sábado, agosto 19, 2006

A intenção ou a simples ideia de implantar um Campo de Golf, no local que hoje em dia é conhecido vulgarmente por Paúl da Gouxa, teria constado do programa de um partido político nas últimas eleições autárquicas.
Devo informar-vos que desconheço completamente se há um estudo ou um ante-projecto para tal obra, e em que modalidade seria construído e explorado esse Campo de Golf, tendo em conta que há terrenos que pertencem à Câmara de Alpiarça e outros ao Sr. Isidoro.Quer sejamos contra ou a favor do aproveitamento do Paúl da Gouxa para uma obra dessa natureza, todos concordarão que o Paúl tal como está também não tem qualquer aproveitamento turístico ou lúdico.Neste momento não passa de um matagal abandonado, onde o Salgueiro Negral tomou conta dos terrenos há anos abandonados pela orizicultura, alguns charcos cheios de erva pinheirinha e espadanas, e o despejo de águas putrefactas vindas do que deveria ser uma ETAR e onde corre um ribeiro que recebe igualmente as águas mal tratadas de uma exploração leiteira a montante que acabam por desaguar na nossa Vala Real.As margens e parte do solo do Paúl foram vítimas da exploração de pedreiras que deixaram as suas inconfundíveis marcas, que para ficarem com um aspecto aceitável precisam de uma intervenção profunda que lhes devolva um aspecto mais natural.Como sabemos o Golf é um desporto para ricos e a construção de campos de Golf tem sido uma maneira habilidosa de atrair capital para recuperar, em muitos casos com sucesso, terrenos que de outra forma continuariam abandonados, como matagais ou zonas pantanosas e malcheirosas.Gostaria de trazer aqui à discussão este tema e ouvir o que as pessoas pensam sobre o assunto e lançava algumas perguntas:
1.º - Será útil e viável a construção de um campo de Golf, tendo como contrapartida o embelezamento e recuperação de toda aquela zona, com a obrigatoriedade de fazer funcionar a ETAR e ter uma ribeira de águas limpidas?
2.º - Será que a construção de um Campo/Clube de Golf ficará à partida ensombrada pelo aproveitamento imobiliário e especulativo que advirão de tal empreendimento, ou por outro lado, seria uma mais valia para Alpiarça e que poderia captar futuros investimentos noutros sectores da nossa vila, nomeadamente a nível hoteleiro, comercial ou industrial?
3.º Seria uma estrutura como um Clube de Golf o complemento ideal ao Complexo dos Patudos, à Reserva do Cavalo do Sorraia, ao Parque de Campismo e à Albufeira dos Patudos?
4.º Mesmo que hipoteticamente no futuro se viesse a construir nas proximidades do Campo de Golf, uma urbanização de luxo e como é óbvio encher os bolsos a alguns especuladores imobiliários, seria isso bom ou mau para Alpiarça?
Aguardo os vossos comentários.






Como tenho o “pavio curto” e falo quase sempre com o “coração nas mãos”, apetece-me começar a chamar nomes. Mas isso seria uma atitude contraproducente e pouco inteligente, que se poderia desculpar (?) apenas por se considerar uma mero acto reflexo, fruto da minha enorme indignação e frustração por andar a pregar no deserto (de sensibilidades e ideais ambientalistas). Claro que eu não posso ser optimista ao ponto de acreditar que umas …… mensagens ambientalistas vão conseguir penetrar e medrar nas empedernidas mentalidades moldadas há muitos (demasiados!) séculos pelas religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo). Mesmo os que recentemente conquistaram a independência intelectual do agnosticismo, a esmagadora maioria de nós continua a pensar que a natureza tem que ser ajardinada (não é à toa que o paraíso bíblico, o Éden, é descrito como um jardim…) e que o “desenvolvimento” e a nossa qualidade de vida só podem advir da destruição da natureza silvestre. As doutrinas economistas vigentes (que têm como deus o capital, e como principal religião o neoliberalismo) parecem cegas ao facto de que tudo – absolutamente tudo! – provém dos recursos naturais. Assim, desprezam completamente o BEM AMBIENTAL - entendido como um conjunto de coisas fundamentais, insubstituíveis e passíveis de serem auferidas por todos, mas dificilmente quantificáveis pelos economistas que servem o sistema. Urge, pois, fomentar mudanças de valores e comportamentos a fim de termos a capacidade de valorizar o BEM AMBIENTAL.
Como contabilizar e traduzir por cifras a acção purificadora (da água e do ar) que o paul nos presta? E a experiência tanto sensorial como espiritual de nos embrenharmos no salgueiral, onde praticamente não se ouvem carros e onde abunda a fauna? Ou julgam que o remédio anti- stress só passa pelo golfe?

