quarta-feira, maio 31, 2006

Floresta: fonte de vida e de pureza
Paul dos Patudos


Castanheiros e bétulas na Serra da Lousã


A importância da floresta

«As plantas não só sustêm todas as formas de vida, mas ainda, num processo contínuo e fundamental, recombinam os elementos e dão vida à matéria inorgânica.» - David Attenborough (1995)
A clorofila e a hemoglobina são compostas por moléculas quase idênticas,denunciando um antepassado comum. Mesmo tendo evoluído paralelamente, a fim de formarem o Reino Animal e o Reino Vegetal, o sucesso das primeirascélulas-mãe (das bactérias e das algas) só foi possível devido ao trabalhode equipa, que se foi apurando até à simbiose. Por mais que aparentem apenascompetir, os termos gerais do "contrato" vital nunca é quebrado: o que éexcedente para uns alimenta os outros (ex.: oxigénio versus dióxido decarbono, e hidratos de carbono versus sais minerais)
Apesar do conceito de floresta estar bem enraizado no imaginário colectivo, é algo difícil de definir. Mesmo que as autoridades oficiais insistam em classificar como “floresta” monoculturas de árvores (inclusive tratando-se de espécies exóticas e infestantes, como por exemplo os eucaliptos e as acácias no território nacional), paupérrimas em biodiversidade, a floresta é bem mais do que um conjunto de árvores mais ou menos vasto. Embora as árvores devam ser o elemento predominante na fisionomia da formação vegetal, nela encontraremos uma rica variedade de espécies vegetais (não só o estrato arbóreo, mas também arbustivo e herbáceo) e animais (e de outros Reinos, como os imprescindíveis fungos), com relações de interdependência, num complexo e frágil equilíbrio. Nós não podemos sobreviver fora dessa “teia de vida”, da qual dependemos inteiramente. O maior desafio é sabermos explorar racionalmente os recursos naturais numa perspectiva de desenvolvimento sustentável. Desconcertante é o facto de quanto mais vital é o recurso natural, mais nos olvidamos da sua origem e da sua fragilidade, como fica demonstrado diariamente pela nossa relação com o ar, a água e o solo…
«Os bens humanos podem dividir-se em património cultural, património material e património biológico, sendo apenas o património biológico indispensável para a nossa sobrevivência.» - Jorge Paiva ( 1998)
O património biológico é um pilar fundamental e inalienável da nossa identidade cultural e, logo, da nossa dignidade. O meio natural é, pois, o ideal para alcançarmos o tão almejado equilíbrio psicossomático.

Marc Bonfils é um investigador cujos estudos demonstraram uma forte correlação entre o arrotear dos bosques na Normandia e o aumento da taxa de suicídios nessa região francesa.
Nas últimas duas décadas, os ameríndios Guaranís têm apresentado as mais altas taxas de suicídios per capita do Mundo. Tal deve-se certamente à destruição da selva amazónica que, mais do que o seu lar, há milhares de anos é o seu espaço vital, o sentido das suas vidas, a fonte da sua felicidade, da sua identidade, da sua dignidade e do seu universo mágico-religioso. Como os ameríndios sabem desfrutar na sua plenitude da essência da vida, ao contrário de nós, não suportam viver num estado de infelicidade crónica. Quando são privados da alegria que lhes é característica (mesmo vivendo em condições que muitos de nós consideraria “demasiado duras”), o suicídio é uma opção moralmente aceitável.

O facto de o homem ter surgido quando este planeta se encontrava no auge da sua biodiversidade (em toda a sua história biológica) e num ecossistema especialmente fervilhante de vida, prova que dependemos enormemente da biodiversidade que, por estulto ecocídio, nos empenhamos em destruir. Estamos a viver uma dramática onda de extinções em massa; a sexta que a Terra já conheceu *; desta feita inteiramente protagonizada pelo homem.
« árvore provém da palavra sânscrita ürvara, que significa terra fértil; e humano quer dizer proveniente do húmus; somos filhos pródigos do bosque. (…) Traidor a si mesmo, o ser humano tende para a simplificação de realidade; e quase sempre começa cortando os bosques.»– Joaquín Araújo
Muitas razões culturais podem ser apontadas para a nossa incapacidade de gestão correcta dos recursos naturais – que se traduz numa guerra aberta contra a natureza, ou, no mínimo, em administrar desequilíbrios em grande escala de que somos os únicos responsáveis~~~~. O ecólogo Fernando Bernaldez aventou a hipótese de o homem ter um gosto atávico e instintivo por ecossistemas semi-estepários (onde se incluem os nossos montados, que se traduzem num compromisso bastante aceitável entre as actividades humanas e a conservação da natureza) por referência e fixação às nossas origens africanas. Esta teoria parece-me correcta, pois, sobretudo desde que se iniciou a “globalização europeizante” (com a Época dos Descobrimentos e Expansão Marítima), a civilização ocidental inquinou o resto da humanidade com o seu estigmatizante e patológico misto de fascínio, de terror e de ódio ante a natureza silvestre (sentimentos exacerbados ante as selvas virgens).

~~~~ Essas políticas aplicamo-las até às “áreas protegidas”. Yellowstone (EUA) foi o primeiro Parque nacional do mundo. Em vez de deixarem a natureza seguir o seu curso preservando-a de interferências humanas, as primeiras (e duradouras) medidas de gestão desse parque foi a eliminação dos lobos e dos pumas. Essas campanhas de extermínio durarão várias décadas e cumpriram os objectivos determinados. Como consequência, as populações de cervídeos aumentou em demasia, impedindo muita da regeneração natural da floresta. As doenças ameaçavam tornar-se epidemias incontroláveis. (Até os lobos serem reintroduzidos, o parque foi privado da sua presença durante 67 anos.)
A outra medida prioritária foi anular a ocorrência de quaisquer fogos. A acumulação de biomassa vegetal num ecossistema que sempre esteve sujeito a fogos periódicos tornou a situação explosiva e, de facto, no final dos anos (19)80 Yellowstone foi dizimado por um incêndio de proporções nunca vistas.
Os bisontes, que se tornaram num símbolo nostálgico do velho oeste americano, foram deliberadamente chacinados pelos invasores europeus até quase à sua extinção, estão confinados ao parque, que, por sua vez, está rodeado por grandes explorações agro-pecuárias. Os rancheiros temem que os bisontes transmitam brucelose ao seu gado e por isso os guardas do parque vêm-se forçados a reencaminhar e até a abater os bisontes que ultrapassem /transgridam os limites do parque, tratando-os como se fossem gado doméstico. Todos os anos mais de mil bisontes são eliminados deste modo.o lóbi dos rancheiros determina as políticas do parque.
A grande ironia é que foi o gado doméstico que pegou aos bisontes essas doenças. Acabou-se a liberdade das planícies, e os bisontes, quando os rigores do Inverno se instalam, deixaram de poder migrar em busca de pastagens mais amenas e generosas como o faziam os seus antepassados.
Um estudo recente revelou que, dos 300 mil bisontes que restam nos EUA, apenas 15 mil são geneticamente puros, ou seja, não apresentam indícios de que os seus progenitores se cruzaram com o gado doméstico. (Buffalo Field Campaign, 2004)


Sentimos uma necessidade de “pacificar”, ajardinando, a natureza, ou simplesmente exaurimos ao máximo os recursos dos outros povos que ainda vivem em harmonia com a natureza, mas que são demasiado débeis militar, política e economicamente para se defenderem do império ocidental. A actual consciencialização da importância da conservação dos bosques para a salubridade do planeta não parece vir a tempo de os salvar…
Sabemos que: cerca de 70% das espécies vegetais e animais existentes pertencem às selvas; que os bosques ainda acolhem a maior diversidade cultural (línguas, crenças, modelos de organização social,…); nos solos ricos formados pelos bosques podemos encontrar um número de espécies 60 vezes superior à totalidade de pessoas que vivem actualmente; e que grande parte dos fármacos que utilizamos provêm de espécies silvestres – isto sem contar com as inúmeras espécies que extinguimos diariamente sem as termos chegado a conhecer, mas que poderiam fornecer-nos a cura para cancros, sida e outras doenças terríveis…

Afinal, não se enganam muito algumas tribos da amazónia que acreditam serem as imponentes árvores dessa floresta a suporta o peso do céu. Quanto mais a ciência investiga sobre a importância das florestas , nomeadamente da amazónia, mais se dá conta de que estas são cruciais para a regulação do clima de todo o mundo. Os cientistas afectos ao projecto “Experiência de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera” (que contou com o apoio da U.E. e da NASA), em 2004, concluíram que, se não parar a destruição da amazónia (ao ritmo actual de 20 a 25 mil km2 por ano), toda aquela área poderá converter-se numa savana num prazo compreendido ente 50 e 100 anos.
Os fogos florestais nessa (ainda ) imensa floresta libertam fumo suficiente para reduzir em 25% a radiação fotossintética (essencial para as plantas) durante 2 a 3 meses por ano.

«Cerca de metade das florestas (...) já desapareceu. Concomitantemente, sete milhões de crianças abandonadas perambulam pelas ruas do Brasil. Será que as árvores desaparecidas estão a reencarnar em crianças indesejadas?» -Gary SnyderFocando o olhar sobre o solo pátrio, tão pouco é novidade que a floresta nos fornece inúmeras mais valias económico-sociais, tais como: matérias primas (madeira, cortiça, resinas, cascas, etc...), frutos, plantas medicinais, aromáticas, tintureiras, melíferas; caça e pesca; biomassa; complemento à dieta do gado doméstico; assegura postos de trabalho (a cerca de 164 000 portugueses e 7000 empresas, sendo o quinto maior empregador; Portugal é ainda o terceiro país da União Europeia onde o sector florestal tem maior peso no Produto Interno Bruto) e recursos turísticos. Mas não estaremos a cometer um erro colossal ao desprezarmos bens difusos – e absolutamente essenciais! – que a floresta origina?! Quanto vale a acção de produzir e purificar a água e o ar (absorção de muitos milhões de quilogramas de gás carbónico e libertação de oxigénio)? As árvores são capazes inclusivamente de absorver grande parte dos metais pesados - um carvalho adulto pode fixar 22 toneladas de carbono (sendo as árvores constituídas por 25% de carbono) e filtrar até 7 toneladas de contaminantes aéreos todos os anos. Cada hectare de bosque caducifólio adulto, laborando na sua plenitude, chega a libertar 15 a 20 toneladas de oxigénio por ano!
«Para que a vida na Terra seja mantida, muitas são as árvores que possuem mais valor do que os homens que as abatem (…). O espaço percorrido pelas raízes das árvores florestais retém, num único metro de profundidade, 2000 toneladas de água por hectare. Quando a floresta é cortada, os musgos e as raízes morrem, o solo perde a maior parte da sua capacidade de retenção de água, assim como a sua plasticidade. A água da chuva, ao embater violentamente no solo, arrasta a terra fértil. O vento, deixando de encontrar obstáculos, absorve a humidade, e a influência que a floresta exerce no clima das regiões limítrofes desaparece.» – Gunter Schwab
A floresta regulariza o escoamento das águas pluviais (no Inverno as árvores retêm a água à volta das suas raízes, e vão-na soltando lentamente à medida que o calor avança) e actua como um regulador climatérico (diminui as amplitudes térmicas e aumenta a humidade do ar através da evapotranspiração). Contribui para a regulação da composição química dos oceanos; produz solo fértil e protege-o da erosão*; evita o assoreamento de rios e barragens; é uma eficaz barreira contra a poluição sonora; oferece protecção às culturas agrícolas (atenuando a acção perniciosa dos elementos erosivos naturais – vento, chuva, sol e a geada -, evitando a dispersão de sementes das ervas daninhas e dando abrigo a uma numerosa comunidade de seres vivos*** que são preciosos auxiliares do agricultor no controle das populações de roedores e insectos que competem pelas culturas agrícolas, evitando assim o uso de biocídas. Assegura a biodiversidade e modela as paisagens (não só a estrutura agrária, mas todas as zonas verdes com função social e turística).
