sexta-feira, julho 28, 2006

No decorrer das minhas actividades de educação ambiental ligadas a uma ONG, tive que elaborar o seguinte texto há cerca de 7 anos. Ainda não o actualizei, mas alguns dos avisos que então fazia, para desgraça de todos, acabaram por se cumprir… Além de que a situação (devido à pouição, ao aumento da temperatura global e aos consequentes incêndios) não fez mais do que se agravar exponencialmente.
Se conseguirem dominar estas informações sobre a floresta que tenho vindo a divulgar neste blog, ficam a saber mais sobre a nossa floresta do que a maioria dos engenheiros florestais formados em Portugal – aparentemente com o único objectivo de aprenderem a fazer as odiosas monoculturas que estão a dar cabo do país... A maioria deles nem sequer se molesta em aprender a distinguir as nossas árvores autóctones!…




História da desflorestação no Mediterrâneo
Depois das glaciações, Portugal foi coberto por “florestas mistas (Fagosilva) com árvores sempreverdes e caducifólias, transformando o país, praticamente, num imenso carvalhal, caducifólio a Norte do Tejo e perenifólio para Sul. « Por destruição dessas florestas, as nossas montanhas passaram a estar predominantemente cobertas por matos de giestas, por tojos, urzes (torgas) e carqueja. A partir do século passado, foram artificialmente rearborizadas com pinheiro-bravo (Pinus pinaster), o que as transformou num imenso pinhal. Com os incêndios e devido a outras acções negativas do homem, parte dessas montanhas e algumas zonas ribatejanas e alentejanas, estão já transformadas em imensos eucaliptais e acaciais , meio caminho andado para se tornarem em zonas desérticas, tal como já se podem observar nalgumas montanhas do Norte e Centro de Portugal.» - Jorge Paiva (1998)
«Os desbastes, o fogo e a pastorícia estão na origem da muito acentuada regressão dos carvalhais que presentemente se acham representados apenas por resíduos de área diminuta e floristicamente pobres. Também a introdução de espécies exóticas pelos Serviços Florestais contribuiu para a sua fraca representação actual» -Silva, A. Pinto & Teles, A. N.(1986)

As estimativas referentes à taxa de destruição varia consideravelmente de autor para autor. Por isso decido reportar-me aos números que reúnem um maior consenso entre a comunidade científica.
Se o ritmo da desflorestação voltar ao verificado entre 1984 e 1994 – quando demos por perdidas metade das florestas tropicais - não restará nenhuma esperança para a manutenção dos bosques.a FAO (Organização para a Alimentação e para a Agricultura),Recorrendo a análise de dados obtidos por satélite e por numerosos técnicos no terreno, calculou que só em 1990 foram destruídos 40 milhões de acres, o que equivale, de grosso modo, a um acre por segundo



Em cada minuto que passa é destruída uma área de floresta virgem equivalente a 37 campos de futebol. (É claro que se fossem realmente campos de futebol a maioria de nós não ficaria indiferente a esta tragédia...).Se incluirmos neste inventário tétrico áreas ocupadas por vegetação semi-natural (ou sejam, que sofreram modificações pela mão do homem, e isso inclui todas as zonas verdes europeias) o nível de destruição aumenta (diariamente) para 60 hectares por minuto, colocando em perigo de extinção uma em cada dezena de espécies superiores.
Tendo em consideração que um hectare de floresta tropical húmida contém mais biodiversidade (realmente inimaginável para as nossas latitudes) do que todas as florestas temperadas juntas! Por exemplo, num só hectare de selva amazónica foram encontradas400 espécies de árvores. Uma única árvore pode albergar 1200 espécies decoleópteros (escaravelhos). A maioria destes seres permanece desconhecida para a ciência. Nem 2% das espécies de árvores da referida selva estão minimamente estudadas pelo comunidade científica

Segundo a associação ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), 8753 espécies de árvores no mundo – dez por cento do total – estão à beira da extinção! Ao todo, são 25 mil as espécies de plantas que se calculam estarem na mesma situação fatídica!
Actualmente Portugal é o país da União Europeia que apresenta uma maior taxa de avanço do deserto (físico e humano), com 66% das suas terras consideradas de baixa qualidade.
«Houve um tempo em que ser um povo mediterrânico era quase uma garantia de ser um povo dominador, pois as terras eram extraordinariamente ricas e o clima ideal. Mas os homens do Mediterrâneo, explorando irracionalmente os seus não demasiadamente largos recursos, laboraram, ao destruir a natureza, a sua própria decadência.» (Enciclopédia “A Fauna”, 1978) Hoje quase nada resta do primevo dossel florestal nem da fertilidade mítica das suas terras.

O dramático processo de desflorestação é o resultado de uma intervenção sistemática e plurissecular do homem no meio ambiente, visando a dominação da natureza. «Mas a destruição dos ecossistemas florestais em tempos pré-históricos era lenta, e não devastadora, como é presentemente, com a moderna tecnologia. Assim, a floresta “recuperava”, embora, muitas vezes, com competição diferente, mesmo quando o homem utilizava o fogo como auxiliar na conquista das áreas desflorestadas. O incêndio, de origem espontânea ou não, ocorrido na Serra da Estrela há cerca de 4300 anos, destruiu, praticamente toda a sua vegetação. A floresta, no entanto, conquistou de novo a montanha com um povoamento dominado pelo vidoeiro (Betula alba L. var. alba), apesar de já nessa altura o homem exercer ali a pastorícia.» - Jorge Paiva (1996)

Resumidamente passaremos a referir os marcos mais importantes na história da desflorestação do nosso país, que ter-se-á iniciado no Neolítico (à cerca de 7500-8000, no Médio Oriente ou no subcontinente indiano, mas que chegou tardio a Portugal, uns 3000 anos depois) com o advento da agricultura (cereais trigo e cevada) a domesticação de animais (cabra e ovelha). E a fagosilva começou a sucumbir ao avanço inexorável do “progresso”...
A madeira era virtualmente o único combustível da antiguidade (e ainda o é actualmente para metade da população mundial) e um dos principais materiais de construção.
Para os romanos a península ibérica era uma fonte muito importante de madeiras, tendo este povo desflorestado a nossa península tanto quanto pode. Mais até do que a construção, era a fundição de metais que exigia enormes quantidades de madeira. Dentro do império romano, Só as florestas particularmente inacessíveis se salvaram . Para além da Península Ibérica, o Chipre e as Balcãs foram intensamente desflorestadas literalmente em nome do “vil metal”.
Em relação às sua províncias do Norte de África, no início da era Cristã, tinham-se tornado no celeiro de Roma, intensamente agricultadas com cereais, olivais, vinhas e pecuária.
Faustosas cidades floresceram nessas colónias mais meridionais do império romano, à conta de um lucrativo comércio de exportação. O fluxo de barcos para abastecimento alimentar de Roma era constante, pois esta demandava quase 500 mil toneladas anuais (150 mil das quais destinavam-se a alimentar o exército romano) de cereais.
Chegaram ao cúmulo de proibirem o plantio de árvores na África mediterrânica sob o seu domínio, para que não competissem com as extensas searas. E os solos, que antes se contavam entre os mais férteis do império, não tardaram a exaurir-se, nunca mais se recuperando, antes pelo contrário.
O Sahara, tal como o conhecemos hoje, tem pouco mais do que 2 mil anos. As últimas descobertas científicas, embora não ilibem a acção humana, falam de uma ligeira alteração na órbita terrestre, ocorrida há uns 5 mil anos, capaz de alterar drasticamente o clima naquela região africana. Acontece ciclicamente a cada 20 mil anos, e é actualmente considerado como o mais preponderante fenómeno natural na alternância entre a aridez mais extrema e a humidade vicejante no Sahara.


*-+ Curiosamente, o império romano floresceu (de 600 ªC. a 200 d.C.) numa época em que o clima foi especialmente quente, tendo o seu colapso correspondido a um dramático arrefecimento da Europa...

A Norte do Reno e do Danúbio ainda havia extensas áreas de florestas pristinas. E nos dois séculos após os romanos deixarem de dominar o mundo conhecido, até as florestas ibéricas puderam recuperar parte do seu esplendor original.
E mesmo vários século antes do império romano se ter consolidado, já os gregos contribuíram de sobremaneira para a desflorestação dos seus domínios. Platão, nos seus escritos de Critias, salienta que “o solo foi arrastado para o fundo do mar. as altas e terrosas montanhas, que no passado sustentavam viçosos bosques e grandes pastos, transformaram-se em terrenos rochosos e assemelham-se aos ossos de um corpo enfermo...No passado, a água da chuva era útil e não escorria impetuosamente sobre a terra estéril em direcção ao mar, como sucede agora. Infiltrava-se, ficava armazenada na terra e repartia-se entre as culturas agrícolas, as fontes e os rios.” Eis um lamento bastante lúcido e esclarecedor do processo erosivo.
O historiador grego Heródoto, cinco séculos antes de Cristo, tendo observado a acção dos seus patrícios no norte de África, concluindo que: “o homem atravessa a paisagem, e o deserto segue as suas pisadas.” (Aliás, a franja norte do deserto do Sahara, tal como o conhecemos hoje, tem apenas 2000 anos. Aí corriam grandes rios cheios de hipopótamos e de crocodilos. Mas há 80 mil anos este deserto ocupava uma área muito mais vasta do que a actual. E terá sido esse terrível período de seca que empurrou os nossos antepassados a sair de África)
Os árabes, mais conscientes dos problemas relacionados com a erosão (talvez por as suas origens estarem ligadas a paisagens áridas e considerarem a Península Ibérica como o seu paraíso terreno), souberam valorizar os solos e a vegetação que os sustentava, desenvolvendo um sistema agrícola baseado nos socalcos para os terrenos declivosos, assim como em sofisticados e eficientes sistemas de rega e de armazenamento de água. Tendo-se tornado grandes especialistas em irrigação e em práticas agrícolas pouco agressivas, os seguidores de Maomé, a partir do séc. VIII, tornaram a Península Ibérica um dos sítios mais aprazíveis para se viver em todo o mundo.
Tanto os cristãos como os muçulmanos acreditam numa vida melhor para além da realidade terrena e mundana que conhecemos. Mas, ao contrário dos cristãos, os seguidores de Maomé procuraram construir um paraíso na Terra (e não apenas para as elites), onde pudessem desenvolver o que julgavam ser as maiores qualidades humanas (com destaque para a música e para as ciências) em paz, harmonia social e na prosperidade económica baseada no domínio da agricultura, da indústria e no comércio internacional. Para um povo que tinha vindo do deserto engajado numa jihad de intolerância sanguinária, ambicionando conquistar um império de lamas para Alá, e, para si, uma vastidão de recursos naturais muito mais ricos do que aqueles que tinham na sua terra natal, a Península Ibérica, e em especial a Andaluzia, tornou-se o seu paraíso terreno que amavam e cuidavam profundamente. Ainda hoje os árabes se referem à Andaluzia como «o paraíso perdido». E é fácil de ver porquê: essa região continua conhecida como a possuidora da mais elevada biodiversidade da Europa, contando com uma espantosa variedade de biótopos/ecossistemas e com mais de 80 espaços protegidos para a conservação da natureza.
No final do século X, estabeleceu-se um califado em Córdoba, que, em muitos aspectos, foi o percursor do movimento renascentista que séculos mais tarde nasceria em Florença, Itália. No período áureo da Espanha Mourisca (que terminou no séc. XIV, verificando-se então uma acentuada decadência da cultura ibero-árabe, culminando na perseguição, exploração e, finalmente, expulsão dos árabes no séc. XVII), conseguiram recuperar o melhor da cultura clássica grega, romana e persa. Os mais brilhantes engenheiros, agricultores, arquitectos, matemáticos, astrónomos e músicos árabes fizeram obras maravilhosas no Sul de Espanha – onde nas suas cidades cosmopolitas se verificava uma inusitada coexistência pacífica e produtiva de diversas “raças”, credos e culturas foi a base para tal prosperidade. (De forma quase ignominiosa, o nosso meio académico tem desprezad a preponderante contribuição que os conhecimentos árabes tiveram no desenvolvimento das artes de marinhagem portuguesas aquando da Época dos descobrimentos.)
No mesmo ano em que Colombo “descobre” a América, a sua soberana, Isabel de Castela, conquistou o último bastião muçulmano em solo ibérico - a belíssima cidade de Alhambra. Isabel era uma monarca cuja força e determinação só eram comparáveis ao seu fervor religioso. Para ela, a luta contra os “mouros” era tanto uma cruzada de cariz religioso , como um degrau essencial na sua estratégia de unificar todo o país, de modo a que o seu poder não fosse questionado por todos os senhores da guerra (católicos) que dominavam os vários reinos que constituíam o que actualmente conhecemos como a Espanha.
Em Alhambra defrontou um monarca muçulmano demasiado frouxo e sem habilidades guerreiras suficientes para estar à altura tarefa (com um enorme peso histórico) que a sua comunidade dele exigia, tendo capitulado e negociado a sua rendição (o que provocou a irada indignação até da sua mãe que o chamou de traidor efeminado...), após enfrentar um cerco do exército católico. Ao entregar o derradeiro reino muçulmano aos seus inimigos, terá concluído ser essa «a vontade de Alá» (sic) (palavras que continuam a provocar azia aos poucos jihadistas que conhecem este episódio e que o sonegam nas suas doutrinações terroristas).
Mas a rainha Isabel acabou rendida aos encantos de Alhambra – cidade onde quis ser enterrada -, deixando quase intacto (para além da adição inevitável aos edifícios de símbolos cristãos) o seu rico legado árabe (chegou a assinar um documento em que exigia que os seus descendentes fizessem o mesmo). De forma inédita na conturbada história destas culturas, na referida cidade, cristãos e muçulmanos concordaram em formar um governo misto que assegurasse uma transição pacífica e profícua das respectivas administrações, zelando pelas necessidades de ambas as comunidades – que durante umas décadas conseguiram coexistir exemplarmente (mesmo tratando-se de uma situação de conquistadores e de subjugados).
Aproveitando um período de paz que se instalou em todo o seu reino, Isabel e o seu marido, Fernando, souberam deixar que os castelhanos usufruíssem das vantagens que advinham do contacto com uma cultura em tudo superior à sua. Os judeus também faziam parte dessa diversidade cultural. Tal como tinha acontecido quando os romanos conquistaram os gregos, também na Andaluzia os árabes foram importantíssimos na educação dos seus novos amos.
Esta original coexistência foi destruída no reinado de Carlos V (sobrinho neto de Isabel). Apesar de Ter sido criado na Flandres, Carlos V fora educado por sábios muçulmanos que certamente amiúde lhe falavam das maravilhas andaluzas. Mal chegou ao poder, fez de Granada (que se encontra geminada com Alhambra) a capital do seu reino. Carlos V parece que pretendia seguir as directrizes da sua tia-avó no que respeita à política de tolerância, mas, com a Inquisição à perna, exigiu que os muçulmanos andaluzes se convertessem ao cristianismo. Estes resistiram e, em retaliação, foram expulsos de volta para África. A obtusidade fanática e violenta dos cristãos fez com que cultura ibérica regredisse vários séculos, estagnando numa idade de trevas.

