quarta-feira, abril 04, 2007


10 anos após a generalização das agroculturas geneticamente modificadas (GM), o Centro de Ciência e Política Ambiental reportou um aumento no uso dos agroquímicos (que no caso do milho corresponde a mais 30 por cento por acre).

Num estudo recente que abrangeu 18 mil campos de cultivo nos E.U.A., chegou-se à conclusão que, em média, a produtividade das culturas transgénicas é menor que as convencionais (em menos 4%, mas nalguns casos em menos 10%). Complementarmente, o Dr. Charles Benbrook, do North West Science and Environment Policy Center of Sanpoint, demonstrou que a cultura da soja transgénica comercializada pela Monsanto utiliza mais 11,4% de herbicida (da mesma empresa) do que a soja convencional, pois “ervas daninhas” têm desenvolvido uma maior resistência a esse agroquímico.

Outras multinacionais optam por, na fonte, impregnar as “sementes castradas” com quantidades ingentes dos seus pesticidas e de bactérias geneticamente modificadas (ex.: Bacillus subtilis). Quando não conseguem escoar toda a produção (visto que a validade das sementes expira com rapidez), despejam esses resíduos tóxicos perigosos no chamado “3º Mundo”. De entre muitos exemplos possíveis, cito o caso da empresa norte americana Delta & Pine Land Co. Que em 1998 depositou o seu lixo tóxico na pacata e desprotegida povoação de Rincon-í, no Paraguai, tendo provocado intoxicações letais nos desavisados habitantes locais, além do inquinamento de terras e dos lençóis freáticos. Este caso não difere substancialmente do ocorrido após a primeira Guerra do Golfo (promovida por Bush pai), quando o exército norte-americanos foi despejar o seu arsenal químico (que não chegou a ser utilizado contra os iraquianos) extremamente tóxico numa baía no norte da Filipinas. Desde a Segunda Guerra Mundial que os EUA mantêm bases militares nas Filipinas. Os estaleiros dos seus barcos e aviões de guerra sempre produziram uma enorme quantidade de resíduos tóxicos (ex.: amianto, mercúrio, chumbo, PCB, FBT, dioxinas, etc…) que, mais cedo ou mais tarde, acabariam na baia de Subic. (Pergunto-me o que terão estes tipos arrojado ao mar dos Açores durante todos estes anos que têm ocupado a Base das Lajes…)A saúde dos filipinos que consumiam essas águas inquinadas deteriorou-se de tal forma que o caso atraiu a atenção da comunidade internacional. Carolina, a princesa de Hanover, encabeçou uma forte campanha de solidariedade a estas vítimas – que não têm recursos suficientes para custearem os tratamentos. (www.amademondiale.org/)

O exército yankee foi chamado a prestar contar, ou melhor, a pronunciar-se sobre este atentado ecológico. A resposta é que não satisfez ninguém. Os responsáveis pela superpotência militar afirmam que nos contratos que assinaram (sob coação) com o governo das Filipinas, não existe nenhuma clausula que os obrigue a limpar a sua porcaria letal. O Congresso (dos EUA) produziu (em 1992) um documento a esse respeito um relatório que concluiu que “os custos da remoção e limpeza desses resíduos tóxicos são demasiado elevados.” (sic)

Igualmente esquecidas estão dezenas de toneladas de armas de armas químicas abandonadas pelas tropas estado-unidenses e britânicas no Panamá, em relação ás quais o governo NA afirma que não vê justificação para mobilizar meios destinados a limpar esse seu lixo tóxico «em terras não aptas ao desenvolvimento urbanístico, residencial ou comercial» (sic). Isto apenas significa que não se trata de uma área (florestal) onde os yankees tenham esse género de investimentos, mas não deixa de ser o lar de muitos panamenses que vivem na aflição de que os seus filhos sejam vítimas de bombas de gás mostarda que pululam pelas matas em redor das suas casas.

Os média, em vez de se preocuparem tanto com a liça futebolística, deveriam mostrar os horrores de que estão a padecer estas populações vítimas inocentes do imperialismo inimputável inerente a esta globalização corporativista…

É deveras intrigante que a conhecida multinacional Bayer ( que produz e comercializa produtos farmacêuticos, agroquímicos e OGMs) tenha escolhido, de entre os seus funcionários-modelo, para proferir o discurso de abertura das comemorações dos seus 50 anos de vida (desde que foi reestruturada em 1951), um dos cientistas responsáveis pela criação, durante a II Guerra Mundial, do gás Ziklon-B. Este gás (que é um pesticida) foi encomendado por oficiais nazis de propósito para executarem judeus, negros, ciganos e outras minorias étnicas e religiosas, homossexuais e vários outros indesejáveis ao 3º Reich, nas hediondas câmaras de gás. Finda a guerra, provou-se em tribunal que o referido cientista tinha conhecimento de uso pretendido para a sua sinistra invenção. Por isso passou sete anos na cadeia. Agora é um dos “excelsos crânios” que inventa a comida que vamos buscar ao supermercado...

