sábado, julho 26, 2008

Os alpiarcenses deveriam esforçar-se para evitar que a Drª Ursulina (Lina) nos deixe. Ela faz toda a diferença na merda de centro de saúde que temos cá no burgo. Obviamente que não me estou a referir à qualidade do edifício em causa, mas sim da maioria dos seus profissionais de “saúde”.

Para que eu recorra aos serviços destes, é preciso estar mesmo nas últimas. Assim, raramente pus os pés no centro de saúde de Alpiarça - onde sempre fui tratado abaixo de cão vadio!

Há uns 3 ou 4 anos apareci lá com uma adenopatia dos gânglios linfáticos na virilha. Como eu não consegui identificar a origem da infecção, suspeitei que tinha arranjado uma hérnia. Depois de muito esperar, lá acabei por ser atendido pela médica que estava disponível (uma vez que eu não tenho médico de família). Se a memória não me trai, chamava-se (e creio continuar a chamar-se) Emanuela. Foi extremamente antipática e arrogante, como se estivesse a fazer um frete demasiado sofrível por cumprir com o mínimo exigido pela sua profissão. Apesar de eu já ter descontado muito (e em vão…) para a “segurança social”, naquela altura estava desempregado (e, como tal, não descontava para a “segurança social”, pois não tinha rendimentos suficientes). Perguntei à Drª Emanuela se tal traria custos acrescidos àquela consulta. Ela, olhando-me com a expressão de quem se depara com uma escarreta ou ou cagalhoto de cão no passeio público, rispidamente respondeu-me que isso era um problema meu e, pasmem, ameaçou com cobrar-me 75€ por aquela consulta! Pior, concluiu, de forma mais ou menos velada, que, se eu queria ser bem tratado por ela, deveria ir ao seu consultório privado!! (Depois vim a saber que essa é uma prática corriqueira daquela mercenária cabrona!) teve sorte, pois eu fiquei demasiado chocado como para a levantar pelo pescoço (tampouco acho que isso resolve alguma coisa, mas um homem tb tem o direito de perder as estribeiras com estes abusos) e fui parvo em não fazer uma queixa formal contra ela.

Noutra vez, há pouco mais de 1 ano, tive uma infecção pulmunar muito grave, em que estive muito perto de bater as botas. Depois de passar o pior da crise sozinho em casa, de alguma forma consegui conduzir até ao referido centro de saúde. Estive na sala de espera 6 horas, lutando penosamente por cada lufada de ar que respirei! Estava rodeado por velhotas muito tagarelas. De vez em quando olhavam para mim e diziam «coitadinho, está mesmo mal», mas, quando começaram as consultas, nenhuma foi capaz de dizer para eu avançar à sua frente. Muito pior foi o facto da enfermeira (?) que regista os pacientes não ter feito esse trabalho de triagem como lhe compete. Finalmente encaminharam-me para o consultório da Drª Ema. Ela olhou para mim e quis de imediato chamar o INEM a fim de me levarem para o hospital. (Mostrou-se levemente indignada por eu não ter sido enviado para o seu consultório horas antes. Quanto às velhotas que quase vão para ali acampar antes das galinhas acordarem referiu-se a elas nestes termos: «não passam de carcaças à caça de receitas!»…)

Estou careca de saber que lá limitar-se-iam a radiografar-me o peito e a entupir-me de antibióticos. Em último caso, estaria disposto aceitar esse procedimento agressivo da medicina sintomática (focada mais no disfarce dos sintomas do que propriamente na eliminação dos factores que causam doença), mas, dentro do pouco que eu conseguia falar e com a humildade educada que os médicos esperam dos seus pacientes, pedi-lhe que me auscultasse devidamente e que ouvisse o meu peculiar historial clínico de afecções pulmonares. Ela carregou o sobrolho e limitou-se a mandar chamar uma enfermeira, que me levou para uma sala a fim de receber oxigénio engarrafado. Ali fiquei semi-abandonado por mais de 3 horas. Quando já estavam a arrumar tudo para fechar o estaminé, fui chamado de novo ao consultório da Drª Ema, ela, que batalhava para conseguir escrever um par de frases no computador, nem olhou para mim; apenas me perguntando se eu já queria ir ao Hospital. Eu respondi-lhe o mesmo que umas horas antes, e ela retorquiu de forma agressiva, como se eu a tivesse ofendido com gravidade: «se não vai fazer exactamente o que eu lhe mando, desampare-me o consultório e vá para casa!»... E foi isso que aconteceu. Mas tenho a certeza de que se me tivesse dirigido ao seu consultório privado teria sido tratado de forma bem distinta…

É fodido ser pobre num país com um serviço de saúde publica perfeitamente terceiro-mundista!

Depois há o director do centro de saúde. Não me lembro de alguma vez o Dr. Hélder me ter atendido, mas já foi o médico de familiares meus. Pereceu-me que se esforça pouco, sendo até um pouco “panconas” (para usar uma expressão que eu acho odiosa, mas que é muito popular e relativamente inócua em Alpiarça). Até aí nada de muito grave, mas tenho consistentes razões para desconfiar (e gostaria de estar errado) que há muitos anos que a sua principal motivação para continuar a exercer medicina é, para além dos honorários oficiais, receber prendas dos laboratórios farmacêuticos… assim, não admira que ele ache pouca piada a que os médicos sob a sua alçada receitem genéricos…

No ano passado, quando trabalhava no norte do país e na Galiza, andei uns 3 meses com umas dores excruciantes na coluna vertebral. Tornou-se mesmo incapacitante. Amigos aconselhavam-me a ir a um centro de saúde ou directamente a um osteopata ou coisa do género. Mas, devido ao trauma que eu tinha com as médicas merdosas de Alpiarça, eu continuava a arrostar as dores em silencioso isolamento. Acabei por me render e fui consultado por uma médica brasileira muito nova, mas muito competente e de uma simpatia inexcedível. Não fez pose de pertencer a uma casta superior ou até mesmo de condescender em sair do Olimpo para dar uma ajudinha nos reles mortais. E eu, que nem um cãozinho bem mandado, fiz tudo o que ela me pediu – até os procedimentos que são muito agressivos para a minha saúde, e que ela concordou em discutir comigo (sem abusar do jargão técnico, para o qual eu até me tinha preparado ) como adultos inteligentes e que se respeitam mutuamente. No final, o tratamento prescrito não me ajudou quase nada, mas fiquei muito contente pelo facto de ter sido a primeira vez que um médico se portou, não apenas à altura do juramento de Hipócrates, mas tb como um cidadão decente, sem complexos de superioridade e ambições mercenárias, preocupando-se verdadeiramente com os outros.