Agora que o mundo muçulmano não está a atravessara sua melhor fase, muitos líderes religiosos jihadistas acreditam que a sua cultura
perdeu o império que possuia nos séculos XV e XVI porque « se desviaram do bom caminho traçado pelo profeta Maomé.»
O ataque de Madrid perpetrado pela al-Qaeda (a 11 de Março de 2004) não se deveu apenas ao facto de o governo de Áznar Ter apoiado a invasão do Iraque e para lá Ter enviado tropas. Os jihadistas ainda nutrem o velho ressentimento de terem perdido o saudoso al-Andaluz.







Segundo José Vieira (1991), numa era mais recente, antes do início da nossa nacionalidade (séc. XII), a consequente sucessão de invasões e guerras que se geraram desde os Celtas (séc. VI a.C.), os Romanos (séc. III a.C.), os povos bárbaros – Alanos, Suevos, Vândalos e Visigodos – (séc. V) e os Árabes (séc. VIII) marcaram profundamente a regressão do coberto vegetal. O Reino de Portugal deu continuidade, de forma exacerbada, a esta “tradição” de violência e destruição, sendo frequentes as lutas de reconquista do território aos árabes pelos cristãos, e contra os espanhóis.
«O Reino de Portugal não foi em sua guerreira infância senão um vasto campo de batalha onde, por entre incêndios e ruínas, as famílias vagueavam buscando o amparo dos muros fortificados, e só à medida que as fronteiras árabes recuavam e se encurtavam, e os distritos começavam a respirar, é que nas brenhas , couto dos ursos e javalis, nos ermos onde preavam os lobos e nos serros visitados das águias, a civilização, ainda rude e tímida, tenteava os primeiros passos, rompendo a rudeza alpestre.» - Rebelo da Silva (1868)

Uma carta régia do séc. XV dá-nos conta da tentativa de implementação de medidas proteccionistas por forma a refrear a desflorestação em Portugal. Este documento foi secundado pela Lei das Árvores (1565) destinada a rearborizar os baldios e as propriedades privadas. Apesar de as fagáceas********* estarem teoricamente contempladas, os pinheiros, pela sua rusticidade, foram as árvores eleitas nesta intervenção. O modelo e a política foram continuados e acentuados pelo Estado Novo. Assim, sob mando de Salazar, as serrar do centro e norte do país converteram-se na maior mancha de pinhal contínuo da Europa.

Fagáceas
Os carvalhos (incluindo os sobreiros e as azinheiras), os castanheiro e as faias(estas últimas não ocorrem naturalmente em Portugal, mas em Espanha)pertencem à família das fagáceas, que se distribui por uma vasta área doglobo terrestre, sobretudo nas regiões temperadas. Vários botânicos defendem que a nossa floresta deveria ser denominada fagosilva (por coerência com a primitiva laurisilva).
Existem mais de 600espécies da plantas lenhosas, na sua maioria de porte arbóreo, pertencentes a esta família que se divide em 8 géneros.Cada uma destas plantas apresenta flores pouco conspícuas de ambos os sexos. Os seus frutos (bolotas, castanhas,...) são secos, contendo apenas uma sementecada.São todas anemófilas, ou seja, o transporte dos seus pólens é garantido pelovento. Devido a este facto, crê-se que sejam plantas muito primitivas, uma vez que, tendo conquistado a terra, tiveram que desenvolver associaçõesreprodutivas com ajuda do vento, pois ainda não havia suficientes espécies de insectos polinizadores.
Mas a maioria das plantas lenhosas, bem como muitas das espécies lenhosas, bem como muitas das espécies herbáceas, dos ecossistemas ibéricos dependem dos serviços de polinização protagonizados pelos insectos. Estas são designadas plantas entomófilas. Nenhum exemplo é mais esclarecedor que o caso das abelhas – que são o grupo de insectos que mais desenvolveu estreitos laços correlativos com as plantas. Pois bem, a abelha “domesticada”, que produz o mel que consumimos e comercializamos, está longe de ser a única espécie de abelha que faz vibrar com zunidos os nossos campos; na Península Ibérica existem umas 1100 espécies de abelhas! Nenhuma outra região europeia se nos pode comparar neste aspecto. À escala mundial só perdemos para a Califórnia (que conta com cerca de 2000 espécies) e para o continente australiano (com umas 1600 espécies inventariadas).

Na viragem do primeiro milénio, por toda a Europa, a Igreja católica empenhou-se em domar a natureza silvestre, custeando o arrotear maciço e sistemático das florestas, conquistadas para terreno agrícola e para a edificação de novas urbes. (As zonas húmidas foram outro dos alvos prioritários que o Clero condenou à erradicação.)
No séc. XII começou a construção generalizada de grandes catedrais que, inevitavelmente, consumiram imensas árvores.
Dois séculos depois, com a “peste negra” a dizimar entre um terço a metade da população (humana) europeia, as criaturas selvagens puderam respirar de alívio e recuperar efectivos e territórios.

Outro marco de importância capital foi a Época das Conquistas, dos Descobrimentos, manutenção do império colonial e consequente expansão da indústria da construção naval. Foram construídas centenas de naus, principalmente nos séculos XV e XVI, com recurso predominante às madeiras denominadas “nobres” (carvalhos, azinheiras, sobreiros pinheiros-mansos e castanheiros). A construção de uma nau implicava, em média, o abate de 3000 árvores! Só na conquista de Ceuta foram envolvidas 200-300 embarcações, no comércio com a Índia 700 e com o Brasil 500...Ao todo abateram-se mais de 5 milhões de carvalhos. (No século XVI a Espanha possuía uma frota marítima equivalente a 300.000 toneladas de madeira, para tal foram necessárias 6 milhões de árvores de grande qualidade, o que representou o desaparecimento de 120.000 hectares dos melhores bosques. Essas embarcações duravam em média apenas 25 anos)
O estrépito de 5 milhões de carvalhos a serem abatidos deve ter soado como se se quebrassem os ossos de Portugal, e marcou um ponto de não retorno para os nossos ecossistemas florestais. Um dos seus principais símbolos era o urso pardo que foi extinto nessa época. (O sítio mais próximo onde reside uma população residual é nos bosques da Cordilheira Cantábrica.)

Abertura à exploração dos populares das tapadas e coutadas, por D. Manuel I (1498);
A expansão das culturas do cereal, da vinha, da batata e do milho (estas últimas, pela elevada necessidade de água, tiveram um papel predominante na destruição das galerias ripícolas);
A sobrepastorícia (muito acentuada após a expulsão dos Mouros da Península Ibérica, nos finais do século XV);
A construção de grandes edifícios religiosos;
O terramoto de 1755 (e consequente tsunami) que destruiu parcialmente Lisboa e outras localidades próximas, tendo exigido um consumo brutal de madeiras na sua reconstrução;
As invasões francesas no início do século XIX;
O processo de desamortizações - integração dos bens de raiz da Igreja nos Bens Nacionais, com alienação posterior para os privados, iniciados com a revolução liberal de 1820 e completadas mais tarde pele legislação republicana após 1910 – que transferiu muitas áreas da Igreja para as mãos de proprietários rurais que as converteram às culturas da vinha, do milho e do centeio. Processo com efeitos idênticos foi a privatização dos baldios(entre os finais do século XVII e do século XIX).
A construção do caminho de ferro iniciada no reinado de D. Pedro V, em 1856;
As duas grandes Guerras Mundiais (1914-18 e 1939-45);
As tristemente célebres campanhas cerealíferas iniciadas na década de trinta do século XX;
O ciclone de Fevereiro de 1941;
As plantações massivas de monoculturas de pinheiro-bravo e de eucalipto;
No século XIX deu-se o aparecimento da silvicultura industrial, com rígidos povoamentos monoespecíficos, ordenados, alinhados; com recurso a espécies de crescimento rápido, de fuste aprumado; assépticos e paupérrimos em biodiversidade; com espécies geneticamente desenhadas; aplanamentos e outras mobilizações de terras por meios mecânicos demasiado agressivos; fertilizantes e biocidas de síntese química, etc.., o que provocou uma situação de colapso ecológico agudo.
As pragas florestais (ex.: doença da tinta e cancro nos castanheiros, o míldio das azinheiras e a grafiose dos ulmeiros);
O flagelo dos incêndios (grande parte devido a negligência ou mesmo de origem criminosa) que pontuam o período estival com demasiada incidência sobretudo a partir de 1975.
A construção de várias barragens, com destaque para a do Alqueva (o maior lago artificial da Europa), que implicou o abate de 1 milhão e 300 mil árvores (incluindo 544 mil azinheiras e 34 mil sobreiros, árvores supostamente “protegidas” por lei).
Menos de 2% das florestas europeias encontram-se no seu estado original (de climax ecológico).
O número de áreas protegidas em toda a Europa são insuficientes para cumprir os objectivos das principais associações de conservação da natureza de proteger até ao ano 2005 pelo menos 10% de todos os tipos de bosques mediterrânicos.
Um estudo recente publicado pela Comissão Europeia declara que a saúde das florestas europeias continua a deteriorar-se de forma alarmante em consequência da poluição atmosférica, especialmente a procedente do tráfego rodoviário. 35% das árvores estudadas foram classificadas como “saudáveis”, 40% apresentaram debilidades fitossanitárias não demasiado graves e 25% foram consideradas “danificadas”.
Investigadores calcularam que as áreas tropicais à taxa anual de extinção ronda as 17500 espécies. Ou seja, cerca de 48 espécies extintas por dia ou duas por hora.
Recentemente o Reino Unido tornou-se no primeiro país do mundo que gere e certifica todos os bosques estatais (estimados nuns 800 mil hectares) segundo os princípios da exploração sustentável (FSC – Forest Stewardship Council).
Está em decurso a inventariação de todo o património botânico da Península Ibérica, com edição espanhola, mas em que participa o grande investigador do Instituto Botânico de Coimbra, Dr. Jorge Paiva. Como é óbvio, a obra estende-se por vários tomos e a sua conclusão poderá acontecer só daqui a duas décadas.
«A Flora Vascular está razoavelmente conhecida, sabendo-se que temos cerca de 3000 espécies, das quais 500 são introduzidas, sendo algumas infestantes (acácias, por exemplo) e estando a competir com as autóctones e a alterar ecossistemas nativos; a flora briológica está razoavelmente inventariada; os líquenes e fungos, assim como grande parte das algas, estão incompletamente recenseadas. Atribuem-se 7000 espécies de plantas para Portugal, mas é uma estimativa não garantida, pois, como vimos, há grupos mal inventariados.»
«Só nas plantas vasculares estão, provavelmente, já extintas 19 espécies, estando cerca de 120 em risco de extinção.» - Jorge Paiva (1996)
Os bosques que em todo o mundo "gozam" dalgum estatuto de protecção legal não chegam a 6% da área florestal cartografada.