“Existe no nosso país um forte corporativismo patrimonialista que se opõe frontalmente à integração e interdisciplinariedade inerentes à ideia de meio ambiente.” (Fernando Bernaldez, 1988)

O capitalismo tornou-nos tão estúpidos que recusamos o direito à existência a tudo o que a nossa ganância desconhece utilidade imediata …

O autor do texto que tomei a liberdade de aqui reproduzir a partir do blog «Rotundas e Encruzilhadas» certamente que perfilha destas visões anacrónicas contra natura. Pois, em teoria todos somos “amantes da natureza”, mas na prática estamos nos antípodas dessa asserção politicamente correcta. (Ao contrário do que é publicitado, a natureza não é a maior das putas, nem os bons amantes são aqueles aos quais interessa apenas o seu prazer egoísta…)
É justo e proveitoso que se faça um debate público o mais alargado possível (incluindo a diversidade de opiniões minimamente fundamentadas), mas a sua posição apenas disfarça (e mal) ser neutral. Ex.: «(…) todos concordarão que o Paúl tal como está também não tem qualquer aproveitamento turístico ou lúdico.Neste momento não passa de um matagal abandonado »

Engana-se redondamente. Quem diz isso não pode conhecer bem o paul (apesar de demonstrar conhecer os nomes vernaculares de algumas espécies). Já dizem os ambientalistas que «ninguém protege o que não ama e ninguém ama o que não conhece.»
No primeiro passeio para os “bloguistas e afins” que organizei e que tive o prazer de guiar no Paul dos Patudos, acompanhou-nos um senhor (e a sua respectiva família) que tem uma empresa, bem como uma associação (Acção Natura), dedicadas ao turismo de natureza, e, como tal, veio
Apreciar as potencialidades do nosso paul para cá trazer pessoas de todo o país. E gostou mito do que viu, mas, tal como tinha acontecido há alguns anos com outro amigo meu que tem uma pequena empresa de turismo equestre, torceu o nariz ao facto de o paul se ter tornado num feudo desregrado dos motoqueiros que incomodam terrivelmente e até colocam em perigo os eco-turistas e as crianças das escolas em visitas de estudo. Como compatibilizar estas coisas? Quando é que as pessoas vão aprender o que é desenvolvimento sustentável?
Já cá trouxe igualmente vários ornitólogos que, sintonizando comigo, conseguem focar os olhos no futuro, pois têm noção do enorme potencial ecológico-conservacionista e lúdico-didáctico (incluindo o turismo) do paul. (ex.: Aconselho-vos veementemente a que procurem informar-se sobre o projecto «Cañada de los Pájaros», em Espanha!)
Ultimamente também andam técnicos/cientistas muito competentes a fazer trabalho de campo no paul – e isto é só o começo! Infelizmente, tal não é divulgado para a população. E os projectos de conservação/desenvolvimento sustentável têm poucas hipóteses de vingar, se as populações locais não os acarinharem.