Uma vez interiorizadas estas informações, talvez se tornem mais arrepiantes os dados estatísticos que nos esforçamos por ignorar: anualmente destruímos cerca de 14 milhões de hectares de floresta (uma superfície maior que a Grécia); mais de 80% dos bosques primários já foram destruídos; diariamente extinguem-se entre 40 a 100 espécies animais e vegetais; na Europa restam apenas 0,3% do bosque original (em vastas áreas desabitadas da Finlândia e da Suécia, mas que estão sujeitas a exploração madeireira intensiva); o pouco sobrante encontra-se gravemente enfermo devido à poluição, com destaque para as chuvas ácidas; à falta de renovação genética dos núcleos isolados; às enfermidades transmitidas por organismos alóctones; às monoculturas; incêndios florestais demasiado frequentes ****; às constantes ameaças do urbanismo expansivo, das barragens, da rede rodoviária,… Chega?
Então do que é que estamos à espera para agirmos em conformidade com os nossos conhecimentos?! Será que, como dizia Óscar Wild, «a tudo damos um preço, mas não sabemos dar valor a nada»? Teremos que aprender – o quanto antes – a valorizar os bens ambientais, cuja existência não pode ser mercadejada!
«Para o capital, um bosque não tem valor até que seja destruído e convertido em madeira, do mesmo modo que as pessoas que cultivam a sua própria comida e se esforçam por satisfazerem as outras necessidades básicas fora dos mercados dominantes, são considerados uma perda económica.» - David Watson
Assim, cultivar uma horta e assegurar a perenidade dos bosques é um acto político maior!
Na verdade, a nossa civilização tecno-industrial, tal como a conhecemos, necessita continuar a destruir (de forma irracionalmente insaciável) a natureza para prolongar a sua existência – essencialmente ecocída. É essa a fatal premissa do crescimento económico em que se baseia o actual sistema industrial multinacional.
Simplificando esta problemática, estou convencido que todas as “grandes civilizações” (as que detiveram um maior poder tecnológico, militar, político e económico, e o exerceram sobre um vasto território) tiveram a sua ascensão e queda por motivos semelhantes. Os sintomas dessa doença civilizacional são fáceis de identificar e certamente soar-vos-ão familiares.
Os pequenos grupos nómadas de recoletores-caçadores quando passaram a dominar as técnicas de horticultura conseguiram conservar os laços harmoniosos com a natureza e de coesão social. Mas com o advento da agricultura e da pecuária tudo mudou radicalmente. Grandes extensões de terra (muitas vezes roubadas às florestas) eram consagradas de forma intensiva a essas actividades, sem que os homens dominassem as técnicas sustentáveis das práticas agrícolas.
Enquanto a natureza aguentou essa agressão contínua, esses povos conheceram uma prosperidade extraordinária, baseada na acumulação de excedentes agroalimentares e num consequente crescimento populacional. O passo seguinte foi a criação de cidades cada vez maiores, onde o poder era centralizado numa minoria privilegiada que, para além de ser detentora de quase toda a riqueza material, orientava (a seu favor, pois claro) também os cultos religiosos (como forma comprovadamente eficaz de domínio de massas). A sociedade estratificou-se (numa hierarquia rígida e injusta) baseando-se na divisão do trabalho. E cada ramo laboral (ex.: agrícola, militar, meios de registo e de comunicações, etc…) exigia um desenvolvimento tecnológico específico. Assim, uma população crescente deixou de participar directamente na produção dos alimentos que consumia, bem como na tomada de decisões cruciais que orientavam as suas vidas.
A fim de manterem essa estrutura social, os Estados tinham que se expandir, conquistando novas riquezas subtraídas à natureza e aos povos periféricos. A política de espólios tem uma aritmética implacável: um exército forte é capaz de saquear maiores riquezas, e com estas os governos imperialistas podem continuar a fortalecer os seus exércitos… Se o exército não for empregue na pilhagem e exploração, torna-se um encargo dificilmente suportável pelos contribuintes. Mas esta política imperialista é limitada pela disponibilidade dos recursos naturais. Como já se queixava o imperador romano Constantino (o pai da Igreja Católica), para manter grandes exércitos é necessário um imenso tesouro dividido em salários e muita burocracia. Por mais eficiente que essa máquina militar seja a saquear e a proteger as suas conquistas, não poderá assegurar de forma sustentável o fornecimento suficientemente constante e abundante de riquezas ao Estado. Nem com o apoio financeiro dos impostos isso é possível. O rasto de devastação e a revolta dos oprimidos, mais tarde ou mais cedo, fazem os impérios colapsarem.


A situação acabou por se tornar insustentável: as frequentes guerras, os saques e a escravatura não atenuavam as desigualdades sociais até mesmo dos que pertenciam aos povos dominantes, antes pelo contrário. A repressão interna (começando por uma educação infantil cada vez mais severa) tornou-se uma constante; os administradores acentuaram a carga fiscal sobre os produtores primários; as rebeliões ocasionais; a corrupção, as intrigas e os atentados nas esferas do poder; governantes dementes (não só pela obsessão pelo poder, mas igualmente devido a degenerações genéticas consequentes de muitas gerações de cruzamentos consanguíneos, ademais quanto mais poder os governantes julgam ter, mais obcecados se tornam com a suaimortalidade, desperdiçando as suas vidas e de inúmeros súbditos, assim como os recursos naturais perseguindo a ilusão de transcenderem as leis mais elementares danatureza.); até que as catástrofes naturais (ex.: desflorestação; erosão, salinização e esgotamento dos solos aráveis; e outras mais aleatórias como os tremores de terra e as explosões vulcânicas; pragas agrícolas; epidemias entre o gado e os humanos; a fome….) finalmente impuseram uma nova ordem a estes conflitos. A natureza excessivamente violentada deu de ombros e os homens conheceram a sua fragilidade, mas não aprenderam as lições mais óbvias…
A civilização europeia medieval mostrava claros sinais de decadência, caminhando inexoravelmente para um colapso (ex.: as cruzadas, as constantes guerras entre reinos e senhores feudais, os cismas religiosos, a inquisição, as desigualdades sociais gritantes, as pestes devastadoras, as cidades imundas e insustentáveis,…) quando se lançou à conquista de territórios ultramarinos. Essa epopeia foi definida pelo biólogo Carlos Herrera como “a maior perturbação genética e biogeográfica protagonizada pela nossa espécie desde o final da última glaciação.” É deveras paradigmático que tenham destruído o que restava dos nossos bosques para construírem embarcações que os levariam, determinados com furiosa cupidez, à predação de novas terras e de riquezas (fundamentalmente pedras preciosas) apenas sonhadas. Claro que, como intrusos rapaces, acabámos por esgotar e vilipendiar os recursos naturais alóctones (uma natureza tão prodigiosamente rica que parecia inesgotável), bem como subjugar e explorar impiedosamente os seus povos nativos. Foi esse input económico que sustentou a crescente insanidade europeia.
O século XVII, a partir de Inglaterra, conheceu o nascimento da revolução industrial, apoiada no êxodo rural. O ingente afluxo de mão-de-obra barata providenciada pelos campesinos expulsos das suas terras e aldeias comunais pelos poderosos criadores de gado – que tampouco queriam ouvir falar de florestas…. A indústria de lanifícios patrocinou o sistema de enclosures que arruinou completamente os sistemas de agricultura sustentáveis (acabando com o sistema da gestão comunal dos terrenos), desalojou os camponeses (que foram substituir os escravos africanos como principal força de trabalho) e teve um tremendo impacto na vida selvagem britânica.
A industrialização da civilização ocidental permitiu um “domínio” e saque da natureza e das comunidades indígenas (começando por lhes destruir os sistemas sócio-económicos comunais e seculares, escravizando-os, destruindo-lhes o habitat ou simplesmente tornando-os vítimas de um genocídio deliberado) por toda a biosfera, para sustento de uma cultura imperial parasitária que se comporta como um verdadeiro cancro, crescendo à custa de consumir as “células boas” até que, eventualmente, mata o organismo hospedeiro, perecendo com ele. Só que desta vez o trágico colapso civilizacional não ficará restrito a uma determinada região com evidentes afinidades edáficas, climáticas e biológicas (como aconteceu na Mesopotâmia, na Anatólia, no Mediterrâneo, no Egipto, no México, na ilha de Páscoa…), afectando, com proporções apocalípticas, até os locais mais remotos e desabitados da Terra. São disso exemplos a poluição generalizada, o buraco na camada do ozono, as mudanças climáticas, a subida dos oceanos, a erosão do solo arável, a extinção diária de espécies, a dependência de um punhado de variedades agrícolas uniformizadas, as culturas transgénicas, a fome endémica, as pestes, as doenças ambientais e do foro psiquiátrico, o excesso de população, o crime generalizado, a corrupção completa da verdade, o terrorismo, os êxodos Sul-Norte, o racismo, a desflorestação, e um longo e excruciante etecétera… mas para os detentores do poder tecno-industrial ( legitimado pelos governos que dominam), cujas empresas multinacionais humilhariam qualquer ditador que a história já conheceu, estes problemas pouco mais são do que possibilidades de novos mercados. De costas voltadas para as suas obrigações para com a sociedade, apenas justificam os seus actos perante os seus accionistas, a não ser que enfrentem processos judiciais. Mas até nessas circunstâncias têm pouco a temer, salvaguardados por temíveis firmas de advogados com a disposição e os meios (legais e ilegais) de destruírem a credibilidade e as vidas de quem ouse enfrentá-los.
Os recursos naturais e os recursos humanos não passam de pratos na esquisita ementa da ágape corporativa. Mas, antes mesmo da escassez de ingredientes toldarem o ambiente opíparo dos seus banquetes, já os selectos e insaciáveis comensais se entreolham com avidez/gula antropofágica e se pontapeiam por debaixo da mesa…
Temos que exigir valores éticos e transparência nas transacções comerciaisàs empresas que enriquecemos!






As corporações que mandam no mundo tiveram várias décadas para construíremimpérios e, simultaneamente, bloquearem quase todas as vias alternativas quenão lhes pagam tributo/prestem vassalagemAcordos de conveniência
«Eles comem tudo e não deixam nada.» – José (Zeca) Afonso

Até há meio século a sociedade ocidental media os limites do crescimento económico pelos meios técnicos que conseguia conceber a fim de explorar os recursos naturais. Só muito recentemente nos começamos a dar conta de que as premissas em que se baseiam o capitalismo e a indústria (que se implantaram e cresceram numa época em que havia menos gente e mais recursos naturais) são insustentáveis. De nada vale Ter serrações equipadas com a mais recente tecnologia, apoiada por meios de transporte eficientes e trabalhadores especializados, se o bosque deixou de existir. Nem a poluição se pode dissociar da produção industrial, nem o luxo de uns poucos pode existir sem a pobreza de muitos. A sociedade começa a procurar um crescimento qualitativo e não quantitativo.

« A organização da economia para uma vida “melhor” está a minar as possibilidades de uma vida boa.» - Ivan Illich

Em jeito de conclusão, confesso que não estou optimista quanto à evolução da crise ecológico-social em que estamos mergulhados, mas se sabemos (?) que devemos abjurar o hedonismo consumista (implicitamente insatisfatório, fútil, egoísta, irresponsável e, em última instância, insustentável), é igualmente importante não nos deixarmos dominar pela frustração, pelo desespero ou pela fúria nemésica. Um bom exemplo da atitude positiva que mais nos convém encontramo-la numa máxima de Martin Luther King: «mesmo que eu soubesse que o mundo acabaria amanhã, ainda hoje plantaria uma árvore!» Eis um bom conselho: plantar árvores - não apenas metaforicamente! Mas que sejam espécies autóctones ( « Cada árvore tem a sua pátria.»- Vergílio ) e tendo em atenção que esses trabalhos devem ser realizados nos meses frios, não no folclórico e hipócrita “dia mundial da árvore”.) A isto chama-se transcender o pessimismo da razão com o optimismo da vontade.