Venham mais médicos estrangeiros!!!

A nossa mui querida Drª Lina (originária de cabo Verde) é dessa cepa – bem haja! Mas tem sido pressionada em demasia por fazer a diferença que deveria ser a regra…

sexta-feira, julho 25, 2008

«Planeta Azul»

Sempre embirrei com a designação/epíteto de “planeta azul” que atribuíram ao nosso planeta. (Nem sequer o nome “Terra” se me afigura correcto, uma vez que dois terços da terra está debaixo d´água.) A cor que eu vejo como dominante entre nós é o verde (por ter as melhores relações de produtividade com a luz solar), não o azul – só visto do espaço (fora da atmosfera terrestre) é que o nosso planeta parece ter essa cor, e essa perspectiva é um sinal de que os humanos cometeram um grande disparate ao tentarem conquistar o espaço, afastando-se do seu planeta-mãe e investindo imensos recursos que poderiam ser empregues na resolução dos problemas mais prementes e “terra-a-terra”.

No entanto, as fotografias da Terra que trouxeram os primeiros homens que visitaram a lua, em muito contribuíram para que tomássemos consciência da fragilidade da biosfera – vendo-a como uma pequena jóia viva gravitando num imenso “vazio”. Era a única coisa colorida e viva que viam no universo, sabendo que lá se encontrava tudo a que estavam ligados afectivamente. Até os astronautas, com todo o seu treino físico e psicológico quase supra-humano, ao verem a Terra do espaço sideral, comoveram-se até às lágrimas, não só pela beleza do planeta, mas também por uma incontida sensação de desamparo por se afastarem da sua casa. A angústia dessa orfandade espacial e desse simulacro tecnológico da morte (pelo brutal afastamento do único planeta conhecido com vida), deve ter despertado uma responsabilidade afectiva perante o facto de que a Terra é o nosso lar e uma mãe generosa que, por nossa causa, se encontra gravemente enferma; não podemos voltar-lhe as costas sob pena de nos extinguirmos como espécie.

Não fomos desterrados do paraíso nem este foi destruído há milénios por uma divindade, num colérico e vingativo excesso de zelo; nós vivemos no paraíso e somo nós que o destruímos diariamente. Nenhum planeta de universo pode oferecer-nos melhores condições de vida do que este onde evoluímos.

Em vez de investirmos em formas de exploração sustentável dos recursos naturais neste planeta ameaçado, desperdiçamo-los atrás de uma quimera espacial neocolonialista que não convence nem os seus actores mais mediáticos. Nas palavras do astronauta Scott Carpenter, «este planeta não é terra firma. É uma flor delicada e necessita de cuidados. É solitária, é pequena, é insubstituível, e estamos a maltratá-la.»

O piloto do módulo lunar Edwin «Buzz» Aldrin era igualmente titular de um cargo religioso/eclesiástico na Igreja Episcopal (de St. Thomas, Nassau Bay, Texas). A primeira alunagem da humanidade pareceu-lhe uma oportunidade imperdível para reafirmar, de forma espectacular, a sua fé e fazer propaganda religiosa através da celebração da Santa Eucaristia noutro planeta.

Os responsáveis da NASA concordaram, emocionados, com este plano, mas percebendo que se tratava de um assunto delicado que poderia despoletar demasiada celeuma, resolveram que seria melhor manter o assunto em segredo, embora os astronautas tenham citado passagens do Livro do Génesis nos seus primeiros momentos na Lua, que foram retransmitidas pela televisão e rádio aqui na Terra.

O simbolismo deste acto não poderia ser maior. O primeiro líquido derramado na superfície lunar foi o vinho que representa a sangue de Cristo. Os astronautas dessa missão também fizeram questão de não ingerirem outros alimentos antes das hóstias quando estavam na lua. A leitura de passagens da bíblia marcou a estreia das cerimónias religiosas extraterrestres.

Para gáudio dos cristãos mais retrógradas e fundamentalistas (desses que ainda hoje tentam impedir que se ensine a darwinista teoria da evolução nas escolas ), o coronel-pastor Aldrin era á altura o astronauta com as maiores qualificações académicas, exibindo um doutoramento em astrofísica pel prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). E não foi o único astronauta que usou os seus créditos académicos para dar uma dúbia credibilidade às teorias creacionistas.

Jim Erving ficou para a história como o 8º astronauta a pisar a Lua. Consta que, ao olhar para o nosso planeta desde o espaço, teve uma epifania que o levou a aferrar-se às convicções de que a nossa casa cósmica teria que ser obra de Jeová. Tornou-se num fervoroso caçador da Arca de Noé…

Temos que ter em conta que nenhum aspirante a astronauta conseguiria fazer uma brilhante carreira nos EUA, se tivesse ideais libertários e agnósticos…

Por isso, é bastante paradigmático e consensual a declaração de Edward Mitchell, astronauta (em 1971) da Apolo 14: «o universo é a verdadeira revelação da divindade; uma prova da existência de uma ordem universal fruto de uma inteligência que transcende tudo o que podemos compreender.»

(Tanto assombro religioso não trouxe quaisquer problemas de consciência aos exploradores da Lua por lá terem deixado todo o seu lixo…)

«Os movimentos ambientalistas não poderão prevalecer enquanto não convencerem as pessoas de que ar e água puros, energia solar, reciclagem e repovoamento florestal são as melhores soluções para as necessidades humanas – e não para futuros planetários impossíveis pela sua distância.» - Stephen Jay Gould

Muito mais do que um esquema de pirâmide para alguns escroques fazerem especulação imobiliária na superfície lunar, a conquista do espaço é, antes de mais, um negócio para as grandes corporações, um meio de dotar os militares de tecnologia poderosíssima e um instrumento de propaganda estatal. (Não estarão certamente preocupados com a remota possibilidade dos nossos
descendentes enfrentarem o problema de o sol esgotar as suas reservas de
hidrogénio - daqui a 5 mil milhões de anos - , desintegrando a Terra com
chamas vermelhas antes de se extinguir).
Como tal, não admira que até as redações de revistas como a National Geographic se empenhe em convencer os ambientalistas urbanos de que :«o ser humano tem de encontrar outros locais para viver no sistema solar. Um regresso à Lua será tão importante como o êxodo dos nossos antigos antepassados para fora de África.» (Julho de 2004, versão portuguesa).

