deitar a lingua de fora e a pedir-me por tudo que não a mate, outras vezes sonho que lhe deito uns litros de gasolina para cima e lhe atiço um fósforo para a ver a arder como uma tocha, depois acordo para a realidade e vejo que afinal tal personagem ainda ainda por aí a enfernizar a vida a uma data de gente.
Quando a nossa lenta justiça resolver as minhas questões com a autarquia, me devolverem o lugar que me roubaram e que é meu por direito e mérito desde 2 de Janeiro de 1981, me paguem tudo o que me devem ou me afastem de vez, (se acharem que é o P.C. que tem razão e não eu), vou criar um Blog como o seu.
Com o devido tempo e ao abrigo do direito à informação consagrado na Constituição a que todo o Cidadão Português tem direito, vou nele escrever as minhas memórias e dar a conhecer à saciedade o verdadeiro motivo do meu afastamento intempestivo e outras coisas mais que agora não vou aqui revelar
Até lá não o posso fazer.
Escrever uma carta pessoal ao Dr. Rosa do Céu, assiná-la por baixo, dizer-lhe algumas verdades e insurgir-me e indignar-me de viva voz e em plena reunião de Câmara pela maneira incorrecta, parcial e pouco transparente como foi conduzido um inquérito interno dentro da autarquia alpiarcense e que não sou lembe-botas como muitos que por aí pululam, valeu-me a demissão desde finais de Setembro de 2004, data a partir da qual não recebo um xavo da autarquia.
O colectivo com o seu douto poder maioriatário estiveram-se pouco cagando se eu tinha vinte e tantos anos de descontos para a Caixa Geral de Aposentações, se eu tinha um filho a tirar um curso superior, a prestação da casa e do carro para pagar, para além das despesas inevitáveis e mensais de qualquer agregado familiar.
Até os míseros euros dos duodécimos de férias, subsídio de férias e de Natal desses 9 meses de 2004 ainda lá moram, cortaram o abono de família ao meu filho e até o meu cartão de saúde (ADSE) válido até Julho de 2007 me queriam fanar.
Coisa inacreditável num estado de direito, limpam o cú a requerimentos onde peço me forneçam dados que constam do meu processo individual enquanto funcionário.
Por outro lado vou ao Tribunal de Almeirim indico o meu nome e o processo que desejo consultar, posso fazê-lo durante horas e tirar os apontamentos que desejar que ninguém me incomoda.
Vou às Finanças, Cartório Notarial, Conservatória, outras câmaras municipais e outro tipo de repartições, nunca por uma única vez me foi sonegada qualquer informação sobre qualquer assunto que seja ou deva ser do domínio público.
Na autarquia alpiarcense a Vereadora de Recursos Humanos (que até é jurista), a minha Chefe de Divisão, os funcionários da Secção de Recursos Humanos dão-se ao luxo de não fazer caso dos meus requerimentos, ainda bem que tenho os duplicados com as datas das entregas, penso que neste estado de direito ainda deve haver prazos para as coisas serem deferidas, a não ser que cada vez que precise de obter um papel do meu processo individual de funcionário, seja preciso meter uma acção em tribunal contra a Câmara.
Bem, mas vamos esperando serenamente (confesso que já se torna difícil) que a justiça resolva e que as consciências de alguns colegas meus se tornem demasiado pesadas ao ponto de contribuírem também ao meu lado para o cabal esclarecimento da verdade.
Para terminar espero que não perca a coragem e que não se veja ainda a braços a com justiça, por ir contando as verdades com palavras nuas e cruas!
Pode publicar o meu comentário à vontade, vou assiná-lo por baixo, afinal até estamos num Blog muito virtual..
Ricardo Vaz

Anónimo disse...