«A chamada “floresta” não pode existir em Portugal desintegrada da agricultura, e deve fazer parte da estrutura ecológica da paisagem. Desta estrutura depende a permanência da fertilidade dos espaços cultivados, o equilíbrio biológico e o teor em matéria orgânica do solo vivo. A instalação e fixação das populações no território, em condições de dignidade, também depende, em muito, do quadro natural acima exposto.»
“(…) Os benefícios resultantes da presença das matas, montados, soutos e até dos pinhais, depende da sua integração nos agrossistemas e da sua influência nos aglomerados urbanos e em todas as restantes actividades que se exercem no território.” – Gonçalo Ribeiro Telles.
A área total de montado de sobro no nosso país aumentou consideravelmente: de 600 mil hectares em 1998 para os mais de 700 mil ha actuais. Segundo dados da Direcção-geral das Florestas (DGF) , entre 1994 e 2002 não só foramrearborizados (com sobreiros) 90 mil há, como também procederam-se amelhorias (essencialmente adensamentos) noutros 72 mil há de montado.

Os apoios comunitários de que Portugal tem beneficiado nas últimas (quase) duas décadas tiveram um papel preponderante na composição e dinâmica da área agro-florestal, nomeadamente assistimos a um aumento da silvicultura – que nem sempre se traduziu no grande disparate da eucaliptização maciça. O melhoramento dos montados e as rearborizações “de raiz” (efectuadas em solos anteriormente usados para fins agrícolas mas com fraca aptidão para tal, como foi contemplado no programa 2080/92) foram sem dúvida mais valias ecológicas e económicas.
Para continuarmos a incrementar a nossa área floresta teremos que resolver o problema do incipiente associativismo, dos proprietários absentistas (devido ao forte êxodo rural) e das pequenas dimensões das propriedades. A ausência de tradição nestas actividades é outro entrave que deveria merecer mais atenção por parte dos técnicos (ex: Os executores dos projectos, nomeadamente os empreiteiros florestais e os proprietários florestais, demonstram demasiadas vezes ignorância, oportunismo mercantilista que visa sempre o lucro imediato, e até falta de brio.)
Para além dos supracitados entraves à eficaz rearborização, constatamos, consternados, que, os repovoamentos florestais quase sempre se fazem com recurso a exageradas mobilizações de solo, o que tem por consequência a erosão e compactação do mesmo; e o que é pior, costuma destruir a regeneração natural (que deveria merecer maior atenção e apoio por parte de quem zela pelo sucesso do programa 2080/92) de árvores autóctones muito rústicas, como é o caso do carvalho-negral .

Os projectos de rearborização visando uma “floresta” com carácter de protecção e valorização ambiental (com destaque para as folhosas) contemplados pelo Programa 2080/92 (que, de certa forma, são a extensão de alguns objectivos das Medidas Agro-Ambientais) continuam a ser considerados pouco compensatórios pelos proprietários florestais;
Inicialmente o “Programa de Erradicação do Castanheiro” teve pouco sucesso porque os proprietários das árvores afectadas por essa doença sentiam que as compensações pecuniárias eram demasiado exíguas para justificarem o abate das árvores que ainda produziam castanhas. Por outro lado, os viveiristas não têm assegurado a idoneidade fitossanitária das plântulas que vendem, sendo que muitas delas já vêm contaminadas de origem, o que, no caso dos castanheiros, contribuiu para o alastramento de doenças devastadoras. Outras vezes, as plantas provenientes de viveiros estrangeiros (ex.: França) não vingam porque os seus códigos genéticos se pontuam por condições edafo-climáticas demasiado diversas das nossas.
O programa comunitário 2080/92 foi regulamentado para Portugal pela D.G.F., cujos técnicos se basearam na carta ecológica de Pina Manique e Albuquerque (1954). Infelizmente esse documento negligencia o tipo e actual estado dos solos de cada região.
Dentro destes parâmetros, os candidatos têm elegido as espécies de crescimento mais rápido (como seja o pinheiro-bravo) e/ou as que detêm o maior prémio pecuniário (como é o caso dos castanheiros), cujos povoamentos foram amiúde implantados em solos pouco aptos para o seu correcto desenvolvimento.



Como a D.G.F. demonstra uma falta de capacidade técnica para acompanhar os projectos desde o início, tem tentado apostar em campanhas de sensibilização que, a par do evidente insucesso de muitos projectos de particulares levados a cabo sem auxílio deste organismo estatal, têm cumprido os seus objectivos, uma vez que agora são os particulares por iniciativa própria que procuram o auxílio dos seus técnicos.
É uma pena (algo vergonhosa) que a D.G.F. não possua viveiros de espécies autóctones que possa fornecer em número suficiente para o Programa 2080/92 e para campanhas de sensibilização ambiental, nomeadamente junto de estabelecimentos de ensino por todo o país.
O Estado demarcou-se das suas competências, tendo-as transferido para os privados, porque a maior parte das áreas florestais pertence aos privados (87%); a estes últimos a D.G.F. apoiará iniciativas, tais como a criação de viveiros florestais. Só que este é um mercado muito instável e existe uma grave descoordenação entre quem produz e quem compra, o que resulta em frequentes e avultados prejuízos. Pior ainda é a falta de orientação e proteccionismo que a D.G.F. deveria assegurar aos proprietários florestais, pois a cada negociação dos Programas Comunitários os projectos param.
É também de lamentar que os P.D.M.s (Planos Directores Municipais) tenham uma vocação demasiado urbanista, não contemplando Planos de Ordenamento Florestal. Assim, a floresta que rodeia

espaço urbano, em vez de ser valorizada e até ser incorporada a este, sucumbe sempre à expansão urbanística. Mesmo dentro do perímetro urbano as zonas verdes poderiam ser a extensão dos corredores ecológicos previstos pela REN (Reserva Ecológica Nacional), com óbvios benefícios tanto para a fauna e flora selvagens, como para a qualidade de vida dos cidadãos. O Programa “`PÓLIS” (requalificação urbana e ambiental) poderá e deverá ter uma intervenção decisiva neste aspecto.
Esperemos que a Lei de Bases da Política Florestal tenha em breve consequências práticas significativas. Não faltam estratégias e programas (mais ou menos consistentes e bem intencionadas) para valorizar a nossa floresta. É necessário articular o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa com o Plano Nacional de Combate à Desertificação, com a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade. Também dever-se-á ter em conta os compromissos estabelecidos em Quioto relativos à Estratégia de Combate às Alterações Climáticas;
O ordenamento e gestão florestal deveria igualmente Ter um cuidado especial com as intervenções previstas para as áreas propostas para integrar a Rede Natura 2000
Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF)
O Ministério do Ambiente ( através do seu documento “Estratégia Nacional para a conservação da Natureza”, 1999) realça a necessidade de se “ reduzir as ameaças à conservação dos bosques primitivos, nomeadamente através do desenvolvimento de técnicas O de exploração sustentável dos recursos; da integração dos bosques primitivos na classe de espaço ‘ Florestas de Protecção’ dos PDMs; da certificação de madeiras, lenhas e carvões provenientes da gestão sustentada dos bosques; da contratualização da gestão e/ou classificação dos bosques primitivos mais importantes; (...) recuperação e promoção dos bosques degradados, nomeadamente assumindo, através dos instrumentos de planeamento, a prioridade destas acções relativamente às arborizações de novas áreas”
É necessário apostar forte na análise e formação técnica, contemplado no Plano de Desenvolvimento Regional.
Assim, verifica-se que:
- aumento do sobreiro e outros carvalhos, por beneficiarem de medidas de apoio no âmbito da reforma da PAC – reg.2080/92 relativo à arborização de terras agrícolas (mas de fraca apetência para esse fim;
- diminuição da azinheira e das folhosas em geral, que passaram a ser encaradas sobretudo do ponto de vista ambiental e paisagístico;
- regressão do castanheiro (-18%), devido às doenças (tinta e cancro, que os têm dizimado implacavelmente), bem como do pinheiro-bravo, devido aos incêndios e à sobreexploração ;
aumento do eucalipto (+ 80%), que continua em franca expansão por todo o país, muitas vezes implantado à margem da lei!
“Enquanto os restantes países europeus tentam preservar e mesmo aumentar a sua floresta de espécies indígenas devido aos benefícios sociais e ambientais que daí advêm, Portugal mantém neste domínio uma postura perfeitamente ‘terceiro-mundista’, deixando degradar e descaracterizar os seus recursos florestais, o seu espaço rural e as suas paisagens, em nome da ‘livre iniciativa’ e do ‘enriquecimento a qualquer preço’ ”(Joaquim Sande Silva, 2000)
O 3º Quadro Comunitário de Apoio deverá Ter uma importância capital para a floresta portuguesa. É necessário melhorar os subsídios comunitários de apoio à rearborização com espécies autóctones de crescimento lento, até porque existem fortes lóbis por parte da indústria de celulose que visam o aumento do financiamento para a arborização com eucaliptos* – mesmo que tal contrarie os objectivos do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa.

*Segundo o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa (PDSFP) a área ocupada por eucaliptos em Portugal é de 700 mil hectares, mas os ambientalistas contestam esses números e dizem que, na realidade, são cerca de 1 milhão de hectares. Com todos os –imensos! - problemas sociais e ecológicos que as monoculturas de eucaliptos acarretam para o nosso país, é ultrajante que o III Quadro Comunitário de Apoio continue a financiar – a 30% - a implementação de eucaliptais!