Plantar árvores já não é, per si, um acto de amor altruísta, tal como nem todas as expressões de “amor” entre os humanos são intrinsecamente boas, quando não há consentimento e satisfação/prazer de pelo menos uma das partes implicadas. Existe tanto “amor pela natureza” num industrial de celulose que manda plantar um eucaliptal onde deveriam existir predominantemente árvores do género Quercus, como as acções de Hitler se justificam por amor à raça ariana.
« Se um homem deambular pelos bosques – por amor a estes – durante metade dos seus dias, corre o risco de ser (des)considerado um vagabundo; mas se ele gastar todos os seus dias como um especulador financeiro que lucra com o abate dos bosques (…), será estimado como um cidadão empreendedor e engenhoso.» - Henry Throreau
«O mundo da alta finança deixa-se apenas compreender se tivermos consciência de que o máximo de admiração vai para aqueles que abrem caminho às maiores catástrofes.» - James Galbraith
É urgente mudarmos valores e comportamentos, reatando as vitais ligações telúricas e de solidariedade social. Um novo humanismo libertário e ecológico só poderá florescer e fortalecer-se depois reconhecermos e respeitarmos as nossas necessidades reais. A economia poderá evoluir de mão dada com a ecologia. Para tal terá que recuperar os sistemas comunais auto-sustentados em harmonia possível com as respectivas biorregiões (o que significa respeitarmos também os seres não humanos) e, talvez até, encontrarmos sistemas monetários alternativos *. A actual filosofia de “comércio justo” poderá ser a melhor das opções para as transacções inter-regiões. ( http://www.comerciosolidario.com/ ; http://www.comerciojusto.com/ ; http://www.fairtrade.net/ ; http://www.worldshops.org/)

«A esperança reside nas pessoas comuns que desenvolvem a sua actividade nos locais em que vivem, onde a sua prosperidade e mesmo a sua sobrevivência dependem da realização do acordo mais sensato com a natureza. Um número crucial para a espécie humana é o da população mundial e este é fundamentalmente o produto das decisões privadas de milhares de milhões de pais. Para que as novas descobertas científicas sobre o sistema Terra tenham qualquer resultado prático, terão de ser compreendidas, interpretadas e implementadas por essas mesmas pessoas comuns; são elas os verdadeiros vigilantes da nave espacial Terra.» –Nigel Calder


Mais do que sobrevivermos como espécie, certamente que assim seríamos recompensados com uma vida mais digna, plena e feliz. Para além de um recurso natural indispensável, os bosques são uma fonte de inspiração para (re)encontrarmos esse caminho redentor.
Independentemente de tudo o que fizermos, a natureza sobreviverá à espécie humana. Pode demorar milhões de anos a recuperar a biodiversidade (com uma composição necessariamente diferente da que hoje conhecemos), mas a génese cósmica da vida perdurará, incólume, na sua capacidade regeneradora e criativa. A parte do barro prisco da evolução que mais conspurcamos é a que constitui a nossa espécie.

Segundo o geógrafo francês Viers, «hoje o bosque não é mais a antítese da civilização, mas para milhões e milhões de pessoas, um antídoto.» O contacto íntimo e harmonioso com a natureza pode, e deve, ser uma experiência profundamente terapêutica e até religiosa.
«Um sentimento de paz fluirá da natureza [silvestre] para nós, como a luz solar se incorpora às folhas das árvores.» - John Muir
Desafortunadamente, para grande parte dos portugueses as matas servem essencialmente para fazer despejos - de lixo^^^^^^ e de fluidos corporais (não é preciso fazer um desenho,ou é?)assim, sempre que adestrarmos num caminho "florestal" acessível, já sabemos o que lá encontraremos e que nos fará desejar termos saído de casa em jejum …«Para os portugueses a terra é ainda sinónimo de frio no Inverno ou de calorno Verão, mas sempre de trabalho duro. A terra é violência e não seacarinha o que nos violenta.» - José Barata-Feyo (GR n.º54, Set. de 95)

*O nível de depauperamento da biodiversidade aproxima-se a passos largos do verificado no final do Mesozóico (há 65 milhões de anos), quando uma implacável onda de extinções fez desaparecer enre 60 a 70% das espécies (com destaque para os retroactivamente populares dinossauros), provavelmente como consequência do embate com um gigantesco asteróide (com uns 15 Kms de largura), segundo nos conta o registo fóssil, que nos fala ainda de um megatsunami que varreu toda América do Norte .

Paulo Barreiros

sexta-feira, maio 26, 2006

Vocês aceitariam pacificamente que fosse instalado em Alpiarça um depósito de lixo tóxico – sem que ninguém da autarquia se molestasse em impedir o contacto das substâncias tóxicas com os aquíferos subterrâneos (de onde é extraída a água que nos chega às toneiras)?! Pois é isso mesmo que está a acontecer debaixo dos nossos narizes!... Refiro-me à lixeira de Alpiarça, cuja “selagem” foi criminosamente (pelo menos do ponto de vista moral) inepta e irresponsável! Uma vez mais, esta autarquia demonstrou desprezo pela saúde pública e pelo ambiente em geral com a sua mentalidade terceiro-mundista de varrer o lixo para debaixo do “tapete” (sorte do executivo camarário que eu não estava cá na altura…).
A única vantagem apreciável entre o antes e o depois da “selagem”, é que agora não temos o lixo arder naquele local infecto, libertando para a atmosfera algumas das piores substâncias inventadas pelo homem – mas estas continuam activas nos lixiviados (as escorrências)… Por incrível que pareça, não se fazem análises orientadas para detectar estas substâncias )ex.: PCBs, furanos, dioxinas, etc…) extremamente tóxicas que circulam e se acumulam nos nossos corpos. Para este executivo camarário, é mais conveniente ignorar este problema (são substâncias invisíveis e inodoras…), investindo no seu agravamento (ex.: campo de golfe mesmo ao lado da lixeira), em vez de remover totalmente a lixeira do paul, levando os resíduos para aterros devidamente impermeabilizados e procurando reciclar o máximo de materiais possível. A nossa responsabilidade colectiva é agir diariamente a montante, ou seja, devemos ter o cuidado de reduzir drasticamente a produção de resíduos. Por ex.: evitar as embalagens plásticas, fazendo o máximo de compras directamente junto dos produtores (vão à praça, se não podem ir às quintas!), levando, para o efeito, sacos de pano e cestas de vime; procurem produtos sem ou com um mínimo de agroquímicos perigosos – e digam não aos transgénicos!; andem mais a pé e/ou de bicicleta; etc, etc…)
Sem que quase ninguém tenha dado por isso, o PROF Ribatejo – Plano Regional de Ordenamento Florestal – tem estado em fase de consulta pública. Dormimos no ponto… Depois queixamo-nos de que o país está a arder e, de forma ignorante e conveniente, culpamos os incendiários… Mas também é verdade que as autoridades não mexeram uma palha para organizar sessões públicas de esclarecimento e discussão deste plano de ordenamento (à semelhança do que aconteceu com o plano sectorial da Rede Natura)…
Quando é que esta autarquia vai apresentar o Plano Municipal de Defesa da Floresta?!
Vamos lá pessoal, não percam tanto tempo como futebol e os carros, e empenhem-se em reivindicar e defender o que é realmente essencial para a nossa qualidade de vida e para a sobrevivência das gerações futuras!

«Os bens humanos podem-se dividir em património cultural, património material e património biológico; apenas este último é absolutamente essencial à nossa sobre vivência.» - Jorge Paiva

Num dos primeiros textos que aqui apresentei disse o seguinte: « Estou certo de que se os autarcas e os mais poderosos agentes económicos de Alpiarça tivessem brincado muito no paul quando eram crianças e, depois na adolescência, lá tivessem experimentado as delícias dos primeiros namoros, vê-lo-iam de outra forma e empenhar-se-iam em cuidar desse património natural – que é parte inalienável da nossa identidade cultural.» Bem, o mesmo se aplica a todos os alpiarcenses.
PB

segunda-feira, maio 22, 2006

Jóias naturais do Paul dos Patudos ...
Cobra-de-ferradura

Abelharuco (juvenil)


Mocho-galego

(fotos: Paulo Barreiros)

Ricochetes

Apraz-me constatar que este executivo camarário e os seus “boys” da «Alpiarça é a Razão», apesar de se terem colocado num pedestal de arrogância totalitária, estão a ressentir-se com os meus comentários ( eu ainda agora comecei e já sinto o cheiro acre do medo no vosso suor…). Até eu fazer alusão à «Agenda 21» neste blog, ninguém ligado ao pelouro do ambiente fazia ideia do que isso era (como tive a oportunidade de constatar pessoalmente meses antes). Agora até mandaram um dos seus lacaios fazer uma pequena pesquisa na Internet, cujo resultado imprimiram e distribuíram pela população («Alpiarça é a Razão» n.º2, Maio de 2006). Mesmo que o PS local tivesse “spin doctors” (ou seja, os manipuladores de informações) minimamente competentes, nunca conseguiriam disfarçar (pelo menos a pessoas inteligentes e informadas) a suprema hipocrisia do folheto em causa. Limitaram-se a transcrever (sem mencionarem a fonte e o verdadeiro autor do texto roubado na internet) uns desideratos inocuamente consensuais - mas que não seguem minimamente! Não conseguiram arranjar um único exemplo da sua actuação que tenha realmente que ver com a Agenda 21 nem com a «Carta de Aalborg», a não ser ( e estou a forçar a coisa para ser simpático) a inclusão de uma referência à agricultura biológica numa feira de vinhos. Sinceramente, esse foi um evento demasiado modesto, tardio e descontextualizado que, ao contrário do que vocês afirmam - «um desafio ganho, uma aposta no futuro»(sic) –, não deixou satisfeitos nenhum dos produtores biológicos com os quais falei.
Não obstante, contam com o meu apoio para quaisquer iniciativas destinadas à promoção da agricultura biologia - podem começar por banir os transgénicos, como foi feito por uma associação de municípios algarvia, e mobilizar uma campanha para a recuperação das sebes vivas (Vocês nem fazem ideia do que é que eu estou a falar, pois não?...).
Só agora que começaram a levar nas orelhas pelos seus crimes ambientais, é que tomaram consciência (?) de que uns quantos “fundamentalistas” (sic) verdes (não é uma alusão político-partidária) podem ser um contra-poder a sério, e, por isso, mais vale começarem a fingir que ligam ao ambiente. Enquanto nos acenam com as intenções da Agenda 21 (como se fosse um quadro de pintura abstracta, intocável na sua condição museológica ), planeiam destruir o maior tesouro ambiental do concelho – o Paul dos Patudos (ou da Gouxa) – transformando-o num campo de golfe, num lago artificial (extremamente poluído) e em moradias de luxo – tudo para usufruto de um punhado de endinheirados.
Os tempos mudaram, e agora existe uma equipa de técnicos competentes, idealistas e atentos, que irão dar o seu melhor para vos impedir de perpetrar essa patifaria ambiental e social. Vai ser uma luta interessante, e não contem com a vitória à priori, “apenas” porque têm a mesma cor política que o actual governo.
«Não à VANDAlização do nosso paul !!!»
O dinheiro que gastaram no folheto parvo (um hino à hipocrisia que poderá ser um tiro saído pela culatra, quando a população começar a informar-se e a exigir que respeitem deveras o que está estipulado no referido documento…), dava para fazer umas acções de educação ambiental a sério, ou para editarem os anunciados postais sobre aspectos do nosso património natural. (Até as fotografias que escolheram para o ilustrar reflectem bem a estupidez e a hipocrisia dos seus autores: o que é que o relvar de um campo de futebol e o cimentar de um pátio de escola têm que ver com a Agenda 21 ?!?!)
Vocês nem sequer definem objectivos concretos (e adaptados à realidade local) para, tardiamente, tentarem “apanhar o comboio” da Agenda 21 (algo que deveria ter sido feito muito antes de vocês terem chegado ao poder…), quando é notório que seguem em direcção oposta a esses objectivos! Apenas fazem uma insinuação excessiva e suspeitamente vaga a que a Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo (CULT) poderá ter dado agora o primeiro passo nesse sentido… Ai sim?, e, concretamente em Alpiarça, que passo vem a ser esse? E porque é que começa (?) com quase 15 anos de atraso?! Não me digam que nos vão impingir campos de golfe “ecológicos”?! (como se tal fosse possível) Com esse dinheiro poderiam, por ex., avançar para uma central de compostagem ao serviço de vários municípios. Os agricultores, a saúde pública e a vida selvagem rejubilariam com essa iniciativa fundamental, que, ademais, também significaria muitos postos de trabalho. Sim, é isso mesmo de que precisamos, e não custear mamarrachos (que ficam às moscas) e carros de luxo para os Sr.s políticos se pavonearem!