O facto de o Paul dos Patudos ser um ecossistema muito interessante – à escala europeia, podem crer! – em nada se deve ao mérito do homem. Ainda bem que é um « matagal abandonado » (sic), pois isso significa que a natureza pode recuperar (a partir de um arrozal, que, por sua vez, tinha sido implantado numa zona húmida com um valor ecológico superior ao que tem hoje) de uma forma muito melhor do que a ciência e a tecnologia humana jamais conseguiriam. Porque é que a natureza só é valorizada quando é subjugada pelo homem e quando se traduz em dinheiro no aqui e agora?! Essa é a velha escola que nos está a arrastar para um Armagedão ecológico, meus caros!
Não creio que haja maldade implícita nisto, mas suas perguntas são capciosas, pois tentam ludibriar e empurram para a satisfação dos seus interesses pessoais (que podem ser apenas uns preconceitos pleonasticamente infundamentados). Ex.: fala que os campos de golfe “recuperam” «matagais ou zonas pantanosas e malcheirosas.» (sic) Até me admiro como é que não acena com o fantasma da malária antigamente associado às zonas húmidas… É bastante revelador o desprezo com que fala da natureza silvestre… E se o nosso paul é, de facto, mal cheiroso, isso deve-se a que o inundamos de merda há décadas. As zonas húmidas são prodigiosas em depurar os detritos orgânicos, mas há muito que saturámos essa capacidade.
Dê-me lá um exemplo (bem fundamentado, não bastando ler folhetos e sites produzidos por operadores dessa actividade turística) em que um campo de golfe tenha “melhorado” algum ecossistema. Toda a actividade humana tem impacto no ambiente. Temos que medir os prós e os contras, mas não vale a pena dourarmos a pílula desonestamente.
Conheço bem o que são técnicas propagandistas e de desinformação. (ex.: Ao invés de ilustrar as suas palavras com uma foto do nosso paul – cuja beleza fala por si - , escolheu uma de um campo de golfe com um aspecto quase idílico para quem não percebe puto destas temáticas…)
Vamos reduzir este debate – de extrema importância – a questões de aparências?!
As pessoas daqui habituaram-se a considerar o paul como uma área incompreensivelmente inculta, ideal para ir despejar lixo e entulho, abater todos os animais silvestres por diversão e, mais recentemente, para ir praticar motocross. A maioria dos alpiarcenses nem sequer conhece este tesouro natural extremamente frágil, ou então não são sensíveis a essa riqueza que, por um acaso, herdaram mas que não desenvolveram uma responsabilidade afectiva. Não obstante, sei que nem todos são cegos às maravilhas do mundo natural. Se não conseguirmos preservar o nosso paul, como o iremos “justificar” aos nossos filhos ? Aos que guardam o coração na carteira, espero que consigam arranjar argumentos realmente válidos para debatermos estes assuntos com idoneidade e civilidade – preferencialmente de olhos nos olhos e abobadados pelo salgueiral e tendo como “música de fundo” o coro alácre das aves…
Outro exemplo flagrante de uma pergunta capciosa é: «Será útil e viável a construção de um campo de Golf, tendo como contrapartida o embelezamento e recuperação de toda aquela zona, com a obrigatoriedade de fazer funcionar a ETAR e ter uma ribeira de águas limpidas?»