sábado, julho 22, 2006

As minhas desventuras com o anterior executivo camarário

Reitero o meu desprezo pelos partidos políticos e por todos os oportunistas obcecados por poder que enxameiam essas desacreditadas instituições. Não obstante, ainda mantenho alguma admiração e respeito por algumas (raras) pessoas idealistas que conservam a fé nessas fantochadas e se empenham em exercícios de cidadania (mesmo que, na minha opinião, muito mal orientados).
Por forma a evitar agastar-me, já desisti de falar com mentes tacanhas que só conseguem ver a sociedade compartimentada em cores político-partidárias, como se não pudesse haver vida social e política a sério para além dos jogos de poder Orwellianos, numa hierarquia vertical que tem transformado as relações humanas essencialmente em acordos comerciais injustos. Entre essas pessoas pouco argutas (para usar um adjectivo impecavelmente polido…), há alpiarcenses que concluem que eu «só posso ser comunista» (sic). A Srª vereadora, como brilhante advogada que é (lá estou eu com as bocas foleiras…), concluiu que essa alegada filiação ou simpatia partidária é a única razão porque eu não ataquei (mesmo que retrospectivamente) o anterior executivo camarário. Pois bem, a resposta correcta e simples é que nessa época eu não estava em Alpiarça, ou era um garoto recém-chegado (e muito mal recebido) que não via a hora de desaparecer daqui.
Tenho pouco interesse em purgas as minhas mágoas e não me fica nada bem o papel de vítima inocente, mas provavelmente convém contextualizar essa realidade social que eu vivi na segunda metade dos anos 80, quando os meus pais me trouxeram para Alpiarça. Pode parecer incrível à “luz” da realidade actual, mas apenas por ser um forasteiro, adolescente de cabelos compridos e desgrenhados, brinco na orelha (mais tarde seguiram-se-lhe uns piercings no nariz…) e calças rotas, ao passar na rua, na minha rotina do liceu (primeiramente o de Santarém e depois o de Almeirim, povoações onde vivi anteriormente) para casa e vice-versa, era comum as donas de casa e os reformados que estivessem em via pública a falar da vida alheia, de forma perfeitamente gratuita e agressiva, chamavam-me «paneleiro» e «drogado» ! (logo eu que sempre tive excesso de testosterona e aversão a todo o tipo de drogas); «vejam a merda que para aqui veio», «deviam cortar o pescoço a esses pulhas!» e «vai p’rà tua terra!»… Era o prato do dia. Até o pessoal da minha idade evitava-me como se eu tivesse lepra (e até espalharam o boato que eu tinha SIDA, o que naqueles dias ia dar ao mesmo…). Quando estava à boleia, ou andava de bicicleta, os automobilistas alpiarcenses (sobretudo os que estavam visivelmente embriagados) chegaram a cuspir-me para cima e a atirar-me latas e garrafas de cerveja vazias…
Talvez estas atitudes lamentáveis se devessem ao facto de, para além da minha aparência algo “exótica” e da minha timidez quase autista, os meus interesses em nada passavam pelo futebol, pelos carros, pelas touradas, pelo serviço militar, pela caça, pelas brigas de rua, pelas competições de consumo excessivo de álcool, e outras actividades consideradas “viris” e “patrióticas”.
Por sorte, eu tampouco estava interessado em socializar com imbecis. Tinha amigos em Almeirim e era lá que eu passava a maior parte do tempo, embora continuasse à procura da minha “tribo”, pois nenhum dos meus amigos de então tinha o mínimo interesse pela ecologia. (Nunca se questionaram a razão de nesta região as ONG ambientalistas não terem qualquer representação e tradição?...)
Ironicamente, ou nem por isso, o ar de rebelde ensimesmado e algo intelectualizado (devia de ser dos óculos à John Lennon, pois eu de marrão não tinha nada…); as feições andróginas; o facto de que nada sabiam sobre o meu passado e de ninguém me ver em bares e discotecas (a minha aversão pelo barulho, pelo fumo do tabaco e pelas conversas parvas não fez mais do que fermentar desde então…), de alguma forma estimulava a humedecida gula de muitas garotas que se entretinham a fantasiar caprichos com o sabor a fruto proibido.*
Previsivelmente, isso enfurecia ainda mais os galifões locais que se julgavam donos de haréns, ou, pelo menos, policias sexuais de fêmeas que tinham que ser mantidas sob rédea curta… **
Não tinham razão para se preocuparem, pois eu preferia a companhia de bons livros e da bicharada, além de que sempre fiz questão de ter as minhas aventuras romântico-eróticas bem longe de Alpiarça e do círculo de conhecimentos dos meus familiares. O pior que esses tipos me poderiam fazer em nada se comparava com os problemas que eu tinha em casa…

*A maioria dos autores que se têm debruçado sobre este tema corroboram a minha experiência pessoal quanto ao facto de que as mulheres, devido aos instintos e às responsabilidades maternais, tendem a preferir “machos alfa” (que, na nossa sociedade, são os que podem garantir segurança monetária) para relações minimamente duradouras, mas tendem a apaixonar-se (o que não implica um projecto de futuro, apenas uma inigualável e quase acrítica intensidade de sentimentos romântico-eróticos ) pelos mais “selvagens”, capazes de quebrar a rotina de forma excitante. A ironia é que, mal cravam as unhas nestes últimos, começam logo a tentar domesticá-los (na esperança de os transformar em “machos alfa”, a fim de terem o “pacote” completo?)…
Visto à distância e com alguma frieza analítica que a maturidade permite, estes comportamentos têm piada, mas não são substancialmente mais interessantes do que observar os comportamentos sexuais de outros animais.

** Essa mentalidade de macho latino no seu pior é actualmente um pálido e anacrónico reflexo desses dias. Para o bem e para o mal, por todo o país as identidades regionais entre os jovens têm-se diluído, convergindo para um padrão comportamental uniformizado que imitam dos ídolos produzidos pela TV.


O acumular destas más experiências desgastou a vontade e a paciência de procurar as pessoas certas em Alpiarça. O bom senso de prescindir de julgar o todo pela parte, levou a que hoje tenha boas relações com quantiosas pessoas por cá, mas não esqueço o quão difíceis foram aqueles primeiros tempos entre vocês...
Em breve percebi que pouco ou nada adiantava cumprimentar as pessoas na rua e ajudar as velhinhas a carregar os sacos das compras e outras boas acções deste género que eu sempre gostei de fazer espontaneamente. O troco era quase sempre desconfiança, o fel e a maledicência, não a simpatia educada e o respeito que eu merecia, independentemente da minha aparência. Alpiarça era então um meio muito fechado que sufocava nos seus preconceitos xenófobos. Eu questionava-me como é que esta gente poderia estar à altura da fama de valentia insubmissa que tinham granjeado durante o domínio fascista, bem como dos ideais comunistas que a maioria dos eleitores dizia cultivar. Certamente que se eu me pavoneasse num BMW topo de gama e envergando fato e gravata, poderia ser o pior dos escroques que essas pessoas de língua viperina curvar-se-iam à minha passagem… Nesse aspecto, pensando bem, as coisas mudaram pouco.

Para um garoto inteligente e idealista, com paixão pela ecologia, pelas montanhas e pela cultura libertária, à procura de uma utopia telúrico-comunalista (que nada tem a ver com o comunismo e muito menos com partidos políticos!), é compreensível que me sentisse completamente deslocado no Ribatejo…

No segundo verão que por aqui passei, inscrevi-me no OTL com o intuito de ir trabalhar umas semanas para a reserva zoológica (actualmente, e por fortuna, funciona como um centro de actividades equestres, tendo como “estrela” o cavalo Sorraia). Foi outra enorme desilusão.
Aquilo era um projecto (concebido pelo “africanista” Eng.º Piscalho) que não tinha ponta por onde se lhe pegasse e não tardou muito a converter-se num embaraçoso elefante branco para a autarquia.
Já expus neste blog as razões porque considero este género de exploração faunística uma abominação contra natura e que apenas arruína os poucos esforços que têm sido feitos em Portugal na construção de uma ética ambiental correcta.
Desde que por cá começou a moda parva dos parques zoológicos, já vi muitas situações capazes de deixar qualquer ecologista com um ataque apopléctico, mas o que se passava em Alpiarça não lembraria ao diabo!...
Nenhum dos funcionários da maldita reserva tinha a menor qualificação para as exigências desse trabalho, sendo tudo resolvido à força bruta. Um grunho praticamente deficiente mental (que só vi durante uma das semanas em que lá trabalhei) que era guarda florestal e, estranhamente, fazia igualmente biscates para a autarquia (talvez porque era um projecto feito em parceria com a DGF). Esse tipo, quando lhe coube zelar pelos animais enquanto todos os outros funcionários afectos á reserva gozavam as férias, resolveu deixar morrer à sede e à fome a maioria dos animais silvestres engaiolados – apenas para mostrar aos seus superiores hierárquicos (da autarquia) que era um elemento imprescindível e que o seu trabalho tinha que ser mais valorizado! Quando andava em trabalhos de limpeza de matos nas encostas que dão para a barragem, chegava a fazer uso da pistola (que pertencia à DGF) para matar – apenas por divertimento e de forma completamente ilegal – os mamíferos silvestres (sobretudo os sacarrabos) que lá se acoitavam! E gabava-se destas atrocidades aos quatro ventos…
No curto período que por lá andei vi vários animais recém capturados morrer de tristeza, outros estavam apáticos numa depressão profunda, sem salvação dentro de jaulas sem as menores condições para eles. Os responsáveis e os funcionários pouco se ralavam com isso, pois era-lhes muito fácil colocar mais armadilhas…
O jardim zoológico de Lisboa viu neste projecto uma boa maneira de se livrar dos seus animais-refugo (os enfermos, os velhos e os que tinham especial mau feitio e não atraiam multidões). Logo apareceu um falcoeiro que se faz passar um grande protector das aves de rapina, mas que entre os ecologistas/ornitólogos é visto como um espoliador de ninhos e um negociante de aves “protegidas”, tendo feito da reserva em causa uma das suas sedes de operações sem que nenhuma autoridade oficial se molestasse em verificar a legalidade das suas actividades “ornitófilas”.
Como se isso fosse pouco, o “visionário” Eng.º Piscalho resolveu que para o seu projecto imbecil (mesmo que ele fosse motivado pelo que julgava serem as suas melhores intenções, como deve ter sido o caso) ´deveria vingar se capturassem umas lontras e colocá-las em jaulas para exibição pública. Pelo menos em relação a essa espécie teve em consideração (ou foi aconselhado nesse sentido) que havia leis que a protegiam (assim como as outras que capturavam para o mesmo fim, mas que os amigos da DGF faziam o favor de dar o aval…) e que seria melhor contactar com o ICN (Instituto de Conservação da Natureza). Desse órgão do Ministério do Ambiente, veio cá um técnico reunir-se com o Eng.º Piscalho, tendo-o não só desaconselhado de tentar tamanha parvoíce, como ainda (e talvez pela primeira vez no contexto autárquico) falou-lhe da riqueza do paul dos Patudos e que deveria, pois, redefinir e reorientar os seus projectos e energias “ambientalistas” na salvaguarda do paul. Foi um conselho que caiu em saco roto… (Sei disso porque sou amigo desse biólogo do ICN)
Farto dessa situação intolerável, apesar de a reserva estar guardada por dobermans treinados para atacar (que eram pertença do principal funcionário da reserva – um sujeito que até consegue ser simpático e voluntarioso, mas que, provavelmente por não ter conseguido seguir a carreira militar, tem o grande defeito de se afirmar através do poder das suas armas de fogo e da ferocidade dos animais- tanto doméstcos como selvagens – que tem em casa; das poses de Rambo marialva; de se dar com doutores e de se achar muito mais esperto do que realmente é, estando sempre a tentar fazer passar por estúpidos os que têm ideias diferentes das suas, sem mostrar que é capaz de ter ideias valiosas e originais …), decidi optar pelas tácticas solitárias de eco-sabotagem. Indo lá uma noite, consegui (com ajuda de um alicate de corte) libertar uns poucos animais silvestres – os que eu sabia estarem a passar mesmo muito mal. Não houve tempo para mais, com os cães no meu encalço… (Não era necessário contratarem os serviços de um brilhante detective para se deduzir que tinha feito a proeza… Logo no dia seguinte, o tal funcionário da reserva disse-me que, se eu a repetisse, dar-me-ia um tiro… Uuuu, que medo!....)