Realmente...não é justo, alguém de um valor inestimável, toda a vida um incompreendido. Mas...felizmente a vida dá sempre segunda oportunidade, e eis que surgindo das trevas do 'agressionismo' ELE voltou
Assim como o comentário anterior, parabens pelo seu blog, pois consigo extrair alguns dados que me são necessários, e como não sei onde procurar e vc parece saber, 'saco-lhe' a informação
Continue que eu continuarei a seguir a sua 'escrita'

xando disse...

Fico muito sensibilizado com as vossas mensagens solidárias e com os elogios que me fazem ( e que, provavelmente, nem mereço). Obrigado. Nunca duvidei que havia boas pessoas em Alpiarça – mesmo as que não gostam de mim, está claro. (Tal como noutras povoações, há de tudo.) Agora é preciso criar sinergias felizes. Temos um longo caminho a percorrer (começando pela introspectiva reavaliação dos nossos valores e objectivos primordiais) e é uma demanda árdua, mas não existe outra maneira de construirmos um futuro melhor.
Como é óbvio, eu não tenho superpoderes nem a disponibilidade necessária para resolver as principais agressões ambientais em Alpiarça. Contribuo com o que posso, mas necessito de mais cooperação. Ademais, eu estou apenas de passagem, pois tenho plena consciência de que nunca vou encontrar em Alpiarça um trabalho que se coadune com as minhas capacidades e para aquilo que eu me tenho vindo a preparar há umas duas décadas (e não estou a falar de honorários). Passo a vida a correr atrás de biscates por esse país fora (e, não raras vezes, também no estrangeiro), que, para além de ser cansativo e frustrante, me impede de ter uma estabilidade financeira que os meus cabelos brancos já me começam a pedir (embora jamais trocaria o sabor da aventura selvagem pela escravidão assalariada). Para acicatar o desânimo, acresce que sinto imensa falta de voltar a viver nas montanhas, junto de bosques frondosos, onde a água e o ar são abundantes e de qualidade. Esses são os únicos sítios que me proporcionaram alguma felicidade.
Ao contrário do que disse (amavelmente) um(a) leitor(a) deste blog, o meu regresso (temporário) a Alpiarça não se tratou de uma 2ª oportunidade (sic), mas sim a falta de oportunidades viáveis para viver em sítios onde me sinto melhor e onde posso fazer um trabalho que me realize minimamente. Enquanto existir o Paul dos Patudos, esteja onde estiver, podem contar com o meu empenho para que aquele tesouro natural seja preservado e disponível ao usufruto (numa perspectiva de desenvolvimento sustentável) de toda a população. Como educador ambiental, a minha função é passar-vos esse testemunho, a fim de que continuem, cada vez mais, uns guardiães reivindicativos desse património natural.

Quanto ao senhor que expôs corajosamente o seu caso vítima de injustiças e de abusos de poder (lá vai uma redundância discreta…) por parte do executivo camarário, só lhe posso oferecer a minha solidariedade e este espaço virtual para se expressar. Lamento muito tantas sacanices, mas olhe que tanto ódio só lhe faz mal (a si, não ao Rosa do Céu nem aos outros que se julgam os donos do burgo). Enquanto você perdes noites de sono, envelhece precocemente, se calhar irrita-se com facilidade até com os entes queridos ou poderá mesmo arranjar uma úlcera nervosa, a confissão publicadas suas fantasias homicidas apenas deverá ser motivo de risota a quem o tramou. Tenha calma. (Dentro do possível…) E coragem a todos para continuarem a combater a prepotência e a sacanice. Como já aqui disse, parafraseando John Lennon «o sentido de humor e o pacifismo são as únicas formas que o sistema não sabe como lidar»
PB

Anónimo disse...