Façam alguma coisa para que o Paul deixe de ser uma imensa pista de motocross!
Que fique bem claro: ninguém deste executivo camarário foi responsável por “cavar” o RIPIDURABLE, limitando-se agora a subverter todos os objectivos desse programa comunitário numa golpada de especulação imobiliária mal disfarçada com uma cosmética “verde” …
O chefe de propaganda política de Hitler costumava dizer que «se insistirmos muito numa mentira, esta acabará por se tornar verdade [na psique colectiva]»…
O Próprio Hitler afirmava que «as massas são como as mulheres: necessitam de ser subjugadas e enganadas!»
Aqui há poucos anos um Primeiro Ministro português afirmou (cito de memória) que «a política é arte de não dizer a verdade»… Pelos vistos, os autarcas caciqueiros regem-se pela velha escola e é sobretudo por isso que o nosso país, ao fim de 20 anos na UE , apesar de ter beneficiado de uma quantidade obscena de subsídios, continua na merda, não parando de aumentar as assimetrias sociais e apenas se vêm desastres ambientais por todos os lados.
Para a próxima, tentem editar esse lixo em papel reciclado, ou, pelo menos, isente de cloro, e em tintas vegetais – que já são acessíveis a todos os interessados. Ao menos assim poderiam conseguir engabelar, com uma réstia de credibilidade, algum ingénuo. Ainda arranjo uma hérnia, ou terei que começar a usar fraldas para incontinentes, com o muito que me tenho rido de tanta palhaçada imbecil ! Ainda são processados pelos tipos d’«O gato Fedorento» devido a lhes fazerem concorrência desleal…Tenham vergonha, cambada de apedeutas oportunistas!
A propósito disse o mestre de educação ambiental Joaquín Araújo: « o pensamento ecológico é exigente e a grande dificuldade é vencer a inércia desde o comodismo, a indiferença e a irresponsabilidade. Restringindo-nos à formulação verbal, estamos todos do lado da Natureza, mas no que toca ao comportamento pessoal estamos nos antípodas [da ecologia].»
(…) [os ecologistas] « somos os últimos utópicos. Quando exigimos que a riqueza se deve repartir de forma mais equitativa, estamos a atentar contra os interesses sacrossantos dos mais poderosos.» (in «Natura», n.º 56, Jan. de 1997)


Vá lá, aproveitem que eu até vos faço a papinha à borla, pesquisando sobre assuntos fundamentais que vocês deveriam estar fartos de saber (e só não sabem porque se estão a cagar) e sobretudo agir em conformidade com essas informações – algumas das quais são dicas óptimas! Quem é amiguinho, quem é?...
Ó pessoal da oposição, acordem! Vejam lá se carregam munições argumentativas neste blog, a fim de pedirem contas a este executivo camarário (que deverá estar nos seus estertores…). Eu sei que estas são quase todas ideias novas para vocês, mas, caramba, têm que perceber os desafios e as responsabilidades de estarmos no séc. XXI à beira de um Armagedon ecológico! De contrário, quando for a vossa vez de chegar ao poder (e já não deve faltar muito…), adivinhem que é que vão ter à perna… Olhem que eu tenho os dentes bem afiados!...Porque é que julgam que eu me dou a este trabalho?! Certamente que não é para arranjar tachos na função pública, nem nos partidos políticos, e suponho que tampouco serve para engatar as beldades locais… Em muitas localidades tenho enfrentado, de peito aberto, os interesses estabelecidos e as negociatas (o que, como podem imaginar, me faz arrostar imensas chatices), apenas porque quero acreditar num futuro sustentável e democrático!
Já agora, quero deixar um recado a quem está a dirigir o projecto embrionário da Reserva o Cavalo Sorraia, uma vez que o espaço aí agricultado é ínfimo e pretende ter um carácter demonstrativo/pedagógico (ainda estão muito longe de fazer jus à pretensiosa auto denominação de «quinta pedagógica»…) , o mínimo que podem fazer é praticar a agricultura biológica. E que raio de abuso vem a ser aquelas placas com o símbolo do ICN (Instituto da Conservação da Natureza) que dizem ser o supracitado local uma «reserva natural», quando não cumpre nenhum dos requisitos para merecer essa classificação legal?! Trata-se de um logro ilegal que urge corrigir, pois já induziu em erro vários observadores da natureza. Esperemos que um dia não muito distante o Paul dos Patudos seja efectivamente classificado como «reserva natural» e que aí possam deambular os cavalos Sorraia rodeados de uma abundante vida selvagem…

P.s.- Como este executivo camarário (junto com o seu séquito de beija-cus tachistas que nunca demonstraram ter o menor interesse em temáticas ambientais) em breve irá fazer umas mini férias VIP em Inglaterra (com o pretexto de observar projectos de conservação de zonas húmidas) pagas com os impostos de todos nós (contribuintes da U E), eu queria pedir-lhes o favor de, enquanto andarem entretidos a comprar adereços de ostentação, me adquiram um par de livros sobre educação ambiental que foram recentemente publicados e que me fazem mesmo falta. Eu prometo que, ao contrário do que é apanágio da autarquia, eu pago-vos atempadamente.
No próximo folheto da «Alpiarça (ou a BMW?) é a Razão» poderiam partilhar connosco as fotos dessas férias. As pessoas fúteis que compram revistas para verem como vive o jet set, bem como aqueles que precisam de dicas sobre restaurantes de luxo e clubes nocturnos em Londres, agradecer-vos-ão…
Ouvi dizer que também existem os projectos de cariz ambiental bem giros no Brasil, vejam lá se não querem fazer um peditório à malta, ou aumentarem os impostos, para irem lá observar a interacção “ecológica” entre os cocktails e as psicinas dos hotéis de 5 estrelas… Estejam à vontade que o Zé Povinho é parvo e gosta de ser enganado; ainda por cima, enquanto decorrer o Mundial de Futebol ninguém dá pelas trafulhices dos políticos…

Peço desculpa aos leitores do meu blog pela qualidade duvidosa dalguns textos que aqui divulgo, mas é que estes foram escritos à pressa, sem qualquer revisão - algo que costuma ter consequências lamentáveis para disléxicos como eu… Tenho demasiada urgência em partilhar informações importantes, como para me deixar dominar por veleidades literárias.



Rumo à sustentabilidade
Os horticultores urbanos (que aproveitam baldios, terraços, telhados e reutilizam embalagens que se convertem em vasos e me canteiros; aproveitam a água da chuva e até criam peixes em pequenos tanques e em estações de tratamento de águas residuais), individualmente ou associados, são já 800 milhões e, a acreditar nos dados (que até a mim surpreenderam) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (de 1989), abastecem as cidades com 15% dos alimentos que aí se consomem.

Cerca de 90% dos vegetais consumidos pelos habitantes da cidade de Accra (no Gahna) são produzidos dentro do perímetro urbano; na Europa central e do Norte a maioria das cidades está rodeada por numerosas hortas de pequenas dimensões , cuidadas com muito esmero pelos citadinos, que vêm na horticultura não só uma forma de terem acesso a vegetais frescos, como também uma terapia que os alivia do stress, mantendo-os em contacto com a terra de forma útil e criativa. Há suficientes estudos efectuados por psicólogos, antropólogos e médicos que demonstram claramente os benefícios para o equilíbrio psicossomático e para a harmonia social provenientes da labor agrícola nos espaços urbanos. Para as populações com baixos rendimentos (o que geralmente se reflecte numa péssima alimentação) as hortas urbanas podem tornar-se indispensáveis (ex.: em Calcutá, 25 mil pessoas conseguem empregos e alimentos deste modo). O que teria sido das famílias do Vale do Ave se a maioria não cultivasse hortas, quando o sector industrial entrou em crise lançando milhares de pessoas para o desemprego?
Devemos ainda considerar que esta actividade reforça os laços familiares, cria um espírito de comunidade e de responsabilidade social (sobretudo em bairros degradados e onde existe muita violência e vandalismo) e até ajuda a preservar alguma identidade cultural implantada no palato (como acontece com as comunidades de imigrantes recém chegados de países com uma dieta muito diferente)
80 mil berlinenses dedicam-se a esta actividade e mais 16 mil estão actualmente em lista de espera com o intuito de conseguirem um pedaço de terreno cultivável (mesmo que tenham que custear a limpeza, ou mesmo a substituição da terra que foi durante muitos anos utilizada como depósito de todo o tipo de lixo incluído matérias muito tóxicos).
E não limitam os cultivos aos vegetais, produzindo também ervas aromáticas e medicinais. Muitos transformaram a actividade num lucrativo negócio familiar (que pode envolver todo um bairro à volta de uma horta num baldio), abastecendo restaurantes de luxo. Isso já é algo comum em Nova Iorque.

Na Holanda 33% de todos os vegetais cultivados provêm de hortas urbanas;
Na Polónia quase 1 milhão de hortas são cultivadas por 30% das famílias que residem em áreas urbanas ;
Nos EUA os horticultores urbanos provaram que conseguem produzir até 15 vezes do que os agricultores com explorações industriais , além de cuidarem muito melhor da vitalidade/fertilidade da terra.
Para que possa haver agricultura precisamos de solos com um mínimo de fertilidade. As cidades poderiam dar/devolver aos campos os seus resíduos orgânicos. Mirem-se nos exemplos da Áustria, da Alemanha, da Holanda e da Suiça onde os municípios aproveitam para composto até 85% desses desperdícios – que constituem cerca de 37% do conteúdo dos caixotes do lixo domésticos.

Apesar de já haver em Portugal centrais de compostagem (manifestamente insuficientes), pouca da comida e de outros produtos orgânicos (que constituem cerca de 40% dos resíduos urbanos) que as cidades desperdiçam retornam à terra para a fertilizar. Ao invés, os campos são fertilizados com substâncias de síntese química (muitas vezes derivados do petróleo). Como consequência disso, a microfauna e os fungos do solo, bem como os lençóis freáticos sofrem uma agressão irreparável.
No Wisconsin (EUA) as autoridades renderam-se às evidências dos problemas sociais e ambientais associados a uma dieta errada (baseada na comida rápida industrial) a que se submete a maioria da população, e tomaram medidas para contrariar a situação. Com resultados espectaculares, a violência diminuiu drasticamente nas prisões e nas escolas que aderiram a programas alimentares saudáveis, com alimentos frescos, variados e ricos em nutrientes. Até foi reportado o caso (não tão caricato como os cépticos o julgaram) de um juiz que aconselhou vários (ex-)reclusos prestes a serem postos em liberdade condicional a manterem uma alimentação saudável como uma das melhores formas de não regressarem à prisão. Uma escola (do referido estado) que tinha a péssima reputação relacionada com violência, drogas, abandono escolar, expulsões e suicídios, nos últimos 5 anos – desde que aderiu ao programa de alimentação saudável – quase se tornou um exemplo de bom comportamento para todo o país. (Jeffrey Smith, 2005)
Em Philadelphia a taxa de obesidade infanto-juvenil contava-se entre as dez mais latas do país. Uma escola resolveu inverter essa situação. Os professores conseguiram que pais e alunos aceitassem trabalhar juntos para erradicar o problema da obesidade. Começaram por elaborar um programa alimentar que mudou completamente a ementa na cantina escolar, banindo a comida rápida e os doces industriais, dando como alternativa uma dieta equilibrada baseada em produtos frescos e o mais naturais possível. Depois pediram às marcas que comercializam (através da venda directa em máquinas) nas escolas refrigerantes e outras porcarias açucaradas para que substituíssem os seus produtos por sumos naturais. O conselho de pais e professores até tem intervido junto do comércio que rodeia as escolas para essas lojas aceitem unir-se aos seus esforços por melhorar a saúde dos alunos. O objectivo não é ter um grupo de miúdos esbeltos, mas sim criar hábitos saudáveis que se mantenham para toda a vida.