Ao finalizar o liceu, comecei a trabalhar numa quinta de produção biológica (a primeira em Alpiarça, cujo dono se converteu a essa pratica louvável graças aos meus conselhos) situada no Casalinho, pertença de um italiano. Este, aproveitando-se do meu espírito voluntariosos, chulou-me à força toda por mais de 2 anos (porque eu deixei, está claro). A principal vantagem dessa experiência foi que a quinta em causa confinava com o paul dos Patudos (numa área luxuriante que foi recentemente convertida em pastagem). Foi quando eu o descobri – num esplendor ecológico como já não acontecia há muitas décadas. Tornou-se no meu oásis, apesar dos muitos e graves problemas que conspiravam para dar cabo desse valioso tesouro natural.
Eu já tinha idade suficiente para reconhecer o seu valor ecológico, mas ainda estava longe de adquirir os conhecimentos técnico-científicos, a auto-confiança e os tintins rijos que me permitissem ter uma intervenção pública em conformidade com o que acreditava tendo como prioridade salvar o nosso paul, mesmo lutando sozinho contra todos os interesses estabelecidos. Mesmo assim, fiz alguns tímidos contactos com a autarquia nesse sentido. Foi o suficiente para perceber que ninguém tinha o menor interesse em sintonizar comigo. Tanto a lixeira municipal (sempre a arder…), como a pedreira, a caça desregrada, a suinicultura e a fábrica de paus do Casalinho, a vacaria de Vale da Lama, diariamente atropelavam um monte de leis com total impunidade e conivência da autarquia e de todas as “autoridades competentes” (ora aqui está uma contradição em termos).
Dirigindo-me pessoalmente a uma delegação do Ministério do Ambiente bem como à sede da Direcção Geral das Florestas, ambas sedeadas em Santarém, cheguei a denunciar estas situações inadmissíveis. Os técnicos/funcionários que me atenderam literalmente riram-se na minha cara, retorquindo que aqueles não eram assuntos que me dissessem respeito e que eles «tinham a situação sob controlo» (sic)…
Sem melhores resultados, tentei ainda falar com os donos da pedreira (que, entretanto destruiu grande parte do paul; incluindo o abate ilegal de imensos sobreiros, tendo inclusive vendido a madeira à vista de todos; e nem sequer foram obrigados a fazer a “recuperação paisagística” da área esventrada, como a Lei “obrigava” já então…). Pai e filho eram ambos intratáveis, assumidamente fascistas e, como não podia deixar de ser, ultra racistas-colonialistas. (O filho era um destacado membro dos mórmons, o que coincidia plenamente com a sua execrável ideologia política…) Está claro que tampouco quiseram ouvir o meu ponto de vista.
Interpelei directamente alguns caçadores locais (que disparavam para tudo o que se mexia - incluindo aves de rapina – durante todo o ano) numa perspectiva pedagógica e diplomática. Foi em vão. Valeu-me apenas um monte de ameaças de morte. Passei então a acções de sabotagem pacificas. Como resposta, fui alvejado de propósito um par de vezes (numa delas o chumbo chegou a provar o gosto da minha carne…).
Com isto tudo, não admira que, mesmo tendo sempre os bolsos vazios, arranjasse maneira de me afastar daqui, indo fazer trabalho voluntário para regiões com uma grande riqueza de vida silvestre.
Não tardou a surgir a oportunidade de ir estudar e trabalhar para Coimbra, onde finalmente comecei a ter uma vida que valesse a pena viver, sobretudo porque me tornei num membro muito activo da Quercus, conquistei a minha independência e deixei de ser um puto. Assim, envolvi-me intensamente na luta pela salvaguarda de uma região que representava um dos maiores valores do património natural português – O Tejo Internacional -, mas que estava completamente a saque. Naquele tempo ainda não tinha o estatuto de “área protegida”, o que viria acontecer por mérito da Quercus, apesar do constante boicote do governo de Cavaco Silva que ignorava até as deliberações de Bruxelas para fazer a vontade aos lóbis das celuloses e da banca (os barões de altas finanças exploravam herdades de caça turística de uma forma desastrosa para toda a vida selvagem) que não viam com bons olhos a criação de um parque num ermo onde sempre puderam cometer todo o tipo de atentados contra natura.
Acabei por ir viver para aquela zona, onde trabalhei com pessoas que partilhavam interesses e ideais semelhantes aos meus.
Ainda em Coimbra, corria o ano de 1993, resolvi organizar um campo de estudos para naturalistas (mesmo que se tratassem de leigos; para participarem bastava nutrir amor pela natureza e a vontade de aprender e de conviver em actividades de campo) no Paul dos Patudos. Era ponto assente que deveria envolver a autarquia de Alpiarça a fim de que o paul fosse dado a conhecer à população local (algo que até hoje ainda não aconteceu…) e também para que os políticos locais soubessem que até o pessoal da Quercus (quando esta associação estava no auge da sua popularidade) considerava o nosso paul importante para a conservação e para a educação ambiental no contexto nacional. (Infelizmente, isso estava longe de ser verdade, pois o único membro da direcção nacional da Quercus que, posteriormente, consegui cá trazer não mostrou qualquer interesse em mobilizar essa associação numa campanha de protecção ao paul, essencialmente porque tinam outras prioridades que já se viam à rasca para lidar com demasiados problemas e solicitações. Anos mais tarde, esse “grande líder” revelou-se uma fraude e, devido a uma birra pela sua autoridade despótica ter sido internamente questionada, bem como por puro oportunismo carreirista, acabou por lixar a referida ONG, bandear-se para o governo, onde conseguiu um grande tacho e reformulou as suas “convicções”…)

Ao executivo camarário (através de cartas formais) pedi um apoio mínimo, que se cingia à divulgação local da iniciativa e, eventualmente, a cedência de um autocarro para transporte apenas de participantes alpiarcenses (preferencialmente os estudantes). (A inscrição era gratuita e o alojamento dos que vieram de fora foi assegurado por mim com a ajuda de familiares, sem ninguém tivesse pago um chavo por isso.)
Enquanto esperava pela resposta, reuni-me um par de vezes com professores da escola secundária de Almeirim (onde tinha uma amiga professora), tendo recebido a “garantia” de que um par de turmas e os respectivos professores iriam aderir à iniciativa. (O que nunca chegou a acontecer, sem que eu alguma vez tivesse recebido quaisquer explicações e pedidos de desculpas por essa falta de respeito…)
Quando a Câmara Municipal de Alpiarça resolveu responder-me (volvidas várias semanas…), mandaram-me falar com um vereador “encarregado dos assuntos do ambiente” (ainda não haviam criado esse pelouro) – que nunca estava disponível!... Cheguei a vir de Coimbra de propósito para atender a reuniões marcadas pela autarquia, apenas para dar com os burros na água, pois o Sr. “político do ambiente” tinha mais do que fazer (?) como para cumprir os compromissos comigo.
Na semana anterior à data do início do campo de estudos, vim para Alpiarça com o intuito de ultimar todos os preparativos. No meio de um monte (ou melhor, monturo) de diligências oficiais, uma das secretárias da autarquia apiedou-se de mim e, por fim, confidenciou-me que, se eu tinha mesmo urgência em me reunir com o tipo do ambiente, deveria dirigir-me ao parque de campismo, onde o encontraria na esplanada (recém inaugurada?). Foi o que eu fiz. E lá estava ele refastelado, a beber imperiais e a comer camarões junto com os amigos – em pleno horário de expediente! que maravilha. A vida é bela quando se tem tachos deste calibre... Ao me ver (já nos tínhamos encontrado uma vez, de fugida), mostrou algum embaraço, mas logo recompôs o à vontade de quem está seguro no seu feudo. Anuiu em responder vagamente e com indiferença a umas questões que lhe coloquei. Nos restantes dias, sempre que tive que falar com esse vereador, dirigi-me à tal esplanada e, invariavelmente, encontrava-o a encher o bucho com bejecas quando, supostamente, o relógio dizia que ele deveria estar a trabalhar para o Estado, mas deixou de mostrar qualquer resquício de constrangimento por isso.. Desta forma, impunha a minha presença em reuniões-relâmpago informais que foram apenas uma perda de tempo.
Não me lembro do seu nome (seria Henrique?), mas era um tipo muito jovem, de olhos e cabelos claros. Recentemente ouvi que ele tentou candidatar-se à presidência da autarquia – foda-se!!! Como diziam os velhotes, esgueira-te assombração!!! Provavelmente já teve tempo de amadurecer e tornar-se mais responsável, mas estas atitudes denunciam o perfil de alguém que não devemos querer à frente da autarquia.
Meses depois, calhei a falar com alguém do executivo camarário, tendo aproveitado para me queixar do modo como me trataram (falharam totalmente com o pouco que se tinham comprometido). A resposta que o meu interlocutor me deu nessa ocasião foi que o tal vereador não fazia a ponta dum corno e que só tinha aquele cargo porque o seu pai era um dos que mais abria os cordões à bolsa em doações para o partido (PCP/CDU). Sem me importar em apurar o que havia de verdade nessas afirmações, considerei-as um sinal bastante claro das disfunções internas do executivo camarário o facto que me terem sido reveladas por alguém que eu mal conhecia. De resto, estava bastante ciente do poder dos caciques locais (que geralmente eram uns broncos de primeira apanha) e das suas estreitas ligações ao poder político. (Pelo menos, ainda não tinha visto autarcas alpiarcenses delapidarem o erário público para comprarem carros de luxo; exibirem relógios de ouro provenientes do que é, para todos os efeitos, corrupção passiva e compadrio/clientelismo; alterarem o PDM a fim de tornarem a especulação imobiliária um negócio familiar, etc…)
As minhas lutas de então (que me ocupavam a tempo inteiro) situavam-me muito longe daqui.
(A propósito e recapitulando, a tal actividade de campo aberta a toda a população e supervisionada por técnicos competentes que eu organizei no nosso paul, correu lindamente, tendo aparecido naturalistas de vários pontos do país – menos desta região…)
Ainda cheguei a elaborar um projecto para a recuperação do paul, e apresentei-o à autarquia , embora nunca tenha chegado a conhecer o Presidente. Não estava a pedir emprego, nem honorários, nem sequer me ralava que me pudessem roubar as ideias, desde que estas fossem postas em práctica de forma competente, mas ninguém lhe ligou a menor importância…
Depois de ter viajado e vivido em muitos sítios por esse mundo fora, para desgraça dos poderes instituídos (e igualmente para minha infelicidade…), estou de volta a Alpiarça ao fim de mais de uma década ausente. Desta feita, venho disposto a dar o meu melhor para salvar o nosso paul e não temo nenhum obstáculo ou ameaças!... O tempo da impunidade total acabou!
Uma pessoa pode fazer a diferença, mas ninguém consegue realizar grande coisa em causas/desideratos sociais estando só. Eu não estou desamparado nesta demanda/luta e espero poder criar sinergias telúricas com as melhores pessoas de Alpiarça – começando pelos mais jovens, porque são eles que mais perdem com os nossos disparates e porque ando sempre tentar proporcionar aos garotos as experiências que eu gostaria de ter usufruido quando tinha a idade deles. Termino com um provérbio ameríndio de sabedoria intemporal: «nós não herdámos a Terra, pedimo-la emprestada aos nossos filhos.»

PB
«Os pequenos actos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que se planeiam.» - George Marshall

Vamos deixar-nos de impante retórica ideológica, arregaçar mangas e experimentar projectos de democracia participativa, nomeadamente actuando anível municipal, mas com destaque para o associativismo local,desburocratizado, informado e bem articulado por redes de informação independente! Precisamos resgatar os espaços públicos às privatizações cooperativistas e desenvolver uma responsabilidade cívica multilateral que se recuse a compactuar com as inadmissíveis disparidades económicas e com a suicida degradação ambiental! Precisamos cooperar com a administração pública, mas nunca baixando a guarda.
A privatização dos serviços públicos relacionados com a energia, os transportes, a água, a saúde e a educação, além de provocarem uma sobrecarga nas despesas dos cidadãos, arruína o Estado de direito. Se o Estado se demarca de assegurar aos cidadãos serviços que consideramos fundamentais, não podemos deixar de nos indagarmos para quê, então, pagamos impostos? E para que precisamos de políticos? Quem está interessado em ter um país governado por lóbis corporativos e pelos partidos que os representam ?
Estou cansado de ouvir a seguinte afirmação: «a democracia está longe de ser perfeita, mas não existem alternativas…» Esta é uma falsa questão; uma rasteira retórica em que é fácil cair. Cada Estado, cada governo faz a sua própria interpretação de “democracia”. O poder centralizado em Estados é uma organização política recente na história da humanidade e, para os mais brilhantes pensadores políticos e filósofos da actualidade, é uma aberração demente. Todos os Estados são instituições violentas pois recorrem a forças militares para garantirem primeiramente os direitos dos mais poderosos/privilegiados, coarctando as liberdades individuais. A democracia que se pratica na Finlândia e/ou na Suécia é substancialmente diferente da que se pratica nos EUA. Em que Estado democrático é que o poder está efectivamente nas mãos do povo? Em nenhum. No entanto, conhecem-se mais de 15 mil formas de organização social (politico-económica) que ainda subsistem à margem das democracias parlamentares de raiz europeia. Se acham (erradamente) que é demasiado estapafúrdio e exótico procurarmos os melhores exemplos nas comunidades tribais que resistem à industrialização; não querem saber das comunidades alternativas “neohippies” e nem sequer das últimas aldeias tipicamente portugueses em que se pratica uma verdadeira democracia comunitária, então mirem-se no exemplo das ONGs. Os média há muito que deixaram de ser um contra poder, para se tornarem o chamado «4º poder». Bem, então o «5º poder» - e o único que realmente interessa – são as associações de cidadãos independentes do poder político-partidário e do Estado. Contam tanto as ONG de carácter nacional e internacional, como as associações de pais e de moradores de um determinado bairro. É preciso é que as pessoas com preocupações semelhantes se juntem, informem-se e partilhem informações, e unam esforços na defesa do que consideram ser fundamental à sua qualidade de vida. As pequenas ONGs geralmente têm menos poder político e financeiro do que as grandes ONGs, mas estas últimas frequentemente acabam por acumular demasiados podres debaixo do tapete, para além de evoluírem para uma estrutura orgânica e para uma atitude semelhante aos poderes que dizem combater. O que interessa é o empenho, a dignidade e o civismo com que defendemos as nossas convicções, bem como a forma honesta e apaixonada com que inspiramos os nossos pares.
Não se iludam: os políticos respondem a interesses muito diferentes do que as reais necessidades dos “cidadãos comuns”. Assim, se queremos ver assegurados os nossos direitos mínimos, temos que lutar por eles e pressionar ao máximo esses políticos da treta.
Mais do que animais gregários, somos seres tribais. A democracia é um impulso instintivo a todos os homens destinado a garantir o bem estar e a justiça social na vida comunitária, mas não funciona em sociedades de massas, industrializadas e com o poder centralizado, onde o espírito comunitário é facilmente substituído pelo egoísmo oportunista, predatório e desresponsabilizante.
Podemos ser tão livres quanto ousarmos sê-lo.
PB

