quarta-feira, janeiro 17, 2007

Como é que temos o desplante de apontar o dedo aos países (como, por ex., a Arábia Saudita e o Sudão) em que o fundamentalismo islâmico domina por completo o Estado/a coisa pública, quando vivemos num país que condena à prisão as mulheres que, por força das circunstâncias, decidem abortar?! Este absurdo legal é apenas uma versão polida da velha lei de Moisés que mandava matar à pedrada todas as mulheres que ousem ter o mínimo de vontade própria e liberdade sexual sob o jugo dos machos. As mulheres são feitas para obedecer aos homens e para parir, não é? Mas olhem que a falange dos que defendem a continuidade da criminalização do aborto perderia imensos adeptos se os homens que fecundam as “abortistas” (sinónimo de terroristas asseclas do Anticristo!) também fossem presos por cumplicidade no “crime”…
Todos os papa-hóstias sabem que as mulheres que querem ser donas dos seus corpos são umas levianas… Como se fazer um aborto fosse uma decisão tomada de ânimo leve e que não deixa marcas psicológicas (quando não leva mesmo à morte na clandestinidade miserável). Se o fazem é porque sabem que essa experiência horrível é, de longe, um mal menor. Ainda por cima, estão sujeitas ao anátema na praça pública e nos tribunais! É um absurdo inadmissível!
«Tivessem tomado precauções!» - cospem com azedume preconceituoso os papa-hóstias. Pois, mas esses são os mesmos que mal podem esperar para que João Paulo II seja integrado no novo catálogo de santos promulgado pelo Vaticano. Não nos esqueçamos que a posição oficial da Igreja Católica continua a ser a proibição do uso do preservativo (que se fodam as doenças sexualmente transmissíveis e as gravidezes indesejadas!) e até torcem o nariz à pílula contraceptiva!... São os mesmos que se têm oposto à implementação de programas de educação sexual nas escolas (e não só).
Talvez o Vaticano seja tão indiferente ao sofrimento das mulheres que têm que passar por esta tragédia ignominiosa por ao longo de muitos séculos os clérigos têm preferido violar rapazinhos e frequentar prostitutas… As escavações arqueológicas realizadas em conventos também têm revelado o que acontecia às crianças indesejadas que se desenvolveram no ventre de freiras sem vocação para o ofício…
É preciso ter descaramento (fruto da ignorância preconceituosa e da prepotência) para “justificar” a criminalização do aborto com base em premissas bíblicas de “defesa da vida”, pois a bíblia está repleta de incestos, violações e sobretudo homicídios e genocídios com o aval de Jeová! Até na boca de Jesus Cristo colocaram sentenças de morte para os que pensavam de modo diferente (Lucas 19:27) !...
Os que sustentam esta repressão hipócrita geram imensa celeuma para reivindicarem o direito “divino-legal” de mandarem sobre os corpos alheios, mas estão-se a cagar que morram de desnutrição uma média de 30 mil crianças todos os dias; assim como não ligam puto ao facto de as roupinhas que levam à missa e às festas são maioritariamente feitas por pessoas – muitas das quais menores de idade – que não usufruem de quaisquer direitos sociais e que vivem um inferno quotidiano em regimes opressivos que tem estado a enriquecer obscenamente as corporações ocidentais… Ah, mas esses não contam, pois são de outra etnia e de outro credo...
Ademais, todos sabemos que as portuguesas endinheiradas vão com frequência fazer abortos a clínicas caras (não apenas no estrangeiro; experimentem ligar para a clínica de Oiã, perto de Aveiro, a fim de marcarem uma consulta de “ginecologia especial”…), com toda a assistência médica de que necessitam para que essa intervenção cirúrgica seja o mais segura possível. Essas certamente que jamais foram ou serão perseguidas pela polícia à conta dos abortos. Eu até conheço um “projecto de tia” que fez isso (e fez muito bem), mas que agora lidera um grupo de beatas-VIP lnçando impropérios contra as “porcas/putas” que abortam… (Assim como a actriz porno que ficou famosa pela sua técnica de sexo oral no filme «Garganta Profunda», depois de ter amealhado um bom pecúlio nesse meio, foi acometida por algum género de avatar, passando a liderar uma cruzada contra a imoralidade da indústria pornográfica…Enfim, todos temos o direito de mudar de ideias.)
Proíba-se ou não, os abortos vão continuar. A diferença é que, caso a proibição se mantenha, estaremos a fomentar um atentado misógino à saúde pública (as mulheres que são vítimas de abortos mal feitos nem sequer se podem queixar por medo da neoinquisição) e à dignidade das mulheres.
Sobre esta matéria, a actual lei é brandida pelas instituições estatais por forma a amedrontar e a humilhar as mulheres, mas, como temos “brandos costumes”, não é para se cumprir até às suas últimas consequências… e assim continuamos a brincar à “democracia” neste país. A repressão e a consequente clandestinidade dos abortos são as principais causas pela interrupção tardia das gravidezes indesejadas.
Já agora, proíba-se a masturbação (a Igreja há séculos que o tenta incutindo o medo com recurso a mitos, como, por ex., que essa actividade provoca a cegueira e a loucura…), pois trata-se de uma oportunidades perdidas de gerarmos vidas com as quais poderemos povoar a Terra com sectários da nossa fé…
O mal que a tradição judaico-cristã tem feito à mentalidade de um povo ignorante e tacanho!...
Esta é uma das principais razões porque o resto da Europa Comunitária nos olha como se não passássemos de uns energúmenos machistas e atrasadinhos. Provavelmente até têm razão.
Abram os olhos para ver como nos países mais desenvolvidos (não apenas em termos económicos mas sobretudo em mentalidade e literacia), onde o aborto é legal, as mulheres são mais respeitadas, as taxas de nascimentos não baixaram por isso , além de que se gasta muito menos do erário público a prestar assistência médica às mulheres com graves problemas de saúde como consequência dos abortos clandestinos, tal como acontece por cá.

1 comentário:

Anónimo disse...

UMA ACHEGA: Quem tiver ou quizer fazer um ABORTO faz seja com esta ou com outra lei. Apenas há a consequência de fazerem passar a mulher pelo enxovalho de um tribunal por isso devemos todos votar no ( SIM) á liberdade de escolha. O FINCAOPÉ