Caro Paulo:
Infelizmente vivemos numa sociedade onde apesar de parecer livre, a maioria prefere ver ouvir e calar.
Mas ainda aparecem uns parvos como nós que não se conformam com as sacanices e denunciam certas situações, uma vez ou duas, ainda fecham os olhos, à terceira fodem-nos a vida, depois numa autarquia que não passa de um reino, com uma única diferença de um verdadeiro é que nas câmaras os reis são eleitos, as coisas tornam-se piores.
O fiscalista Saldanha Sanches e o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa já o afirmaram e é a pura das realidades, um presidente de câmara tem poderes imensos, repare que para demitir um 1.º ministro basta um despacho do Presidente da República ou uma moção de censura aprovada por 51% dos deputados.
Demitir um presidente de câmara só através de tribunais, depois de aturadas investigações, inquéritos e processos, e no final ainda há os recursos para as relações e para os supremos, entretanto acaba o mandato recandidatam-se por outro partido, ou até noutro município, vejam-se os exemplos de Avelino Ferreira Torres, Fátima Felgueiras (esteve anos no Brasil a receber o vencimento, fugiu à polícia, voltou ng a prendeu e voltou a ser eleita), Valentim Loureiro e Isaltino de Morais.
Para um presidente ou um vereador que queira lixar um funcionário, as armas à sua disposição são imensas, desde o pô-lo a “arrumar papéis”, deixá-lo sem gabinete, dar-lhe tarefas que levam dias a fazer e pedi-las vezes sem conta a partir de passadas apenas umas horas, não lhe dar nada para fazer, atribuir-lhe um serviço que não se coaduna com o que é o seu cargo, para que o funcionário proteste, perca a cabeça e clame alto e bom som “que isto é pior que a pide” e a partir daí se desencadeie um processo disciplinar, onde o instrutor do processo é um funcionário bem controlado pelo presidente ou vereador e até o advogado que sugere a pena a aplicar é a jurista paga pela autarquia, daqui é fácil ver que só não despedem quem eles não querem.
Felizmente que os Tribunais Administrativos conhecem a realidade das autarquias e na maioria das vezes os funcionários ganham as causas.
Por mal dos meus pecados fui várias vezes Instrutor de Processos Disciplinares, sei bem como as coisas se fazem, mas no meu tempo e posso jurá-lo por tudo, nunca fui pressionado para aplicar esta ou aquela pena ou despedir ninguém, redigia o meu relatório de acusação e submetia-o ao consultor jurídico para apreciação, concordância ou discordância, nunca por uma única vez o consultor jurídico elaborou o relatório que era meu dever elaborar, quem se sujeita a isso não tem um pingo de dignidade.
Infelizmente falta de dignidade e falta de honestidade há muito dentro daquela autarquia e não falo do Executivo, muitas vezes os colegas e as invejas de posição criam códigos de silêncio e geram omissões.
Ás vezes gostava de ser um gajo violento, ter a cobardia selvagem de apanhar aí alguns gajos desprevenidos num beco escuro e dar-lhes com um pau nos cornos ou uns bons pontapés nas costelas e partir-lhes uns dentes com o tacão da bota.
Não quero, espero que o Diabo não me puxe para aí, esperemos pela morosidade da justiça e se houver Deus que me vá dando saúde e tino para fazer o meu trabalho.

xando disse...

Caro Ricardo Vaz,
Por causa do excessivo poder que os executivos camarários e os caciques locais, seus compinchas, já têm, é que eu sempre fui contra a regionalização. Na teoria, parece uma boa ideia descentralizar o poder, mas eu que conheço bem o Portugal profundo e que ando sempre no terreno, Garanto-lhe que, quanto mais longe os autarcas estão de Lisboa, mais abusos cometem. Apenes prevalece a mentalidade terceiro-mundista e as negociatas/clientelismo. Pelos exemplos sobejamente conhecidos (e que o Sr. muito bem apontou), parece que os portugueses gostam mesmo é de políticos corruptos,autoritários e, se possível, popularuchos. Se calhar temos esses políticos de merda e somos a piada da Europa porque o merecemos...
Agora o José Sócrates quer impôr-nos a regionalização da pior maneira e contra o que foi referendado em 98. Vai ser o descalabro total!