quinta-feira, julho 20, 2006

A onda de calor que acabamos de viver foi a pior dos últimos 65 anos.
Os verões infernais (como o que conhecemos em 2003, ao qual não sobreviveram 35 mil europeus) vieram para ficar. Isto faz com que usemos e abusemos dos aparelhos de ar condicionado, que, devido à libertação de CFCs (clorofluorcarbonetos ) destruidores da camada de ozono, farão com que o clima aqueça ainda mais...
A seca que conhecemos no final dos anos (19)80, início dos 90, foi apenas uma pequena amostra do que nos está reservado para um futuro próximo… As precipitações irão diminuir e até ao final deste século a costa portuguesa verá o mar subir 50 cm. Será que não há maneira de levarmos estes problemas cruciais/vitais a sério, a não ser quando já é tarde demais?
Durante o século XX a temperatura aumentou 0,6 graus centígrados. Entrados no séc. XXI , as previsões mais optimistas apontam para um aumento de 1,5 Cº (o que terá consequências devastadoras), mas as mais pessimistas (e igualmente plausíveis) elevam a terrífica fasquia para um aumento de 6 Cº até ao termino deste século. A Europa, nas últimas duas décadas, tem vindo a enfrentar um clima em convulsão com desastres em catadupa (ex.: inundações, desmoronamentos, secas, incêndios,...). O clima sempre fez das suas, mas é inegável o agravamento da situação. Se tudo isto se deve a um aumento de 0,6 Cº na temperatura média global, imaginem o que acontecerá com o aumento em 6 Cº até ao final do presente século...
Devido a este problema global, na Costa Rica já se extinguiram 12 das suas 18 espécies endémicas de anfíbios.

A organização Greenpeace alerta que as alterações climáticas, até meados deste século, cobrem a vida a um milhão de espécies. Só em 2003 perderam a vida 150 mil pessoas e houve prejuízos na ordem dos 50 biliões de euros. Nesse ano, restringindo-nos apenas à Europa e à onda de calor que a assolou, 20 mil pessoas morreram e os agricultores queixaram-se de terem perdido colheitas no valor de 8.170 milhões de euros.
Por sua vez, a Agência Europeia do Ambiente, num relatório de 2004, afirma que, globalmente, a Europa (com destaque para a Rússia e para a Península Ibérica) será dos locais mais afectados pelas alterações climáticas, podendo deixar de ter invernos frios lá para 2080.
Mesmo que cessássemos neste instante e definitivamente todas as actividades lesa-natura, isso não impediria de sofrermos as consequências de todo o mal que já fizemos. Soltámos os nossos piores demónios e agora não podemos dizer-lhes que se comportem. Os cientistas alertam para que, se a humanidade quer salvar-se aos desabridos desastres “naturais” que nos estão reservados, devemos reduzir – já! – em 60% as nossas emissões de CO2. O Protocolo de Quioto apenas pede aos países signatários uma redução de 5,2% dos gases com efeito de estufa. Os países da U E comprometeram-se a reduzir em 8% essas emissões até 2008 ou 2012 (ex. Portugal deveria reduzir em 27%, enquanto que para França a meta é a estabilização das emissões em zero). Desde que foi assinado, o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa (responsáveis por 25% das emissões globais destes gases, e de 36,1% no que se refere ao dióxido de carbono), os EUA, aumentaram as suas emissões (de CO2) em 20%...
A cada ano que passa, verifica-se um aumento galopante das vítimas de desastres naturais. Em 2003 as catástrofes meteorológicas e geológicas cobraram as vidas de 77 mil pessoas e deixaram 255 milhões a indagarem-se como poderão refazer as suas vidas. Os países ricos perceberam que não estão imunes a estas desgraças – triplicaram o número de vítimas ocorridas em 2002.
Como refere o Relatório Mundial de Catástrofes, elaborado pela Cruz Vermelha em 2003, « O crescimento da população urbana, a deterioração do meio ambiente, a pobreza e as doenças, combinados com o perigos sazonais, como as secas e as inundações, geram situações de adversidade crónica.»

Nem as maiores potências da actualidade poderão suportar os custos das reconstruções, dos desalojados, dos refugiados, das colheitas perdidas, do esgotamento dos recursos naturais catástrofe após catástrofe – que também farão derrocar as bolsas e todo o mercado de valores especulativos.
A cada ano que passa agrava-se a situação das calamidades naturais. As empresas seguradoras (mesmo estando sedeadas em paraísos fiscais) vão perdendo a capacidade de indemnizar os seus clientes (que são as vítimas mais abastadas e que com relativa facilidade transferem os seus investimentos à procura do lucro fácil por todo o mundo), tendo declarado 2004 como o pior ano de sempre para o seu negócio.




As fronteira político-administrativas que os homens traçam nada significam para a biosfera.Chuvas ácidas que destroem extensas áreas de floresta no Canadá sãocausadas maioritariamente pela poluição estado unidense. A Noruega é vitimado mesmo problema, mas desta feita os vizinhos-vilões são a Rússia, a Polónia, a Alemanha e o Reino Unido.Num estudo efectuado nos anos (19)80, em que se analisaram as concentrações de vários tipos de substâncias perigosas bioacumuláveis no leite de duaspopulações de mulheres que viviam em ambientes opostos. A conclusão foi que as mulhers Inuit (esquimós) tinham concentrações 5 a 8 vezes mais elevadas dos poluentes rastreados do que as nova iorquinas. Como é isso possível, se os povos do Árctico praticamente não poluem o seu entorno e vivem frugalmente? É que as correntes oceânicas que carregam parte substancial das descargas poluentes dos norte americanos convergem para o Árctico. Os Inuit quilibram-se periclitantemente no topo da pirâmide trófica, poisalimentam-se quase exclusivamente de animais marinhos, com destaque para os degrande porte. (A propósito, as belugas encontradas mortas na Baía de Hudson são tratadas como resíduos tóxicos pelas autoridades canadianas...)Vários Micro-Estados insulares do Oceano Pacífico estão em risco eminente dedesaparecer devido à subida das águas marinhas, além de nas últimasdécadas serem assolados por intempéries que se abatem sobre a micronésia com uma intensidade e frequência como não há memória.
Em todo o mundo, 100 milhões de pessoas vivem a menos de um metro acima do nível do mar. Os oceanos deverão subir (mais por dilatação térmica do que devido ao degelo das calotas polares), até 2100, entre 10 e 88 cm (comparativamente aos valores de 1990). Isto será o suficiente para alagar pelo menos 100 mil quilómetros quadrados de costa.
A quantidade de CO2 emitida por estes povos é irrisória no quadro geral das alterações climáticas, mas num futuro próximo serão eles a pagar a pior factura dos excessos do mundo industrializado.
O Japão é das nações industrializadas que mais deveria levar muito a sério esta ameaça global, pois, mais do que perder cerca de 90% das suas praias de areia com a subida eminente das águas oceânicas, os solos dos seus maiores centros urbanos e industriais já se encontram abaixo do nível do mar. na Holanda trava-se uma luta idêntica contra o mar e contra o tempo. Se os 500 milhões de euros que têm que acrescentar à já avultada verba destinada à manutenção e reforço dos seus diques não surtir os efeitos desejados, 10 milhões de holandeses terão que emigrar. Os seus vizinhos alemães terão também que gastar mil milhões de euros para proteger 3,2 milhões de compatriotas/habitantes das terras baixas.
O clima temperado de que beneficia a Europa deve-se, em grande parte, àcorrente do Golfo do México, que, calcula-se, nos aporta uns 30% do calorabsorvido nos trópicos, junto à linha do equador. Mas as maiores dádivas danatureza, que consideramos bens adquiridos, podem desaparecer rapidamente.Suponho que nem ao presidente da General Motors restam dúvidas de que somos osprincipais responsáveis pelo efeito de estufa que faz o planeta "suar pelasestopinhas". Mas, para além de se construírem novas fábricas de aparelhosde ar condicionado e de protectores solares, pouco fazemos para contrariaresta situação aflitiva - países como a Rússia até a consideram benéfica,sonhando com um aumento da sua produção de culturas agrícolas, com destaque para os cereais. Mas o problema não é para brincadeiras e já estamos a enfrentar calamidades (ex.: secas, intempéries cada vez mais frequentes e intensas, surtos de cólera e propagação de doenças tropicais por todo omundo, morte dos recifes de coral, subida do nível dos oceanos,desaparecimento dos glaciares, ...)que ultrapassam largamente os precáriosrecursos de que dispomos para as colmatar. Todos os meios técnico-científicos se revelam ineficazes para interpretar com exactidão a complexa dinâmica da biosfera, prevendo o seu comportamento a longo prazo.Ao contrário do que é aceite pela maioria das pessoas preocupadas com estes fenómenos, é possível que o aquecimento global até empurre a Europa para uma nova era glaciar, antes que finde o século XXI. Com o derretimento dos gelos polares, conjugado com o aumento da evaporação e consequente precipitação sobre o oceano, a corrente quente do Golfo do México poderá ser de tal modo afectada - pela diluição da salinidade e pela colisão comuma outra corrente fria vinda do Árctico - que chegue ao ponto de serinterrompida.Apesar da Idade do Gelo ter findado há mais de dez mil anos, a partir do séc. XIV, e durante cinco séculos, a Europa viveu uma pequena/moderada era glaciar que teve o seu apogeu no final do século XVI. (Um dos mistérios ainda poresclarecer é o facto do início dessa era de frio generalizado coincidir com o aparecimento e alastramento da "peste negra".) Do outro lado do Atlântico,os E.U.A. viveram uma das piores secas de que há registo histórico
Estudos recentes demonstram que as mudanças de temperatura sempre foram frequentes e abruptas, podendo ser observadas até em períodos inferiores aduas décadas.Um número crescente de cientistas (inspirados pela teoria revolucionária deWally Broecker) crê que as oscilações climáticas se relacionam sobretudocom as mudanças de comportamento das correntes oceânicas. São teorias que necessitam de ser averiguadas, mas muitas outras hipóteses estão em aberto.Para aqueles que ainda estão em fase de autonegação, escondendo a cabeça na areia face às mudanças climáticas e alinhando pela posição da administração Bush e dos seus “cientistas” de bolso, basta pensarem com um pouco de bom senso. Cada vez que um grande vulcão explode, a quantidade de cinzas e gases que são expelidos para a atmosfera durante um par de semanas é o suficiente para provocar alterações climáticas drásticas à escala global. (Vejam o exemplo de Tambora, um vulcão na Indonésia cuja erupção no séc. XIX fez com que na Europa e na América do Norte não houvesse Verões durante uns 3 anos, o que inviabilizou as principais colheitas, causando a fome a muita gente.) Bem, a acção desses vulcões é mínima comparado com as (pelo menos) 7 gigatoneladas só de CO2 (o principal gás com efeito de estufa) que a actividade humana produz anualmente – já levamos mais de um século de industrialização global.
Com isto tudo, é fácil concluir que o que mais precisamos na Europa mediterrânea (uma das regiões que sofrerá as piores consequências do aquecimento global – começando pela escassez de água) é de autarcas caciqueiros que, devido a negociatas levianas, se empenhem em nos hipotecar o futuro com projectos lesa natura – tais como os campos de golfe ! – para uma elite desfrutar e o resto da sociedade pagar um preço demasiado pesado a médio e longo prazo. Se os cidadãos “comuns” não se organizarem a fim de travarmos estas filhasdaputice escusam de contar com a “boa vontade” e “consciência social e ambiental” dos políticos, dos técnicos, dos média e dos magistrados. Temos que exigir que a autarquia cumpra os objectivos da Agenda 21 Local!!!

