Quando o Rosa do Céu nos chulou um BMW, murmurou para os seus botões: «até que enfim tenho à disposição um carro digno de um presidente como eu!»
Entre os vários imperadores romanos que perseguiram os cristão, nenhum o fez com maior vilania e violência do que Nero. Para ele os cristãos foram um óptimo bode expiatório pelo incêndio de Roma. De início o seu plano funcionou. O forte descontentamento popular devido aos disparates governativos de Nero foi desviado contra os demonizados cristãos. Mas não tardou a que a maioria dos romanos (pagãos) se indignasse com a crueldade sádica do seu imperador, considerando que tinham sido ultrapassados todos os limites do aceitável – mesmo considerando que se tratava de uma sociedade habituada a ver e a desfrutar entusiasticamente da violência extrema como um espectáculo de entretenimento das massas e de afirmação do poder imperial. (Nero chegou a mandar untar com petróleo os cristão para os queimar vivos! Essas macabras tochas humanas foram utilizadas para iluminar a arena do circo de Roma – enquanto feras devoravam outros seguidores de Cristo -, a colina do Vaticano e até uma festa privada do Imperador…)
Como derradeiro teste de fé, os soldados tinham ordens para darem aos prisioneiros cristãos a opção de abjurarem publicamente a sua religião em troca das suas vidas. Anulando os instintos de sobrevivência, os cristãos mantiveram-se fiéis às suas convicções. Então, os romanos começaram a admirar, com emotivo respeito, a bravura estóica, a fidelidade às suas ideologias e a solidariedade entre os irmãos de fé frente ao martírio. De forma imprevisível, as autoridades repressivas do Estado aperceberam-se que o exemplo dos cristãos estava a levar à conversão de muitos romanos desejosos de comungar com Cristo, com a sua mensagem e com a impavidez beatífica dos seus seguidores.
A credibilidade de Nero como estadista dificilmente poderia ser pior: não passava de um garoto depravado e sádico que desprezava o exército e o Senado; o seu hedonismo insaciável levava-o a entregar-se a actividades indignas para alguém da sua posição social, quebrando as mais basilares regras do protocolo imperial (ex.: tornava público a sua vida sexual desregrada e perseguiu uma carreira como actor e como condutor de quadrigas de competição).
Nem os seus familiares estavam a salvo do seu sadismo homicida: assassinou um meio irmão, a mãe (Agripina), e duas esposas (uma das quais, chamada Popaia, foi por ele pontapeada na barriga quando estava grávida, com resultados fatais)…
A reconstrução de Roma arrastou-se por mais tempo do que o povo estava disposto a tolerar. Para agravar a situação, Nero desperdiçou o erário público na edificação de um palácio cujas dimensões e luxo não tinham par na história do império romano, enquanto que a fome insinuava-se no quotidiano dos seus patrícios até há pouco habituados a uma prosperidade cheia de possibilidades de diversão.
Consta que, ao ver o seu palácio pronto, Nero terá declarado: «finalmente posso viver numa casa digna de um ser humano» …
Mas esse esplendor obscenamente luxuoso e as respectivas comodidades sofisticadas nunca chegaram a ser plenamente usufruídas… Nero suscitava tamanho ódio que, logo após ter sido oficializada a sua morte, os romanos, desejosos de apagar da memória o tirano facínora, destruíram e saquearam o magnífico palácio.
Os abusos de Nero levaram o Senado romano a decretar que o ensandecido Imperador era um inimigo público e, como tal, deveria ser detido pela força; arrastado pelas ruas de Roma completamente nu; chicoteado e, finalmente, arrojado da rocha Tarpeia.
Ao perceber que não tinha escapatória, Nero decidiu frustrar os seus algozes, escolhendo a forma como morreria. Assim, suicidou-se esfaqueando-se no pescoço – muitos investigadores estão convencidos de que é a esse ferimento na “cabeça” (sic) que João de Patmos alude quando descreve a sua “besta” apocalíptica.
Sem uma base factual sólida que o corrobore, para a posteridade ficou registado que as últimas palavras de Nero foram: «que grande artista morre comigo!...»
PB
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