Lá vem a desbotada parvoíce de que o “embelezamento” e a “recuperação” da natureza silvestre só é possível quando a terraplanamos e a ajardinamos (para usufruto exclusivo dos abastados)… Quanto mais maquinaria pesda e engenheiros civis, melhor! Isso é que é um sinal de “progresso” e de “desenvolvimento”! não é assim?...
O projecto, tal como me foi dado a conhecer (secretamente), previa que o efluente da ETAR seria canalizado para a vala de Alpiarça (que é vista pelos políticos apenas como uma cloaca…), de modo a que os golfistas e os moradores do condomínio de luxo não fossem afectados pelas pestilências. Mas temos que ter em conta que o paul está saturado de poluição grave. Não existe qualquer projecto de intervenção a esse nível relacionado com o campo de golfe; ante pelo contrário. Ao se criar uma enorme lagoa artificial em frente a esse polémico empreendimento, os poluentes (provenientes sobretudo da ETAR, da lixeira, da vacaria, da suinicultura, da fábrica de paus, da agricultura) concentrar-se iam aí. Sem vegetação palúdica, a acção desses poluentes seria incrementada por acção da forte exposição aos fotões. Pior, os campos de golfe utilizam imensos agroquímicos tóxicos. Ao bombearem a água muito poluída da lagoa para regar o relvado artificial, juntar-lhe-ão ingentes quantidades de pesticidadas e de fertilizantes de síntese química. Estes, por sua vez, escorrerão para a lagoa, num ciclo vicioso que vai sempre piorando. Suponho que se está a borrifar para as quantiosas (e algumas bem raras) espécies silvestres que existem lá no paul “abandonado”… mesmo que nos tentem impingir campos de golfe “ecológicos” (como se isso fosse possível!), reciclando a água das ETARs e recorrendo a agroquímicos de baixa toxicidade, será sempre um grande atentado contra o paul .
(Não sei que passe de magia julga ser possível para tornar as linhas d’água no Vale da Atela, bem como a Vala de Alpiarça, « ribeiras de águas limpidas?»…)

Esse seu conceito de “beleza” parece-me que tem paralelismos com os que preferem que a indústria de entretenimento lhes mostre jovens sem talento, mas com um aspecto atraente (segundo os cânones – da fruta “normalizada” – impostos pelo ocidente). Essa futilidade reinante tem tornado a vida extremamente difícil a pessoas brilhantes, muitas das quais soa obrigadas a desistir da sua verdadeira vocação apenas porque não embelezam o ecrãn…
Continuando com essa metáfora, deduzo que para si o paul , tal como está, é como uma mulher feia e mal cheirosa, e o campo de golfe é como um vestido de um estilista famoso que, uma vez no corpo da “feiosa”, vai torná-la de imediato em Miss Universo. Acertei? É muito rebuscado?
Sejamos honestos: Alpiarça não tem nenhum atractivo turístico realmente especial, a não ser a Casa Museu dos Patudos e (esperemos que isso seja possível num futuro próximo) o paul.
O turismo, seja lá de que género for, não é panaceia para todos os nossos problemas económicos (que resultam de um acumular de más opções, cujas penosas consequências ainda vamos sofrer por muito tempo…)
Pretender instalar no paul um campo de golfe, uma lagoa enorme, condomínios, piscinas, etc… seria pior do que rodear a casa em que viveu José Relvas com o Centro Comercial Colombo. O projecto que estamos a discutir não vejo que consiga vingar economicamente, mas, se insistirem em ir para a frente com esse disparate, façam-nos noutro local! A quinta da Lagoalva ou a Qta da Torre que sustentem esse investimento, uma vez que já estão vocacionadas para o turismo das tias e dos tios. Se ainda não implementaram grandes campos de golfe é porque sabem que, por si só, nesta região esses empreendimentos são insustentáveis - a não ser que sejam uma artimanha da especulação imobiliária...




O campo de golfe, previsivelmente, não tem qualquer viabilidade económica, mas a principal jogada é a especulação imobiliária. Se reparar bem, num raio de apenas 50 Kms há, ou está previsto a sua implantação para breve, uns 5 ou 6 campos de golfe. (Não nos esqueçamos que querem construir um mega aldeamento turístico - para 20 ou 30 mil pessoas, sobretudo reformados do centro e norte da Europa!!! – à volta do paul do Boquilobo, não podendo faltar, está claro, um campo de glofe…) Só à volta de Lisboa existem uma vintena deles. Ninguém se irá desviar da grande metrópole e/ou do Algarve para vir dar umas tacadas a Alpiarça (nem sequer ao Solidó...)
Um amigo meu que trabalha no Ministério do Ambiente, disse-me que, entre particulares e autarquias, o governo está a ponderar a aprovação de mais de 200 campos de golfe em Portugal! Isto num país que sofre de falta de agia e que será dos países em que o aquecimento global trará as consequências mais gravosas!
Por dia morrem cerca de 30 mil pessoas devido aos problemas inerentes à ingestão de água não potável. E nós, os privilegiados, desperdiçamos a água potável para lavar carros, para os autoclismos e para regar campos de golfe (como acontece no Algarve). É imoral e suicidário!
Ao Consumirmos os recursos naturais de forma insustentável estamos também a limitar drasticamente as hipóteses de alternativa (que, neste caso, significa dispor de algumas saídas em meio à destruição generalizada) às gerações futuras.
Tal como os políticos & autarcas deste país terceiro-mundista que, à força toda, conseguiram transformar Portugal num imenso eucaliptal, agora olham para o lado e assobiam ou culpam o diabo e a cabala dos incendiários, quando o país, inevitavelmente, se converte num mar de chamas a cada verão – porque ninguém lhes pede responsabilidades - , quero ver daqui a uns anos o que irão dizer os promotores dos campos de glofe abandonados e transformados em cimento e alcatrão à espera de compradores…