Querem convencer-nos de que na Lua há abundância de matérias primas essenciais aos “progresso” das nações mais industrializadas. Os adeptos da energia nuclear (tanto civil como militar) salivam com a perspectiva de terem acesso ao hélio3 lunar, como substituto do hidrogénio capaz de libertar muitos neutrões perigosos no processo de fusão. (O titânio também poderá servir de sucedâneo do hélio3.) Mas a maioria dos cientistas assevera que, mesmo que a Lua estivesse pavimentada a ouro, seria demasiado caro ir lá buscá-lo. A NASA lá vai deixando escapar que cada astronauta enviado à Lua custa 1 milhão de dólares por minuto! E há ainda que considerar os elavados riscos para a saúde pública sempre que uma dessas espaçonaves nos passa por cima das cabeças… De recordar que, ainda na década de 60, um engenho estadunidense destinado à exploração espacial, que continha plutónio 238 no seu mecanismo de propulsão, explodiu no ar, espalhando material radioactivo por todo o planeta. E não foi o único incidente deste género…

A chamada «guerra ao terrorismo» do Sr. Bush e CªLDª tem sido muito esclarecedora quanto às verdadeiras intenções do mega complexo militar-industrial… Provocando menos celeuma nos media do que o rompimento do que a Convenção de Genebra e o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (já para não falar da supressão de direitos civis fundamentais - que os estadunidenses consideravam adquiridos – com o Patriot Act…) , a administração Bush tampouco se importou com o tratado internacional no qual os EUA se tinham comprometido a usar o espaço apenas para fins pacíficos. Pretendendo dominar o mundo através do espaço e do seu programa «Guerra nas Estrelas». Continuando a sonegar informações cruciais à ONU, planeiam entulhar o espaço comum com armas anti-satélite; mísseis anti-balísticos; minas espaciais; canhões laser; impulsos electromagnéticos tão potentes que poderão interferir localmente no clima, quanto mais nas telecomunicações…

As empresas muito ligadas à Casa Branca que vendem material bélico de ponta, bem como as que querem controlar as telecomunicações globais estão exultantes com estas perspectivas.

Assumindo o ingrato papel de "velho do Restelo", se
é tão perigoso transportarmos (intencional ou inadvertidamente) organismos
vivos de um continente para outro, até se me arrepiam os cabelos dos pés
pensar nas consequências decorrentes da aventura espacial, se as nossas naves (espaciais) algum dia trouxerem no seu bojo microorganismos alienígenas, permitindo-lhes colonizar o nosso planeta sem passarem pela "desinfecção" calorífica (por atrito) a que são submetidos os pequenos corpos celestes que entram na atmosfera terrestre. Recordemos que já foram enviadas - com sucesso – sondas capazes de recolher pó da cauda dos cometas…

No entanto, talvez a vida na Terra provenha de corpos celestes que embateram neste planeta (a chamada teoria da transpermia ou panspermia). Durante milhões de anos a Terra foi bombardeada com grandes meteoritos, que deixou o nosso planeta cheio de crateras de impacto (surpreendentemente, estas só foram apresentadas ao mundo a partir da década de (19)60, graças ao trabalho do cientista Jim Shoemaker), assim como asteróides e cometas . No interior de alguns destes poderiam ter viajado microorganismos/vida microbial que sobreviveram à viagem espacial é ao embate.

Nas últimas 2 décadas um meteorito originário de Marte, a que os cientistas chamaram ALH84001, tem estado no centro de uma das maiores polémicas científicas de sempre. É que alguns cientistas defendem que essa rocha alienígena conte, vestígios químicos (óxidos de ferro decorrentes da deterioração das bactérias) e fossilizados de ancestral vida marciana.

Os cientistas estão convencidos que os organismos extremófilos estiveram no origem da explosão de

biodiversidade de que a nossa espécie veio a beneficiar. Foram encontrados fósseis de procariotas^^^^ com 3800 milhões de anos em géisers e em fontes termais oceânicas. Ainda hoje aí vivem (a temperaturas que chegam aos 120 Cº !) esses organismos unicelulares.

^^^^A designação de procariotas refere-se às bactérias e algas azul-verdes pertencentes ao Reino das Moneras. São células desprovidas de núcleo e de mitocôndrias e constituem a forma de vida mais simples que conhecemos.

Uma das descobertas científicas mais interessantes do novo milénio foram os organismos hipertermófilos que desafiam a antropocêntrica lógica das criaturas terrícolas que nós somos, pois os nossos parentes mais distantes e vetustos vivem sob a crosta terrestre, bem no interior das chaminés hidrotermais e das fendas vulcânicas no fundo dos oceanos. Acredita-se que a biomassa destes incríveis microrganismos equivale ou supera mesmo a que se verifica à superfície do planeta que erradamente chamamos Terra.

quinta-feira, julho 24, 2008

domingo, julho 20, 2008



Como supostamente terá dito o J. Cristo ao provar a beberragem amarga (que talvez servisse para simular a sua morte…) nos seus últimos momentos na cruz : «está consumado».

As lagoas do nosso paul acabaram de ficar completamente tapadas pelo jacinto-d’água e pela erva-pinheirinha (duas plantas aquáticas exóticas e que se desenvolvem como pragas por cá). Isso significa que toda a vida (autóctone) que existia sob aquelas águas está morta ou falta muito pouco para isso. Uma miríade de cadáveres a apodrecer numa charca sufocada ao sol de Verão irão agravar as consequências deletérias das plantas invasoras…

Suponho que a autarquia e o dono do paul poderão enfim soltar foguetes pela sua incúria. E que se lixe o grave desastre ecológico, pois se o jacinto-d’água agora até está florido. Da mesma forma, quando a Gama-slides Nunes e o Rosa do Céu se ajeitam para ir posar para eventos culturais, o que interessa é como ficam bem nas fotografias, pouco importando a podridão de carácter sob as aparências de revistas cor-de-rosa , dos que abusam do poder político para enganar, roubar, auto-promoverem-se e perseguirem vilmente todas as vozes dissidentes… O ordenado de apenas um dos gorilas que foram contratados para passar o dia a dormir no carro ao lado do reizinho-maçon, daria para ter custeado os trabalhos de remoção do jacinto-d’água e da erva-pinheirinha nas lagoas do paul, evitando mais este desastre ambiental – que , como sempre, vai ficar em branco…

Ao que me constou, até há muito tempo que está celebrado um protocolo com esta autarquia, a fim de auferir dos serviços de uma máquina especializada em limpar os espelhos d’água das referidas pragas. Mas estas intervenções – fundamentais – não dão votos, todos os sabemos…