PB

domingo, julho 16, 2006

O cavalo de Atila


Há poucas semanas, em frente aos «Águias» de Alpiarça, ouvi, de forma involuntária, parte de uma conversa que se repete milhões de vezes por esse mundo fora (e não se tratavam de treinadores de bancada). Alguém (que é um proeminente membro do PS local, mas que, neste caso, poderia pertencer a qualquer cor política) partilhava com os seus ouvintes os seus maiores sonhos – que não passavam de uma lista de compras entronizada por alguns dos carros mais caros e velozes do mundo *-, enquanto olhava para um boletim do Euromilhões… Esta cena patética entristeceu-me, pois senti-me esmagado pelo inelutável culto dos automóveis (que eu nunca compreenderei) que domina a nossa sociedade. Mal conheço a pessoa em questão. Apesar de não partilhar das suas ideias e ambições político-partidárias, o pouco que sei dele era o suficiente como para lhe admirar o espírito positivo com que, aparentemente, superou uma tragédia pessoal que deixaria a maioria das pessoas deprimidas e revoltadas com a vida. Uma vez que foi precisamente um acidente rodoviário que o deixou numa cadeira de rodas, suponho que tal Deveria ser um motivo suficientemente forte como para, pelo menos, reavaliar a relação de mortífera dependência que a nossa sociedade com os automóveis; e jamais prestar-lhes um culto absurdo, que, a meu ver, é um hedonismo estupidamente pueril, egoísta, irresponsável e comodista!

* Porque é que os governos deixam que a maioria dos novos carros tenham a capacidade de se deslocarem a uma velocidade que duplica o limite máximo permitido nas auto-estradas?!

As vidas da maioria de nós tornaram-se tão vazias e fúteis que a necessidade de ostentação domina o quotidiano. Sempre que vejo imbecis pavoneando-se em automóveis de luxo ou que gastaram uma pequena fortuna em transformações para dar mais nas vistas, para além da mensagem que eles querem transmitir - «olhem para mim, pois eu venci na vida, sou melhor que a plebe e posso ter todo o sexo que me apetecer!» -, o que eu vejo são pessoas de fracos valores morais e espirituais (tanto os que ostentam como os que sonham ostentar), para além de terem graves problemas de afirmação. Nesse aspecto, tenho orgulho de ser um “perdedor”, pois jamais quereria “vencer” numa sociedade dominada por valores de merda com os quais não me identifico e só me provocam angústia (para além dos graves problemas respiratórios de que padeço).
Por vezes, ouço pessoas com fortes responsabilidades familiares justificarem a sua paixão pelos automóveis topo de gama como sendo apenas uma preocupação com a segurança dos passageiros a seu cargo. É verdade que, geralmente, quanto mais sofisticados e modernos são os carros, mais segurança oferecem na condução, mas isso é ter uma visão hipocritamente estreita do problema, pois a maior ameaça tecnológica para todas as famílias (humanas ou não) deste planeta enfermo são precisamente os automóveis. Tudo, absolutamente tudo o que se relaciona com os automóveis tem consequências deletérias e transformaram radicalmente as nossas vidas, a paisagem e o próprio clima de todo o planeta!
O automóvel tornou-se num modo de vida em si, numa cultura obsessiva e destrutiva, à qual é quase impossível escapar (mesmo que não os utilizemos directamente). Desde as linhas de montagem até ao seu uso; da extracção do crude à rede viária; desde a poluição atmosférica à água que bebemos e aos alimentos que consumimos provenientes de longas distâncias; desde o marketing agressivo aos sonhos envenenados que dele assimilamos; desde o endividamento aos bancos à vida sexual condicionada pelos automóveis; desde o tempo que despendemos no interior dos automóveis às famílias que choram entes queridos perdidos ou estropiados em acidentes de viação; etc, etc… Toda esta informação é penosa de digerir, mas vale a pena levantarmos um pouco o véu destes etecéteras.

Apesar das estatísticas oficiais tenderem a minorar o problema (ex.:
quem perecer no hospital uma ou duas semanas após o acidente de
viação, na maior parte dos países já não tem “direito” a ser contabilizado como mais uma vítima mortal da “guerra rodoviária”), o certo é que, desde a sua comercialização, o automóvel envergonharia o microorganismo patogénico causador da “peste negra” na sua capacidade homicida.
Mesmo que se lançassem anualmente sobre áreas urbanas duas bombas atómicas de idêntica potência às que destruíram as cidades de Hiroshima e de Nagasaki, o automóvel continuaria a merecer o título de campeão das mortes violentas. Desde 1958, os acidentes rodoviários na Europa provocaram a morte de 2,5 milhões de pessoas e deixando mais de 40 milhões feridos (numa estimativa modesta, globalmente são 30 milhões os feridos anuais devido a acidentes rodoviários);
Os políticos e economistas europeus – sempre tão preocupados com o envelhecimento da população do “velho mundo” – deveriam ponderar sobre o facto de neste continente os acidentes de viação serem a principal causa de morte dos jovens até aos 35 anos de idade. Em Portugal, 2 jovens morrem diariamente devido a esta tragédia

Mas a principal acção perniciosa dos automóveis provém da poluição que geram – esta actualmente é a que mata mais pessoas! Segundo um estudo realizado nos E.U.A., essas mortes ascendem a 250 mil por ano só naquele país que é, de longe, o que produz mais poluição em todo o mundo! Cerca de 40% das emissões dos gases com efeito de estufa provêm dos automóveis.

A U E acabou de lançar um programa de prevenção de doenças respiratórias denominado Ar Limpo para a Europa (ALE). Para já o referido programa divulgou os resultados de um estudo alarmante: anualmente o número de mortes provocadas pela poluição atmosférica de origem automóvel e industrial na Europa dos 25, é de 310 mil . No que se refere aos prejuízos económicos (apenas referentes às faltas ao trabalho), calcula-se que ascenderão aos 80 mil milhões de euros. Portugal, devido à sua menor industrialização e ao facto de ter uma posição geográfica privilegiada (com um regime eólico predominantemente marítimo), aparece em 10 lugar.
Até à conclusão do programa ALE (em 2020), prevê-se que seja possível baixar o número de mortes em 80 mil por ano. (Obviamente que estas perspectivas são muito optimistas.)
Um carro ligeiro médio produz anualmente o seu próprio peso em carbono. O dióxido de carbono (CO2) é o principal causador do "efeito de estufa."Sobre o território nacional a camada de ozono protectora diminui 3,3% pordécada. (Segundo a Quercus, Portugal emite mais de 500 toneladas de CFCs por ano.)
A industrialização lançou para a atmosfera uma quantidade de CO2 superior ao que aconteceu nos últimos 500 mil anos.
em 2003 existiam uns 750 milhões de veículos automóveis (de combustão interna) em circulação. em 20 ou 30 anos esse número poderá duplicar. Nos países industrializados encontramos uma média de 580 carros por cada mil habitantes, enquanto que nos países com "economias emergentes" (é a actual designação "politicamente correcta") ao mesmo número de pessoas equivalem 10 carros.
No final do século XX, em apenas dois anos, contabilizaram-se 3 milhões de chineses mortos devido à poluição atmosférica. Em 15 anos, prevê-se que os chineses terão tantos ou mais automóveis como os Estado-unidenses. O mundo simplesmente não aguenta tanta agressão...
(Os nossos governos não têm feito a ponta dum corno para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, restando-nos agora recorrer ao vergonhoso comércio de emissões. Entretanto, José Sócrates vai baixando as calças ao lóbi da energia nuclear liderado pelo execrável Patrick de Barros que, com a ajuda de investidores alemães, até tem comprado a opinião de cientistas portugueses que vêm na indústria nuclear uma oportunidade de ouro para impulsionarem as suas carreira e encherem os bolsos…)O culto dos automóveis está demasiado enraizado como para sonharmos vermo-nos livres dele. O mais que podemos esperar é que os fabricantes de automóveis adiram às tecnologias e aos combustíveis muito mais limpos (ou muito menos sujos) - que estão há muito desenvolvidas. Os motores de combustão interna, tal como os conhecemos, são uma tecnologia obsoleta há mais de meio século, mas os fabricante de automóveis, até muito recentemente, não se molestaram em investir em tecnologia “amiga do ambiente” devido a estarem reféns de acordos secretos que mantinham com as corporações petrolíferas.
Segundo o Banco Mundial, metade da energia de origem industrial (ligada às fontes não renováveis) é consumida por apenas 15% dos humanos.
Recentemente (em Abril de 2005) a imprensa alemã fez eco de um estudoque revelava que 70% dos alemães (sublinhe-se que é uma das naçõesmais ricas e industrializadas do mundo, pátria dos Mercedes e dosBMWs) encontram-se afectados por estados (de espírito) depressivos. Omesmo estudo afirma ainda que a maioria destas pessoas têm como melhorantídoto, ou paliativo, contra a infelicidade crónica os passeios a pénas zonas verdes. (No nosso país, para além dos espaços públicos estarem tiranicamente dominados pelos automóveis, quem quiser viajar de bicicleta está bem fodido, pois o absoluto desrespeito que a maioria dos automobilistas demonstra ter pelos ciclistas é um reflexo do código de condução…)

Além de ser a principal fonte de contaminação do planeta, nomeadamente do efeito de estufa e das chuvas ácidas. (Se houver vontade política – pressionada por uma opinião pública esclarecida – é possível reverter este processo fatal. No reino Unido o governo empenhou-se em implementar medidas que visavam a redução das emissões de dióxido de enxofre e de óxidos de azoto, e, transcorridos quinze anos, conseguiram reduzir para metade a acidez da chuva sobre a maioria do seu território.)

Ainda nos comovemos e nos indignamos (pelos breves instante com que as informações saltitam nos telejornais, até se deterem nas lides futebolísticas e nos escândalos fúteis do jet set…) com o espectáculo mediático das marés negras, mas, como bem realçou o naturalista Bill McKibben, cada petroleiro que chega ao seu destino equivale a uma maré negra para a atmosfera – e são às centenas por dia!

