quarta-feira, setembro 02, 2009
A cartilha do sexo reprodutivo
É curioso que, para além da adoração monoteísta, a coisa que claramente os distingue dos outros povos que desprezam é a seu comportamento sexual [diferente]; o único aprovado por Jeová, mas de moralidade muito dúbia, ou não estivesse a bíblia cheia de casos de incesto e violência sexual por parte dos protegidos de Jeová.
Vejamos a narrativa bíblica de Loth (sobrinho de Abraão). Este, a fim de proteger da curiosidade hostil por parte dos homens de Sodoma os dois anjos que o visitaram, tenta aclamar os ânimos entregando à turba as sua filhas virgens: « eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram varão; fora vo-las trarei, e fareis delas como bom for a vossos olhos; somente nada façais a estes varões(…)»(Génesis 19:8)
Os poderes mágicos dos anjos (que cegaram a turba de tarados sexuais) evitaram a violação colectiva das moças.
Mais tarde, habitava Loth uma caverna nas colinas que partilhava com as suas filhas, e chegou a ser pai-avô! (Génesis 19: 30-38) Esta violação incestuosa constitui um embaraço espinhoso que a Igreja tenta sacudir com explicações demasiado forçadas e indulgentes. (A desculpa mais recorrente é a de que as moças acreditavam que, ao terem consciência da destruição de Sodoma e de Gomorra, não haveriam mais homens na Terra, para além do seu pai, e elas sentiam a imperiosa obrigação de se reproduzirem. Como manda Jeová, a sua principal missão como mulheres é parir o máximo de judeus. Tal argumento sonega o relato de que, fugidos da catástrofe que acabou com as referidas cidades, ainda visitaram a cidade de Zoar , mas Loth teve medo de lá permanecer. Assim, antes de procurarem abrigo nas isoladas serranias, as filhas de Loth tomaram conhecimento de que, pelo menos em Zoar, ainda existiam homens disponíveis para as engravidar. )
Coerente com a sua misoginia, a bíblia atribui (mas sem se deter em juízos de valor) a exclusiva responsabilidade deste bizarro episódio às filhas de Loth. Como é que um idoso demasiado bêbado para ter consciência dos seus actos (nem deu pela presenÇas das suas filhas na sua cama noites seguidas) consegue ter relações sexuais e engravidar as duas jovens?! O relato indica-nos ele conseguiu esta proeza sem a ajuda de Jeová. (Genesis 19:31-36) Estes patriarcas bíblicos têm porras!...
Este incesto não foi condenado por Jeová, mas a desgracada da esposa de Loth, apenas pelo “pecado” da curiosidade que qualquer um de nós teria – até por obediência ao instinto de sobrevivência que geralmente vai contra a ontade do “bom deus” -, foi transformada numa estátua de sal... (Na região do Mar Morto abundam pilares de sal que os ventos caprichosamente cinzelaram. Alguns tem formas antropomórficas. É fácil deduzir onde os povos de lá se inspiraram para construir a fábula em causa. )
Para os não crentes nestas baboseiras, se as raparigas engravidaram durante a sua convivência com o seu pai num ermo, o mais provável é que tenham sido violadas repetidamente pelo velhote…
As estorietas absurdas e sórdidas da bíblia repetem-se com suspeita freqüência. Seguindo o mesmo guiao (até nos seus diálogos), no capítulo 19 do Livro de Juízes, deparamo-nos de novo com a cópia do episódio em que uma horda de violadores chega à porta de onde se acomodam os personagens principais. De estômago embrulhado, deparamo-nos de novo com forma aviltantemente misógina, traiçoeira e covarde como os protegidos de Jeová tentam “salvar a honra” de anfitriões e convidados, entregando as mulheres sob a sua protecção – até autorizando os malfeitores a perpetrarem as brutalidades e humilhações que lhes aprouver!...
A diferença desta feita é que, tanto a concubina de um sacerdote levita como a filha virgem do caridoso idoso que lhes deu hospedagem, acabaram mesmo nas garras rapaces dos violadores, que delas abusaram durante toda a noite (enquanto os homens que as deveriam proteger dormiam o sono dos justos?!...) – provocando a morte da companheira do tal sacerdote filho-da-puta! Este não esteve com meias medidas e cortou-a em 12 pedaços que enviou às tribos de Israel, à laia de um atroz apelo à guerra vingativa. Jeová, cujo apreço pelo sangue derramado certamente que em muito supera o da Condessa Bathory e do Conde Drácula juntos, deve ter ficado contente com o desfecho: mais de 60 mil mortos. Que o Senhor seja lavado – em sangue!....