(pelos vistos, em Alpiarça há um maior interesse público em noticiar cada vez que um escuteiro sai à rua fardado, ou que um jogador de futebol tem uma unha encravada…)

Deixaram morrer o paul, mas qualquer dia vão colocar uns observatórios de vida selvagem (a que, entretanto, morreu ou teve que fugir dali…) para as criancinhas (nos dias comemorativos com os fotógrafos da sua máquina de propaganda política a tiracolo…) irem respirar os gases tóxicos onde está a lixeira mal aterrada e a maior concentração de poluentes dos lixiviados e dos despejos incontrolados da ETAR… E ainda há uns “iluminados do capitalismo” (serão apenas ingénuos na sua ganância, ou mesmo uns filhos-da-puta egoístas ?...) que querem agravar a situação com o abate do sobreiral circundante e despejando naquela água já poluidíssima uma concentração ingente de pesticidas e de adubos de síntese química a fim de manter verdejante um dos mais absurdos (tanto do ponto de vista ambiental como ate de “viabilidade” económica) projectos de campo de golfe que já ouvi falar!...

Há mais de 3 anos que o programa RIPIDURABLE paga tachos a gente de duvidosa competência, para além de viagens ao estrangeiro, mas ainda não conseguiram explicar aos contribuintes alpiarcenses o que é que esse programa e o respectivo derrame de fundos trouxe de tão beneficioso ao paul. Andando no terreno ficamos com a impressão de que a resposta é nada…

p.s.- Ai querem continuar a ver fotos de vida selvagem neste blog, sem terem a generosidade de adoptar um cachorro amoroso (que, ainda por cima, já foi completamente recuperado)? pois então, talvez seja melhor pedirem ao autor(a) das fotos que estão nos outdoors à entrada de Alpiarça (onde antes estavam fotos que uma harpia me roubou…). Qualquer forasteiro pode constatar ao passar por cá que ditas fotos só seriam adequadas num vomitório romano….


quinta-feira, julho 10, 2008


Quando os Maoris chegaram à Nova Zelândia, encontraram uma selva no seu clímax ecológico, cheia de animais que não temiam o homem. A sua impávida ingenuidade devia-se ao isolamento evolutivo destas ilhas; nunca antes tinham tido contacto com este novo superpredador. Aí existiam doze espécies de moas (provavelmente perfazendo umas 170 mil aves), destacando-se a moa gigante – a maior ave que jamais existiu na Terra. Os maoris desenvolveram uma predilecção gastronómica/pantagruélica pelos seus ovos e pela sua carne. Na desregrada caça às moas, chegaram a recorrer ao fogo, tendo, deste modo, destruído cerca de metade da floresta que outrora cobriu toda a ilha. Assim, antes que os colonos europeus aqui se instalassem com a sua indústria madeireira e a sua pecuária ###, já diversas tribos maoris competiam belicamente pelos emagrecidos recursos naturais. Entretanto, tinham extinto as moas.



###Actualmente grande parte do território neo-zelandês está convertido em pastagem para ovinos que há duas décadas eram um impressionante número de 70 milhões, mas actualmente foi reduzido para um terço devido à concorrência das fibras sintéticas que se apoderaram do mercado da lã.


Os seus bosques continuam ameaçados por outros animais introduzidos pelo homem, a saber: os opossuns (que devem ser uns 70 milhões de indivíduos), os veados e os javalis).




Certamente que os maoris conheciam bastante bem a natureza em que se imiscuíram e evoluíram, incorporando à sua mitologia os elementos do mundo natural. Isso não impediu que desenvolvessem superstições infundadas que tornavam proscritos certos animais, como, por exemplo, os originais morcegos do solo (considerados arautos do mal, anunciadores da morte) e as tuataras (apelidados de “Bunca ”, ou seja, “o pai de todas as coisas feias”) que são verdadeiros fósseis vivos; répteis cuja linhagem é pregressa à dos dinossauros, estimando-se a sua origem há 220 milhões de anos.*



A vantagem das comunidades locais (quando não podem explorar os recursos alheios/longínquos, como acontece connosco, ocidentais) é que têm uma melhor percepção dos seus erros (não podendo fugir às suas consequências mais óbvias imediatas) e podem agir (nem sempre com a prontidão necessária) no local vítima da degradação ambiental, unindo esforços para colmatar o que ameaça a sua sobrevivência.


Os maoris aprenderam a lição certa e a sua mitologia adaptou-se às novas circunstâncias, compelindo-os a um novo comportamento das comunidades envolvidas. Deste modo, os guias espirituais (ou “homens santos”) selaram a floresta aos caçadores de grandes aves e foram banidos os incêndios florestais propositados. Parte da floresta pode recuperar com estas medidas drásticas.


Como se sabe, os intrusos europeus não obedeceram a estas regras (de sobrevivência) por não estarem suficientemente ligados à natureza da região, nem a uma mitologia conservacionista.



Os polinésios também colonizaram o Havai (a partir do séc. IV da Era Cristã). Por tentativa e erro, foram aprendendo a avaliar a sua pegada ecológica de acordo com a sua acumulação de conhecimentos sobre o meio ambiente. perceberam as diferenças entre as zonas que mal tinham tocado, e onde a actividade humana tinha provocado os maiores desequilíbrios ecológicos. Acima de tudo, ficaram preocupados com a diminuição (tanto em terra como na água) dalgumas das espécies que mais costumavam predar. Tal consciência permitiu-lhes criar um sistema de exploração sustentável , visando aquilo que denominavam locahii (ou seja, harmonia).


Então, estabeleceram interdições conservacionistas (a que chamavam capú), inluindo espécies protegidas, épocas de defeso e santuários naturais (no sentido mais profundo desta expressão que tem pouco sentido para os ocidentais). As punições para quem se atrevesse a violar o que determinavam/consideravam um tabu ecológico, eram severamente punidas, podendo chegar à execução sumária/pena capital.


Para que este sistema funcionasse, elegeram um grupo de guardiães da natureza, cujas funções tinham o equivalente moderno da a súmula das seguintes profissões: biólogos, vigilantes, gestores e juízes.