Este programa foi incluído – com destaque – no currículo académico, estendendo-se para fora da sala de aulas num clube alimentar e em actividades desportivas.
O facto de que os jovens que participam voluntária e entusiasticamente num programa deste género acabem por ter um melhor desempenho académico também se deve ao aumento da sua auto-estima e de uma melhor integração na sua comunidade (só na referida escola de Philadelphia estão envolvidas 1200 famílias)

Os consumidores que não tenham predisposição para a prática - tão benéfica – do cultivo das hortas, podem igualmente associar-se para estreitar a ponte entre si e os pequenos agricultores, com vantagens óbvias para ambas as partes.

Este conceito já vigora na Suíça, na Alemanha e no Japão há mais de três décadas, e nos anos (19)80 proliferou por 43 estados norte americanos.
O acordo é simples: os consumidores criam um fundo de apoio aos agricultores para que estes possam suportar as despesas no início de cada campanha agrícola, e em troca recebam semanalmente um cabaz de legumes e outros produtos agrícolas
Os consumidores têm uma opinião determinante sobre o que irão plantar os agricultores seus associados, garantindo o escoamento dos agroprodutos e reduzindo consideravelmente a poluição e as despesas (menos agroquímicos, menos distâncias a percorrer nos circuitos de abastecimento, o que torna também desnecessário o armazenamento em dispendiosas câmaras frigoríficas; eliminação de intermediários...).
A parceria pode-se alargar às escolas agrícolas, à fomentação do trabalho voluntário, à criação de bancos de sementes para preservação das variedades locais; visitas de carácter pedagógico às quintas; organização de mini-cursos (ex.: agricultura biológica/permacultura, culinária alternativa, plantas aromáticas e medicinais, energias renováveis, etc...); à exploração do turismo rural, à elaboração de materiais didácticos; e muitas outras iniciativas interessantes.
Na cerimónia de abertura da cimeira (verdadeiramente) alternativa denominado «Terra Mãe»*-+, o organizador da iniciativa e fundador do movimento «Slow Food» (ou «comida lenta«, por oposição à fast food ou comida rápida) , Carlo Petrini, fez o seguinte apelo: «convirtamo-nos todos em coprodutores! » (Itália, Outubro de 2004) Esta é uma postura, uma filosofia e uma política radicalmente oposta à que adoptámos/institucionalizámos nas sociedades industrializadas, em que nos definimos como torpes consumidores, mas é a lógica consensual entre as comunidades tradicionais. Consumir tornou-se sinónimo de destruir – de forma egoísta, irresponsável e estúpida. Petrini esclareceu que “consumo” era o nome que antanho atribuíam à tuberculose…***
Se aquilo que comemos define a nossa essência e a nossa identidade (comer trata-se de uma prazerosa comunhão físico-espiritual; um ritual de convivencialidade com ramificações até às origens dos alimentos; de uma postura política baseada na responsabilidade civiva em relação à manutenção do nosso equilíbrio psicossomático sem que isso nos torne responsáveis, directos ou indirectos, por danos a terceiros e a toda a biocenose), logicamente deveríamos ser mais conscientes e selectivos naquilo que escolhemos para material de construção dos nossos corpos. «Comendo tornamo-nos coprodutores, porque a relação com os pequenos produtores é um marco/escalão de vital importância para a criação de um sistema alimentar sustentável, justo e saudável. » - Vandana Shiva.
Comer melhor também significa comer com moderação.

*-+ A“Terra Mãe”é uma reunião de centenas de representantes de comunidades de todas as partes do mundo ligadas à alimentação e com uma forte preocupação pela saúde – a nossa e da terra -, pela preservação da qualidade e variedade dos produtos agrícolas, bem como dos sistemas sociais (económicos e políticos) sustentáveis. (www.slowfood.com e www.rebelion.org)
***A postura de oposição à industrialização dos campos, preocupar-se com a qualidade e origem dos alimentos, enfim, ser-se selectivo na alimentação, é uma afronta de tal ordem ao sistema, que já foi inscrita no quadro clínico de uma doença recentemente inventada: a ortorexia. Claro que as obsessões não são saudáveis, mas é absurdo considerar a ortorexia como “a causa” de comportamentos obsessivo-compulsivos, anti-sociais e depressivos.os médicos e a indústria farmacêutica talvez pretendam “resolver” este distúrbio com doses maciças de ansiolóticos e antidepressivos. Por esta lógica, estou curioso para saber que doenças inventarão para rotular os que têm cuidado em não comprar artigos manufacturados nas ZPEs (zonas de produção especial, que são verdadeiros infernos ambientais e sociais, onde se produzem a a maior parte da tralha que se vende tanto nas lojas chinesas como nas grandes superfícies comerciais)…




Por cá, temos que destacara labor pioneira e visionária do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles que não se cansa de “pregar no deserto” a respeito destas temáticas fundamentais. Oiçamos as palavras do mestre (mesmo que, de vez em quando, tenhamos que dar o devido desconto às suas filiações político-partidárias):
«O ordenamento do território tem sido encarado como um jogo em que as peças mais preocupantes são as urbanizações, cuja implantação não respeita planos nem condicionalismos oficialmente existentes, nem o bom senso derivado do conhecimento tradicional do território, não atendendo, portanto, às circunstâncias biológicas, físicas e culturais do espaço vivo e cultural em que se pretendem instalar. Para muitos responsáveis, a acção do técnico, arquitecto, arquitecto paisagista, engenheiro ou geógrafo, será a de cerzir o que a especulação, a mediocridade e o costume (recente) erigiram como cidades monstruosas num intrincado labiríntico.»
«A presença do natural na cidade é de capital importância e tem hoje que ver com a criação de espaços temáticos” [e animação dos mesmos],” campos agricultados e matas, onde circulará a água e o ar, e permanecerá ávida silvestre. Serão os percursos, lugares de recreio e áreas de produção, que sempre acompanharam a urbe, o sistema arterial indispensável à vida da cidade e à sua integração na paisagem global, que não mais deverá ser compreendida como duas zonas – rural e urbana – antagónicas da natureza e com gentes diferentes, mas, pelo contrário, como dois espaços complementares, mas que não podem ser confundidos no que têm de essencial.»

Cidades insustentáveis
«O consumismo é a entrega irresponsável ao inerte, renunciando a muitas facetas que permitem desfrutar a vida de forma sustentável; é o motor de uma filosofia existencial que tem o seu cenário na grande cidade, orientada para a produção de excrementos, desperdícios e contaminação.» - Joaquín Araujo

A Megapólis agiganta-se consumindo todos os recursos naturais e excretando lixos tóxicos. As nossas maiores cidade assentam sobre alguns dos melhores solos agrícolas do país. Onde quer que o verde ouse medrar dentro do tecido urbano edificado, está, à priori, condenado pelo jogo das especulações imobiliárias.
80% da população europeia vive em cidades (e a tendência é para esta percentagem aumentar) e 90% do nosso tempo passamo-lo dentro de edifícios. (Atentar que na raiz etimológica da palavra “domesticação”está o vocábulo latino domus, que significa casa, edifício)
Somos o país da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) com maior deficiência energética (ou seja, instituímos e patrocinamos o desperdício de energia). Em relação à superfície do território português e ao número de habitantes que o ocupa, também somos o país da U.E. com o maior número de horas de sol e com menos superfície de painéis solares. É consumida pelos edifícios 22% da energia que o nosso país gasta(correspondendo a 58% de electricidade)Teoricamente, a partir de 2009 Portugal estará obrigado pela U.E. a fazer umacertificação energética dos edifícios, o que poderá trazer melhoriasarquitectónicas.As caducas sisas só favoreceram a construção desenfreada e a especulação imobiliária. As autarquias converteram-se em “toxicodependentes” dos impostos do betão.

A carga fiscal (nomeadamente através do IVA) é um descarado incentivo ao consumo de energia, ao invés de apoiar uma orientação bioclimática dos edifícios para que estes não sejam autênticos ícones do desperdício energético e de insalubridade. Edifícios bem construídos trazem benefícios de ordem económica e grande conforto aos seus utentes e locatários. Ainda por cima a construção de edifícios bioclimáticos (que serão o futuro inevitável) não tem que ser forçosamente mais cara do que os vulgares caixotes de cimento.
Os nossos edifícios, por deficiências de desenho e construção, não conseguem contrariar as adversidades do ambiente exterior. (Dá-se, então, a penosa incongruência de nos países europeus da soalheira faixa mediterrânica é onde os cidadãos passam mais frio dentro dos seus edifícios…)

As energias poluentes deveriam ter uma carga fiscal mais pesada, por forma a dissuadir a sua utilização. Mas tal medida só pode ser implementada quando os cidadãos tiverem fácil acesso às energias renováveis.

A Agência Internacional de Energia (AIE) adverte, no seu relatório World Energy Outlook 2004, que, até 2030, o consumo energético (incidindo sobretudo nos combustíveis fósseis não renováveis) subirá 60%. A mesma percentagem é o aumento que prevêm para as emissões de CO2.

As aberrações arquitectónicas que dominam as paisagens de Portugal provocam a perda de identidade cultural, ou, o que é pior, apaisagem está quase toda marcada por uma nova identidade arquitectónica detestável e impossível de nos vermos livres.Somos pouco mais de 10 milhões, mas temos ofertas de camas para 14 milhões de cidadãos. Por outro, lado temos demasiados locatários a viverem em condições absolutamente degradantes, e os condomínios/edifícios antigos dos centros das cidades literalmente a cairA recuperação destes imóveis não chega aos 4% do mercado da construçãocivil, realidade muito afastada da média europeia (quando a U.E. eraconstituída por 12 membros), que se situa nos 33%.a banca tornou-se o principal senhorio, não assumindo as mais elementares responsabilidades pela manutenção dos edifícios.

Alternativas para cidades sustentáveis:
International Eco-city Conferences (www.ecocitybuilders.org
www.planetdrum.org
www.gaia.org
www.gea-es.org
www.lasguias.comcen
www.citeweb.net.regard
www.ecodesign.org/edi/projects/education/farallones.html
www.fuzzylv.com/greencenter/home.htm
International Society for Eco-engineering
www.bioconstruccion.biz
www.csostenible.net
www.unhabitat.org

Institiuto Mundial da Construção Ecológica
Institiuto de Bioconstrucción y Energias Renovables


alimentar a cidade :
Community Food Resource Center
The rocky mountain Institute www.rmi.org




A agricultura biológica
Como alternativa ao referido colapso ecológico, a agricultura biológica (que, ao contrário da agricultura intensiva/industrial, não é fortemente subsidiada *, tem por principais objectivos:
- Produzir alimentos de alta qualidade (não só mais saudáveis, mas também mais saborosos) em suficiente quantidade;
- Restabelecer paulatinamente o equilíbrio perdido entre as práticas agrícolas e a natureza silvestre, evitando os pesticidas, os adubos e outros aditivos de síntese química perigosos para o meio-ambiente e para a nossa saúde;
- Poupar energia, utilizando, na medida do possível, recursos renováveis, nos sistemas agrícolas organizados localmente, e a correcta gestão dos recursos naturais e de toda a vida neles existente;
- Manter a biodiversidade;
- Manter a fertilidade do solo a longo prazo;
- Assegurar mais postos de trabalho (mão-de-obra especializada) num ambiente saudável;
- Apoiar a cultura campesina, dignificando-a;
- Apostar nos mercados locais (Podemos considerar como “ecológicos” os produtos aligeirados de substâncias químicas tóxicas, mas que até chegarem às nossas mesas tiveram que viajar milhares de quilómetros?) e estreitar uma aliança entre produtores, ecologistas e consumidores;
- Devolver aos agricultores a gestão das suas terras, sem dependências do cartel agro-industrial.