Como mesmo entre o seu povo dileto Jeová trata uns como filhos e outros como enteados (no pior sentido da expressão) , muitas vezes não se limita a abusar dos seus super poderes, dando uns valentes cagacos a fim de que algumas ovelhas negras do seu rebanho aprendam licções traumatizantes, levando os seus jogos sórdidos até às últimas conseqüências – abstendo-se de intervir para evitar mortes inúteis.
Na véspera de uma decisiva batalha contra os amonitas, um senhor da guerra hebreu chamado Jafé fez um trato com Jeová: caso deus o ajudasse na desejada conquista militar (em nome do Senhor e a pedido Seu, no final das contas) , Jafé prometeu-lhe sacrificar a vida (com recurso ao fogo ritual) da primeira pessoa que saísse da sua casa para o receber de regresso vitorioso ao acampamento. Jeová deu então uma ajuda para que o desfecho da batalha fosse favorável aos seus seguidores (não o teria feito sema celebração do abominável trato?!), garantindo ainda que Jafé tivesse que sacrificar a sua única filha. (Não fica claro, porém, se Jeová forneceu a receita culinária a Jafé quando este cozinhou a sua própria filha em nome do bom deus e da palavra empenhada nos negócios com o Altíssimo, mas sabemos que Jeová e o seu povo nutrem uma obsessão mórbida por hímens fresquinhos...
Segundo os seguidores das religiões abraâmicas, toda a humanidade provém derelações incestuosas (com quem teriam então acasalado Caín e Abel, senão
com as suas irmãs, assim como os seus descendentes mais próximos?).
E onde é que está essa diferença em termos de comportamento sexual? Por mais que leia a bíblia e a história das religiões judaicas, cristãs e muçulmanas, só encontro um dominador comum que justifique essa diferença de comportamentos sexuais: o repúdio ao desperdício de esperma (começando pelo episódio de Onan & Tamar logo no livro do Génesis).
O Velho Testamento tolera a violência sexual, os incestos e a prostituição, mas não as práticas sexuais que não conduzem à fecundação. Isto parece-me típico de uma minoria étnica ameaçada que, para além da conversão, procura na demografia a sua sobrevivência e a conquista dos seus opressores. (A hierarquia patriarcal rígida e a imposição da obediência sem pensamento crítico são igualmente características de um povo envolvido em conflitos bélicos de longo termo.) +++
+++ No antigo Egipto a masturbação era socialmente aceite, ao ponto de integrar um dos seus mitos da criação, referente ao deus solar Aton que deu origem ao deus Shu/Chu e à deusa Tefnut, aproveitando o sémen da sua masturbação. Tal não deixa de ser irônico considerando que os hebreus copiaram e adaptaram dos egípcios muitos dos seus mitos religiosos basilares que deram origem a tabus doentiamente avessos a práticas sexuais que não conduzam à fecundação.
Os maiores heróis do Velho Testamento são varões que tiveram carradas de filhos. Logo no Génesis (15:5), Jeová promete a Abraão que a descendência do principal patriarca seria numerosa como as estrelas do céu.
A infertilidade é considerada uma maldição de Deus (tal como podemos verificar logo no caso de Raquel, a esposa favorita de Jacob).
Para os devotos a Jeová, sempre que o sexo se consuma em relações em que a fecundação resulta impossível, adquire um carácter pecaminoso. Quando tal envolve homens (ou seja, desperdício de sémen), “a semente da vida” torna-se na maior das imundices, sendo colocado no mesmo “saco” tanto a homossexualidade como o bestialismo. Por exemplo, se um homem tiver sexo com um animal (irracional), as antigas leis judaicas determinam que deverão morrer os dois, pois os animais assim conspurcados (e quiçá até viciados, valha-nos deus!...) não poderão ser consumidos e menos ainda oferecidos em holocausto em honra de Jeová. Mas o mesmo estava reservado para as mulheres que fossem apanhadas a cometer esse pecado contra natura. (Levítico 20:15,16)
De forma coerente, o Levítico (15:19 e 18:19) também proíbe o coito com as mulheres que estão menstruadas. (já na Grécia antiga esse tabu era mantido; pensava-se que tal prática sexual comprometia a fertilidade das culturas agrícolas, sobretudo tornando estéreis as árvores de fruto e azedando o vinho.)
Para os judeus ortodoxos (que mantêm a proibição homofóbica) o sexo é “ Cosh”, ou seja, uma bênção pelo seu poder de trazer uma nova alma ao mundo. Mas, para ser sinónimo de beleza e de virtude, deve ser uma prática discreta e frugal com fins procriativos.