Mais alguns exemplos dos crimes corporativos da Bayer:

- No final do séc. XIX, início do séc.XX, a Bayer comercializou heroína;

- em 1925 a Bayer fazia parte de um cartel corporativo que viria a fundir-se com o nome de IG Farben. Esta, durante a II Guerra Mundial, utilizou mão de obra escrava fornecida pelos nazis (a partir dos campos de concentração) e foi responsável pela criação e comercialização do gás Zyklon B, para além de ter usado esses prisioneiros como cobaias, injectando-lhes germes drogas que seriam utilizados numa possível guerra química e/ou biológica. Não só os seus cientistas trabalhavam nos campos de concentração fazendo dos prisioneiros cobaias, como também essa empresa subsidiou as experiências horríficas do Dr. Mengela, mais conhecido como “o anjo da morte”.

A IG Farben tinha acesso facilitado/privilegiado a matérias primas e a empréstimos durante o regime nazi devido a que os quadros administrativos da empresa ocupavam também altos cargos no partido nazi. E como controlavam ainda o monopólio da borracha sintética e, em conluio com a empresa NA Standard Oil, asseguravam parte do fornecimento ao exército dos combustíveis sintéticos, foi enorme a sua responsabilidade nos esforços de guerra dos alemães.

No Tribunal de Nuremberga (1947) os executivos e cientistas da Farben foram condenados por crimes de guerra, mas, estranhamente, o Tribunal Americano ilibou-os dessas acusações…Na caça ao cientista em que se empenharam as potencias aliadas após a guerra, o governo NA chegou oferecer emprego a alguns destes facínoras…

Essas práticas não foram, de todo, banidas pela Bayer até aos nossos dias. A Bayer não tem poupado esforços em, manobras de bastidores para que a administração Bush (mais concretamente através da Agências de protecção Ambiental – EPA) levante a moratória aos estudos sobre a toxicidade em que, deliberadamente, submetem humanos aos efeitos dos pesticidas. A emprega germânica alega que esses testes são necessários e que todos os que se submeteram ao contacto com os tóxicos eram “voluntários”. Pois, quando se é pobre, a troco de umas somas ridículas, as pessoas “volutearam-se” a qualquer coisa. Do mesmo modo que chamamos voluntários – e não mercenários – aos que se alistam no exército com o único propósito de escapar à pobreza e ao desemprego. É de admirar que o Bush e Blair não tenham autorizado essas experiências nos seus prisioneiros considerados “combatentes inimigos”…

As provas mais recentes de que a Bayer tem utilizado humanos como cobaias em experiências com pesticidas remontam a 1998, num estudo (realizado na Escócia) para determinar os efeitos fisiológicos do insecticida baseado em metilo de azimfos (???) (um químico derivado de um organofosfato originalmente desenvolvido e utilizado como um gás com capacidade para destruir o sistema nervosos central durante a II Guerra Mundial).

Tais práticas violam leis federais (dos EUA), o Código de Nuremberga, a Declaração de Helsinkia; vão contra as deliberações do painel de aconselhamento científico da EPA e são consideradas aberrantes de acordo com as legislações e a ética científica e a moralidade de qualquer nação dita civilizada.

A Bayer não é única empresa a testas (na “segurança” dos laboratórios) pesticidas em humanos. Junto da EPA foram entregues mais 10 estudos que recorrem a esta metodologia abjecta provenientes de diferentes entidades. Se a EPA ceder às pressões da Bayer, abrirá um precedente extremamente perigoso.

Em 1988, durante a administração de Bush sénior, o então Director da EPA proibiu a agência de utilizar dados referentes a experiências semelhantes conduzidas pelos nazis.

A política que estão agora a submeter os consumidores (vítimas dos seus pesticidas e dos seus OGM), no essencial, não difere muito das suas práticas durante o regime de Hitler. E nem o seu departamento de farmacologia foge à regra. Eis um exemplo disso: em 1989 a Bayer tinha em seu poder estudos que demonstravam claramente a ineficácia do seu antibiótico comercializado com o nome Ciprox; quando este entrava em contacto com outras drogas, perdia muita da sua capacidade bactericida. Mas a empresa estava (e está!) mais interessada nos lucros comerciais imediatos, do que em proteger a saúde pública, deixou que, pelo menos, 650 pessoas arriscassem as suas vidas no bloco operatório sem que os médicos fossem informados das deficiências do Ciprox.

Nos Andes peruanos, uma comunidade de campesinos foi recentemente abalada pela morte de 24 crianças, além de outras 18 terem ficado gravemente lesionadas, em consequência de um envenenamento colectivo causado por um pesticida da Bayer. As vítimas desta tragédia julgaram tratar-se de leite em pó. O seu erra (fatal) justifica-se pelo facto de que o pesticida em causa (comercializado com o nome “Folidol” e cujo principal agente químico activo é o químico metilo paratião) foi vendido a agricultores analfabetos e que só falavam quechua em embalagens semelhantes às do leite em pó e com indicações em espanhol – sem elementos gráficos que o identificassem como tóxico.

Claro que nem todos os cientistas da biotecnologia agem de má fé; alguns são mesmo movidos por ideais nobres. Mas não é paliando os sintomas dos problemas (ainda por cima brincando aos aprendizes de feiticeiro) que vamos solucionar as desigualdades sociais e a degradação dos recursos naturais. Todo esse esforço intelectual, técnico e financeiro deveria estar canalizado para encontrarmos soluções realmente sustentáveis para a agricultura mundial, em vez de forçarmos a abertura da “caixa de Pandora”, que, no mínimo, nos afasta das soluções sustentáveis.

PB

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