Anteontem ouvi cavaco Silva declarar que tinha uma afinidade muito grande pelos comboios (sic), apesar de muito raramente utilizar esse meio de transporte. Deve ter sido por isso que, quando era Primeiro Ministro, mandou encerrar muitas linhas do interior - que eram fundamentais a uma população rural pobre, fragmentada, e isolada. Além disso, essas linhas, ao decorrerem por algumas das paisagens mais belas de Portugal, tinham um enorme potencial turístico. (Mas aos políticos só lhes interessa o turismo de elites ou das massas concentradas no litoral, referindo-se aos restantes turistas com o desprezante apodo de “pé de chinelo”. Pois, mas são os turistas “pé de chinelo” que mais volume de negócios geram por todo o mundo, sobretudo no que se refere ao pequeno comércio.)
O argumento para acabar com os comboios no país profundo foi que davam prejuízo ao Estado. Para os que não são filhos-da-puta privilegiadíssimos, é óbvio que há serviços públicos que não é suposto dar lucros; por isso é que pagamos impostos (ou será para cimentar e alcatroar todo o país, construir estádios que ficam às moscas, comprar submarinos, etc?...)
Contrariando todas as recomendações de Bruxelas, o governo de cavaco Silva fez todas as concessões ao poderoso lóbi dos transportes rodoviários, quando deveria ter apostado nos comboios e no transporte marítimo.
O povo tem a memória curta porque queima os neurónios com todo o tipo de pormenores sobre o futebol e sobre os automóveis… «Benditos sejam os pobres de espírito» São palavras atribuídas a um homem (de que não existe nenhuma prova histórica da sua existência…) admirado por milhões de fies, mas que ninguém segue os seus conselhos de solidariedade social…
Agora o governo de José Sócrates quer continuar a torrar o erário público com a construção de linhas para o TGV que seguirão paralelas às linhas que funcionam melhor em Portugal, para além de se ter deixado comer por estúpido pelos parceiros espanhóis… Porque não investe na reconversão da frota automóvel para o gás natural e para o biodiesel? Simplesmente porque somos demasiado panconas para exigir isso!
Em matéria de caminhos de ferro, qualquer dia imitaremos o que se está a passar nos países mais industrializados (ex: Inglaterra, Holanda, Alemanha, etc…): a privatização total desse serviço público, por forma a que fique bem mais barato os cidadãos deslocarem-se em veículos próprios, para além de o nº de acidentes se ter intensificado.
Porque será que, sempre que Portugal passa pelas suas piores crises económicas, as vendas dos automóveis de luxo disparam em flecha?...
A esmagadora maioria das pessoas que vive para os automóveis (não deve haver muitos portugueses livres de dívidas relacionadas com os carros) nem sequer os utiliza para viajar a sério e conhecer o mundo junto dos seus entes queridos. Basta ir para a IC19 para repararmos que a maioria dos automobilistas viaja só. É assim tão difícil apanhar transportes públicos ou partilhar os automóveis com colegas e vizinhos?

sexta-feira, julho 14, 2006

«Ninguém cometeu um maior erro do que aquele que não fez nada só porque poderia fazer muito pouco...» - E. Burk

Segundo a ONU, globalmente a desertificação está a processar-se a um ritmo 16 vezes superior ao que a natureza tem capacidade para regenerar a sua fertilidade, o que se traduz num prejuízo anual de 44 mil milhões de dólares. Por seu turno, a WWF diz que estamos a consumir mais 25% dos recursos naturais do que é possível à mãe natureza repor. Temos ainda que ter em consideração que, a cada ano que passa, acrescentamos mais de 80 milhões de pessoas à população mundial, e que, pela primeira vez na história, mais de metade das pessoas vivem em cidades – que não produzem os seus alimentos. A terra e a água são bens cada vez mais escassos, e a merda dos políticos esquecem-se que tudo – mesmo tudo! – provém dos recursos naturais.
Nos últimos 30 anos a temperatura média em Portugal aumentou 1,5 ºC. Para os leigos, ou desatentos, tal não parece muito, mas foi o suficiente para que nos 8 anos precedentes o mundo vivesse os 5 anos mais quentes alguma vez registados. E isto é uma pequena amostra do que aí vem…
O nosso maior especialista em clima, o Prof. Duarte Santos, assevera que não tardará muito para que os actuais 10 dias médios em que, anualmente, a temperatura se mantém acima dos 35 ºC (à sombra…), passem a ser 60 ou 70 dias anuais…
Em Maio de 2004 o ministério da Saúde acabou por reconhecer que a onda de calor de 2003 tinha feito muito mais vítimas do que aquelas que o governo queria admitir, perfazendo os 1953 mortos só no nosso país.
A vaga de calor de 2005 foi responsável por despesas que duplicaram o antigo record para estas calamidades registado em 1998.
As maiores ondas de extinção maciça que a Terra já sofreu estiveram intimamente ligadas a aumentos brutais da temperatura global…
Acabou de sair um relatório científico independente que realça estes factos e urge à tomada de medidas (políticas) que tenham um efeito drástico na poupança da água. Como resposta, os nossos autarcas promovem campos de golfe, cimento e alcatrão à força toda!... deve ser para cumprir algumas alinhas que resolveram acrescentar sub-repticiamente à Agenda 21… Sarcasmos à parte, esta atitude suicidária não se deve apenas à notória falta de consciência social e ambiental, para além de uma estupidez crassa, típica dos nossos autarcas; trata-se sobretudo de ganância filha-da-puta e de estarem reféns dos lóbis que lhes financiam as carreiras políticas. O clientelismo e as negociatas predatórias são quem mais ordena (seja a vila loira ou morena…).
Os campos de golfe são essencialmente jogadas de especulação imobiliária. Ninguém no seu perfeito juízo pensa que um em Alpiarça será economicamente viável, e muito menos ecologicamente sustentável – ainda por cima a ser implantado nas margens de um dos pauis mais interessantes do país e numa região cujos aquíferos já estão poluidíssimos!
No início da década de 90, o Eng. Carlos Melancia, usando a sua enorme influência política e corporativa, conseguiu inaugurar um campo de golfe em terrenos de reserva Agrícola nacional (e propostos para Reserva Ecológica nacional) em pleno Parque Natural da Serra de S. Mamede, no sopé do Marvão (que em breve deverá ser considerada uma povoação património da humanidade). Nos 58,71 hectares de terrenos terraplanados e artificialmente arrelvados, foram destruídos dezenas de sobreiros enormes (supostamente uma “espécie protegida”) , o que levou à demissão do director da referida “área protegida”, pois cansou-se de vociferar em vão contra o projecto que escarnecia da Lei. Estava ainda prevista a construção de 100 apartamentos e 35 moradias para endinheirados, e ainda um hotel.
Na altura, cheguei a ouvir o Sr. Melancia ter o supremo desplante de avaliar o grau de “desenvolvimento” dos países pela relação entre o nº de buracos (dos campos de golfe) por cada habitante!... (Concomitantemente, os acessores de cavaco Silva diziam que «quanto mais lixo se produz per capita, mais desenvolvido é o país»…)
A elite de escroques está absurdamente desfasada da realidade do “cidadão comum”, apenas lhes interessando encher os bolsos com o máximo de celeridade à custa de danos a terceiros e ao ambiente. É tão simples quanto isso.
O caso do Melancia em Portalegre criou um precedente gravíssimo. Apesar de o seu campo de golfe e de toda a oferta de camas que o acompanha estar num sítio extremamente privilegiado (que já atraia imensos turistas), revelou-se um fiasco económico; os poucos golfistas que lá aparecem não fazem despesas suficientes para cobrir os custos de manutenção;
até o hotel (de 4 estrelas)está actualmente à venda… Não obstante, a construção de vivendas ligadas ao campo de golfe nunca parou até aos dias de hoje…

Esta autarquia prepara uma golpada semelhante.
Estas filhasdaputices irresponsáveis são transversais a todas as cores político-partidárias. Por ex., no Redondo (bastião de “dinossauros” vermelhuscos) a autarquia recentemente conseguiu fazer um campo de golfe com moradias para ricos e até um centro comercial no meio de um montado, à volta da maior barragem local. As leis devem vir em papel macio e absorvente…
Em Sesimbra estão a implementar algo semelhante mesmo em zona de rede Natura 2000.
Aqui ao lado, na área circundante à Reserva Natural do Paul do Boquilobo, os autarcas não fazem por menos: o projecto turístico que acalentam prevê um nº de fogos superior ao que existe para toda a população de Almeirim, doidos com a perspectiva de deitarem as garras a fundos da comunidade europeia e ao investimento estrangeiro (uma vez que o projecto pretende acomodar hordas de reformados nórdicos).
Do Algarve é melhor nem falar… Por ora.
Quando é deixamos de ter autarcas megalómanos, gananciosos, clientelistas e com uma esperteza terceiro-mundista que só lhes permite planear o futuro imediato repleto de negociatas?!

à medida que a Srª vereadora Vanda Nunes se vai chegando ao gabinete do Presidente (e, na qualidade de seu pitbull de “confiança”, rosna e morde a toda a concorrência pelo poleiro, enquanto lambe a mão que lhe atira uns ossitos…), vai deixando as (ir)responsabilidades ambientais para o Eng.º Ferrerinha. Este último, com o seu carisma de gafanhoto e o absoluto desprezo e ignorância por essas temáticas (e quem no executivo camarário não sofre desse mal?), nem parece perceber que essa jogada interna (uma mera manobra de diversão para aliviar a pressão sobre a vereadora) apenas o irá queimar… Assim, a Drª Vanda poderá continuar a acalentar o sonho de vir a comandar a autarquia, apesar de, mesmo dentro do PS local, ser actualmente tão popular quanto um peido num elevador, já pouco lhe valendo a sua “simpatia de vaselina” da qual se valia para engabelar crédulos.
O Dr. Rosa do Céu é que sacudiu completamente essa água (inquinada) do seu capote, não querendo mais estar associado às palhaçadas "ambientais" da autarquia. Ele bem saberá os podres que tem para esconder relativamente aos resíduos varridos para debaixo do tapete, à (falta de) qualidade da água, ao projecto imobiolário para o paul, etc, etc... O pelouro do ambiente vai começar a dar-lhes mais trabalho do que o habitual coçar das micoses enquanto esperam pelos cheques...
Agora os recursos naturais passam apenas a ser recursos turísticos, e esta autarquia só pensa no turismo para as elites – que nunca chegarão, mas, entretanto, esses projectos megalómanos e insustentáveis (tanto economicamente como ambientalmente) vão enchendo os bolsos à família e aos compadres de Sua Majestade que dominam o lóbi do cimento e da especulação imobiliária…
Enquanto debitam hipocrisias e generalidades inócuas sobre o paul dos Patudos na edição de Junho do «Alpiarça (des)Informa» , pelo menos poderiam ter feito o frete de ir até lá, pois das 4 fotos que publicaram ao se referirem ao nosso paul, apenas uma correspondia a essa zona húmida.
Por falar em fotos, que fique bem claro que a Srª vereadora se apropriou indevidamente de 15 diapositivos originais (de qualidade profissional) que são da minha autoria. Em mais de 2 anos que estão em sua posse já teve oportunidade de os usar para o fim a que é suposto se destinarem, e de mos devolver. Juro que este furto de colarinho branco não ficará impune !...

domingo, julho 09, 2006

«Normalmente considera-se que a universidade presta serviços à sociedade, ou que a sua actividade deva ser "relevante" para os problemas sociais. Essaideia é justificável. Todavia, quando colocada na prática isso usualmentesignifica que a universidade presta serviços às instituições sociaisexistentes, que estão na posição de articular as suas necessidades esubsidiar os esforços para equacioná-las (...) O Pentágono e as grandescorporações podem formular as suas necessidades e subsidiar a maneira pela qual elas podem ser implementadas. Mas os camponeses na Guatemala ou os desempregados no Harlem não estão em posição de fazer o mesmo.» - Noam Chomsky (1973)«A democracia e a liberdade, mais do que valores que devemos estimar, são essenciais para a nossa sobrevivência.» - Noam Chomsky
«A instrução [formal] é ignorância imposta.» – Noam Chomsky

«É um milagre que a curiosidade sobreviva ao que entendemos por educação formal.» (...) « Eu nunca ensino os meus pupilos; eu apenas tento criar as condições mais propícias para que possam aprender.» - Albert Einstein

«Aprende-se mais e vive-se melhor sem educação formal.» – Bill Wetzel

«A escola tornou-se antidemocrática. Tem por finalidade formar consumidores disciplinados para uma tecnocracia cada vez mais devoradora.» – Ivan Illich

«A verdade é que as escolas não ensinam mais do que a obedecer ordens. (…)A educação deve estar ao serviço das famílias e das comunidades.» – John T. Gatto

«Creio, sinceramente, que a única maneira válida de aprendizagem é o auto-didactismo.» – Isaac Asimov


«Nunca permiti que a escola interferisse na minha educação.» (…)

«Primeiro Deus fez os idiotas. Isso foi só para praticar. Depois fez os conselhos escolares.» – Mark Twain

«Se ensinássemos as crianças a falar e a caminhar da mesma maneira como são instruídos nas escolas, provavelmente nunca aprenderiam.» – John Holt

«O professor medíocre despeja informações. O bom professor explica. O professor excepcional demonstra. Mas os maiores professores inspiram.» – William Ward

“É impossível ensinar seja o que for a alguém; os educadores apenas poderão ajudar outrem a encontrar dentro de si mesmos esse conhecimento.” Galileo Gallilei

«O feito mais importante da educação é ajudar os estudantes a tornarem-se independentes da educação formal.» – Paul Gray

«Que melhor maneira para os jovens aprenderem a viver do que, sem mais delongas, experimentarem a vida real?» – Henry Thoreau