O sexo que não é condenado pelas religiões abraâmicas restringe-se ao que é legitimado por estas no matrimónio, cuja finalidade exclusiva é a procriação.
Essa mentalidade judaico-cristã realizou todo o seu potencial nefasto na Europa medieval.
«A violência constituía o ingrediente essencial daquele mundo. A nobreza feudal tinha dois objectivos prioritários: ser uma forte máquina de guerra e gerar uma batelada de filhos.» - Alan Woods (2003)
como o primogénito (varão) herdava quase tudo, muitas dezenas de jovens nobres sentiam necessidade de conquistar e espoliar novos territórios – as cruzadas pareceram-lhes uma oportunidade de ouro paraconseguirem esses objectivos.
Se o lascivo Rei Salomão não tivesse escrito (?) o «Cântico dos Cânticos», e se este poema erótico não tivesse sido aprovado pelos autores e/ou compiladores das escrituras sagradas, duvidaríamos que a tradição judaico-cristã apreciasse o sexo como uma celebração prazerosa e mutuamente desejada e consentida entre os casais .
A prostituição já foi considerada uma actividade sagrada. As prostitutas eram representantes de deusas (manifestações da Deusa-Mãe; a força telúrica da fertilidade e da renovação cíclica da natureza; alguns dos nomes mais antigos que se conhecem destas entidades sacrossantas são : Inanna, Ishtar, Gaia...). fazer sexo com estas servas diletas dos deuses era considerado tanto um ritual religioso como uma afirmação de poder político. O meretrício era indissociável do sacerdotício. A prostituição
A prostituição de cariz ritualístico era bem aceite até entre os antigos hebreus. Não obstante, importantes teólogos doutrinadores da cristandade, como ,por ex., S. Paulo e S. Agostinho, condenaram a prostituição com tal ódio que nem reconheciam as prostitutas como verdadeiros seres humanos (os tais criados à imagem e semelhança de Jeová).
(S.) Tomás de Aquino (séc. XIII) considerava a prostituição como um mal necessário destinado a apaziguar o demónio da luxúria que domina os homens, deixando em paz as mulheres honestas e virtuosas, bem como evitando que se entregassem aos vícios homossexuais (se bem que, pelo menos nos bordéis da época, o homossexualismo nem era tabu). O Vaticano mantinha um política de misoginia hipócrita, ao excomungar as prostitutas; paneas lhes oferecia a chance de redenção ao abandonarem a profissão, abraçando a fé. Tal consumava-se tanto através do casamento com homens respeitados pela sociedade Cristã, como também através da clausura em comunidades monásticas (chamados “Lares de Madalena”; o de Saint-Marie-Madeleine de Avignon foi um dos mais conhecidos). Aí o arrependimentos era cultivado através de um férreo regime de provações que passavam pela quase ausência de contacto social, jejum e intermináveis horas de orações.
A Igreja até canonizou algumas prostitutas (ex.:Sta Pelágia, Sta Maria Egipcíaca e Sta Afra, entre outras) que deveriam servir como exemplo para as profissionais do sexo.
Em sintonia com a Igreja, as autoridades municipais resignaram-se à necessidade da manutenção da prostituição, encarregando-se de abrir prostíbulos públicos. (Estes foram institucionalizados entre 1350 e 1450) Apenas procuraram que estes se estabelecessem em zonas discretas das cidades – sobretudo longe das igrejas. E aprovaram também leis de higiene pública a serem implementadas em bordéis particulares e em saunas (onde o sexo era uma actividade corriqueira e comercializada). Algumas dessas sunas pertenciam à própria Igreja (ex.: a de Saint-Michele era propriedade da abadia de Saint-Etienne de Dijon). Não por acaso a generalidae dos gerentes de bordéis tinahm o apodo de “abades” e as cafetinas, por seu turno, eram chamadas de “abadessas”...
Paulo
Originalmente chamava-se Saulo, mas, para condizer melhor com o seu estatuto de novo cristão romanizado, adoptou o nome Paulo.
Este homem durante muito tempo divertiu-se a perseguir os cristãos, até que, devido ao "milagre da estrada de Damasco" (onde um raio de luz cegante o atirou do cavalo abaixo, a fim de lhe mostrar o verdadeiro caminho espiritual), tornou-se um converso iluminado e andarilho pregador.