A actual subsistência artificial da agricultura coloca o agricultor convencional preso a uma cadeia de dependências. Os subsídios que lhe são atribuídos, com frequência para produzirem culturas inadequadas às características geoclimáticas dos seus terrenos, acabam por ir parar às mãos das multinacionais que lhe vendem a maquinaria, os pesticidas, as sementes,... e quando os subsídios não são suficientes, ou simplesmente porque tardam em chegar, comummente levam os campesinos a pedirem empréstimos aos bancos. Assim, são muitos os que perdem até as próprias terras. Na Índia apurou-se que os agricultores fora deste sistema de dependências o seguem até lucros até 3 superiores.
A produção biológica é, em média, 20 a 30% mais cara (devido a ser necessária mais mão de obra e à menor produção), mas são geralmente os intermediários que encarecem esses produtos ao ponto de os tornar proibitivos para muita gente. É o preço do pioneirismo, mas sobretudo da desorganização, da falta de apoio estatal, da ausência de informação independente e de consciência por parte dos consumidores. Em países com maior consciência ambiental (como, por ex. a Alemanha, a Suiça e a Holanda) os preços dos produtos biológicos são próximos aos produtos da agricultura convencional (=industrial), devido a uma maior procura dos consumidores. Os EUA são o país que mais consome produtos biológicos.

* Dá-se o contra-senso de os agricultores convencionais terem ajudas de custo para poluírem desbragadamente, enquanto que o agricultor biológico vê-se obrigado a pagar( custos de controlo e de certificação) a fim de provarem que não poluem… Estamos fartos da moralidade dolosa do princípio do “poluidor-pagador” porque na prática quem paga sempre é o poluído, ou seja, todos nós!
Finalmente a agricultura biológica foi contemplada na última PAC, tal como os produtos de origem demarcada. Dentro das medidas Agro Ambientais, podemos recorrer ao Programa RURIS (que concede ajudas aos pequenos produtores agrícolas). Há ainda o Programa Agros, que facilita os investimentos nas exploerações agrócolas.
ifadap@ifadap.min-agricultura.pt
www.min-agricultura.pt


Provavelmente será correcto dizer-se que os “agricultores biológicos” são “amigos do ambiente”, mas certamente que deveremos considerar abusivas as afirmações de que estes agricultores “ajudam” o ambiente ou a natureza. A agricultura não é uma actividade natural, constituindo sempre uma violência contra natura. O que os “agricultores biológicos” fazem é minorar, tanto quanto é possível, esses danos, não deixando que a sua actividade ultrapasse os limites de sustentabilidade impostos pela natureza.
A agricultura biológica obedece a um rigoroso regulamento europeu (enquanto que a “protecção/ produção integrada” rege-se pela legislação nacional).


A agricultura biológica é praticada em 10 milhões de hectares em todo o Mundo, dos quais 4 milhões (4.442.876 ha) correspondem à Europa, num total de 142.348 explorações agrícolas. E, ao contrário do que acontece com a agricultura convencional, está em franca expansão, com um crescimento anual de até 20%. Na última década cresceu 25% . Em Espanha esse crescimento tem sido de 30% ao ano, ocupando já meio milhão de hectares.
Os lucros totais da agricultura biológica em 2002 rondaram os 200 milhões de euros.
Em Portugal, 0,25% dos agricultores, que cultivam 2,3% da área agrícola produtiva, já se converteram à agricultura biológica. Ou seja, não passam de mil agricultores num sector (primário) que emprega directamente 400 mil portugueses.
Itália foi o país em que se verificou o maior crescimento desta prática agrícola ressarciva (entre 1991 e 2001 passou de 16.850 ha para 1.230.000 ha !) devido à atribuição de subsídios (afectos às medidas Agro-Ambientais) notoriamente acima da média europeia, ao desenvolvimento científico e ao apoio técnico aos agricultores.
Portugal, como seria de esperar no que toca a práticas ambientalmente correctas, ocupa a cauda da Europa, e a AB é um reflexo desta lamentável situação, com apenas 0,2% de agricultores biológicos (maioritariamente produtores de azeite).
O nosso governo considera «insignificante» (sic) o mercado de produtos biológicos em Portugal (até porque muitos desses produtos são, desnecessariamente, importados) e tem notoriamente (e independentemente das cores político-partidárias) desprezado este género de agricultura – a única que tem um futuro sustentável! (um reflexo dessa atitude por parte de todos os órgãos do Estado verificou-se recentemente na Alemanha, onde foi celebrada uma grande feira destinada à promoção da AB e dos seus produtos de excelência. Ao contrário dos outros países da U E, Portugal não se fez representar...É o cúmulo do desprezo quando uns funcionários públicos prescindem de passar uns dias no estrangeiro com uma estadia de luxo paga pelos contribuintes, bastando para tal mandar fazer uns posters cheios de mensagens hipócritas destinados a forrar um stand /estaminé de comes-e-bebes...
O governo português recentemente elaborou um Plano Nacional para o Desenvolvimento da Agricultura Biológica em que expressa as suas intenções de converter 7% da nossa agricultura à produção biológica. Este plano peca por tardio, por ser pouco ambiciosos (tanto nas metas como na disponibilização de meios para as alcançar) e por não Ter sido colocado a consulta pública de forma séria.
Até ao final de 2007, o governo pretende, então (e sem fazer o mínimo de esforço) aumentar a actual área agrícola destinada à agricultura biológica para 7% e a percentagem dos seus respectivos agricultores para 1 a 1,5%.
Concomitantemente, na Alemanha, país em que a produção biológica não ocupa uma área muito maior do a nossa, o governo empenhou-se em implementar medidas (credíveis) para, no mesmo período, a AB chegue a ocupar 20% de todos os terrenos agricultados. Espera-se que em breve a Comissão Europeia apresente um Plano de Acção Europeu para a Agricultura Biológica, capaz de obrigar Estados inconscientes e negligentes como o nosso a investir a sério numa agricultura saudável.
Algumas grandes superfícies comerciais (de países com um elevado poder de compra), em que se verifica uma grande aceitação dos produtos biológicos por parte dos seus clientes, estão a pressionar os seus fornecedores para que os produtores biológicos invistam em monoculturas intensivas. Esperemos que resistam a estas tentações pecuniárias, pois de outro modo desvirtuariam o espírito dessa agricultura alternativa, e ficariam impossibilitados de manter o equilíbrio ecológico por muito tempo.

Os alimentos biológicos contêm 30 a 50% mais riqueza nutricional do que os agroprodutos convencionais (industrializados). A menor produção é largamente compensada pela salubridade e maior riqueza de nutrientes. (Ex.: as frutas são geralmente de menores dimensões por não estarem inchadas com demasiada água - poluída – como as convencionais, o que faz com que tenham uma concentração mais elevada de minerais, vitaminas, açucares e proteínas.)
Apesar de vários estudos independentes (efectuados por universidades europeias+++++++++) chegarem a esta conclusão, os poderosos lóbis da agroquímica financiam cientistas para que estes lhes providenciem os estudos mais mirabolantes e absurdos que atestam que os alimentos biológicos até são piores para a saúde! (Nestas campanhas de desinformação chegámos ao ponto de assistir a ministros recusarem-se a consumi-los… Pagando o favor a quem lhes financia a carreira.)
Infelizmente a DECO – Instituto de Defesa do Consumidor – tem-se apoiado nestes estudos extremamente dúbios nas abordagens que realizou a esta temática (revista “Proteste” n.º239, de 2003), escamoteando uma preposição apodítica elementar: se existem abundantes provas dos malefícios dos pesticidas (de síntese química) , como é que se pode por em causa que os alimentos provenientes da AB são mais saudáveis?!

+++++++++++++Recentemente a Danish Veterinary and Food Administration juntamente com a Royal Veterinary and Agricultural University e o Riso National Laboratoty provoram que os alimentos de AB contêm mais antioxidantes (nomeadamente flavonóides) que os de agricultura convencional.
A Agência Francesa de Segurança Alimentar corroborou estas conclusões, adiantando que os vegetais de AB são mais ricos em vitamina C, em açucares (o que, em parte, explica o seu melhor sabor) e em compostos fenólicos (que reforçam o nosso sistema imunológico, prevenindo alguns tipos de cancro e sobretudo afectações cardio-vasculares). Quanto a estes últimos, foram encontradas concentrações no azeite de mais 86,4%, e nos tomates de mais de 72,9%!

Algumas corporações agroindustriais vão ao extremo de adquirir patentes de factores de produção biológica de grande importância (ex.: insecticidas naturais) com o intuito de impedir que estes sejam utilizados (num modo de produção salutar que não presta vassalagem aos seus impérios).
Pelo menos, no que respeita à superioridade de sabor, ninguém se atreveu a contestar. Tanto assim é que muitos reputados chefs de cuisine fazem questão de utilizarem alimentos biológicos nas suas receitas.


www.farmingsolutions.org
www.agrobio.pt
www.isofar.org
www.biocultura.org
the Oakland Institute
The Ayurvedic Herbal Company
Foodroots Network

sábado, maio 20, 2006

Agricultura & Peste


Tenho conhecido muitos agricultores convencionais que se recusam a comer e a alimentar as suas famílias com os mesmos produtos que vendem. Reservadas para consumo da casa, têm outras hortas onde aplicam menos caldas de venenos.
Assim como há muitos agricultores que, jogando com várias vertentes do mercado conforme determinam as melhores margens de lucro do comércio especulativo, destinam parcelas dos seus terrenos para a produção “biológica” e, mesmo ao lado destas, continuam a espalhar todo o tipo de agroquímicos perigosos sobre as culturas.

Os pesticidas são copiosamente aplicados não apenas nas culturas agrícolas, mas também em relvados de moradias, campos de golfe e de futebol. A Audubon Society (EUA) estima que cerca de 7 milhões aves morrem envenenadas em consequências de pesticidas de uso doméstico, assim como aumentou imenso a incidência de cancros em
cães que habitualmente frequentam relvados onde são aplicados pesticidas.
A National Coalition Against the Misuse of Pesticides
Recentemente foi publicado (pelo National Pesticide Information Center)um estudo que consistiu em analisar o sangue de 110 crianças habitantes de grandes cidades norte americanas, procurando vestígios de pesticidas destinados à manutenção dos relvados. Concluiu-se que 99% dessas crianças apresentavam esse tipo de contaminação.
Em 1999 a ONG EPA divulgou que, dos 103.9 milhões de estado-unidenses que possuem moradia, 74% utiliza pesticidas. E a quantidade destes venenos para uso domésticos que são libertos para o ambiente aumentou 50% nos últimos 20 anos. A U.S. Geological Survey analisou as águas dos vinte maiores rios e aquíferos do país e constatou que consideráveis vestígios de pesticidas utilizados nos relvados e nos jardins estavam presentes em todas as análises.

Eu já trabalhei num centro de recuperação de animais silvestres não distava muito de um dos mais concorridos campos de golfe de Portugal. De lá com frequência provinham aves com sintomas de envenenamento e até com uma elevada taxa de más formações.




Mais uma vez demonstrando estar uns cinco séculos à frente do seu tempo, Leonardo da Vinci foi pioneiro na percepção de que os venenos são bioacumuláveis e de que podem afectar gravemente o nosso organismo quando administrados (em elevadas quantidades) às culturas agrícolas.


Devido ao uso generalizado dos agroquímicos (que são geralmente aplicados com absoluto desrespeito pelas mais elementares regras de segurança) no intenso combate que mantemos com os animais, as plantas e os fungos que interferem com as culturas agrícolas, diminuindo-lhes a produção pretendida, neste momento estamos muito longe de um possível equilíbrio salutar entre as actividades humanas no meio rural e o mundo natural. As consequências nefastas dos agroquímicos não se manifestam só nos seres silvestres; a saúde do próprio Homem e o seu património genético estão em sério perigo!