Se nem o campo de golfe do Melancia no sopé do Marvão, (que é um sítio privilegiadíssimo e em que abundam tanto os atractivos turísticos bem conhecidos, como as ofertas de camas e de comida) conseguiu vingar economicamente (apesar da tentativa de último recursos em tentar que fosse acessível não apenas à elite) , como esperam que em Alpiarça seja um sucesso?! É que, para além de sempre constituírem graves atentados ambientais, os campos de golfe são muito dispendiosos quanto à sua manutenção e dão poucos postos de trabalho.
O que vamos fazer quando os turistas não aparecerem? Construir casinos e centros comerciais?
Provavelmente, também é dos que acha que o Euro 2004 foi um bom investimento financeiro porque o dinheiro ficou cá… Pois ficou – nas mãos de quem já estava cheio de dinheiro e explorando a mão de obra clandestina e precariedade dos empregos temporários! Os estádios novos que se construíram para um evento que só durou um mês vão deixar os respectivos municípios a pagar dívidas durante uns 30 anos ! (A propósito, vou confidenciar-vos algo bastante elucidativo. Os terrenos em que foi erigido o Estádio do Algarve foram expropriados pelo Estado, que por eles pagou uma ninharia, devido à alegada “utilidade pública”. Não muito longe dali existem uns terrenos particulares que estão há muito abandonados e onde cresce um dos últimos núcleos de uma planta muito ameaçada de extinção, a Tuberaria Major. Neste caso, o Estado recusa-se a expropriar os terrenos para fins de conservação de uma espécie que poderá desaparecer em breve, porque se encontram numa zona em que duas Câmaras Municipais pretendem implementar um projecto megalómano que inclui 3 campos de golfe e condomínios a perder de vista. Os técnicos do ISA, que, a par das ONG Almargem e Quercus, sondaram aquele local à procura das raridades botânicas, entregaram ao ICN um relatório em que pediam a protecção urgente daquela pequena área – que até está incluída nos limites do Pré Parque da Ria formosa -, mas o ICN sonegou essa informação a Bruxelas…)
Se eu e os que se opõem ao campo de golfe – sobretudo na área do paul – estivermos errados, no máximo meia dúzia de gatos gordos perdem uma das muitas negociatas possíveis. Se esse projecto lesa natura for avante e (inevitavelmente) se revelar um fiasco, será um desastre extremamente difícil de corrigir. É tão simples quanto isso.
Reitero as minhas sugestões para rentabilização (numa perspectiva de desenvolvimento sustentável do paul:
- Cooperativa de artesanato telúrico (ex.: peças de artesanato relacionadas com o património natural da região, que poderão ir das mais acessíveis, às mais sofisticadas e caras, como se pode observar no internacionalmente aclamado artista chileno Lucien Burquiers – cujo trabalho de extremo bom gosto dá emprego a muitas pessoas); pequenas empresas de eco-turismo e de educação ambiental;
- Criação da primeira reserva mundial do cavalo Sorraia (apostando forte também na hipoterapia), e depois associar os vinhos e os outros produtos agrícolas da região a esse equídeo ameaçado, bem como à avifauna local;
- Um centro interpretativo de apoio às escolas e aos turistas, mas também onde os investigadores possam fazer os seus trabalhos e pernoitar;
- uma ecoteca;
- Um centro de formação para actividades ar livre (que também sirva a atletas e a crianças desfavorecidas de todo o país);
- Um museu de arqueologia e a recreação (ao ar livre, pois claro) de uma aldeia pré histórica (uma merecida e original homenagem ao nosso singular património arqueológico, já que Alpiarça é extremamente rica em vestígios da ocupação humana durante o Paleolítico inferior, e, posteriormente, até se desenvolveu aqui a chamada “Cultura de Alpiarça”, em que se destacam as peças de cerâmica);
- E, porque não ?, recuperar o espírito romântico do final do séc. XIX, início do séc. XX (que inspirou José relvas) e disponibilizar para os artistas (pintores, fotógrafos, poetas, músicos,…) um local lá no paul para que se inspirem e, em troca, ofereçam a Alpiarça o raro privilégio de ver o seu nome associado a algumas das mais belas e criativas manifestações da nossa cultura.
Nada disto são sinecuras, nem o podem ser. Porque é que um projecto só é considerado “bom” se, logo à partida, der para os seus promotores adquirirem caros topo de gama? Tornámo-nos assim tão imbecis?!