Paulo mostra-se um ser angustiado que enaltece as sublimes virtudes da continência, considerando que a espiritualidade é incompatível com a sensualidade e vice versa.*-+ Não indo tão longe quanto S. Agostinho, Paulo também defendia a submissão e a mortificação (chegou, inclusive, a descrever o seu próprio corpo como um execrável presídio da sua alma), aconselhando aos homens que abraçassem Cristo para que prescindissem
do sexo. (Quanto ao casamento, este andarilho pregador, considerava-o um mal menor, apropriado para os homens fracos de espírito que não conseguíam resistir às tentações da carne.)
A sua influência cresceu até se tornar o teólogo [autoridade eclesiástica] mais influente no Novo Testamento, marcando o divórcio fatídico entre o corpo e a alma, entre a natureza e a religião. Este divórcio veio a tornar-se a própria essência da fé.
(Aos Romanos 6:6-13; 7:8-25; 8:12-13; 12: 1,2. Aos Gálatas 5:16,17; 5: 24; 6:8. Aos Filipenses 3:3. Aos Coríntios 15: 36-47)
«Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quiserdes.» (Paulo – aos Gálatas 5:17)
«E os que são de Cristo, crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.» (Paulo – aos Gálatas 5:24)
«Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.» (Paulo – aos Gálatas 6:8)
Paulo consolidou ainda a doutrina de repressão às mulheres:
«As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar;
mas estejam submissas como também ordena a lei. E se querem ser instruídas
sobre algum ponto, interroguem em casa os seus maridos, porque é vergonhoso
para uma mulher o falar na igreja. » (1 Coríntios 14:34-35)
«A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que
a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em
silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi
enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á,
porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na
santificação. » (1 Timóteo 2:9-15)
«As mulheres sejam submissas a seus maridos como ao Senhor, porque o marido é
cabeça da mulher como Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual ele é o
Salvador. Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam
também as mulheres a seus maridos em tudo. » (Efésios 5:22-24)
Em sua defesa, devemos ter em conta que Paulo (obcecado com a importância do seu papel, o que o levou a reclamar insistentemente, mas em vão, o estatuto de apóstolo, apesar de nunca ter conhecido Cristo pessoalmente) julgava que o fim do mundo se aproximava a passos largos (com a 2ª vinda de Cristo, precedida do reinado do Anticristo), e daí que fosse indispensável aos homens consagrarem-se ao desenvolvimento dos valores espirituais.
*-+ Diverte-me imenso imaginar a perplexidade, o choque horripilante e a frustração exasperada de Paulo quando este foi pregar para a ilha
grega de Corintos - que, basicamente, era o maior bordel da antiga
Grécia, e onde a licenciosidade/liberdade sexual e a religião estavam
profundamente ligados. A deusa dos coríntios, como seria de esperar,
era Afrodite. A felicidade dos seus
devotos, que viviam para o prazer carnal, tornava infrutíferos os
esforços de Paulo que, durante 18 meses, tentou converte-los ao
cristianismo, incutindo-lhes o medo e a culpa. Paulo, num tom
imperativo (repetindo o apelo apaixonado do seu Messias) dizia-lhes:
«segue-me!», mas enfrentava uma competição impossível de vencer, pois
as cortesãs escreviam nas solas dos seus sapatos exactamente o mesmo
convite, que ficava impresso nas pegadas seguidas pelos
fogosos/arrebatados mancebos...
«A fim de ser preservada a castidade, é indispensável manter o estômago vazio e roncando e os pulmões febris.» - São Jerónimo (340?-420)
S. Agostinho (nascido em 364) estendeu e consolidou a misoginia e a fobia à natureza silvestre de que padecia S. Paulo, deixando um pesadolegado à cristandade que ainda hoje faz misérias. S. Agostinho (que até teve uma vida marital aparentemente feliz, chegando até a gozar os prazeres de ser pai) acabou por renegar e condenar a sexualidade, torturado pela sua intelectualidade e espiritualidade em conflito permanente com os seus instintos animais. Esta infeliz dicotomia é mais consentânea com as filosofias de tradição clássica que então vigoravam no decadente/moribundo império greco-romano, do que com a tradição hebraica. O helenismo, e não tanto o Antigo testamento, defende a separação (irreconciliável) entre o mundo da matéria (que incluía a natureza e, inevitavelmente, a sexualidade), cheio de imperfeições e impurezas, e o mundo espiritual, considerado como a única via para a sublimação dos humanos e umnprivilégio exclusivo da nossa espécie. O clérigo Agostinho adaptou esta filosofia e especulou sobre a origem da "impureza carnal" na sua religião, tendo-a encontrado no "pecado original" de Adão e Eva. Para Agostinho, o pecado original era de cariz sexual e temia a vida
sensual e beleza - fatalmente "demoníaca"! - das mulheres, defendendo-se das tentações da carne através da meditação solitária e da auto flagelação. O sexo tornou-se assim a confirmação da imperfeição humana, e apenas se justificava (desde que abençoado pelo santo matrimónio, está claro) devido à necessidade de procriação. Assim, opunha-se tanto à homossexualidade como até ao sexo entre idosos (ou seja, a menopausa tornou-se mais um estigma para as mulheres).