Por vezes os povos indígenas são incapazes de resolver da melhor maneira estes conflitos com a mãe-Terra. A célebre ilha de Páscoa conheceu um desfecho muito diferente do que seria de esperar a povos tribais – ainda por cima ilhados (apesar de que os problemas associados à consanguinidade poderão ter conspirado para a decadência deste povo) . Os polinésios atingiram aquelas remotas paragens por volta do ano 400 da nossa Era. Também aqui o solo se encontrava coberto por uma floresta virgem. Em menos de mil anos, a comunidade humana “autóctone” destruiu inteiramente os recursos naturais que os sustentavam, tendo, obviamente, acompanhado a sua ruína. (O golpe final na cultura Rapa Nui foi desferido pelos esclavagistas chilenos, que capturaram os poucos sobreviventes.)



À semelhança do que aconteceu na Nova Zelândia, também na Ilha de Páscoa a evanescente/decadente cultura Rapa Nui encontrou na espiritualidade a única forma de se aproximar do desiderato essencial que era o apaziguamento das divergências políticas. Através da religião poderiam ter unido os clãs beligerantes, arrojando alguma ordem cooperativa ao caótico estado de todos contra todos e salve-se quem puder. O medo e a fome fez com que muitas pessoas se tivessem refugiado em cavernas. O roubo e o saque sem escrúpulos tornaram-se recorrentes estratégias de sobrevivência. Pensa-se que poderão ter recorrido ao canibalismo…


A guerra generalizada arrastava-se há muitas décadas; as terras esgotadas e erodidas falhavam em alimentar uma população excessiva; o abate total das florestas acabou por limitar drasticamente até a actividade pesqueira (pois não havia como construir novos barcos e reparar devidamente os velhos), inviabilizando igualmente o ensejo de partirem em busca de um lar mais promissor para além do seu horizonte insular.


Entre a cratera de um vulcão e um alcantilado vertiginosos, construíram a aldeia cerimonial de Orongo. Esta era o ponto nevrálgico do culto do «homem pássaro» sobretudo aquando da respectiva cerimónia-prova anual, em que participavam os melhores atletas de cada clã. O que vencesse o extraordinário desafio físico (que combinava o montanhismo e a natação mais extenuante, a fim de trazer de volta um ovo de andorinha-negra-do-mar roubado num ilhéu ao largo), conseguia para o seu clã a honra máxima que validava o poder inquestionável do seu chefe sobre toda a sociedade Rapa Nui. Os rivais teriam que acatar essa autoridade - legitimada e agraciada por uma religião comum – e esperar por melhor sorte no ano seguinte, quando as aves sagradas chegassem para criar na vizinhança pouco acessível. Ao se respeitarem os privilégios que consideravam de origem divina, os que detinham esse poder efémero tinham obrigação de ser minimamente justos na redistribuição dos bens essenciais.


Desafortunadamente, estes esforços conciliatórios foram implementados demasiado tarde, quando as suicidárias agressões à natureza já eram irreversíveis. Após um milénio de permanência na ilha (que fora colonizada por polinésios), entre os séculos XV e XVI, a cultura Rapa Nui praticamente desapareceu simbolizando actualmente uns dos grandes paradigmas do desenvolvimento insustentável.


Na selva amazónica, mais concretamente, na área abrangida pelo parque de Manu (no Peru) existe uma espécie de garça-negra que possui um método de pesca surpreendentemente engenhoso: unta as patas com uma resina muito tóxica e depois submerge-as nas poças, intoxicando numerosos peixes de reduzidas dimensões. Os indígenas que conhecem esta estratégia consideram a ave em causa como a personificação do mal porque mata mais presas do que as que consegue ingerir…


Existem numerosos exemplos admiráveis de “conservação da natureza” e de solidariedade social dentro da nossa civilização (sempre que é possível as comunidades locais conjugarem esforços para um objectivo comum, com ou sem ajuda externa), com frequência recorrendo à ciência e à tecnologia que têm sido os principais instrumentos de destruição – tal qual a “árvore da ciência do Bem e do Mal” referida no Antigo Testamento.



O equilíbrio com a natureza é sempre precário e relativo; em última instância, depende da nossa vontade; quando os instintos de auto-preservação e o bom senso se manifestam de forma comunitária, e não de forma egocêntrica.


«A fim de resolvermos a dicotomia entre o (que é) civilizado e o (que é) selvagem, primeiro temos que resolver sermos integrais.»


(…)« Falar de vida selvagem é falar de totalidade. Os seres humanos saíram da totalidade, e considerar a possibilidade de reactivar a membrasia na Assembleia de Todos os Seres não é, de forma nenhuma, uma atitude regressiva.»- Gary Snyder

terça-feira, julho 08, 2008

Jeová, para além de ser um tirano sanguinário e sádico com um grotesco sentido de teatralidade, também é estúpido! Considerando que o publicitam como uma entidade metafísica com super-poderes, que supostamente até criou o universo – e continua a controlá-lo -, asseverando tudo saber, logo no início a bíblia diz que o sol gira em volta da Terra e que os morcegos são aves!...

http://www.youtube.com/watch?v=IwVXxPQBvgM&feature=related

é preciso muito humor para resistir a tamanha parvoíce!!!

http://www.youtube.com/watch?v=dAVfsS3b100&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=N2-KJABK_8Y&feature=related

esta é genial!!!

http://www.youtube.com/watch?v=BbM-05K8uTY

segunda-feira, julho 07, 2008

Determinismo ambiental

Muito por causa do geógrafo Ellsworth Huntington (que, em 1915, publicou uma obra académica centrada no determinismo ambiental como a principal influência da cultura humana), nas salas de aulas persiste um cauteloso preconceito em relação a esta temática.

O fervor com que Huntington defendia a sua teoria mono-casual era equivalente à obsessão pan-sexual de Sigmund Freud (provavelmente mais adequada aos bonobos do que aos humanos). Mas não foi por isso que gerou tanta celeuma – que se transformou num estigma científico a seguir à Segunda Guerra Mundial. A teoria de Huntington era profundamente racista… Ele defendia que o calor dos trópicos e a respectiva abundância de alimentos fáceis de obter, torna as pessoas preguiçosas, lascivas e néscias; e tais características tendem a agravar-se através das gerações, até se tornarem irremediavelmente inatas. (Fanáticos religiosos ingleses refrearem as suas intenções de colonizar as ilhas Barbados devido a esse medo - o da nossa animalidade intrínseca e da fragilidade dos artifícios da civilização que pode assilvestrar facilmente, o que colocaria em causa o autoproclamado estatuto de criaturas favoritas de Jeová; podendo deixar de entronizar a Sua criação, para sermos reduzidos a um admirável, mas pouco significativo, acidente cósmico. Não, tudo o que é pretérito ao homem não deveria passar de preparativos para a nossa chegada! Tudo tem que ser regido por um princípio antrópico transcendente que nos preserve da influência da harmonia com a natureza não domada! Cruz credo!…)