Quanto ao outro senhor que foi à Internet roubar argumentos para defender incondicionalmente os campos de golfe, só me apraz dizer que a “sua” argumentação é tão absurdamente tendenciosa e falaciosa que insulta a inteligência até dos menos versados nestas temáticas! Este “tio” (que provavelmente pertence à máquina propagandista do PS local) Por vezes chega a ser hilariante, como, por ex., aquela de que os campos de golfe purificam a água da chuva; que 70% das suas áreas são óptimos habitats para as espécies selvagens,…
(repararam que para realçar as vantagens “ecológicas destes malditos empreendimentos utiliza como termo de comparação as superfícies cobertas com relva sintética, cimento e alcatrão? Pois, assim até a sombra das minhas cuecas num estendal é extremamente “ecológica”!...)
Transformar Portugal num imenso SPA todo verdinho pelos campos de golfe (onde irão arranjar água para isso?!) é o barrete mais recente que uns sacanas endinheirados, gananciosos e oportunistas nos querem enfiar. Querem que o nosso país se assemelhe à Escócia mas com a singular mais valia de um sol que brilha com intensidade todo o ano.
Iupiiiii, vamos ficar todos “bem de vida” a carregar tacos e a servir comida a velhotes balofos vindos dos países ricos!... E deixamos de ter problemas com os incêndios porque a nossa “floresta” será substituída por relvados artificiais. Porreiro! Até nos dizem que poderemos mandar os nossos idosos (com reformas ainda mais miseráveis quanto o nosso sistema público de saúde) e enfermos passear para os campos de golfe. Sem dúvida que lá lhes “tratarão da saúde” – pois não tardarão a morrer alvejados por bolas que facilmente se convertem em projecteis letais… (A propósito, quando estive a fazer trabalho voluntário num centro de recuperação para animais selvagens no Algarve, para além de atender numerosas aves aquáticas que sofrem de envenenamentos por agroquímicos nos CG, passou-me pelas mãos um milhafre com uma asa partida por ter entrado em rota de colisão com uma bola de golfe… Que tremendo azar !)
O argumento mais forte dos da sua laia é o impacto que a indústria do golfe tem no PIB. Eu já no ano passado analisei esses dados (fornecidos pelos promotores do golfe) e foi fácil concluir que são altamente forçados (e inflaccionados) na sua abrangência de possíveis indústrias satélite. Mesmo assim, prefiro elevar a conversa a um nível de inteligência bem superior e original, questionando os fundamentos doutrinários do PIB.
Não sou economista nem tenho especial simpatia por essa temática, mas atentemos no conceito abstracto, confuso e até falaz que é o PIB (Produto Interno Bruto). Este pressupõe apenas que cada unidade monetária (ex.: Euro, Dolar,..) transaccionada (ou seja, que muda de mãos)traduz-se em crescimento económico. Então, para o PIB é indiferente se se gasta determinada quantia pecuniária num projecto de rearborização adequada, ou a patrocinar um desastre ecológico; passar férias num local se sonho, ou gastar o mesmo dinheiro num acidente de automóvel (incluindo uma estadia num hospital). Muitos economistas até consideram as marés negras boas para a economia (o tal PIB…) porque geralmente implicam a contratação de pessoal de limpeza; reparação ou selagem dos navios naufragados; benesses fiscais; preços inflacionados; estimulo do comércio local, bem como dos serviços de apoio (relações públicas, media, seguradoras,..); contratação de organizações científicas para avaliarem os impactos ambientais; etc…
Por isso, parece-me errado confundir intercâmbios financeiros com verdadeiro crescimento económico; este último deverá contabilizar os bens fundamentais que perdemos (nomeadamente o bem ambiental e a saúde pública) com o que ganhamos. O PIB não tem contemplações para com a qualidade de vida e a sua estabilidade. A deterioração ambiental e as disfunções sociais em geral não deveriam ser incluídas nos parâmetros do “crescimento económico”, mesmo que algumas pessoas aparentemente beneficiem (a curto prazo) com as desgraças de outrem. A macroeconomia insufla o PIB, enquanto que esvazia a real qualidade de vida dageneralidade dos cidadãos. Para o PIB só contam as actividades que movimentam dinheiro, e para as beneficiar os poderes instituídos aprovam medidas que sacrificam todas as outras actividades que nos dão (ou poderão dar) mais felicidade e crescimento pessoal.