Antes de se converter (com a idade de 42 anos) ao cristianismo, Agostinho andou apaixonado com a filosofia (carregando para todo o lado livros de Cícero e de
Hortesius), juntou-se aos maniqueístas (que afirmavam haver na alma humana uma dualidade interdependente entre o bem e o mal) e até simpatizava com a heresia
e a astrologia. Uma vez "cristão, tornou-se intolerante e perseguidor em relação às filosofias que tinha seguido até então. Provavelmente as maiores controvérsias em que se envolveu e que necessitaram o empenho máximo das suas notáveis capacidades intelectuais e do conhecimento aprofundado que possuía da bíblia, foi rebater os argumentos dos donastistas e dos pelagianistas. Os donastistas advogavam uma total integridade entre as crenças e a disciplina litúrgica defendidas pelos bispos católicos, mas respeitadas por poucos deles. Se a Igreja tinha um carácter intrinsecamente sacrossanto, os sacerdotes do Clero tinham que agir em conformidade em todos os seus actos quotidianos, caso contrário estaria apenas e debitar hipocrisias destituídas de valor e de sentido. Para Agostinho o divino sacramento não podia ser posto em causa e transcendia a conduta dos homens de Deus.
A Agostinho deve-se também o dogma absurdo (que o Vaticano manteve até ao início do séc. XXI) de que os homens nascem impuros devido ao legado pecaminoso de Adão.
A bíblia deixa-nos claro que nem Jeová consegue erradicar a maldade do (Seu?) mundo. Tal só será possível quando a humanidade for extirpada de tudo o que lhe é natural. No vigésimo segundo capítulo do Evangelho Segundo Mateus, Jesus ensina aos seus seguidores sobre a ausência de desejo sexual - e, logo, ficará anulada a necessidade do matrimónio – na sua visão do paraíso celestial.
Disse S.Agostinho sobre a poligamia: "Ora, uma serva ou uma escrava nunca tem
muitos senhores, mas um senhor tem muitas escravas. Assim, nunca ouvimos dizer
que mulheres santas tivessem servido a vários maridos e sim que muitas
serviram a um só marido ... Isso não é contraditório à natureza do
casamento. » (De bono conjugali 17, 20)"
Pelágio
Pelágio (350-425) e os seus seguidores defendiam a idéia (bem mais sensata) de que a pureza é inata e que só a partir dos 7 anos (idade que consideravam estarem as crianças aptas a fazer julgamentos e opções de consciência) é que perdíamos essa pureza (sendo o mal transmitido por influência dos adultos) e, como ela, a vida eterna, tal como Adão perdeu o direito à eternidade por ter pecado. Agostinho não podia concordar com estas ideias porque elas desacreditavam o poder regenerador do baptismo e a influência da graça divina na salvação dos eleitos, sendo os homens os únicos responsáveis pela sua salvação através dos seus actos. As pessoas poderiam redimir os seus pecados cumprindo a lei de Deus, o que não tornava indispensável a intermediação da Igreja (os pelagianos tinham a ousadia de afirmar:«a Igreja somos nós!»)
Para os pelagianistas o livre arbítrio seria mais uma habilidade
moral concedida por Deus a fim de que os homens pudessem evitar o
pecado (que para Agostinho era impossível) e, se estes obedecessem às
escrituras sagradas e sobretudo à mensagem de Cristo, tornar-se-iam
independentes e auto-suficientes espiritualmente, deixando a Igreja
de ser uma intermediária indispensável para os que pretendiam alcançar
a salvação (pós Armagedom). O corajoso monge bretão que foi para Roma
envolver-se em aguerridas batalhas morais e teológicas, pretendia uma
renovação moral da Igreja para que esta se tornasse de acordo com a
bíblia e com o que predicavam os sacerdotes, acreditando ainda que a
justiça divina não nos imporia preceitos fora do nosso alcance moral,
pois isso conduzir-nos-ia a uma condenação e a um sofrimento
inevitável e inútil.
Pelágio sentia-se tão longe da decadência moral e espiritual da
Igreja que sucumbiu à tentação da vaidade, vangloriando-se das suas
virtudes que, a seu ver, o tornaram num homem cheio de pureza
beatífica.
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