Enfim, mesmo que tal fosse verdade, o que me parece realmente estúpido é os naturais de biorregiões que, durante todo o ano, são especialmente generosas para a nossa espécie sentissem a obrigação moral (acima dos imperativos de sobrevivência balançados com um hedonismo saudável e sustentável) de empregarem o seu tempo demonstrando serem industriosos como, por ex., os habitantes dos Alpes de há uns mil anos durante o Estio, numa corrida contra o tempo a fim de acumularem alimentos e madeira que lhes permitisse sobreviver ao duro Inverno…

Basta olharmos para a constituição física poderosa dos povos tribais habitantes dos trópicos (mas, acima de tudo, deveremos atentar nos vastos conhecimentos que possuem das suas biorregiões e como interagem com estas), e facilmente concluiremos que a selecção natural apurou os indivíduos mais capazes de enfrentar uma vida que nada tem que ver com passar a maior parte do tempo deitados/prostrados, vivendo apenas para o hedonismo sensual.

Mas o determinismo ambiental é uma teoria que já estava há muito enraizada quando Huntington lhe tentou dar uma credibilidade científica. O investigador Wiliam Palmer deixou claro que tão na Idade Média como na Renascença o clima e a geografia eram considerados factores determinantes no moldar das culturas e até nas capacidades psicofísicas dos povos; desde a alegada superioridade intelectual dos gregos, à ferocidade e bravura dos povos bárbaros que habitavam as florestas a norte do Danúbio.

A própria paleontologia dos seguidores de Darwin até muito recentemente foi orientada por princípios racistas (enfatizados pela antropologia) inspirados no determinismo ambiental (mesmo que essa designação ainda estivesse por inventar). Entre muitos exemplos possíveis desta teoria preconceituosa, ainda em 1962 o académico insigne Charleton Coon publicou um livro intitulado «A Origem das Raças», no qual organizava a espécie humana em 5 raças principais, defendendo que estas tiveram evoluções paralelas bem distintas. Contrariando a hipótese avançada por Charles Darwin, muitos evolucionistas procuravam justificar o seu racismo negando a origem biogeográfica da humanidade em África, atribuindo aos caucasianos origem “mais digna” algures na Ásia. (Esta teoria é também um encómio à arregimentação da sociedade fortemente hierarquizadas pelo trabalho que é a base das civilizações imperialistas. (Até a doutrina dos clérigos determinaria que o trabalho imposto tinha uma forte componente de legitimidade espiritual. O Papa João Paulo II defendia isso abertamente.)

Os negros teriam, então, ficado a apurar/marinar a sua alegada aversão ao trabalho, a sua líbido exacerbada e a sua estupidez sob um sol coruscante, o que não lhes teria permitido evoluir tanto a partir do Homo erectus, ficando assim “ilibadas” da sua “inferioridade rácica”, obra do determinismo ambiental.

Como realçou o genial paleontólogo Stephen Jay Gould, o principal móbil para muitos paleontólogos pós Darwin foi tentarem fazer nome com a descoberta na eurásia de fósseis humanos (sobretudo crânios) que atestassem uma pretensa superioridade evolutiva em relação aos espécimes africanos. Por isso, o embuste do «homem de Piltdown» foi tão bem sucedido. (Ao procurarem um volume cerebral maior, tiveram bastante dificuldade em engolir o facto de os Neandertais – então retratados como meros brutamontes simiescos – terem caixas cranianas consideravelmente maiores do que as nossas…)

Os homens que dominavam a ciência de então estavam obcecados com as medições meticulosas que pretendiam levar ao limite a quantificação científica, dando a impressão de total imparcialidade. Publicavam trabalhos eivados de expressões prolixamente fátuas, fingindo uma objectividade asséptica mas incapaz de disfarçar a podridão ideológica subjacente. Tanto a condução das suas experiências como principalmente a interpretação dos respectivos resultados eram orientados por preconceitos profundamente enraizados, dos quais se destaca, o racismo e o sexismo/machismo.

O modo como a maioria da comunidade científica vitoriana usou a bombástica teoria da evolução Darwiniana aproximou-a das religiões dominantes no ocidente, duvidando da humanidade dos povos tribais e legitimando a continuidade da exploração colonialista acelerada pela máquina a vapor , dispondo de um inigualável arsenal para destruir a natureza silvestre e as vozes dissidentes dos que não tinham a aparência de caucasianos ocidentais, classificando-os como sub-humanos e metidos no mesmo “saco” sociopolítico que os europeus que sofriam de profundas deficiências físicas e/ou mentais. Não à toa, concomitantemente, tornaram-se muito populares as feiras de aberrações, onde eram exibidos humanos com um aspecto considerado grotesco, quer se tratassem de más formações em caucasianos ou de indígenas de locais exóticos.

Uma das maiores atracções dessas feiras ambulantes foi uma mulher pertencente à etnia Khoi-san (bosquímana) que ficou conhecida como «a Vénus hotentote». (Nem me vou dar ao trabalho de aqui colocar o seu nome branco oficial, pois este foi-lhe atribuído por colonos holandeses na África do Sul que a exploraram e nada tinha que ver com o seu nome tribal, o verdadeiro.)

No início do séc. XIX, as sofisticadas audiências europeias acudiram aos magotes para a ver, fascinados com as sugestões de sexualidade “animalesca” que a peculiar anatomia da pobre jovem incendiava nas mentes pudicas dos vitorianos cuja sexualidade era reprimida e entediada, ou secretamente consumadas as suas fantasias em antros cujos respeitados frequentadores não se cansavam de os condenar publicamente… Outros dedicavam-se a escrever estórias fantásticas sobre monstros sedutores (como, põe ex., o conde Drácula) que, de forma sofrivelmente dissimulada, encarnavam o misto de sexo e violência que é tão excitante às elites das sociedades decadentes.

Antes que a jovem em causa pudesse desfrutar dos ganhos pecuniários da sua exploração indigna, morreu com uma infecção pulmonar numa terra estrangeira que não estava preparada para a respeitar.

O anatomista francês George Cuvier (outra estrela do meio científico) correu para a dissecar,ficando a sua atenção obsessiva nos principais atractivos sexuais da Vénus hotentote, pois, para além de nádegas extremamente volumosas e empinadas, ela pertencia a uma das poucas etnias em que as mulheres têm os lábios “menores” alongam-se ao ponto de penderem até uns 10 cm abaixo da vagina. (Esta peculiar prega vaginal em latim chama-se sinus pudoris; e em francês, tablier.)