Está provado que os pesticidas e certos aditivos alimentares estão na origem de doenças degenerativas, o que inclui vários tipos de cancros (ex.: da próstata, dos testículos, dos ovários e das mamas). Além dos efeitos cancerígenas e mutagénicos, têm a capacidade de danificar os sistemas endocrino, imunológico e reprodutor de muitos animais, incluindo o homem. Tais substâncias são susceptíveis de provocar alterações no sistema hormonal, pois muitas delas comportam-se no organismo humano como hormonas femininas. Esta é a causa mais provável pela diminuição da fertilidade masculina (até 50% desde 1938) nos países industrializados.(Ainda assim, mais de 80 milhões de pessoas nascem todos os anos…) Também são susceptíveis de provocarem gravidezes ectópicas, criptorquias, hipospadias e desequilíbrios nos nascimentos, em favor do sexo feminino.

Em França apurou-se que os agricultores franceses são nove vezes maisafectados por cancros no cérebro do que o resto dos seus compatriotas.
Os agricultores convencionais, ao se exporem com maior frequência e intensidade aos pesticidas incorrem num risco seis vezes superior de contraírem cancro do que os “agricultores biológicos”, sendo também estes últimos que sofrem menos de problemas de infertilidade, segundo a revista médica “The Lancet” (Vol. 343, 1994)

Na Califórnia a taxa de abortos espontâneos duplicou nos últimos trinta anos, e as más formações congénitas triplicaram. A OMS lança o alarme de que, pelo menos, 200 mil crianças morrem anualmente de cancro.
Dez anos antes já a Universidade de Córdoba tinha efectuado outro estudo que apontava o facto alarmante de o leite materno das espanholas estar de tal modo contaminado por pesticidas que, se tivesse que cumprir as normas estipuladas para a comercialização do leite de vaca, seria retirado do mercado!

De referir ainda que, segundo uma recente investigação realizada pela Universidade de Wisconsin (cujos resultados foram publicados na revista Toxical and Industrial Health) , os bebés expostos aos pesticidas durante a gestação, ou quando têm poucos anos de vida, sofrem alterações de comportamento e atrasos motores e intelectuais, que se manifestam, por exemplo, na pérdida da habilidade para desenhar, para desportos, bem como em comportamentos agressivos. O estudo indica ainda que os pesticidas alteram a produção de hormonas da tiróide, que controlam a maturidade cerebral na fase fetal.
Estudos combinados entre etólogos e tóxicologistas demonstraram a relação entre os pesticida e o comportamento animal. Por exemplo, andorinhas machos contaminadas com doses mínimas de DDT, optaram pela abstinência sexual. Outros machos de tritões já não reagem às feromonas das suas fêmeas. Além de aberrantes mutações fisiológicas
(ex.: caracóis das rias galegas, apesar de serem fêmeas, recentemente desenvolveram pénis) e doenças, as disfunções hormonais provocadas por químicos liberados pelo homem estão na origem de comportamentos insanos.
Arriscando abordar um tema extremamente delicado e polémico (quase tabu), cada vez há mais evidências que as substâncias químicas que se vão acumulando nos nossos corpos e interferindo negativamente na nossa saúde e no nosso legado genético, também contribuem para determinar as nossas orientações sexuais. No caso específico dos terríveis PCBs (policlorobencenos), um estudo recente levado a cabo na Holanda, deixou claro a correlação entre os elevados níveis desses químicos nos corpos de vários meninos e os seus comportamentos afeminados…
A orientação sexual é fortemente determinada por factores bioquímicos inscritos nos nossos códigos genéticos, e estes estão sob influência mutagénica de muitos factores ambientais, que poderão ser ingestão (pelas grávidas) de produtos de síntese química, incluindo alguns medicamentos. (Lee Ellis da Universidade de Minot State, EUA)

A Agência Federal de Protecção do Ambiente (EPA) sustenta que nos E.U.A. mais de um milhão de crianças ingerem diariamente quantidades de organo-fosfatos (pesticidas muito perigosos cujo principal efeito é impedir as transmissões nervosas, acabando por destruir o sistema nervoso central) dez vezes superiores aos que a Food and Drug Administration (FDA) estabeleceu como "fasquia de segurança". Embora nesse ponto o Prof. Frederick Vom Saal (biólogo docente na Universidade do Missouri, EUA) seja peremptório: "as informações de que já dispomos mostram claramente que não existe uma quantidade mínima abaixo da qual estes produtos não tenham efeitos nocivos (in Sciences et Avenir, Agosto de 1997)Ainda hoje estamos a ingerir organoclorados libertos no ambiente há três ou quatro décadas. «Na realidade, conhecemos mal o comportamento dos organoclorados no ecossistema. O Homem é um aprendiz de feiticeiro e estes produtos são como o Djinn, o espírito das “Mil e uma noites”: uma vez livre, ele escapa a todo o controlo. No entanto, uma coisa é certa: é a sua distribuição à escala planetária, desde os gelos polares até aos lagos africanos.» (Mohamed Bouguerra, 1997)
O Instituto Federal Suíço para as Ciências e a Tecnologia, ao analisar (no ano passado) a água da chuva na Europa Central, chegou à conclusão de que esta já não é potável por conter excesso de pesticidas e de partículas tóxicas provenientes do tráfego rodoviário!...

Quase tudo o que hoje comemos e bebemos está contaminado com pesticidas. Ao mesmo tempo que muitos insectos tidos como pragas agrícolas vão ganhando mais resistências aos pesticidas, a saúde e o património genético humanos vão se degradando de modo preocupante. Nos últimos 40 anos, o número de casos de cancros infantis aumentou dez vezes e a fertilidade masculina baixou uns 50%. De resto, os pesticidas de síntese química nem sequer resolveram o problema das pragas agrícolas – antes pelo contrário. Segundo dados da FAO, em 1965, vinte anos após o início do actual modelo de agricultura intensiva, estavam registadas 182 pragas agrícolas; em 1977 esse número já era de 364; e actualmente o número de insectos resistentes aos biocidas ultrapassam as 500 espécies. Em 1945, as perdas causadas pelas pragas atingiam 7% das colheitas; em 1989 já afectavam 13%.
A fome sempre acompanhou a história da humanidade; mas decorria de tragédias pontuais (guerras, reveses climatéricos, exaustação de recursos naturais, pragas agrícolas). No século XX tornou-se crónica. Esta situação aviltante e vergonhosa deve-se sobretudo ao gravíssimo desequilíbrio existente na distribuição e usufruto das riquezas. A minoritária população do chamado “Primeiro Mundo” não só consome em demasia os recursos naturais, hipotecando o futuro, como sustém artifícios económicos que mantêm a maioria da população mundial numa situação de eternos endividados às instituições bancárias e de indigentes.
Tempos houve em que a alimentação humana era constituída por mais de sete mil espécies de plantas – sem contar as variedades agrícolas locais, das quais, segundo a FAO, todos os anos desaparecem umas 50 mil. Só no século XX perdemos 75% da diversidade genética das culturas agrícolas mais importantes; o número destas reduziu-se drasticamente a vinte. Cereais são apenas oito.
Deste modo, a uniformização genética das culturas agrícolas (e não só destas), imposta pelas empresas multinacionais, tende a pôr a humanidade numa situação de perigosa vulnerabilidade.
Já Charles Darwin, na sua obra revolucionária “ A Origem das Espécies”, referia que os campos de trigo que incluíam diferentes variedades de grãos eram menos sujeitos a pragas, e, logo, mais produtivos do que os campos plantados com uma única variedade.
A agricultura tradicional baseia-se num mosaico de culturas; é um eficiente e sustentável sistema biológico de usos múltiplos, assim como possui um carácter vernacular pluricultural.

Quando em 1845 a produção agrícola da Irlanda praticamente se resumia à monocultura da batatas, o surgimento de uma praga provocou a morte por desnutrição de milhões de pessoas. Muitas, para escaparem à terrível fome, foram forçadas a emigrar. Em tempos mais recentes, mais concretamente em 1972, a mãe-natureza admoestou-nos com uma epidemia que devastou grande parte da produção de milho nos E.U.A. .
Na corrida contra o tempo, nalguns países- nos quais se inclui Portugal -foram criados bancos de germoplasma vegetal (um género de bancos de sementes) que procuram justamente preservar a diversidade das estirpes agrícolastradicionais.A Península Ibérica há muito que granjeou a fama de ser uma região extremamente rica em cucurbitáceas (família da qual fazem parte as melancias, os melões, ospepinos, as abóboras,...). Não obstante a sua grande importância económica e cultural, desde a adesão à União Europeia por parte dos irmãos ibéricos,perderam-se mais de 40% das variedades de melão.
Uma vez que são os grandes consórcios empresariais que controlam os monopólios dos alimentos transgénicos, não é difícil prever que irá aumentar o jugo exercido sobre os países pobres pelos países industrializados. Nesses países tenderá a aumentar a dependência de tecnologias que não dominam, a desvalorização das suas matérias-primas e a diminuição da sua biodiversidade.
Entre 1945 e 1989, a potência biocida dos agroquímicos foi multiplicada por 30. Actualmente, espera-se que as novas variedades de organismos transgénicos tenham a capacidade de suportar agroquímicos tóxicos até 300% mais que as variedades tradicionais. Obviamente, isso implicará um aumento proporcional na dose diária de químicos tóxicos que ingerimos. (Estudos levados a cabo por universidades e que visaram mais de 8200 campos de cultura de soja gm mostrou que os agricultores implicados usam de duas a cinco vezes mais pesticidas do que é aplicado nas variedades convencionais. Na realidade, pelo menos 70% das culturas gm utilizadas em 1999 foram concebidas a fim de necessitarem de altas doses de pesticidas.)
Não nos podemos esquecer que 75% dos agroprodutos GM foram desenvolvidos parasuportarem doses elevadíssimas de pesticidas (da mesma marca que as sementesGM); 17% são capazes de produzir as suas próprias toxinas insecticidas e 8%possuem ambas as capacidades (Jeffrey Smith, 05)

Significará também uma prática agrícola ainda mais intensiva, com a consequente exaustão e inquinamento dos solos e da água[1]. Mais, e pior: ninguém pode prever que consequências terão os alimentos transgénicos para a saúde pública (A molécula de ADN é simplesmente demasiado complexa para os conhecimentos etecnologias actualmente disponíveis.) e para a natureza selvagem (possibilidade real de polinização cruzada com os cultivos convencionais), nem ninguém nos perguntou se estamos interessados em servir de cobaias nesta mega-experiência à escala planetária, em que mais uma vez o prosaísmo mercantilista, transvestido de altruísta, se sobrepõe ao princípio da precaução sanitária e ambiental. Para já, sabemos que o número de pessoas alérgicas aos alimentos transgénicos (a soja, entre outros) aumenta vertiginosamente…

Nos EUA, desde que, em 1994, os alimentos transgénicos foram colocados nas prateleiras dos supermercados (estando, uma década depois, presente em pelo menos 70% dos alimentos), multiplicaram-se por 10 os disturbios alimentares, tais como as alergias… Será uma coincidência inocente?
Soja vertiginosamente))A soja GM proveniente dos EUA conquistou o mercado britânico em 1998. (A sojanatural foi misturada com a variedade GM denominada Roundup Ready, sem que arespectiva rotulagem desse conta disso.) em 1999 os cientistas afectos ao YorkLaboratory concluíram que as alergias à soja tinham aumentado em 50% desde oano anterior. Algumas dessas reacções alérgicas tornaram-se crónicascausando grandes transtornos aos afectados.Logo, a Associação Médica Inglesa pediu ao governo para banir os alimentos GMaté que fossem efectuados estudos mais aprofundados sobre a sua salubridade.Ainda não há certezas quanto aos motivos que levam muitos organismos (nãoapenas humanos ) a reagir mal quando ingerem soja GM. Uma das possíveisexplicações relaciona-se com a acção da substância inibidora Trypsin. Estatambém se encontra presente na soja natural e está identificada comosusceptível de causar reacções alérgicas. Ora, a soja GM tem quantidadeselevadíssimas de Trypsin. Estamos apenas a dar os primeiros passos no desvendar dasconsequências perniciosas dos OGM, mas o pouco que sabemos é suficientementealarmante como para banirmos de imediato estes perigosos embustes contra-natura!