Os EUA podem jactar-se de que o seu PIB tem tido, desde 1973, um crescimento anual que ronda os 2,5 por cento, mas tal não tem correspondência na qualidade de vida dos seus cidadãos, nem na economia das instituições públicas (ex.: escolas, bibliotecas, hospitais,...) que não cessam de se degradar; os salários reais não têm aumentado e são vencidos pela inflação; o trabalho é precário e o desemprego é elevado; as pessoas têm menos tempo para a família e para o lazer, a insegurança impera,...Os EUA têm actualmente um deficit de despesa pública insustentável que constitui 6% do PIB (que é coberto pelo Tesouro Americano e cujos títulos foram comprados pelo Banco do Japão e pelo Banco de Reservas da China).Desde a administração Clinton até agora passou de 180 mil milhões de dólares (mmd)para 500 mmd. Se não fosse terem transformado o país numa máquina de guerra e de extorsão (através da jogada dos petrodólares e da dívida externa), tal como uma baleia encalhada (varada) na praia, o império já teria sido esmagados pelo seu próprio peso.
O próprio Tesouro Nacional e o Sistema de Reserva Federal dos EUA estão sob controlo das elites financeiras privadas. Assim, os accionistas, os credores e os especuladores minam a soberania económica do país e condicionam as suas políticas sociais. O mesmo acontece com o Banco Central Europeu, dominado sobretudo por um grupo bancário alemão. É um truque de prestidigitação político-financeira a aparente independência dos Bancos Centrais. Estes estão particularmente vulneráveis à pirataria especulativa, que, frequentemente, os obriga a contrair empréstimos junto de instituições privadas para evitar que se escoem as suas reservas e para travar a queda das moedas nacionais.



Até no Japão, onde a devoção às empresas e ao trabalho (reflexo da antiga fidelidade canina aos clãs) era um dos maiores orgulhos dessa sociedade que se aferrava à manutenção dos códigos de honra feudais, o sistema neoliberal, baseado na precariedade dos empregos, no desmantelamento das empresas quando estas não dão os lucros pretendidos pelos accionistas, e na redução da assistência social alterou a ordem socio-económica tradicional.