Ao invés de se concentrarem no que é fundamental, os cientistas (homens caucasianos), na sua zelosa documentação de minudências que apenas serviam para realçar pormenores praticamente irrelevantes de meras aparências baseados em juízos morais e estéticos duvidosos, abalizavam os preconceitos que, estupidamente, separam as pessoas.

Olhavam com inconfessada inveja para o tamanho dos pénis dos africanos, enquanto que a zona pélvica das mulheres como a Vénus hotentote, mais do que “confirmar” que as “raças inferiores” tinham apetência muito maior para o sexo descontrolado do que para as actividades cognitivas, exortavam os velhos temores da sexualidade feminina fora do controlo dos homens, bem como da sexualidade libertária e feliz vivida pelos povos tribais. Não nos devemos esquecer que nesse tempo a Santa Inquisição ainda era bastante poderosa e pouco antes tinha lançado para a figueira milhares de mulheres acusadas de bruxaria, bastando para tal que tivessem um clítoris maior do que a média ou que tivessem um comportamento sexual apontado como promíscuo…

Com um apurado sentido para a sátira, Stephen Jay Gould frisou que, se insistirmos na falácia ridícula de medir o grau de humanidade pelo tamanho da genitália, considerando o facto de os homens serem os primatas com os genitais maiores (em relação às dimensões totais dos nossos corpos), então teremos que concluir que quanto maior for o tamanho médio dos genitais entre certos grupos étnicos, estarão geneticamente mais afastados dos símios e, portanto, são humanos mais evoluídos…

PB

domingo, julho 06, 2008

«(…) Os últimos 10 mil anos de sociedade humana representam 1% da nossa presença sobre a Terra. Os 99% restantes viveram-se em sociedades pequenas, sem Estado, sem propriedade, igualitárias e visionárias (…). Talvez apenas 2 centésimas partes viveram-se na experiência do industrialismo urbano. A civilização poderia descrever-se razoavelmente como uma aberração.”

«(…) Devemos falar (…) de como um império sem precedentes, megatécnico e com a sua correspondente constelação de culturas, pode converter-se num tipo de sociedade qualitativamente diferente; de como uma rede alternativa pode converter-se num tecido orgânico de sociedades diversas, igualitárias e comunais; e de como um ser humano atomizado e massificado pode converter-se numa pessoa completa integrada numa comunidade. Nenhuma geração enfrentou-se com estas perspectivas.»

«Muitos dos guardiães dos impérios que colapsaram provavelmente possuíam uma memória da comunidade tribal e das capacidades convivênciais a partir das quais sobreviver. De facto, as maiores revoluções da história foram protagonizadas por povos com ligações directas com as sociedades arcanas comunais. Nós, pelo contrário, enfrentamos a maior crise de destribalização e de decomposição social desde o nascimento do Estado. Tentar que a sociedade de massas tenha sentido é, em sentido prático e parafraseando um lítote chinês, como pescar em águas revoltas.» - David Watson

«(…)Todas as revoluções na história europeia serviram para reforçar as tendências e as capacidades da Europa para exportar a destruição para outros povos, outras culturas e para o próprio meio ambiente.» - Russel Means

Visão pan-europeia, enaltecendo o imperialismo sangrento. Ainda hoje vivemos à sombra de mitos glorificantes que remontam à “Época dos Descobrimentos”. Sob essa rutila superfície, nem um comentário (de contrição, espera-se) ao holocausto que portugueses e espanhóis perpetraram contra ameríndios e africanos.

A única referência aos povos tribais de que me recordo ter ouvido quando (nos finais dos anos 80) frequentava o ensino secundário, proveio de uma professora de história quando abordou muito superficialmente a colonização do Brasil. As suas palavras (acompanhadas de um indisfarçável esgar de desprezo que quase lhe descompunha a empáfia académica com laivos de paternalismo condescendente) ficaram bem gravadas na minha memória: «os índios brasileiros eram, por natureza, tão indolentes que preferiam morrer de fome, ou sujeitar-se a severos castigos físicos, do que trabalhar»(sic). E continuou lamentando-se do incómodo que isso provocou aos portugueses, obrigados a ir a África buscar africanos para trabalharem na produção de açúcar…

Foi doloroso ver que aquela professora quarentona ainda se guiava pela cartilha de Samuel George Morton+++++++++++++ e quejandos.

+++++++++++Samuel G. Morton foi um proeminente cientista estadunidense que se tornou num dos principais ideólogos da escravatura e do imperialismo colonialista do séc. XIX. O seu racismo mascarava-se de uma “credibilidade científica” reivindicada pelo movimento poligenista, que reivindicava para os caucasianos a descendência exclusiva do casal primevo Adão e Eva. Quanto às restantes “raças”, Jeová tê-las-ia criado separadamente para servirem os donos do mundo. A maioria dos clérigos regozijava-se com esta “confirmação”

Em 1939, Morton escreveu o seguinte: «os espíritos mais benevolentes podem lamentar a inépcia dos índios para a vida civilizada (…) A estrutura da sua mente parece diferir consideravelmente do homem branco (…) Eles não são apenas adversos ao domínio da educação, mas, na sua maioria, igualmente incapazes de um constante processo de raciocínio sobre objectos abstratos.»

Se fosse uma professora de história minimamente competente, poderia ter invocado, como um erudito artifício de hipocrisia, o plano do Marquês de

Pombal (séc. XVIII), denominado "Plano dos Sete Fortes de Fronteira",

destinado a proteger a Amazónia dos espanhóis mauzões (sim, porque sempre que são apontadas as atrocidades que os portugueses cometeram em terras de Vera Cruz, desculpamo-nos comparando-nos aos piores). O célebre estadista de "sangue azul" chegou até a conceder alguns direitos aos índios que parecem avançados para a época. Ter-lhe-ia (à professora) ficado bem

acrescentar umas citações dos sermões anti-imperialistas e anti-esclavagistas do padre António Vieira.