Desde 2002 que, até nos mercados de aldeias, praticamente deixei de encontrar alhos convencionais. Os vendedores alertam para que essa nova variedade de alhos não germinará, caso a tentem plantar. É obviamente transgénico. Já comi dessas porcarias algumas vezes e sempre me provocou problemas de digestão; uma má disposição que dura várias horas e, por vezes, resulta em vómitos. A longo prazo, mal faço ideia do que me pode provocar…Nunca fui a um centro de saúde queixar-me disso e suponho que não sou uma caso único. É quase certo que a maioria das pessoas que sofre deste género de distúrbios não os associa aos transgénicos. Nem os médicos indicariam para aí o seu diagnóstico. Já falei com alguns e todos me responderam que era impossível provar as minhas desconfianças, não me levando minimamente a sério. Assim, os estudos que pretendem provar que os transgénicos são seguros só porque não há registo nos hospitais e centros de saúde portugueses de pacientes identificados com intoxicações alimentares devido aos OGM, são uma fraude.









Os supermercados são o reflexo do nosso estado de infantilidade e de domesticação embrutecedora. Deixamo-nos deslumbrar pelas cores e formas da futilidade comercial. O marketing até nos proporciona os serviços de aconselhamento especializado, sem o qual, aparentemente, não poderíamos ser adultos funcionais. Nem Darwin poderia prever que, por alguma "compensação evolutiva", o surgimento do Estado, do capital, da indústria, das corporações, do marketing e dos seus "especialistas" privar-nos-ia de bom senso, do sentido de responsabilidade social e ambiental e do gosto pela independência e pela autenticidade. A propósito, Konrad Lorenz disse que «os consumidores actuais são os piores imbecis, porque não procuram a qualidade». Preferimos ser bem enganados pelo aspecto.
A multiplicidade dos produtos alimentares expostos é pura ilusão. A maioria desses produtos baseiam-se nos mesmo ingredientes e são produzidos de forma insalubre. Essa aparente abundância não é nada comparada com as variedades agrorregionais que a agricultura industrial e as grandes superfícies comerciais estão (propositadamente) a extinguir.Portamo-nos como putos desorientados que nada querem saber sobre a composição dos bolos desde que estes apresentem uma ampla variedade de decorações e lhes hiper estimulem da mesma maneira as pupilas gustativas (edulcorantes e outros intensificadores de sabor alastraram-se por todos os alimentos industriais, estando presentes até na água engarrafada!). E compramos uma ingente quantidade de lixo - algum dele é considerado comestível, o resto, mais cedo ou mais tarde, acumular-se-á nos nossos corpos, por terem contaminado a água, o ar, o solo e os outros seres de que os alimentamos. A lista dos ingredientes nada nos diz sobre os pesticidas que utilizam e quais os seus efeitos para a nossa saúde. Recorrem a códigos e a eufemismos pseudo técnicos indecifráveis para a minoria que se dá ao trabalho de os ler. (Ex.: nunca encontrei nas listas de ingredientes do pão alguma referência sobre o químico que utilizam para branquear a farinha, nem aos níveis de acrilamida, nem ao fungicida que aplicado sobre o centeio, e não posso deixar de me indignar por as "autoridades competentes" e a própria DECO deixar que as panificadoras englobem/mascarem uma série de substâncias potencialmente cancerígenas com/sob a designação vaga de "melhorantes", como se fosse genuinamente um termo técnico digno de uma lista de ingredientes! E já agora, em relação aos aromas artificiais, designá-los de “idênticos aos naturais” é gozar com os consumidores?!)
Para mais informações, contactem a Agrobio
ou ainda,
www.pangea.org/unescopav

www.vidasana.org

http://www.aepla/

Paulo Barreiros
Pesticidas na U E
A União Europeia é o maior mercado mundial de pesticidas, onde têm autorização para serem comercializados 800 tipos diferentes de agrotóxicos. 30 mil toneladas de pesticidas aplicados anualmente no nosso país.

Entre 1950 e 1967, no auge da “Revolução Verde”, um aumento de 5% da produção de alimentos equivaleu a um incremento de 267% nas aplicações de pesticidas.

O uso global dos pesticidas era de 50 milhões de quilogramas em 1945, e subiu para os actuais 2500 milhões de quilogramas. Entre 1945 e 1989 a potência dos agroquímicos multiplicou-se por 30. agora espera-se que as novas variedades de organismos transgénicos tenham a capacidade de suportar doses de pesticidas até 300 mais intensas do que as variedades tradicionais. Tal, obviamente, implicara um aumento na dose diária de químicos tóxicos que ingerimos. Também significará uma prática agrícola mais intensiva, com a consequente exaustão e inquinamento dos solos e da água.
A amarga ironia é que os pesticidas de síntese química nem sequer resolveram o problema das pragas agrícolas, antes pelo contrário, segundo a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), em 1965 ( duas décadas depois de se Ter iniciado o actual modelo intensivo de agricultura) estavam registadas 182 pragas agrícolas; em 1977 o número ascendia a 364. Actualmente, o número de espécies de insectos resistentes aos biocidas supera as 500. Ainda baseando-nos nos dados da FAO, em 1945 as perdas causadas pelas pragas alcançavam 7% das colheitas; em 1989 afectavam já 13% das colheitas.
O uso de Fertilizantes sintéticos subiu de 14 milhões de tl em 1950 para 134 milhões de tl em 2000.
A situação é demasiado grave e evidente para continuar a ser subestimada e escamoteada por alguns agentes económicos e pelas autoridades oficiais que, com cinismo irresponsável e imoral, não se cansam de pedir que se apontem a origem de um câncer ou de uma mal formação genética directamente relacionados com um agroquímico específico, quando somos vítimas constantes de uma conspiração de agentes patogénicos. (Entre 70 a 100 mil novos produtos químicos foram criados e libertados para o meio ambiente desde a revolução industrial…)
De uma lista “negra” (elaborada por investigadores independentes) referente às 30 substâncias tóxicas utilizadas como agroquímicos que mais urge serem proibidas, destacamos as seguintes: o aldicarbe, os metamidofos, o brometo de metilo ( o bromo também está presente, por exemplo, no interior dos extintores enas explosões nucleares, e acredita-se ser responsável pela destruição de cerca de 20% da camada do ozono) e o paraquato (sob a forma de gramaxone)
É por demais extensa a lista de efeitos perniciosos (conhecidos) atribuíveis aos agroquímicos, mas não pretendo tornar este alerta num interminável “muro das lamentações”, nem tampouco creio que a pedagogia do medo é a melhor estratégia para incentivar acções construtivas. Existem bons exemplos que podemos ( e devemos!) seguir.


«Na Alemanha, fornecedores privados de água descobriram os benefícios económicos da agricultura biológica. Empresas de Munique, Osnabruck e Leipzig pagam aos agricultores locais até 550 marcos (cerca de 250 dólares) por hectare, durante três anos, para fomentar a conversão dos agricultores às práticas biológicas. Responsáveis pelo fornecimento de água limpa aos seus clientes, essas firmas chegaram à conclusão de que é mais barato (e, logo, mais rentável) investir numa agricultura sustentável, do que extrair pesticidas da água poluída.» (World Watch Institute, 2001) Do outro lado do Atlântico, a cidade de Nova Iorque está a seguir esta mesma política integrada e consciente.
O parlamento dinamarquês deliberou uma progressiva redução no uso de agroquímicos tóxicos, para que em 2010 toda a agricultura dinamarquesa seja biológica. Mesmo cingindo-se a uma perspectiva economicista, concluíram que os gastos com a saúde pública e a deterioração dos solos e da água, a curto, médio e longo prazo, acarretam custos muito superiores aos lucros pecuniários que advêm da agricultura intensiva.
Para tal, à semelhança do que acontece na Finlândia, na Noruega, na Suécia e brevemente na França também, a Dinamarca tem em vigor impostos sobre a venda de pesticidas. A medida tem-se saldado por um enorme sucesso.
*-+
*-+ Este louvável objectivo afigura-se-me demasiado optimista pois, segundo dados de 1998, apenas 3% das terras agricultadas nesse país mereciam certificado de produção ecológica. Erradamente os dinamarqueses (tanto no sector público como no privado) têm apostado forte nos agroprodutos geneticamente modificados a fim de efectuarem esse corte radical com os pesticidas de síntese química. Os OGMs, se houver um mínimo de bom senso, jamais se poderão considerar “ecológicos”. Nem tão pouco a criação intensiva de animais destinados exclusivamente à produção de peles (comércio de casacos de luxo),sendo que a Dinamarca controla metade da produção mundial de peles de visão(10,8 milhões de peles por ano).


Em Portugal sucede exactamente o contrário. Para além da falta de visão e coragem política necessárias à tomada de consciência da gravidade do problema e enfrentarem os fortes lóbis das indústrias que produzem e comercializam os agroquímicos, a fiscalização é manifestamente insuficiente e apoiada por uma má política de secretismo, o desinteresse por parte da população em geral e a falta de capacidade demonstrada pelas associações (confederações, sindicatos,...) de agricultores, bem como grande parte dos professores nas escolas agrárias, para pensarem a médio e longo prazo investindo numa agricultura saudável e sustentável, faz com que não se perspectivem mudanças importantes neste sector que é tão vital, mas que teima em basear-se em filosofias e atitudes contra-natura. Mas tampouco sejamos ingénuos ao ponto de defendermos que, com as actuais exigências de produção agrícola nacional (embora nas últimas duas décadas não tenha parado de diminuir a nossa produção agrícola, à medida que aumenta a nossa dependência dos agroprodutos espanhóis – de qualidade muito duvidosa) e com o total desequilíbrio ecológico instalado nos agrossistemas convencionais, seria possível de um momento para o outro banirmos radicalmente o uso de pesticidas e fertilizantes de síntese química sem que a produção agrícola se ressentisse brutalmente. A meio caminho (que poderá, ou não, ser um processo de reconversão) entre a agricultura convencional e a agricultura biológica encontra-se a “protecção e/ou produção integrada”,método em franco crescimento no nosso país.
Enquanto que nas nossas escolas agrícolas continua-se a intoxicar as mentes dos alunos com ideias retrógradas que a agricultura não é viável sem recurso apesticidas e fertilizantes de síntese química, em escolas congéneres daAlemanha, da Dinamarca, da Holanda e da Áustria, a agricultura biológica éuma disciplina obrigatória. E como disciplina facultativa, é possibilitada ainscrição aos estudantes universitários do Reino Unido, da Finlândia, daItália e da Grécia.
Os pequenos agricultores biológicos de todo o mundo produzem mais e melhor do que os agricultores industriais. ( Para além da salubridade dos seus alimentos e de não serem subvencionados, o seu consumo de água e de energia é 10 vezes inferior e a fertilidade das suas terras é muito mais longeva/duradoura/estável.) O facto de a agricultura biológica ir beber muito à cultura vernácula secular, não é impedimento para que incorpore os conhecimentos técnico-científicos de vanguarda (tudo depende de como orientamos o nosso engenho). Tentando respeitar o equilíbrio produtivo e a capacidade regeneradora da terra, alguns ensaios (levados a cabo em países pobres e recorrendo exclusivamente a técnicas biológicas) revelaram-se extremamente promissores. Por exemplo, segundo a FAO, nos últimos anos a horticultura cubana dobrou a sua produção, ao passo que na Bolívia conseguiram que algumas colheitas de batatas mais do que triplicassem. O mesmo sucedeu em regiões africanas de fraca aptidão agrícola. No Quénia as colheitas de milho subiram de pouco mais de 2 toneladas por hectare para 9 tl/ha; e na Etiópia houve culturas/plantações de batatas que multiplicaram a sua produção de 6 tl /ha para 30 tl/ha

No seu livro mais célebre e polémico, «A Primavera Silenciosa», Rachel Carson escreveu: «O chamado “controlo da natureza” é uma frase concebida pela arrogância, nascida na Idade Neandertal da biologia e da filosofia, quando era suposto que a Natureza existia para a exclusiva conveniência do homem (…). A nossa alarmante infelicidade reside no facto de uma ciência tão primitiva se ter armado a si mesma com as armas mais modernas e terríveis, e que, ao dirigi-las contra os insectos, as tenha assestado igualmente contra toda a Terra.»

Paulo Barreiros