Suponho que teremos que esperar muito até ouvirmos um governante ocidental fazer declarações semelhantes às do rei do Butão, Jigme Singye angchuck: “Não estou preocupado com o PIB do meu país, mas com a felicidade do meu povo, [e essa felicidade está no budismo]”.





O capitalismo industrial apenas vê a natureza e os homens como recursos; a suafunção é criar e aperfeiçoar instrumentos e técnicas de dominância e deexploração. Só outorga (provisoriamente) o direito à vida aos seres quereconhece alguma rentabilidade económica. Mas esse inventário mórbido tem um efeito boemerang, cujo impacto filosófico e espiritual não é menor do que o verificado no plano físico. Com o ambiente ao nosso redor simplificado, rotulado e "rentabilizado", dificilmente nos conseguiremos esquivar de noscolocarmos a nós mesmos a mais fatídica das questões (pois, tal como apalavra "amén" era o sinal para se abrir o cadafalso nas execuções por enforcamento, precede sempre uma condenação binária: sujeição ou morte): "servimos para quê?"A resposta pode ser deprimente se o racionalismo materialista nos tiverconvertido em saqueadores desterrados de território sagrado. Atravessar esse deserto espiritual é uma experiência aterradora e fatal. Por isso queremos ser incluídos nos planos dalguma divindade - mas que corrobore, ou, pelo menos, perdoe qualquer atentado contra a vida, contra o próximo. Não podemos sobreviver alheados dos elementos e ciclos naturais, e nem em utópicas catedrais da tecnologia, como metafísicas "Biosferas II" * , poderemos restaurar a nossa cultura e a nossa espiritualidade.Até para os que se sentem superiormente evoluídos e sofisticados ** como para não caírem nas armadilhas do obscurantismo sobrenatural cheio de superstições infundadas, depositam a sua fé na ciência (com todos os seus mitos e dogmas). Não se trata de uma reverencia humilde, pois o culto do domínio capitalista-industrial é o mesmo, e a sociedade até aplaude a arrogância messiânica destes acólitos da megamáquina com acesso ao painelde controlo - de onde só é possível ter uma visão unidimensional,mecanicista, mercantilista e, em última instância, imperialista do mundo.

*- "Biosfera II" foi um projecto norte-americano que, numa gigantesca esofisticadíssima estufa de vidro com 1,3 hectares de extensão, pretendiarecriar as condições de vida na Terra de forma "autónoma" e durante umperíodo mínimo de dois anos, a partir de 1991. é esta a ideia de salva-vidaspara uma elite milionária que pretende assegurar a continuidade de uma vidapróspera e segura, quer seja sobre os escombros de um futuro terreno que elesmesmos arruinaram, quer em bases extra-terrestres. O projecto foi abortado aocabo de 17 meses, revelando-se um perigoso fiasco de 200 milhões de dólares.Oito humanos serviram de cobaias e, apesar dos desvelos dos cientistas e da tecnologia de ponta empregue, quase pereceram por falta de oxigénio (que várias vezes teve que ser bombeado do exterior). A maioria das espécies animais e vegetais que com eles compartilhavam aquele espaço artificial não teve tanta sorte.
Entretanto, a NASA está a preparar a recolha de todo o genoma humano com a intenção de o enviar para o espaço. Assim esperam que a nossa espécie possa Ter uma Segunda oportunidade, ainda que ridiculamente remota, de começar tudo de novo quando nos extinguirmos cá em baixo.


** Porque será que o epíteto/qualificativo de sofisticado é tão querido/do agrado às/das elites da sociedade urbano-industrial? A resposta mais simples e conclusiva encontramo-la no dicionário:
“Sofisticação: (...) 1 acto ou efeito de fraudar, enganar; falsificação, fraude 2 a coisa ou substância falsificada 3 excessiva subtileza (...) 4.1 falta de naturalidade; afectação 4.2 extremo requinte e finura 4.3 estado do que é muito avançado, complexo, bem aparelhado, eficiente.(...)”
Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa
Círculo de Leitores, 2002

Paulo Barreiros

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