sábado, novembro 14, 2009




Classemediawayoflife.blogspot.com
Vale a pena passar os olhos por este blog que caracteriza, satirizando, a hodierna classe média(/alta) brasileira.



As cinzas do quilombo na piscina

Curas que envenenam;
Do leito para a pia
Ganha-se a alforria.
O lobo temporal uiva de gozo;
Mantem-se o império das trevas.
Na cidadela os coros papagueam
Textos sagrados como libelos de sangue.
Seculares anseios nas bocas sem línguas;
Heresiotomias para calar blasfêmias.
O espectáculo deve mesmerizar o povo,
- Não inquietá-lo à toa!...

No Carnaval, a liberdade mascára-se de antoiança
E a igualdade tantaliza os que ousam sonhar.
Escapando à ígnea purificação,
Os súcubos roubam o sêmen
E os íncubus injectam-no nas malditas,
Assim gerando vozes dissidentes
- Que também nada saberão sobre África,
Mas que escutam os ventos de mudança;
O fragor da guerrilha libertária
Vinda da mata para se insinuar nas consciências
Dos boêmios desconhecedores de tais febres
Por nunca se aventurarem na colheita das mandrágoras,
Onde Zumbi se engasgou com a própria virilidade.
Bem diferentes são aqueles produzidos pelo Senhor
[do engenho
Quando os navios negreiros falham em trazer reses
(“Peças”, “madeira de ébano”, “galinhas”,...)
Lá da terra da danação (onde sobra músculo e falta trabalho),
Zeloso pela manutenção do seu rebanho bípede,
Faz clandestinas visitas à senzala...
Terror e ira na gênese da mulataria
Que serve na casa grande e a caminho do mercado.
Nega, poupa o teu menino desse atroz destino;
Envia-o de volta à pátria amada,
Sufocando-o antes que ele saiba ver.
Ah, essas lágrimas não lavarão o pelourinho!
O teu leite é alvo como o parasita que o irá mamar;
Seduzi-lo-ás ou botarás pimenta nos mamilos?...

O códice das batucadas incendeia a noite
Até o canto dos mutuns convoca os guerreiros,
Sabendo que as camélias amanhecerão rubras
Como os olhos dos injustiçados no breu

O sistema de castas imposto pelo culto ao capital
Que dilui na multidão os contornos do monstro...
O professor é mais um empregado do papai
Formando acólitos do fordismo.
Muitos condenarão às linhas de montagem
O que só a Amazônia conseguiu vencer

Vamos espreitar a nudez da miss eugenia?
Deificados pela máquina de propaganda,
Comemoram na piscina do condomínio
(Cujo nome homenageia a natureza que destruiu)
Graças a deus por mais este querubim!
Um príncipe de Mercedes a esposará.
- Porra, seus escurinhos, para quê lhes pago?!
Muros que só o sol a pique transpõe;
Cercas eléctricas e guardas armados,
E, ainda assim, invadem e poluem o meu jardim
As cinzas de um quilombo há muito esquecido!!
OU será que os bandidos queimam barricadas na favela?!...
- vêm nos esporões dos quero-quero, patrão....
Siá, os teus deuses moram no acaso
E os meus esvaíram-se no ocaso...

PB

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