Ao ouvir tamanho desaforo, o meu queixo (para não dizer outra coisa…) caiu. E a consternação que então se apoderou de mim naquele momento, cresceu com revoltada acrimónia quando, falando com outros estudantes e com professores de diversos estabelecimentos de ensino, percebi que esse racismo intolerável era a ideia dominante nas aulas de história. Entretanto, conversando com muitos brasileiros, muitas vezes ouvi a mesma ladainha racista. Alguns acrescentaram estar convencidos de que os índios brasileiros possuem uma desídia inata supostamente superior à dos outros grupos étnicos, e, os que não foram “civilizados”, passam o dia todo estendidos nas suas redes a fumar alucinógenos…

As escolas têm que se esforçar por ultrapassar estes estereótipos racistas. Os povos indígenas não são meras curiosidades etnográficas e turísticas cheias de pitoresco exótico; culturas anacrónicas e estagnadas; Uns desgraçados que perderam o comboio do progresso e que agora, de mãos dadas com uns fundamentalistas "verdes", se deitam nos carris, constituindo um embaraço para os que vivem obcecados pela pressa de chegar ao futuro profetizado por Huxley e publicitado de forma recorrente por Hollywood.

Tampouco estão apenas perdidos nas selvas virgens, isolados nos gelos boreais, ou confinados em reservas terceiro-mundistas acessíveis a turistas. Tratam-se de mais de 300 milhões de pessoas divididas por 5 mil grupos étnicos com uma diversidade cultural surpreendente. Nas ilhas da Indonésia podemos encontrar 700 línguas; ainda se falam quase 6 mil línguas no mundo 95 % destas estão em perigo de extinção. (As previsões mais optimistas apontam para que metade das línguas desapareça até ao final deste século.) Só na Índia podemos encontrar 400 tribos, que perfazem um total de 70 milhões de pessoas

(embora muitas delas já não possam viver de forma tradicional).

A Amazónia, a Rússia e o Canadá têm uma população indígena que, toda junta, perfaz 50 milhões. Na Guatemala estão mesmo em maioria: 60% da população pertence a 22 etnias ameríndias (são obrigados a viver na miséria e apenas possuem 10% da terra arável do país…).

Guatemala – na década de (19)80 o exército roubou pela força imensas terras aos indígenas. Na década seguinte recrudesceu a violência, tendo o exército efectuado numerosos massacres contra os indígenas, o que levou a um levantamento popular armado de defesa popular contra os opressores militares.

Nesse país 40 mil pessoas continuam consideradas “desaparecidas” e 100 mil assassinatos confirmados continuam impunes.

Mais de 450 tribos foram extintas na Ásia.

Só em 1967 é que os australianos descendentes de europeus reconheceram
legalmente que os aborígenes eram mais do que « parte da fauna e da flora»
(sic), reconhecendo-lhes o direito ao voto, como qualquer cidadão australiano.

Até aos anos (19)70, governo australiano mantinha a sua política de rapto de crianças aborígenes, para que fossem criadas/educadas por famílias caucasianas que seguissem a ideologia política e a religião dominante. À chamada “geração perdida” foi-lhe oculta as suas origens; a aculturação roubou-lhes a memória espiritual com consequências sociais gravíssimas.

Até 1930 era frequente os boers sul-africanos caçarem bosquímanos por desporto (que eles consideravam o equivalente africano as orangotangos indonésios).
Há até relatos fidedignos desses europeus racistas terem feito uns churrascos
com as suas presas humanas... Se alguém lhes tivesse dito que tal era um acto
de canibalismo certamente que eles, não só não acreditariam, como
considerariam essa observação como uma heresia inadmissível.

Na América Central os ameríndios são dominados por uma minoria que, mesmo com evidentes traços miscigenados, faz alarde da sua descendência europeia e renega as suas origens indígenas e toda a rica herança cultural pré-hispânica. em El Salvador vão ao ponto de negarem a existência da população indígena – que conta com umas 300 mil pessoas pertencentes a 5 grupos étnicos . Não faz sentido reconhecer direitos a quem não existe…(Nenhum governo foi tão eficiente com esta política de negação como o australiano, em relação aos aborígenes da Tasmânia.) A “limpeza étnica” levada a cabo pelos lideres politico-militares (como, por exemplo, o massacre, a mando do general Maximiliano Hernadez , de 30 mil ameríndios) de El Salvador, não consumou o genocídio total das suas comunidades mais vulneráveis, mas a aculturação e os projectos de “desenvolvimento” prometem acabar com eles de vez.

É assim tão difícil compreender que se estes “atrasadinhos” tivessem a possibilidade de adoptar todos os nossos valores (ou a falta deles) e padrões de comportamento, a espécie humana já se teria extinto?! É admirável a consciência que têm da importância dos seus legados
culturais; os conhecimentos que todos possuem sobre o meio ambiente e sobre o
impacto que as suas actividades têm nas biorregiões. Esses povos zelam pelo
património das futuras gerações como nenhum de nós o faz.

Se observarmos como estas comunidades tratam as suas crianças, idosos e deficientes, imediatamente nos indagaremos quais de nós é que vivemos na barbárie…

Hugo Chavez, o primeiro Presidente venezuelano de origem indígena, disse que os indígenas são a reserva moral da humanidade. Amén!

PB

sábado, julho 05, 2008

Em meados de Junho de 2008...



em meados de Abril de 2008...



em 2006...

Estas imagens atestam bem a rapidez com que as pragas da erva-pinheirinha e do jacinto-d'água se têm alastrado no Paul dos Patudos. Há várias espécies de aves que nos deveriam orgulhar pela sua presença (como, por ex., os escassos colhereiros, límicolas, etc…) que já deixaram de utilizar aquelas paragens devido a este problema.

Provavelmente até ao final deste ano, as 2 lagoas do nosso paul vão ficar completamente sufocadas pela erva-pinheirinha, matando toda a vida aquática! Esta situação gravíssima não se consumou por falta de avisos... mas, quem se importa? Agora deveremos ultrapassar os lutos futebolísticos com os sonhos dos carros de luxo e a preparação para o circo eleitoral… e se o o Euromilhões não nos calha, sempre nos vamos rindo com o descaramento hipócrita exposto em entrevistas do Rosa do Céu, em que afirma que «é preciso resistir ao egoísmo» (sic)… Ou seja, combater o egoísmo dos que não deixam o egoísmo deste executivo camarário e do governo expandir-se sem oposição… quem não aceitar prestar-lhes vassalagem arrisca-se a todo o tipo de perseguições – incluindo de gorilas a soldo! …E isto se a quadrilha dos compassos & aventais da Maçonaria não atacar na penumbra dos círculos de poder que aspira o Céu…

Já o Eça de Queiroz dizia que tanto os políticos como as fraldas necessitam de ser mudados com frequência – pela mesma razão…